Contemporaneamente, assim como Pilatos, encontram-se, abrigados em suas fortalezas políticas, homens públicos que resistem em curvar-se diante da verdade. Parafraseando o antigo procurador romano, governantes de hoje também perguntam o que é a verdade. E, por não terem nem dignidade, nem princípios, burlam o tempo todo, artífices que são de sensacionais patranhas.
Sofismar é verbo da atualidade, quando multidões inteiras têm sido vítimas da arte de lograr. Onzeneiros profissionais, falsos líderes fustigam - da comodidade e segurança das suas tribunas - a intriga e a infâmia. Outra preocupação não há senão a de aturdir, no inconseqüente burburinho, a opinião pública. O vulgo, presa fácil da achincalhação, sempre um adventício em seu próprio território. A ambigüidade substituiu o caráter e a dissimulação pretende olvidar a verdade.
Apóstolos da incredulidade, os novos procuradores da plebe propagam, pela doutrina da sedução, o aliciamento dos incautos forjados na falsidade. Os crassos, em obediência desvairada, não percebem habitar o arrabalde do poder. E a pêta grassa país adentro, imiscuindo-se na honorabilidade nacional, em execrável e torpe conduta peculiar aos ignominiosos.
Saber o que é bom e trilhar o imprestável é característica dos egoístas que, por comodismo, tornam-se capazes de tudo, menos de seguir o equânime.
Pois, que tremebundo rincão o nosso! A vileza tem primazia sobre o decoro; a miserabilidade é a elegia da turbação a que foi subjugada a prole dos desafortunados. Proceres messiânicos prometem a abastança, na basófia dos insolentes! E, a mossa se faz sentir no litígio dos abjetos.
“Quid est veritas? A verdade não é de quem não tem a sua própria.
“Quid est veritas?” A evidência dos fatos revela, senão a verdade, todo o embuste para ocultá-la.
Há verdades históricas cujo conhecimento se impõe. Desprezar, duvidar, negar o valor das verdades históricas é assumir a insensatez ou a perversidade. Pois, carecemos de homens circunspectos, e padecemos de depravação.
Ou a necedade aprova o descalabro moral, por desconhecer o império da razão, ou a corrupção reprova o discernimento, por conhecer a impertinência da verdade na conquista da insânia coletiva.
“Não servir sem independência a justiça, nem quebrar da verdade ante o poder”, aconselhou o mestre Ruy Barbosa, em “Orações aos Moços”. Quizera ele descobrir o que era a verdade? Parece-nos que o eminente jurista reverenciava a verdade, curvando-se a ela como a um ente supremo. Assim demonstra, quando recomenda: “Não ser baixo com os grandes, nem arrogante com os miseráveis”. Lamentavelmente, agora apenas ouvimos a proclamação do impropério, quando a harmonia é tragada pela pusilaminidade daqueles que escamoteiam as verdades históricas e, com elas querem sepultar tudo o que é magnânimo. (Marcus Moreira Machado)
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