Há em uma sala de aula variada gama de universos, sob o ponto de vista pessoal e subjetivo. Cada um possui características personalíssimas, sua história, seu quadro de valores, expectativas e ansiedades, potencial intelectual, suas situações afetivas (remotas e recentes), ideias e crenças, visão de mundo, sua classe social, tipo físico, sua participação em grupos exclusivos.
O processo de alienação e objetivação transforma todas estas diferenças em elementos de competitividade e oclusão. E as desigualdades, mesmo entre os considerados “iguais”, como os alunos, transformam-se em verdadeiros abismos entre uns e outros. Acrescenta-se a este mundo um elemento, o professor (cuja função se destaca, diferenciando-se por sua própria dinâmica), e mais ainda se nota a forte discriminação.
Esta alienação, uma terra deserta , delimita dois distintos redutos.
Demarcação que não segrega apenas os indivíduos uns dos outros, mas também dissocia uma pessoa de si própria. E tudo ocorre como se em seus destinos ninguém pudesse ter qualquer interferência, já determinados por uma trama inconsciente, alheia à vontade de seus participantes.
Com efeito, os alunos estão nessa sala de aula porque a família (sem qualquer fundamento em valores humanistas, porém, sob as influências culturais de uma concepção financeira, de manutenção ou de ascensão de status) assim determinou. Já o professor, quais descaminhos o conduziram à sala de aula, onde predominam o desânimo, a passividade, a falta de estímulos? São quase inexistentes os impulsos conscientes que motivam o indivíduo a compor a sala de aula, seja aluno ou professor.
Eles estão lá, contudo, contra a vontade, submetidos a uma engrenagem absoluta e incompreensível. Este processo autômato da alienação torna passiva a participação, tanto do docente quanto do aprendiz.
O desmembramento e a inércia são processos objetivos oriundos do organismo social. As pessoas isoladamente não são culpadas, a culpa encontra-se na relação social, a estruturá-las sob a violência objetivada.
Não percebendo o sistema de desvario e materialização enquanto resultado de um processo social, o professor sucumbe. E passa a ver nos alunos a culpa, ao invés de compreendê-los como vítimas iguais a ele, todos entorpecidos.
A partir daí, aquele a quem se atribuia a habilidade de transmitir conhecimentos, o educador, também ele é imerso nesta inconsciência coletiva, não distinguindo liberdade e desrespeito coletivo, perdendo o interesse no estímulo dos educandos, na falta de sensibilidade para aprofundar o que é de interesse geral, perdido em minúcias ou interesses particulares.
Educar, todavia, é romper essa cadeia de alienação, ativando corpo e mente; é desenvolver todas as potências lógicas e afetivas, pôr em funcionamento a multiplicidade de verdadeiras oficinas de criatividade.
Ora, se a culpa é da relação entre os indivíduos isolados, ela deve ser a prioridade no questionamento sobre como educar.
É necessário quebrar os muros do bloqueio, unir os homens num universo criador; resgatar a humanidade perdida.
Se a culpa é da relação social, deve-se transformá-la, na escola e na sala de aula, criando um nexo educacional entre os agentes da comunidade. O vínculo vai gerar novos homens. À participação absorta e passiva deve-se opor a coletiva e ativa.
O aspecto comum da cooperação há de ser visto não como despersonalizador, e sim enquanto o principal instrumento da construção de individualidades.
Se a realização da humanidade acontece quando as pessoas se percebem coordenadoras na construção de uma felicidade jamais admitida como bem individual, então, este é o meio mais eficaz de ser formar individualmente co-partícipes responsavelmente atuantes.
Para cumprir esses propósitos, impõe-se ao professor ouvir e se fazer ouvir, oferecendo espaços onde os alunos não só compreenderão as ideias vinculadas pelos autores, mas também se posicionarão diante delas, iniciando o confronto das premissas evidenciadas.
Confirma-se, a partir da dinâmica interna da sala de aula, do relacionamento 'professor-aluno', é possível identificar formas de influenciar o movimento externo, a fim de modificá-lo, não se limitando a constatar a sua realidade, entretanto, reconhecendo o âmbito, em suas razões, do qual uma mensagem é transmitida.
(Caos Markus)
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