A ideologia populista possui em sua essência o culto do "Estado protetor", quer dizer, a esperança e o forte desejo de que o Estado tome a iniciativa de proteger os trabalhadores da ação dos capitalistas, sem levar em consideração qualquer correlação política de forças num determinado momento.
Base teórica dessa ideologia, o populismo é dirigido à proteção dos 'pobres e humildes', contra a ganância dos ricos e poderosos.
Confirma-se, logo de início, que se trata de uma ideologia pequeno-burguesa, fundamentando uma modalidade de estatismo.
Mesmo quando superficial e aparente a sua manifestação, como relação entre o líder e as massas (mais precisamente o proletariado), o populismo traduz-se, sim, pela identificação dos segmentos populares com o aparelho do Estado burguês, e não com a pessoa do líder. É a aproximação com a burocracia civil e militar do Estado que caracteriza tal identificação, tendente a assumir forma de um fetiche do Estado.
Fetiche porque os setores populares contagiados pela ideologia populista desconhecem que a política de Estado é delimitada na correlação política de forças. Essa política é então vista como simples resultado da vontade livre e soberana do próprio Estado.
Dessa soberania imaginada, as massas esperam que o Estado venha em socorro do povo, sem necessidade qualquer da luta popular organizada.
As consequências de tão indolente posição são variáveis, de acordo com a situação política. Assim, em uma situação de refluxo do movimento popular -e sendo interesse dos que estão no poder levar adiante uma política econômica e social antipopular- o fetiche populista do Estado condena as classes populares à ilusão de que o governo pode ser sensível com os problemas do povo, a qualquer momento, e alterar a sua orientação política.
Já em outro ambiente, mais favorável, no qual o movimento popular esteja em ascensão -e que o governo tenha de contemplar algumas reivindicações, fragilizado por sua própria composição intena ou debilitado por divisões ocasionais- , a ideologia populista leva os trabalhadores a atribuirem a força e o resultado de sua própria ação à vontade soberana e benevolente do Estado.
Tanto nesta quanto naquela situação, o fetiche populista do Estado consegue impedir a constituição dessas classes populares em força social autônoma.
Nesta ideologia estatista pequeno-burguesa está presente o reformismo. Afastado por completo de um ideal revolucionário, o povo crê em mudanças sem a sua efetiva participação, dando o seu aval ao Estado para agir em seu nome, pois que dele espera medidas protetivas.
Percebe-se o quanto é mais fácil vingar o populismo em países onde 'povo' e 'nação' ainda estejam muito distantes um do outro.
Confirma-se porque no Brasil esse reformismo pequeno-burguês é tão frequente.
(Marcus Moreira Machado)
Nenhum comentário:
Postar um comentário