Em geral, as éticas adotam o princípio segundo o qual os fins não justificam os meios. Verdade é que se estes fossem neutros, jamais seria questionado o problema de sua justificação. Na medida em que são escolhidos em função da sua maior ou menor aptidão para se alcançar o fim, a evidência emerge, ou seja, neles está presente o valor do fim. Obviamente, enquanto tal, um meio pode ser neutro. Contudo, esse meio não existe de fato. A sua existência só se confirma no contexto dos pressupostos que lhe conferem sentido. Porque se escolhe este e não aquele meio, ao menos na sociedade contemporânea, explica-se na racionalidade da ação e do pensamento. Racionalidade que desperta uma clareza da consciência, o básico postulado de toda ação cujo caráter denota reflexão e responsabilidade.
Na questão da neutralidade, o que se articula é o conceito de objetividade científica. Mas essa objetividade não existe. Há sim uma objetivação, isto é, a objetividade aproximada, o empenho de conhecer a realidade naquilo que ela é e não como idealização coletiva.
O projeto do conhecimento científico é atingir em sua essência a realidade. Um projeto, pois, irrealizável, considerando o nosso efetivo conhecimento do real tão-somente como o vemos. O indivíduo constrói o objeto de sua ciência, enquanto a objetividade não supera a instância onde se situa o ideal. Por isso, sujeito algum a concretiza.
Nem mesmo a ideologia escapa à tendência de se almejar aquisição de conhecimentos objetivos, pois não lhe interessam conhecimentos ideológicos, deturpando os fatos favoravelmente a determinados interesses. E como todo conhecimento vem acompanhado de ideologias, é iminente o risco da arbitrariedade.
Se por um lado a ciência não derruba os valores, por outro, inexistem critérios de objetividade universalmente válidos, de maneira a permitir neutralidade para todos esses mesmos valores. Apenas os parâmetros de objetivação podem assegurar certa forma de aproximação da realidade, evitando as desfigurações ideológicas.
(Caos Markus)
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