REMETENTE e DESTINATÁRIO alternam-se em TESES e ANTÍTESES. O ANTAGONISMO das CONTRADITAS alçando vôo à INTANGÍVEL verdade.
sexta-feira, 19 de outubro de 2012
SEGUNDA-FEIRA, 22 DE OUTUBRO DE 2012: "A DIVINA EXPLOSÃO"
O retorno ao passado, no que ele representou de mais conservador, parece ser a meta de um futuro próximo.
Retroceder ao tempo de um Estado soberano, formal e essencialmente burocrático, onde nação é mero pretexto e nunca um sincero propósito, tem sido habitual em nossos dias. No dizer de Medard Boss, "a verdadeira, a grande bomba atômica já explodiu séculos atrás; falamos daquela bomba atômica espiritual, a qual começou a atomizar e pulverizar nosso mundo, quando as ciências naturais-analíticas declararam serem as coisas de nossa terra e de nosso céu um simples acúmulo de massas moleculares e de movimentos ondulatórios, e assim as destruíram como coisa que eram até então".
Ao passo em que os avanços da tecnologia moderna deveriam propiciar um progresso generalizado e extensivo à toda população do planeta, exatamente o contrário é que mais corriqueiramente se verifica desde a expansão econômica advinda com a Revolução Industrial, demonstrando ser expressão da verdade a consideração de que "os meios pelo homem criados para aumentar seu bem-estar, notadamente os que lhe dão mais força ou segurança, são naturalmente aqueles que ele vai utilizar para se fazer mais forte na guerra, a fim de dominar ou tentar dominar os outros".
Pois, é justamente quando o aparato das ciências aplicadas atinge o seu maior estágio que a humanidade se percebe totalmente desprotegida, vítima da miséria e da violência.
O homem, de tanto acreditar no que era capaz de fazer, muito pouco realmente fez de bom para si mesmo, esquecendo-se de sua necessária integração à natureza que paulatinamente vem buscando transformar.
Marcados pela avareza - típico sinal de uma pretensa modernidade -, deveríamos ouvir do pretérito o que de melhor ele teve. Assim, nunca é demais a advertência, ainda que simbólica, de um Dante Alighieri, em sua "A Comédia" (mais tarde chamada de "divina"):
"Eles se hão de embater na eternidade:/Ressurgindo, uns terão as mãos fechadas, / Os outros de cabelo pouquidade./Por dar mal, por mal ter viram cerradas/Do céu as portas; penam nesta lida,/Com mágoas, que não podem ser contadas".
O progresso não tem sido acompanhado de evolução, antes ele tem somente possibilitado uma suposta maturidade.
As divergências de interpretações várias não estão mais subordinadas a um consenso inevitável; como uma necessidade do progresso, no que entre nós se instalou enquanto "o domínio sem controle do livre arbítrio".
Sendo "as leis relativas á existência humana tão verdadeiras como as regentes de todos os outros aspectos da natureza", o seu desprezo tem acarretado o insuportável ônus de uma espetacular deterioração da sociedade humana.
A teoria do eterno retorno, apregoada pelos nihilistas, não é de toda inaceitável: sem nenhum melhor critério, estamos voltando à sucessão de episódios que, bem o sabemos, só fizeram difundir a negação da supremacia humana na terra.
Essa insustentável leveza do ser já foi comparada à fragilidade da própria história que "é tão leve quanto a vida do indivíduo, insustentávelmente leve, leve como uma pluma, como uma poeira que vai desaparecer amanhã", na observação de Milan Kundera.
A cada novo instante, mais submissos todos estamos, em severa subordinação à nossa surpreendente insignificância diante daquela que ainda hoje nos é de toda incompreensível -a mente humana.
Buscando reduzir o assombro, projetamo-nos como deuses onipotentes, onipresentes e oniscientes, não percebendo que "todo querer não é outra coisa que uma procura de compensação, que um esforço visando sufocar o sentimento de inferioridade". E a sombra dessa projeção indica nada mais que o nosso reduzido tamanho incapacidade para uma reflexão mais séria sobre a existência da humanidade; um olhar para o seu destino a partir do livre arbítrio e suas nefastas conseqüências.
Definitivamente, não somos felizes. Por que?
Talvez, porque não é incorreta a assertiva: "o coração tem razões que a própria razão desconhece". Porém, com uma imprescindível ressalva: não entendemos absolutamente nada de "coração". Conhecemos o sistema solar, a via-láctea e muito mais, mas, absurdamente, o universo interior de cada um de nós é enigma jamais decifrado.
É de considerar-se oportuna a advertência de Medard Boos:
"As pessoas que mais temem a morte são sempre as mesmas que mais têm medo da vida, pois é sempre o viver da vida que desgasta e põe em perigo o estar-aí".
Não vocacionado para a paz, o homem moderno quedou-se ao silêncio da omissão, um desventurado procurando a felicidade no desmesurado do qual fez o seu inviolável refúgio.
Inapto à vida em plenitude, o seu suicídio se opera de forma lenta e gradual, através de um vago mecanismo de defesa, consistente na recusa sistemática daquilo que lhe é essencial -o amor. Este também no mais amplo sentido, a nortear a sua breve passagem por este mundo.
Regredir é a conduta dos temerosos, de tantos quantos renunciam à vida em seu próprio nome.
(Caos Markus)
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