A opressão tem origem na própria condição humana. Da circunstância onde morte e dor co-existem. Opor-se ao opressor é opor-se a estes dois fatos. Porém, daí, a pergunta: defrontar-se com o opressor baseado em quê?
O oprimido afirma um valor frente ao opressor: aqueles limites que não podem ser ultrapassados. O insubmisso transcendente afirmará um princípio de justiça, o direito a uma unidade feliz.
Sob o sentimento de frustração, o sublevado transcende porque tem consciência de sua dignidade e das exigências que emanam de seu ser. A sua lucidez indica que a criação não corresponde ao que ele é. E ele decepciona-se pela confrontação entre o que é exigência sua e o que é realidade. A ordem que obriga é a da vida e a da felicidade. Para afirmá-las, vê-se compelido a negar uma realidade que contrapõe sofrimento e morte.
Não aceitar o injusto, recusar a criação, contestá-la sempre; afirmar o homem, confirmar o direito ; eis a sua missão.
Esse homem não é necessariamente um ateu.
Repelir uma determinação não implica na rejeição da existência de um ordenador.
Esse homem é, sobretudo, alguém que blasfema. Porque não aceita, porque recusa a inumanidade da ordem.
Então, mais do que negar a existência de um criador, a insubordinação institui um processo de julgamento. E todo julgamento nivela: nenhuma superioridade pode ser reconhecida naquele que é réu. Ao julgar, o insurrecto se proclama, definitivamente, 'igual'.(Marcus Moreira Machado)
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