Foram 15 os dias que para mim jamais existirão. Pouco eu soube a respeito. Alguns lapsos desse tempo -mais sentido, menos havido- ainda hoje, passadas 3 décadas, ressurgem-me à memória. Ei-los. Indignado ante a truculência no trato com um interno, me atrevi ao ali inimaginável: interceder, reclamando tolerância, ao menos, dos "seguranças" travestidos de enfermeiros. Tudo muito rápido, abandonaram a sua presa psicótica, agarraram-me... Átimo, instante de fração de segundos, uma seringa, a picada da agulha, e meu mergulho muito abaixo do inconsciente. Curiosa essa forma de matar alguém, preservando seu corpo, mas provocando o absoluto desaparecimento do seu psiquismo... Piso e paredes aprisionados por azulejos brancos, uma pequena e rasa cavidade no chão, eu, com grande esforço, avistei a porta (de ferro, reconheci depois). Lentamente, percebi: faltavam-me todas as vestes, eu estava nu. Nenhum mero indício sinalizava percurso anterior à minha chegada naquela placenta branca, abrigo de minhas débeis reminiscências, acolhimento do meu corpo fragilizado. Eu me catava: recolhia fragmentos da mente fugidia; entorpecido, reunia repetidamente pedaços meus, sem conhecimento determinado do destino dado aos meus braços, às minhas pernas... Meu universo alvo. Na cor e no sujeito passivo do seu único habitante, o meu universo branco, o lugar onde eu estava: um Q.F. (Caos Markus)
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