A consciência será sempre consciência intencional de algo, ou seja, 'consciência de'. Neste sentido, a consciência já nasce projetada para algo que ela própria não é. E sendo intencional, a consciência nasce para um ser transcendente, por ela visado, e que ela própria não é. Portanto, 'toda consciência é de algo' e 'todo objeto é para a consciência de'.
Não pode haver consciência intencional do 'não ser'. O 'ser' para a consciência do indivíduo não pode ser pensado como inexistente, pois, nesse caso, o pensamento (na medida em que toda consciência é consciência de alguma coisa) seria desprovido de objeto e, portanto, o 'não ser'.
Ora, aqui está a possibilidade de uma experiência puramente filosófica: uma reação ao óbvio habitual. É inegável o fato de que a especulação filosófica surge a partir do mundo considerado estranho.
Imperativo é o retorno às próprias coisas, frequentá-las, ouvi-las. Assim, nenhum conceito poderá ser tomado em sentido absoluto, pois a própria coisa nunca se dá de forma acabada, de modo que haverá sempre algo mais a ser dito, pretendido.
Com efeito, ao não fazer uso dos pré-conceitos, pensa-se que as coisas se manifestarão como de fato são.
Outrossim, verifica-se a suspensão dos juízos ingênuos sobre a existência e realidade do mundo em si; a aceitação do mundo tal qual vivido, isto é, a redução do mundo ao fenômeno do mundo, ou à forma do seu aparecer como horizonte temporal e espacial.
O culminante objetivo não é silenciar todo discurso, mas apontar aquilo que é anterior ao sistema filosófico. Por isso a real carência de se suspender os juízos.
Em uma primeira aproximação, o sobrestamento de juízos suscita dois acontecimentos: a ruptura com o positivismo histórico e o retorno às próprias coisas.
A rejeição de pressupostos assume a dupla face da recusa -da História da Filosofia e da imposição de reconhecer as coisas em si mesmas. Diante do imperativo de situar-se nas próprias coisas, ou de ouvi-las, a História da Filosofia se torna inócua. Isto implica dizer que a experiência da consciência com o fenômeno evidente, em sua originalidade, tem primazia ontológica sobre o passado e sobre o futuro.
Uma vez que a redução fenomenológica impede a utilização da História da Filosofia como referência ao 'ser', resta afirmar a dissolução da própria Metafísica. Assim, cunha-se outro registro de pensamento, no plano da liberdade ontológica.
Ressalvando a reflexão do 'ser' enquanto manifestação originária das próprias coisas, logo, a liberdade é o modo pelo qual o 'ser' se dá, e não a dialética, ou qualquer sistema de pensamento preconcebido.
De forma sumária, a liberdade significa descartar a História para compreender o 'ser'. Dito de outro modo, a liberdade é o pensamento que se admite, se assume isentando-se de pré-conceito, ou melhor, liberdade que equivale a 'deixar ser'.
(Caos Markus)
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