A morte do rei D. Sebastião na batalha de Alcácer-Quibir desencadeou uma crise na sucessão ao trono português, que, continuada com a morte de seu substituto, o cardeal D. Henrique, sem deixar sucessor direto, resultou na conquista de Portugal por Filipe II, rei da Espanha, em 1580. A união das duas Coroas ibéricas (União Peninsular) significou a junção de duas nações que apresentavam a mesma incapacidade na organização de suas políticas mercantilistas. Apesar dos lucros advindos do comércio oriental, da extração de metais preciosos na América e da empresa agrícola brasileira, as nações ibéricas não foram capazes de usar essas riquezas para o desenvolvimento capitalista nacional. Contrariando o princípio mercantilista da balança comercial favorável, essas nações usavam as riquezas coloniais para importar bens industrializados de outros países, incluindo produtos supérfluos, de luxo. Isso esgotava as reservas das Coroas e gerava dependência econômica em relação à Holanda, Inglaterra e França. O desastre da política mercantilista ibérica se vincula, também, à inexistência, nas duas nações, de uma burguesia forte e suficientemente poderosa para impor ao governo suas decisões. Por essa razão, as finanças portuguesas e espanholas eram administradas por uma nobreza parasitária, incapaz e luxuosa, cujos gastos ostentatorios dilapidavam os tesouros. O caso espanhol foi agravado pelas fantásticas somas necessárias para a sustentação dos belicosos exércitos e as constantes guerras em que a Espanha se envolveu. Afinal, devido ao descaso e à irracionalidade dos seus administradores, Espanha e Portugal transformam-se em meros entrepostos de suprimento de metais preciosos, de especiarias e, mais tarde, de açúcar e outros produtos tropicais a mercadores de toda a Europa. Nem mesmo se capacitam a criar um sistema próprio de distribuição dos seus produtos coloniais nos mercados europeus, perdendo, com isto, até os ganhos da comercialização. Apesar da resistência militar portuguesa aos exércitos invasores espanhóis, a pretensão de Filipe II de unir as duas nações teve o apoio de parte da nobreza e do segmento mercantil português. Apesar da unificação das Coroas, Filipe II tentou preservar a imagem de Portugal, não o tratando como nação conquistada, mas como um país que se uniu à Coroa espanhola. Esse tratamento foi assegurado com a assinatura, em 1581, do Juramento de Tomar, uma série de compromissos assumidos pela Espanha em relação a Portugal. Por ele, resguardava-se a Portugal o controle do comércio de suas colônias, a manutenção das leis, usos e costumes portugueses e garantia-se que a administração pública de Portugal e de suas colônias seria exercida por portugueses. O Juramento de Tomar é a evidência do pouco interesse econômico de Filipe lI por Portugal e Brasil, e demonstração de que a União Ibérica tinha, para ele, um significado político maior: aumentar o prestígio internacional da Espanha.
Acontecimentos importantes marcaram a vida político-administrativa do Brasil sob o domínio espanhol: uma reforma na política fiscal, tornando-a mais rígida e mais eficiente no combate à corrupção e aos desvios do dinheiro proveniente da tributação; a prática da justiça foi dinamizada com a criação do Tribunal de Relação de Salvador, onde os colonos podiam apelar das sentenças (antes, as apelações só eram julgadas em Lisboa). Durante o domínio espanhol a colonização se expandiu no litoral ao norte de Pernambuco, chegando até o Amazonas (chamada "expansão oficial"). Houve uma nova divisão política no Brasil, com a criação do Estado do Maranhão em 1621, composto pelas capitanias do Grão-Pará, Maranhão e Ceará, assim mantida até 1774.
Também como efeito desse domínio, nota-se, mesmo que pouco acentuada, a incorporação, no Brasil, de vocábulos hispânicos ao vernáculo português. Assim é que, erroneamente considerado "caipira" (no sentido jocoso), em alguns lugares (interioranos, principalmente), ainda hoje ouve-se o "arriba", ao invés de 'acima'; ou, mais comum, o "volver", da ordem "...meia volta, volver!".
(Marcus Moreira Machado)
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