Palavras se desgastam no tempo. E tanto se consomem que, não raro, já distantes do seu étimo, tornam-se vocábulos com sentido contrário ao original.
Exemplo hoje muito comum, o termo 'crítica' tem sido muito mais 'usado' que 'utilizado'; ou seja, tal expressão -por mal aplicada- perde o préstimo, ganhando significado diverso a qualquer admissível sinônimo.
Ainda que não completamente arraigada na determinação dos limites da razão humana; afastada, assim, do "criticismo" sistematizado na filosofia; a 'crítica' -entendida enquanto arte do julgamento da produção cultural e científica, ou compreendida na missão de esclarecer e corrigir costumes 'nacionais'- é tarefa importantíssima, porém, difícil, vez que a ela cabe, a par da doutrina, buscar aprimoramento moral.
Não por mera coincidência, nota-se contemporaneamente a correspondência, a reciprocidade, entre a degenerescência da civilização humana e a DECADÊNCIA DA CRÍTICA. Esta não é, jamais, substituível por leis, normas positivadas. Porque a correção pelos dispositivos legais nem sempre é tão incisiva quanto o é através da Crítica.
Se a lei impõe, não conseguindo atingir na totalidade a transgressão; a Crítica, por seu turno, descortina em ação refletida sobre os hábitos sociais.
Por isso, 'criticar' não é "intrigar". A malícia e a má-fé não estão presentes nos comentários da crítica, mas são a própria essência da intriga. Uma quer edificar, a outra busca a destruição.
Se o avanço da técnica, se o processo científico, atingiram, ambos, patamar surpreendente na evolução do homem, nos últimos cem anos; o oposto ocorre em relação à Crítica. E, decorrência, prejudicados têm sido os seus postulados fundamentados na instrução, na moralização e na correção; enaltecidos, sim, somente os valores firmados em sentimentos torpes -no ódio, na inveja, na soberba.
A intriga passou a ser então chamda de crítica, quando, antes, deveria ser criticada com severidade.
Contraditoriamente, às luzes esperadas com o domínio humano sobre as forças naturais, contrapõe-se atualmente o obscurantismo do PODER MINÚSCULO de tantos quantos julgam por 'inimigo' um mero 'oponente', dos que tacham de 'nocivo' o simples 'adverso' , SEPULTANDO A CRÍTICA COM A PÁ DA INTRIGA.
MARCUS MOREIRA MACHADO
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