De fato, hoje o homem intelectual tornou-se uma criatura dada a explicações. Somente por isso, a conscientização das massas populares é pura mistificação, porque impede o despertar da consciência individual. Não por outro motivo, é preciso dispensar a política um tratamento tal que ela não venha a prejudicar a vida do espírito, pois a pluralidade - pressuposto a ser assumido de forma resumida pela imaginação no diálogo do pensamento - vem sendo ameaçada desde o início da modernidade, como bem esclarece Hannah Arendt.
Pois, como jamais houve na história da humanidade uma revolução consentida, não haverá libertação que não seja uma consequência do questionamento filosófico da condição humana.
O Homem libertar-se-á quando disser não ao “sim” a que foi adestrado repetir sistematicamente; quando, enfim, pensar ao invés de idolatrar. No diálogo do pensamento está a gênese do amor. O amor, anárquico que é, rompe todas e quaisquer imposições que teimam em circunscrever os sentimentos nos limites da indução.
“A alma quer mesmo o que quer: tem o seu próprio conhecimento, sentada, infeliz, na superestrutura da sua explicação, feito um pássaro que, coitado, não sabe de que lado vai voar”. É no gênio da loucura que resgataremos, a cada um de nós, as profecias das verdades insondáveis.
Personalíssimos, poderemos comungar a vida em sua apoteose transcendental, porque a verdade não será nunca a primeira, totalitária, e sim a de “um senso comum que possibilita partilhar o mundo com nossos semelhantes”.
“Pensar”, na pluralidade, será comprometer-se apaixonadamente com a divindade única da existência terrena - a vida.
Não se permitindo conhecer a pluralidade, o homem se recusa a compreender, afastando-se da plenitude da vida e preferindo a morte adiada, em culto ao deus-projeção de si mesmo que minimize o absurdo da imensurável existência humana.
A moderna idade é, portanto, tão antiga quanto o ser humano, da mesma forma como dele é a capacidade humana de iniciar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário