Adeptos da tática black bloc, eles surgem vestidos de preto e com máscaras cobrindo os rostos. Chegam em grupos, cantando e gritando palavras de ordem e, algumas vezes, com armas rudimentares nas mãos e nas mochilas. São os jovens que vêm se destacando nas manifestações que agitam o país desde junho por usarem como canal de expressão aquilo que chamam de violência simbólica. Antes que se possa classificá-los como vândalos e arruaceiros, talvez seja importante ouvir o que têm a dizer.
Quem são esses rapazes e moças? O que
reivindicam? Como se relacionam com o Estado, como esperam que a
sociedade encare os atos de destruição do patrimônio?
O grupo dos chamados blackblocs é bastante articulado, sabe o que quer, se expressa muito bem.
Duas facetas que talvez até agora não
tenham aparecido na imprensa, na cobertura midiática dos atos. A
primeira é que os jovens desse grupo têm de 17 a 25 anos em sua maioria e
quase todos estudam em universidades particulares. São universitários,
portanto. São cidadãos que moram não nas periferias e
cidades-dormitório. Moram dentro dos limites da cidade, utilizam a
estrutura urbana, os serviços públicos, circulam por São Paulo. Somando
essas duas características, fica mais fácil explicar o discurso
articulado, coerente e crítico. Eles conhecem de perto os serviços que a
cidade oferece e estudam criticamente a situação do país. A outra
faceta é que, por trás das máscaras negras, os rapazes nem de longe
combinam com o estereótipo de pessoas violentas. Não lembram os
hooligans, por exemplo. São serenos, respeitosos, abertos a discussões.
Isso posto, importa explicar suas
reivindicações. A queixa primeira e unânime é por atenção. Sentem-se
excluídos, maltratados pelo Estado. Afirmam e fazem uso de argumentos
sólidos para isso, dizem que o Estado está de costas para os problemas
mais elementares da população. E é por isso que usam a violência
simbólica como forma de expressão. Eles se vêem como sujeitos políticos
da mudança e acreditam que os atos de violência -contra coisas, nunca
contra pessoas- são também uma maneira de chamar a sociedade para essa
discussão. Talvez nem os jovens mascarados saibam quais medidas devam
ser tomadas pelos governos. Porque são jovens, porque o movimento é
recente. Embora os blackblocs sejam herança, ainda que indireta, dos
grupos que militam contra a globalização desde a década de 1990, esta
atual geração começou agora, em junho, na Copa das Manifestações. Eles
foram se encontrando nas ruas e no Facebook, principalmente, e foram decidindo onde iriam atuar. Calcula-se que nas
manifestações menores apareçam cerca de trinta mascarados, mas nas
maiores contam-se até 150 integrantes. Agora, não é porque se vestem
igual e frequentam as mesmas manifestações que este grupo é homogêneo. Alguns são defensores de uma violência maior (quebrariam
mais equipamentos, lojas etc). Outros defendem bater em policiais. E há
até os mais sossegados, não favoráveis à violência. Vestem-se igual, mas não obrigatoriamente pensam igual.
(copydesk, Caos Markus)
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