Na análise dos dogmas é imprescindível verificar o entendimento relacionado à 'extensão' do conhecimento humano, em justaposição à sua 'compreensão' -a compreensão da verdade.
Do empirismo ao realismo, concepções diversas enxergam a maior ou a menor dimensão da 'verdade', esta passando por diferentes critérios de determinação. Pois, para o empirismo, a fonte única do conhecimento será sempre a experiência. Porém,genericamente, nota-se que o conhecimento experimental é particular e contingente, de âmbito limitado e restrito. Enquanto isso, o espírito científico procura estabelecer verdades universais, de maior amplitude que a simples experiência.
Em tentativa de avanço, o 'positivismo' surge enquanto concepção filosófica a estabelecer os seus princípios nas leis fundamentadas em fatos generalizados; crê que a 'certeza' é adquirida pelas leis oriundas da experiência, não admitindo qualquer raciocínio "a priori", porque entende que só nos é possível afastar do erro mantendo contato permanente com a 'experiência', cabendo então aos nossos pensamentos a função de estudar os fatos, relacioná-los e estabelecer normas (leis).
Noutro parâmetro, a 'verdade' é pleiteada no 'Idealismo' através da 'idéia' como critério do conhecimento, negando a objetividade dos dados sensíveis; atendo-se -na concepção da verdade e do mundo- à idéia que deles faz o nosso espírito.
Ainda oculta nas escolas da filosofia ocidental, certamente, a 'unidade transcendental da percepção'; a idéia da consciência acima de todos os fenômenos e ligada a nenhum deles; são a causa daquilo que cedeu lugar à 'vontade', ao 'indivíduo', ao 'sujeito', à 'personalidade', ao 'ego'. A causa, enfim, do que -tendo sido vitimado por "queda de cima abaixo"- conhecemos até então por 'caráter'.
Desde que a 'opinião pública' passou a ser espelho necessário a uma ficcionada 'realidade comum', a capacidade individual inerente ao ato de interpretar deixou de integrar a unidade pessoal para dar lugar à incerta, porém, mais "convincente" 'pluralidade' -numa relação de causa e efeito concomitante à morte do caráter.
Hoje, seria muito difícil que um indivíduo formasse uma opinião isoladamente, porque, na origem, a opinião pública (vinda de debate público, de um processo de discussão coletiva, implícito ou explícito) influenciaria -ou até mesmo decidiria- esse indivíduo, de forma tal que este levaria sempre em conta o quê lhe ensinaram os pais, o quê pensam as pessoas de suas relações, as informações que recebe da mídia,e, ainda, a análise de um formador de opinião.
A grave consequência dessa concepção é que muito dificilmente nos entregamos ao exercício da interpretação plena, aquela absolutamente livre do jugo do condicionamento ao "aprendizado", que se nos é imposto, e que de bom grado aceitamos e reproduzimos.
Marcus Moreira Machado
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