Agora falando sério, eu queria não falar. Eu queria nem sequer precisar falar.
Ficar quietinho em meu canto, tendo mil idéias e não colocando nenhuma em prática, num mundo meio altista, particularíssimo e indevassável.
Já dei de mim o que eu nem sabia que tinha.
Quis dividir sonhos com quem não admitia sonhar; construí moinhos de vento para quixote nenhum botar defeito.
Mas, fantasias... Só as com muito brilho e purpurina, no Carnaval.
Se ainda abro a minha boca (fecha-te, Sésamo!), é bocejo de muita preguiça.
Agora seriamente falando, eu quero acreditar só no que é verdadeiramente possível, e a curto, curtíssimo prazo.
Não se trata de desencanto, mágoa ou qualquer coisa parecida.
Alguns momentos de felicidade é o suficiente. Suficiente para mim, obviamente.
Não cresci nem diminuí. Talvez, eu esteja encontrando o meu real tamanho ou, quem sabe, o tamanho do meu mundo -o meu “Pequeno Mundo”, como em Hermann Hesse, procurando descobrir por que os homens vivem quase sempre perto da escuridão em cujas sombras podem se perder.
Quem sabe, na cosmovisão possamos todos alcançar aprimooramento social e individual.
Aquela história de que hoje é dia da caça, amanhã é do caçador, é sinônima da outra: "quem espera sempre alcança".
O que vale dizer: se eu me deixar ser caçado, esperando, ainda alcançarei, caçando.
Meramente frases de efeito, cujo impacto se dilui na relatividade de nossas existências.
Assim, nem vale mais um pombo na mão, nem vale dois deles voando. Nada de pombo! Chega de tímida esperança!
Por que não aceitar, no recato, a mansidão da vida por si mesma, assim meio Gibran, poética e liricamente falando (e fazendo)?
Se for para gritar palavras de ordem, então abaixo todos os inúteis discursos redentores, de todos os credos, de todas as cores e matizes ideológicos.
E, também, nem quero mais exclamar.
Ato falho, vez ou outra cometerei a imprudência de clamar no deserto: vício, só isso.
Aguardar, em premeditado silêncio, a voz que vem do coração. Sabendo que ela certamente virá, porque é o que costuma fazer e o que sabe fazer.
Se ouvidos moucos não a ouvem, que meus não sejam eles.
Ouvirei Taiguara mais uma, mais outras vezes, sempre que o drama insistir em duelar com o meu amor.
E, mais do que tudo, é exatamente isso o que pretendo fazer: amar. Amar, acima de tudo, além de tudo, e por isso tudo.
Agora falando sério, eu queria nem falar.
As minhas melhores palavras foram ditas nas piores situações, para pessoas que não foram nem isso; para gente que também queria falar, mas não de si e para si, e sim às multidões que qualquer coisa ouve e a tudo aplaude.
“Ouça um bom conselho, que eu lhe dou de graça, é inútil dormir que a dor não passa”.
Um outro sono, de sonho feito de encontros imediatos, na mais pura empatia.
Para que o pote no final do arco-íris, se o ouro está a nossa frente, bem ali nas múltiplas cores?
Ainda quero perguntar. E não me preocupar com resposta alguma. É possível, estou convencido disso, satisfazer uma perplexidade com sucessivas indagações ( a cada novo momento uma expectativa a menos).
Nem política do corpo, nem política ambiental, nem política.
É preciso um pouco menos de tanto mais a andar por aí, insistindo que eu, que nós, temos muito pouco de tudo.
Por que não decidirmos nós mesmos o quê e o quanto nos basta?
Volto aonde jamais eu deveria ter saído, à primeira e única descoberta que eu fiz: volto para mim, e e mim tudo o que há em ti.
Guardo a amizade do amigo que é coisa pra se guardar, conhecendo-me nas fronteiras que imaginei, no valor pequeno que toda fronteira tem.
Eu tenho a casa no campo, e não mais me importo em querê-la.
Tanto a quis para, afinal, entender que a casa e o campo não eram senão pretextos de um incerto querer.
Pretender não é um trecho de caminho?
Vou voltar, sei que ainda vou voltar.
Por enquanto, agora falando sério eu queria não falar.
(Caos Markus)
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