O PODER NA "ORIGEM DA FAMÍLIA, DA PROPRIEDADE PRIVADA E DO ESTADO" O modelo nuclear de família caracteristicamente burguês, instituído vigorosamente na cultura e no imaginário ocidentais (considerado, via de regra, como a referência ideal e até mesmo 'natural' do que seria uma 'família'), foi abalado -já terminando o século 19- por transformações significativas, efeitos de crises econômicas, Europa afora, que, causando duas grandes guerras mundiais, geraram empobrecimento material de expressivos segmentos da sociedade, resultando em perda do poder aquisitivo, da posse dos meios de produção e do patrimônio de muitas famílias. Nesse contexto, o homem burguês (detentor da 'autoridade' familiar em razão do seu poder econômico) foi enfraquecido, perdendo o 'reconhecimento' de outrora, enquanto marido e pai. E, em contrapartida, também mudou a situação e a condição da mulher na sociedade, a partir de uma 'racionalização' sempre crescente. As ideias revolucionárias divulgadas nas sociedades ocidentais (notadamente a partir dos anos 50, após o fim da 2ª Guerra Mundial) contribuíram muito para a possibilidade de manifestação pública de outras formas de relação entre homens e mulheres, mais baseadas no afeto e menos em convenções formais. E, também, para a admissão mais intensa das uniões entre pessoas do mesmo sexo, na primazia do afeto e do desejo sobre a moralidade convencional. Frente a tantas transformações, cabe hoje indagar sobre a 'natureza' destas mudanças, e questionar o quê de fato mudou. Pois, observa-se, mesmo em arranjos familiares que rompem com o modelo tradicional -como é o caso de uniões homossexuais- há não apenas uma luta legítima por serem reconhecidos perante a lei de igual maneira às famílias mais convencionais (constituídas por casais heterossexuais), mas constata-se uma ânsia por seguir um modelo convencional de família nas suas relações internas. O mesmo parece ocorrer em muitas das novas formas de composição e recomposição familiares. Não se vislumbra o surgimento, a partir dessas novas configurações, de uma proposta crítica ao modelo tradicional. Nota-se, sim, a vontade de igualá-lo. Tudo como se (apesar das mudanças) a 'família tradicional' resistisse a todas as críticas que recebeu, permanecendo no imaginário social como aquela mais apta a prover as necessidades físicas e psíquicas de seus membros. Certamente, enquanto novas possibilidades de pensar e educar não forem abertas pelas 'novas famílias', também o Estado poderá se apresentar como novo. Porém, persisitirá no exercício do mesmo poder de sempre. Afinal, " A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado" não se resume a uma obra literária; é a sociedade humana retratada em seu conceitos e preconceitos. (Caos Markus)
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