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quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

SEXTA-FEIRA, 3 DE JANEIRO DE 2014: "MÍDIA PEDAGÓGICA"



Estamos deslumbrados com o computador e a Internet na escola e vamos deixando de lado a televisão e o vídeo, como se já estivessem ultrapassados, não fossem mais tão importantes ou como se já dominássemos suas linguagens e sua utilização na educação.
A televisão, o cinema e o vídeo, CD ou DVD - os meios de comunicação audiovisuais - desempenham, indiretamente, um papel educacional relevante. Passam-nos continuamente informações, interpretadas; mostram-nos modelos de comportamento, ensinam-nos linguagens coloquiais e multimídia e privilegiam alguns valores em detrimento de outros.
 A informação e a forma de ver o mundo predominantes no Brasil provêm fundamentalmente da televisão. Ela alimenta e atualiza o universo sensorial, afetivo e ético que crianças e jovens – e grande parte dos adultos - levam a para sala de aula. Como a TV o faz de forma mais despretensiosa e sedutora, é muito mais difícil para o educador contrapor uma visão mais crítica, um universo mais  mais abstrato, complexo e na contra-mão da maioria como a escola se propõe a fazer.
A TV fala da vida, do presente, dos problemas afetivos - a fala da escola é muito distante e intelectualizada - e fala de forma impactante e sedutora - a escola, em geral, é mais cansativa, concorda?. O que tentamos contrapor na sala de aula, de forma desorganizada e monótona, aos modelos consumistas vigentes, a televisão, o cinema, as revistas de variedades e muitas páginas da Internet o desfazem nas horas seguintes. Nós mesmos como educadores e telespectadores sentimos na pele a esquizofrenia das visões contraditórias de mundo e das narrativas (formas de contar) tão diferentes dos meios de comunicação e da escola.
Percebeu que na procura desesperada pela audiência imediata e fiel, os meios de comunicação desenvolvem estratégias e fórmulas de sedução mais e mais aperfeiçoadas: o ritmo alucinante das transmissões ao vivo, a linguagem concreta, plástica, visível?. Mexem com o emocional, com as nossas fantasias, desejos, instintos. Passam com incrível facilidade do real para o imaginário, aproximando-os em fórmulas integradoras, como nas telenovelas.
Em síntese, os Meios são interlocutores constantes e reconhecidos, porque competentes, da maioria da população, especialmente da infantil. Esse reconhecimento significa que os processos educacionais convencionais e formais como a escola não podem voltar as costas para os meios, para estar tão atraente e, em consequência, tão eficiente. A maior parte do referencial do mundo de crianças e jovens provém da televisão. Ela fala da vida, do presente, dos problemas afetivos - a escola é muito distante e abstrata - e fala de forma viva e sedutora - a escola, em geral, é mais cansativa.
As crianças e jovens se acostumaram a se expressar de forma polivalente, utilizando a dramatização, o jogo, a paráfrase, o concreto, a imagem em movimento. A imagem mexe com o imediato, com o palpável. A escola desvaloriza a imagem e essas linguagens como negativas para o conhecimento. Ignora a televisão, o vídeo; exige somente o desenvolvimento da escrita e do raciocínio lógico. É fundamental que a criança aprenda a equilibrar o concreto e o abstrato, a passar da espacialidade e contiguidade visual para o raciocínio sequencial da lógica falada e escrita. Não se trata de opor os meios de comunicação às técnicas convencionais de educação, mas de integrá-los, de aproximá-los para que a educação seja um processo completo, rico, estimulante. A escola precisa observar o que está acontecendo nos meios de comunicação e mostrá-lo na sala de aula, discutindo-o com os alunos, ajudando-os a que percebam os aspectos positivos e negativos das abordagens sobre cada assunto.
Precisamos, em conseqüência, estabelecer pontes efetivas entre educadores e meios de comunicação. Educar os educadores para que, junto com os seus alunos, compreendam melhor o fascinante processo de troca, de informação-ocultamento-sedução, os códigos polivalentes e suas mensagens. Educar para compreender melhor seu significado dentro da nossa sociedade, para ajudar na sua democratização, onde cada pessoa possa exercer integralmente a sua cidadania.
Em que níveis pode ser pensada a relação Comunicação, Meios de Comunicação e Escola? Entendemos que esta pode ser pensada em três níveis:
1.      organizacional
2.      de conteúdo
3.      comunicacional
no nível organizacional: uma escola mais participativa, menos centralizadora, menos autoritária, mais adaptada a cada indivíduo. Para isso, é importante comparar o nível do discurso - do que se diz ou se escreve - com a práxis - com as efetivas expressões de participação.
- no nível de conteúdo: uma escola que fale mais da vida, dos problemas que afligem os jovens. Tem que preparar para o futuro, estando sintonizada com o presente. É importante buscar nos meios de comunicação abordagens do quotidiano e incorporá-las criteriosamente nas aulas.
no nível comunicacional: conhecer e incorporar todas as linguagens e técnicas utilizadas pelo homem contemporâneo. Valorizar as linguagens audiovisuais, junto com as convencionais.
Tem-se enfatizado a questão do conhecimento como essencial para uma boa educação. É básico ajudar o educando a desenvolver sua(s) inteligência(s), a conhecer melhor o mundo que o rodeia. Por outro lado, fala-se da educação como desenvolvimento de habilidades: "Aprender a aprender", saber comparar, sintetizar, descrever, se expressar.
Desenvolver a inteligência, as habilidades e principalmente, as atitudes. Ajudar o educando a adotar atitudes positivas, para si mesmo e para os outros. Aqui reside o ponto crucial da educação: ajudar o educando a encontrar um eixo fundamental para a sua vida, a partir do qual possa interpretar o mundo (fenômenos de conhecimento), desenvolva habilidades específicas e tenha atitudes coerentes para a sua realização pessoal e social
A transmissão de informação é a tarefa mais fácil e onde as tecnologias podem ajudar o professor a facilitar o seu trabalho. Um simples CD-ROM contém toda a Enciclopédia Britânica, que também pode ser acessada on line pela Internet. O aluno nem precisa ir a escola para buscar as informações. Mas para interpretá-las, relacioná-las, hierarquizá-las, contextualizá-las, só as tecnologias não serão suficientes. O professor o ajudará a questionar, a procurar novos ângulos, a relativizar dados, a tirar conclusões.
Que outras contribuições as tecnologias podem dar ao professor? As tecnologias também ajudam a desenvolver habilidades, espaço-temporais, sinestésicas, criadoras. Mas o professor é fundamental para adequar cada habilidade a um determinado momento histórico e a cada situação de aprendizagem.
As tecnologias são pontes que abrem a sala de aula para o mundo, que representam, medeiam o nosso conhecimento do mundo. São diferentes formas de representação da realidade, de forma mais abstrata ou concreta, mais estática ou dinâmica, mais linear ou paralela, mas todas elas, combinadas, integradas, possibilitam uma melhor apreensão da realidade e o desenvolvimento de todas as potencialidades do educando, dos diferentes tipos de inteligência, habilidades e atitudes.
As tecnologias permitem mostrar várias formas de captar e mostrar o mesmo objeto, representando-o sob ângulos e meios diferentes: pelos movimentos, cenários, sons, integrando o racional e o afetivo, o dedutivo e o indutivo, o espaço e o tempo, o concreto e o abstrato.
A educação é um processo de construção da consciência crítica. Como então se dá esse processo? Essa construção começa com a problematização dos dados que nos chegam direta e indiretamente - através dos meios, por exemplo - recontextualizando-os numa perspectiva de conjunto, totalizante, coerente, um novo texto, uma nova síntese criadora. Essa síntese integra os dados tanto conceituais quanto sensíveis, tanto da realidade quanto da ficção, do presente e do passado, do político, econômico e cultural. Falamos assim, de uma educação para a comunicação. Uma educação que procura ajudar as pessoas individualmente e em grupo a realizar sínteses mais englobantes e coerentes, tomando como partida as expressões de troca que se dão na sociedade e na relação com cada pessoa; ajudar a entender uma parte dessa totalidade a partir da comunicação enquanto organização de trocas tanto ao nível interpessoal como coletivo.
A educação para a comunicação precisa da articulação de vários espaços educativos, mais ou menos formais: educação ao nível familiar, trabalhando a relação pais-filhos-comunicação, seja de forma esporádica ou em momentos privilegiados, em cursos específicos também. A relação comunicação-escola, uma relação difícil e problemática, mas absolutamente necessária para o enriquecimento de ambas, numa nova perspectiva pedagógica, mais rica e dinâmica. Comunicação na comunidade, analisando os meios de comunicação a partir da situação de uma determinada comunidade e interpretando concomitantemente os processos de comunicação dentro da comunidade. Educação para a comunicação é a busca de novos conteúdos, de novas relações, de novas formas de expressar esses conteúdos e essas relações.
A escola precisa exercitar as novas linguagens que sensibilizam e motivam os alunos, e também combinar pesquisas escritas com trabalhos de dramatização, de entrevista gravada, propondo formatos atuais como um programa de rádio uma reportagem para um jornal, um vídeo, onde for possível. A motivação dos alunos aumenta significativamente quando realizam pesquisas, onde se possam expressar em formato e códigos mais próximos da sua sensibilidade. Mesmo uma pesquisa escrita, se o aluno puder utilizar o computador, adquire uma nova dimensão e, fundamentalmente, não muda a proposta inicial.
Integrar as mídias nas escolas
Antes da criança chegar à escola, já passou por processos de educação importantes: pelo familiar e pela mídia eletrônica. No ambiente familiar, mais ou menos rico cultural e emocionalmente, a criança vai desenvolvendo as suas conexões cerebrais, os seus roteiros mentais, emocionais e suas linguagens. Os pais, principalmente a mãe, facilitam ou complicam, com suas atitudes e formas de comunicação mais ou menos maduras, o processo de aprender a aprender dos seus filhos.
A criança também é educada pela mídia, principalmente pela televisão. Aprende a informar-se, a conhecer - os outros, o mundo, a si mesmo - a sentir, a fantasiar, a relaxar, vendo, ouvindo, "tocando" as pessoas na tela, que lhe mostram como viver, ser feliz e infeliz, amar e odiar. A relação com a mídia eletrônica é prazerosa - ninguém obriga - é feita através da sedução, da emoção, da exploração sensorial, da narrativa - aprendemos vendo as estórias dos outros e as estórias que os outros nos contam.
Mesmo durante o período escolar a mídia mostra o mundo de outra forma - mais fácil, agradável, compacta - sem precisar fazer esforço. Ela fala do cotidiano, dos sentimentos, das novidades. A mídia continua educando como contraponto à educação convencional, educa enquanto estamos entretidos.
A educação escolar precisa compreender e incorporar mais as novas linguagens, desvendar os seus códigos, dominar as possibilidades de expressão e as possíveis manipulações. É importante educar para usos democráticos, mais progressistas e participativos das tecnologias, que facilitem a evolução dos indivíduos. O poder público pode propiciar o acesso de todos os alunos às tecnologias de comunicação como uma forma paliativa, mas necessária de oferecer melhores oportunidades aos pobres, e também para contrabalançar o poder dos grupos empresariais e neutralizar tentativas ou projetos autoritários.
Se a educação fundamental é feita pelos pais e pela mídia, urgem ações de apoio aos pais para que incentivem a aprendizagem dos filhos desde o começo das vidas deles, através do estímulo, das interações, do afeto. Quando a criança chega à escola, os processos fundamentais de aprendizagem já estão desenvolvidos de forma significativa. Urge também a educação para as mídias, para compreendê-las, criticá-las e utilizá-las da forma mais abrangente possível.
A educação para os meios começa com a sua incorporação na fase de alfabetização. Alfabetizar-se não consiste só em conscientizar os códigos da língua falada e escrita, mas dos códigos de todas as linguagens do homem atual e da sua interação. A criança, ao chegar à escola, já sabe ler histórias complexas, como uma telenovela, com mais de trinta personagens e cenários diferentes. Essas habilidades são praticamente ignoradas pela escola, que, no máximo, utiliza a imagem e a música como suporte para facilitar a compreensão da linguagem falada e escrita, mas não pelo seu intrínseco valor. As crianças precisam desenvolver mais conscientemente o conhecimento e prática da imagem fixa, em movimento, da imagem sonora ... e fazer isso parte do aprendizado central e não marginal. Aprender a ver mais abertamente, o que já estão acostumadas a ver, mas que não costumam perceber com mais profundidade (como os programas de televisão).
Antes de pensar em produzir programas específicos para as crianças, convém retomar, estabelecer pontos com os produtos culturais que lhes são familiares. Fazer re-leituras dos programas infantis, re-criação desses mesmos programas, elaboração de novos conteúdos a partir dos produtos conhecidos. Partir do que o rádio, jornal, revistas e televisão mostram para construir novos conhecimentos e desenvolver habilidades. Não perder a dimensão lúdica da televisão, dos computadores. A escola parece um desmancha-prazeres. Tudo o que as crianças adoram a escola detesta, questiona ou modifica. Primeiro deve-se valorizar o que é valorizado pelas crianças, depois procurar entendê-lo (os professores e os pais) do ponto de vista delas, crianças, para só mais tarde, propor interações novas com os produtos conhecidos. Depois podem-se exibir programas adaptados à sua sensibilidade e idade, programas que sigam o mesmo ritmo da televisão, mas que introduzam alguns conceitos específicos que, aos poucos, irão sendo incorporados.

(Caos Markus)

QUINTA-FEIRA, 2 DE JANEIRO 2014 " MOTIVO E MOTIVAÇÃO "


Caminhos para a aprendizagem inovadora

De tudo, de qualquer situação, leitura ou pessoa podemos extrair alguma informação ou experiência que nos pode ajudar a ampliar o nosso conhecimento, para confirmar o que já sabemos, para rejeitar determinadas visões de mundo, para incorporar novos pontos de vista.
Um dos grandes desafios para o educador é ajudar a tornar a informação significativa, a escolher as informações verdadeiramente importantes entre tantas possibilidades, a compreendê-las de forma cada vez mais abrangente e profunda e a torná-las parte do nosso referencial.
Aprendemos melhor quando vivenciamos, experimentamos, sentimos. Aprendemos quando relacionamos, estabelecemos vínculos, laços entre o que estava solto, caótico, disperso, integrando-o em um novo contexto, dando-lhe significado, encontrando um novo sentido.
Aprendemos quando descobrimos novas dimensões de significação que antes se nos escapavam, quando vamos ampliando o círculo de compreensão do que nos rodeia, quando como numa cebola, vamos descascando novas camadas que antes permaneciam ocultas à nossa percepção, o que nos faz perceber de uma outra forma. Aprendemos mais quando estabelecemos pontes entre a reflexão e a ação, entre a experiência e a conceituação, entre a teoria e a prática; quando ambas se alimentam mutuamente.
Aprendemos quando equilibramos e integramos o sensorial, o racional, o emocional, o ético, o pessoal e o social.
Aprendemos pelo pensamento divergente, através da tensão, da busca e pela convergência – pela organização, integração.
Aprendemos pela concentração em temas ou objetivos definidos ou pela atenção difusa, quando estamos de antenas ligadas, atentos ao que acontece ao nosso lado. Aprendemos quando perguntamos, questionamos, quando estamos atentos, de antenas ligadas.
Aprendemos quando interagimos com os outros e o mundo e depois, quando interiorizamos, quando nos voltamos para dentro, fazendo nossa própria síntese, nosso reencontro do mundo exterior com a nossa reelaboração pessoal.
Aprendemos pelo interesse, necessidade. Aprendemos mais facilmente quando percebemos o objetivo, a utilidade de algo, quando nos traz vantagens perceptíveis. Se precisamos comunicar-nos em inglês pela internet ou viajar para fora do país, o desejo de aprender inglês aumenta e facilita a aprendizagem dessa língua.
Aprendemos pela criação de hábitos, pela automatização de processos, pela repetição. Ensinar se torna mais duradouro, se conseguimos que os outros repitam processos desejados. Ex. ler textos com frequência, facilita que a leitura faça parte do nosso dia a dia. Nossa resistência a ler vai diminuindo.
Aprendemos pela credibilidade que alguém nos merece. A mesma mensagem dita por uma pessoa ou por outra pode ter pesos bem diferentes, dependendo de quem fala e de como o faz. Aprendemos também pelo estímulo, motivação de alguém que nos mostra que vale a pena investir num determinado programa, curso. Um professor que transmite credibilidade facilita a comunicação com os alunos e a disposição para aprender.
Aprendemos pelo prazer, porque gostamos de um assunto, de uma mídia, de uma pessoa. O jogo, o ambiente agradável, o estímulo positivo podem facilitar a aprendizagem.
Aprendemos mais, quando conseguimos juntar todos os fatores: temos interesse, motivação clara; desenvolvemos hábitos que facilitam o processo de aprendizagem; e sentimos prazer no que estudamos e na forma de fazê-lo.
Aprendemos realmente quando conseguirmos transformar nossa vida em um processo permanente, paciente, confiante e afetuoso de aprendizagem. Processo permanente, porque nunca acaba. Paciente, porque os resultados nem sempre aparecem imediatamente e sempre se modificam. Confiante, porque aprendemos mais se temos uma atitude confiante, positiva diante da vida, do mundo e de nós mesmos. Processo afetuoso, impregnado de carinho, de ternura, de compreensão, porque nos faz avançar muito mais.
Conhecimento pela comunicação e pela interiorização
O conhecimento se dá fundamentalmente no processo de interação, de comunicação. A informação é o primeiro passo para conhecer. Conhecer é relacionar, integrar, contextualizar, fazer nosso o que vem de fora. Conhecer é saber, é desvendar, é ir além da superfície, do previsível, da exterioridade. Conhecer é aprofundar os níveis de descoberta, é penetrar mais fundo nas coisas, na realidade, no nosso interior. Conhecer é conseguir chegar ao nível da sabedoria, da integração total, da percepção da grande síntese, que se consegue ao comunicar-se com uma nova visão do mundo, das pessoas e com o mergulho profundo no nosso eu. O conhecimento se dá no processo rico de interação externo e interno. Pela comunicação aberta e confiante desenvolvemos contínuos e inesgotáveis processos de aprofundamento dos níveis de conhecimento pessoal, comunitário e social.
Conseguimos compreender melhor o mundo e os outros, equilibrando os processos de interação e de interiorização. Pela interação entramos em contato com tudo o que nos rodeia; captamos as mensagens, nos revelamos e ampliamos a percepção externa. Mas a compreensão só se completa com a interiorização, com o processo de síntese pessoal, de reelaboração de tudo o que captamos através da interação.
Temos muitas chances de interagir, de buscar novas informações. Somos solicitados continuamente a ver novas coisas, a encontrar novas pessoas, a ler novos textos. A sociedade - principalmente pelos meios de comunicação - nos puxa em direção ao externo e não há a mesma preocupação em equilibrar a saída para o mundo com a interiorização, com o ambiente de calma, meditação e paz necessários para reencontrar-nos, para aceitar-nos, para elaborar novas sínteses.
Hoje há mais pessoas voltadas para fora do que para dentro de si, mais repetidoras do que criadoras, mais desorientadas do que integradas.
Interagiremos melhor se soubermos também interiorizar, se encontrarmos formas mais ricas de compreensão, que levará para novos momentos de interação. Se equilibramos o interagir e o interiorizar conseguiremos avançar mais, compreender melhor o que nos rodeia, o que somos; conseguiremos levar ao outro novas sínteses e não sermos só papagaios, repetidores do que ouvimos.Os processos de conhecimento dependem profundamente do social, do ambiente cultural onde vivemos, dos grupos com os que nos relacionamos. A cultura onde mergulhamos interfere em algumas dimensões da nossa percepção. Um jovem dos anos sessenta se parece com um jovem da década de noventa, mas, ao mesmo tempo, muitas percepções e valores mudaram radicalmente. Do hippie contestador dos anos sessenta passamos hoje para um jovem mais conservador, mais preocupado com sua qualidade de vida pessoal, com o seu futuro profissional, em querer ter acesso aos bens de consumo. É um jovem, em geral, menos idealista e com menos sentimentos de culpa que os seus próprios pais.
O conhecimento depende significativamente de como cada um processa as suas experiências quando criança, principalmente no campo emocional. Se a criança se sente apoiada, incentivada, ela explorará novas situações, novos limites, se exporá a novas buscas. Se, pelo contrário, se sente rejeitada, rebaixada, poderá reagir com medo, com rigidez, fechando-se defensivamente diante do mundo, não explorando novas situações.
As interferências emocionais, os roteiros aprendidos na infância levam a formas de aprender automatizadas por alguns mecanismos, que ajudam e complicam o processo. Um deles é o da passagem da experiência particular para a geral, o processo chamado de generalização. Com a repetição de algumas situações semelhantes, a tendência do cérebro é a de acreditar que elas acontecerão sempre do mesmo jeito, e isso torna-se algo geral, torna-se padrão. Diante de novas experiências, a tendência será enquadrá-las rapidamente nos padrões anteriores fixados, sem analisá-las muito profundamente, a não ser que haja divergências extremamente fortes. Com a generalização facilitamos a compreensão rápida, mas podemos deturpar, simplificar a nossa percepção do objeto focalizado. O estereótipo é um processo de generalização e fixação de conteúdo, que se cristaliza e dificilmente se modifica.
Esses processos de generalização e de interferências emocionais levam a mudanças, a distorções, a alterações na percepção da realidade. Cada um conhece a partir de todos esses filtros, condicionamentos. Muitos dados não são sequer percebidos, são deixados de lado antes de serem decodificados. Quando há muitos estímulos simultâneos, o cérebro seleciona os que considera principais e corre em busca dos estereótipos e das formas já familiares. Cada um pensa que a sua percepção é completa e verdadeira e tem dificuldade em aceitar as percepções diferentes dos outros.
Se nossos processos de percepção estão distorcidos, podem levar-nos desde pequenos a enxergar-nos de forma negativa, a não avaliar-nos corretamente. Conhecer a si mesmo, aos outros, o mundo de forma cada vez mais ampla, plena e profunda é o primeiro grande passo para mudar, evoluir, crescer, ser livre e realizar-nos.
Um dos eixos das mudanças na educação passa pela sua transformação em um processo de comunicação autêntica e aberta entre professores e alunos, principalmente, incluindo também administradores, funcionários e a comunidade, principalmente os pais. Só vale a pena ser educador dentro de um contexto comunicacional participativo, interativo, vivencial. Só aprendemos profundamente dentro deste contexto. Não vale a pena ensinar dentro de estruturas autoritárias e ensinar de forma autoritária. Pode até ser mais eficiente a curto prazo - os alunos aprendem rapidamente determinados conteúdos programáticos - mas não aprendem a ser pessoas, a ser cidadãos.
Parece uma ingenuidade falar de comunicação autêntica numa sociedade altamente competitiva, onde cada um se expõe até determinado ponto e, na maior parte das vezes, se esconde, em processos de comunicação aparentes, cheios de desconfiança, quando não de interações destrutivas. As organizações que quiserem evoluir terão que aprender a reeducar-se em ambientes mais significativos de confiança, de cooperação, de autenticidade. Isso as fará crescer mais, estar mais atentas às mudanças necessárias.
As tecnologias nos ajudam a realizar o que já fazemos ou que desejamos. Se somos pessoas abertas, elas nos ajudam a ampliar a nossa comunicação; se somos fechados, ajudam a controlar mais. Se temos propostas inovadoras, facilitam a mudança.
Com ou sem tecnologias avançadas podemos vivenciar processos participativos de compartilhamento de ensinar e aprender (poder distribuído) através da comunicação mais aberta, confiante, de motivação constante, de integração de todas as possibilidades da aula-pesquisa/aula-comunicação, num processo dinâmico e amplo de informação inovadora, re-elaborada pessoalmente e em grupo, de integração do objeto de estudo em todas as dimensões pessoais: cognitivas, emotivas, sociais, éticas e utilizando todas as habilidades disponíveis do professor e do aluno.

(Caos Markus)

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

QUARTA-FEIRA, 1 DE JANEIRO DE 2014: " DISTÂNCIA E ATEMPORALIDADE NO ENSINO"

Na educação a distância predominam os cursos mais focados em conteúdo, 
principalmente os de massa, mas também encontramos projetos mais 
inovadores, mais participativos e com metodologias mas ativas, onde os alunos 
são mais estimulados a pesquisar e desenvolvem atividades mais próximas da 
sua vida pessoal e profissional. 
O papel previsto nos cursos a distância para os alunos ainda é bastante 
passivo: ler, escutar, compreender e realizar as atividades previstas. Só que 
eles estão acostumados a pesquisar informalmente em casa, no trabalho e a 
compartilhar online o que descobrem. Eles gostam de participar, de se 
envolver e de divulgar o que conhecem. 
As instituições precisam estar mais atentas, nos seus projetos pedagógicos a 
distância, a atender aos diversos estilos de aprendizagem dos alunos, criando 
atividades de pesquisa que contemplem os mais ativos e também os mais 
reflexivos; os focados na ação e os que articulam as ideias de forma mais 
teórica. 
A educação a distância está muito pressionada pelas mudanças trazidas pelas 
redes e tecnologias móveis e pelas exigências maiores da sociedade por 
qualificação profissional, por atualização de conhecimento, por educação 
continuada. 
A palavra distância tem uma conotação pesada, prejudicial, que remete ao 
tempo do ensino por correspondência, quando os alunos recebiam o material 
pelo correio. Hoje como estamos multiconectados, é fácil e barato estudar, 
conversar e aprender na hora mais conveniente, de múltiplas formas. Por isso 
muitos preferem utilizar a expressão educação online ou também começa a 
utilizar-se a denominação educação sem distância. 
Do ponto de vista pedagógico, predominam ainda na EAD os modelos prontos, 
com materiais e roteiros preparados previamente por equipes de especialistas 
e que são executados com a maior fidelidade possível pelos alunos. A esses 
modelos mais industriais contrapõem-se processos mais informais de 
aprendizagem, entre pares, inter-colaborativos, menos hierárquicos e menos 
formatados. Como conciliar a roteirização previsível com a adaptação a ritmos 
diferentes e formas diferentes de aprender? O que manter e o que modificar? 
O peso de ensinar está em que os educandos aprendam e, portanto, as 
estratégias não são de transmissão, mas de interação, motivação, aplicação, investigação, tutoria, resolução de problemas, simulação. 
Estratégias dentro e fora da aula. 
Com os avanços das redes e da mobilidade, as pessoas estão aprendendo de forma muito mais flexível, horizontal, informal, sem depender tanto dos mestres. A aprendizagem em grupos, em pares, entre pessoas de diversos países é cada vez mais ampla e fascinante. Como podemos aprender à distância equilibrando a organização previsível que as instituições propõem com a imprevisibilidade da aprendizagem informal nas redes sociais? 
Além da mobilidade, há avanços nas ciências cognitivas: aprendemos de formas diferentes e em ritmos diferentes e temos ferramentas mais adequadas para monitorar esses avanços. Podemos oferecer propostas mais personalizadas,
monitorando-as, avaliando-as em tempo real, o que não era possível na educação a distância mais massiva ou convencional. Há aplicativos que orientam os professores sobre como cada aluno aprende, em que estágio se encontra, o que o motiva mais. 
Não precisamos dar o mesmo conteúdo e atividades para todos, no mesmo ritmo. Os alunos querem ser tratados de forma mais individualizada. Os alunos aprendem de forma diferente a como era antes. Nos cursos presenciais, gostam de ter o conteúdo antes das aulas, de checar as informações que o professor passa, de aprender online com seus colegas, quando estão separados. 
Caminhamos de uma EAD mais industrial, massiva, de produto pronto, igual para todos, para modelos bem mais flexíveis, que combinam o melhor dos percursos individuais com momentos de aprendizagem em grupo, de colaboração intensa. As tecnologias WEB 2.0, gratuitas e colaborativas, facilitam a aprendizagem entre colegas, próximos e distantes. Tudo caminha para ser mais aberto, ágil, intuitivo. 

(Caos Markus)

TERÇA-FEIRA, 31 DE DEZEMBRO DE 2013: "A VERDADE, UMA PROPRIEDADE NAS PROPOSIÇÕES"

O primeiro passo da crítica pragmatista à noção de verdade do idealismo e do realismo se direciona à ideia de que toda proposição implica uma asserção de sua própria verdade. A proposição é uma hipótese relativa a algum estado de coisas e é de sua natureza ser duvidosa, incerta quanto à sua verdade. A assertiva que a proposição faz de sua própria verdade é condicional, pois consiste meramente num meio de iniciar atividades de investigação que testarão o valor de sua reivindicação. Com efeito, a verdade somente pode existir mediante o teste da reivindicação e os atos subsequentes por ele prescrito. A teoria pragmatista da verdade pretende desse modo representar fielmente o método da ciência, consideradas todas as proposições como provisórias ou hipotéticas até serem submetidas a testes experimentais, observado o empenho em organizar essas proposições em termos indicativos dos procedimentos necessários para testá-las,sempre consideradas as proposições asseguradas enquanto simples sumários de investigações e testes anteriores, sujeitas, pois, a revisões requeridas por novas investigações.
Trata-se de reconhecer a perenidade das proposições como referentes, sempre, a condições antecedentes, enquanto no pragmatismo ganham uma perspectiva de futuro. Tanto para o realista como para o idealista, a verdade é uma propriedade já previamente existente nas proposições, tornando-se assim irrelevante conhecer o que se faz com a proposição, a derivação do seu uso, as diferenças por ela acarretadas na experiência futura. Noutro sentido, as proposições têm caráter hipotético e experimental, e por isso são provisórias: apenas serão verdadeiras se tal for o resultado do processo de investigação na busca de aferição da sua verdade. Em outras palavras, as proposições só serão vistas como verdadeiras se as consequências futuras do processo de investigação de sua verdade assim indicarem.
Para o pragmatismo, enfim, todas as proposições contêm intrínseca e necessariamente uma referência ao futuro, de modo que sua verdade ou falsidade depende do sucesso ou do fracasso de sua finalidade. Assim, o maior rompimento do pragmatismo com o realismo e o idealismo consiste em mostrar o quanto o conceito de verdade não pode ser dado em si mesmo e tampouco aprioristicamente, isto é, não pode referir-se a um significado prévio ou antecedente. No entanto, parece haver nesse ponto de tensão concernente à teoria da verdade um motivo suficiente afirmativo do pragmatismo enquanto uma filosofia anti-realista. Ora, se o conceito de verdade do pragmatismo difere daquele do realismo, isso não quer dizer que a teoria pragmatista como um todo seja anti-realista. Deveras, esse argumento sustenta a própria teoria (caracteristicamente anti-realista) como pragmatista. Ou seja, faz de sua diferença com o pragmatismo original justamente o motivo de uma semelhança e, portanto, de uma razão a justificar a reunião desses pensamentos sob o mesmo nome. 

(Caos Markus)

SEGUNDA-FEIRA, 30 DE DEZEMBRO DE 2013: "EDUCAR-SE EM TRAJETÓRIAS"

Num sentido amplo, todos somos educadores.
Todos somos "educadores", porque ensinamos-consciente ou inconscientemente- formas mais ou menos interessantes de viver, que podem servir de estímulo para evoluir ou de pretexto para manter-se na mediocridade.
Somos educadores, quando vamos nos construindo como pessoas melhores, mais equilibradas, mais competentes profissionalmente, emocionalmente,
socialmente.
Somos educadores de nós mesmos, se vivemos cada etapa da vida com coerência, aprendendo a lidar com nossas dificuldades, contradições, defeitos,
e avançamos, no ritmo possível, tornando-nos pessoas mais afetivas,
engajadas, realizadas.
Somos educadores, quando contribuímos para motivar as pessoas que estão perto de nós, quando transmitimos esperança, quando ensinamos valores humanizadores, principalmente pelas nossas ações.
Somos educadores, quando construímos uma trajetória pessoal, familiar,
profissional e social digna, crescente e rica em todas as dimensões.
Muitos não acreditam no seu potencial de crescimento e, infelizmente, se perdem ou se contentam com uma vida superficial, consumista, autocentrada e insignificante.
Vale a pena -ao olhar para nossa vida, tão rápida e insegura- constatar que está valendo a pena, que nosso saldo é positivo, que não nos contentamos simplesmente em sobreviver, que nos realizamos cada vez mais -com problemas e contradições- como pessoas mais abertas, humanas e atuantes socialmente.

(Caos Markus)

DOMINGO, 29 DE DEZEMBRO DE 2013: "EDUCANDO-SE NOS RITOS"

Educadores são os que contribuem para ajudar-nos a evoluir, a ampliar nossos horizontes em todos os campos e a que possamos fazer escolhas cada vez mais realizadoras, abrangentes e interessantes. Tem pessoas que nos ensinam algumas coisas (e podem ser bons profissionais) e tem outras, que nos ajudam a perceber mais, a ampliar horizontes, a motivar-nos para viver melhor e que torcem pelo nosso sucesso como pessoas; essas, além de bons profissionais, são bons educadores.
Quando vejo tantas pessoas escolarizadas, dando tanto valor a futilidades, a múltiplas aparências, sacrificando-se na ânsia de possuir mais bens, agitando-se nas borbulhas de qualquer distração, satisfeitas na superficialidade de ritos repetidos e, provavelmente, vazios, percebo que a educação de alguma forma falhou, mesmo que formalmente elas tenham obtido muitos diplomas e sejam, em alguns aspectos, bem sucedidas.
Na educação pessoal precisamos olhar o todo, o resultado mais amplo e de longo prazo e não só o sucesso profissional e econômico. As pessoas aprendem a gerenciar bem suas vidas? Aprendem a lidar bem com a complexidade de opções em todos os campos (pessoal, familiar, profissional, social)? Tem condições de analisar idéias, valores, escolhas possíveis tão diferentes, numa sociedade tão contraditória? Conseguem ser criativas, ter independência de pensamento, de resistir à sedução de qualquer novidade, de ser meros alto-falantes de qualquer opinião emitida pela mídia? Conseguem enxergar além das seduções imediatas do consumo, do glamour do mundo das modas, da efervescência juvenil, do deslumbramento com o sucesso fácil? Conseguem ter motivação profunda para viver? Conseguem encontrar uma relativa paz interior e realização autênticas?
Olhando na perspectiva dos resultados pessoais obtidos, a educação social parece bastante pobre e inconsistente. São muitas as pessoas que não acham sentido no que fazem, na forma como vivem, nas tarefas que desempenham. São muitos os que mais sobrevivem do que plenamente vivem. Aprenderam muitas coisas, menos as principais.
É importante pensar na educação que valorize as pessoas, que as liberte dos ditadores das soluções únicas, das imposições autoritárias em qualquer campo, principalmente no emocional. Que ajude a aprender a desconfiar de modelos fechados, de caminhos únicos, de ideologias opressoras, de salvadores messiânicos. Não há soluções perfeitas, acabadas, mas soluções possíveis em cada momento, relativas, parciais, mas cada vez mais amplas, complexas e estimulantes. É importante propor caminhos de aprender a libertar-se, a fazer escolhas cada vez mais libertadoras, ajudados por pessoas-educadoras que caminham também nesse mesmo processo de liberdade.
Além das dimensões sociais, o objetivo último da educação é contribuir para a mudança e realização pessoais. Todas as formas de educação -familiar, escolar, profissional, informal, continuada- procuram que cada de um de nós consiga aprender a desenvolver-se como pessoa em cada fase das nossas vidas. E podemos avaliar esse processo pelo impacto e resultados que conseguimos pessoalmente: O quanto cada um de nós gosta de estar sempre aprendendo, evoluindo, praticando, melhorando intelectualmente, emocionalmente, comportamentalmente. O investimento em educação terá valido a pena se cada um de nós se transforma em uma pessoa interessante, afetiva, colaborativa, criativa, realizada. Terá valido a pena se construímos percursos de vida significativos, com contribuições perceptíveis no campo pessoal, familiar, profissional e social.

(Caos Markus)

SÁBADO, 28 DE DEZEMBRO DE 2013: "AVANÇANDO NAS DISTÂNCIAS"

Em decorrência das transformações drásticas em todos os campos, do pessoal ao social, os serviços, o trabalho, o lazer e a educação se modificaram profundamente. Dessa forma, a tendência é a de uma aceleração ainda maior nos próximos anos. Caminhamos rapidamente para uma sociedade muito diferente que, em parte, vislumbramos, mas ainda nos reserva várias surpresas. Será uma sociedade conectada, com possibilidades de comunicação, interação e aprendizagem inimagináveis hoje, embora com imperfeições e contradições. Ou uma sociedade de maior participação direta, que decidirá as principais questões sem tantos intermediários (com mais debates, consultas e referendos online). A aprendizagem será a essência da nova sociedade: aprender a conhecer, sentir, comunicar-se e equilibrar o individual e o social. A informação estará disponível, e as formas de aprender e de organizar o ensino serão muito variadas.
As cidades se conectam, transformando-se progressivamente em cidades digitais; os serviços, o lazer e a aprendizagem se virtualizam. Pesquisar qualquer assunto em grandes portais de busca ou base de dados será banal. A maior parte das pessoas estará conectada nos próximos anos às redes digitais por celulares, computadores portáteis e TVs digitais interativas, com utilização muito divergente e contraditória, mas as possibilidades de interação serão sempre crescentes. Os processos de comunicação implantados serão profundamente diferentes dos atuais. Estaremos permanentemente interconectados através de imagem e som e poderemos interagir quando o acharmos conveniente. Mas as tecnologias evoluem muito mais rapidamente do que a sociedade e sua cultura.
A cultura implica padrões, repetição, consolidação. A cultura comunicacional e educacional, também. As tecnologias permitem mudanças profundas já, hoje, que praticamente permanecem inexploradas pela inércia da cultura tradicional, pelo medo, pelos valores consolidados. Por isso sempre haverá um distanciamento entre as possibilidades e a realidade.
O brasileiro é um povo, em geral, acolhedor e aberto. Ao mesmo tempo, pela mentalidade dos que querem levar vantagem e da falta de punição real para os poderosos, aumenta a desconfiança de tudo e de todos, o que esgarça as relações sociais. O individualismo prevalece sobre o sentimento de solidariedade. Pesquisas mostram que o brasileiro é um dos povos mais desconfiados do mundo, que menos acredita nas saídas sociais, institucionais, embora seja generoso em momentos de crises e diante de grandes tragédias.
Os países se agrupam em blocos comerciais e políticos e, ao mesmo tempo, continuam as guerras, o terrorismo e a destruição ecológica do planeta. Aos avanços da ciência se contrapõem a ganância da indústria dos remédios, da beleza, das drogas, da venda de armas, da exploração infantil.
O ser humano avança com várias contradições, bem mais devagar que os costumes, hábitos e valores. Intelectualmente também avançamos muito mais do que na prática. Há sempre um distanciamento grande entre o desejo e a ação, entre a vontade de mudar e as decisões concretas. Nunca tivemos tantos bens para consumir, gratificar-nos, entreter-nos e aprender, nem tantas tecnologias para comunicar-nos, viajar virtualmente e informar-nos.
Ao mesmo tempo, continuamos a ser uma sociedade dividida, desigual, com uma minoria tendo acesso fácil a todos os bens, enquanto uma parte significativa da população se esforça muito para garantir um nível mínimo de sobrevivênciam, sem citar o um número elevadíssimo de marginalizados (excluídos), que mal conseguem sobreviver.
A abundância de oportunidades não é igual para todos. Os bens econômicos e culturais estão distantes de uma parcela significativa da população. Muitas pessoas ainda são dependentes de modelos de vida determinados pelos pais, pela religião e pela cultura local tradicional. Apesar de tudo, está se construindo uma outra sociedade, que, em pouco tempo, será muito diferente da que temos atualmente.
A sociedade aprenderá de múltiplas formas, em diferentes tempos e espaços, tanto os oficiais como os informais; na escola, na cidade e no mundo; com mestres e com colega;, com tecnologias simples e com tecnologias avançada;, através do contato físico ou da comunicação em rede.
Aprendemos com os grupos que nos interessam, presencial e virtualmente. Formamos comunidades de interesses que se apóiam a distância e que quebram a hegemonia dos controles e mídias tradicionais. Pierre Lévy defende que uma comunidade virtual, convenientemente organizada, representa uma importante riqueza no conhecimento distribuído e na capacidade de ação colaborativa. Existem muitas comunidades de aprendizagem, de lazer e de negócios, que abrangem todos os interesses possíveis. O espaço virtual ou ciberespaço amplia em todas as direções tudo que já conhecíamos e realizávamos, potencializado pelas possibilidades que a interação a distância em tempo real traz pela primeira vez na história. Nesse espaço, convivem vários grupos que contribuem para melhorar a sociedade em alguma área e outros que exploram todas suas mazelas e fraquezas, aumentando as tensões e contradições existentes.

(Caos Markus)

SEGUNDA-FEIRA, 23 DE DEZEMBRO DE 2013: "O PENSAMENTO NA CONSCIÊNCIA DA CONDUTA"


Uma estrutura de pensamento, a consciência ética é algo do nosso interior, um estado decorrente da mente e da personalidade. 
Estão disponíveis os modelos de conduta dos santos e dos pecadores, dos heróis e dos vilões, dos bem sucedidos na vida e dos fracassados. Mas escolher um modelo de conduta para imitá-lo não é ato da inteligência. A inteligência, enquanto estado mental, não imita, cria novo modelo, em conformidade com essa sua inclinação, para interagir com os modelos existentes em nosso meio. O que está na base de todos os modelos é a intencionalidade do ato, e a característica principal do ato moral é a intencionalidade do ato humano, porque o ato moral encerra aprovação ou censura. Por isso, o ato moral implica na consciência de um fim e na decisão de realizá-lo. Esta decisão pressupõe a escolha entre vários fins possíveis que, em dadas ocasiões, se excluem reciprocamente.
A subordinação ao outro pode não ser uma questão de escolha, e sim uma resposta do cérebro aos comandos dados intencionalmente pelo agente, sequioso para obter resultados de interesse pessoal com a submissão do outro. Nesse caso, as respostas são comportamentais, porque os estímulos foram emitidos com o objetivo de conquistar respostas de comportamento ao invés de respostas de conduta. É o corpo que responde e não a inteligência.
No campo ético, as questões se voltam para a conduta objetiva. Exclui-se o subjetivismo. A conduta como fruto de nossa consciência passa por julgamentos próprios e por julgamentos de outros. A consciência é um estado mental constituído a partir da adição de valores à estrutura mental individual, e cada indivíduo comporta-se de acordo com essas estruturas, criando um mundo próprio onde elas são os seus paradigmas. A conduta originada na vontade, cujo princípio é a consciência, pode não ser uma boa conduta, no julgamento de outros. Mentir, por exemplo, pode ser natural a quem não foi educado para falar a verdade, cuja consciência desconhece o modelo do verdadeiro, mas será estranho a pessoas portadoras de estrutura mental onde a verdade é um componente. Assim, se a consciência tiver sua formação em modelos deturpados, será normal mentir. 
A consciência ética forma opiniões decorrentes da reflexão. Ela confronta a observação da realidade com o sentir da subjetividade, e nesse cotejo é suscetível de conflito o mundo interior e o mundo exterior. O que se deseja e o que se é. Uma consciência ética não está isenta de sofrer adulterações motivadas por incipientes juízos de diversas naturezas. O mundo exterior muito facilmente altera o mundo interior em qualquer espaço e tempo, dependendo da qualidade da estrutura da consciência ética, isto é, se ela aceita conteúdos das circunstâncias exteriores a si mesma. Esse abastardamento será o resultado da pressão de contextos e conjunturas sobre a fraqueza do ser, favorecida pela ignorância, inexperiência, carência afetiva; todas elas predisposições à aquisição de temores, inseguranças e submissões. 
As qualidades das consciências e das estruturas mentais se diferenciam, portanto, ao nível da expressão da conduta ética, no ponto de interseção com a ambiência.

(Caos Markus)

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

QUINTA-FEIRA, 26 DE DEZEMBRO DE 2013: "DO SIMPLES AO COMPLEXO, UM PERCURSO"

Num mundo cada vez mais complexo e heterogêneo, a educação precisa dar 
passos mais acelerados e respostas mais coerentes, com novas formas de 
desenvolver competências cognitivas, relacionais e éticas. 
Aprendizagem ativa, lúdica e diversificada 
Quanto mais informação, mais importante é saber escolher, avaliar as 
informações importantes em cada etapa da aprendizagem, contextualizá-las, 
sintetizá-las e interligá-las com as atividades concretas pessoais e grupais. Não 
basta compreender, é fundamental também saber conviver presencial e 
digitalmente, saber acolher, interagir, colaborar física e online e mostrar coerência 
ética nas mais diferentes situações. Com tantos jogos hiper-sensoriais em tantas 
telas e situações, a aprendizagem está mais e mais mediada por situações 
lúdicas, individuais e grupais, que facilitam a experimentação, a vivência sem 
perigo de desafios fascinantes, de simulação hiper-realista de competições. Mas o 
processo de aprender se potencializa se há uma reflexão mais sistemática e 
aprofundada após o jogo, se os alunos ultrapassam o nível sensorial e do senso 
comum e conseguem realizar sínteses elaboradas e captar relações muito mais 
ricas do que as sensoriais. A aprendizagem avança mais por desafios, por 
interação com práticas significativas e reelaboradas cognitivamente. Todos os 
espaços são potencialmente ricos de aprendizagens significativas, os espaços 
próximos e os distantes, os formais e informais, os escolares, profissionais e os 
sociais. Infelizmente muitos se perdem no emaranhado das dispersões, do 
entretenimento auto-referente, do surfe inconseqüente. A tentação de querer 
acompanhar tudo, de abrir múltiplas janelas contribui para a superficialidade da 
percepção, para uma tensão em relação às perdas inevitáveis, a uma dificuldade 
de fazer escolhas enriquecedoras e de médio prazo. 
Caminhamos aceleradamente para que a maioria das escolas e dos alunos 
tenha muito mais acesso e contato com as tecnologias digitais móveis, 
possibilitando a criação de múltiplas redes de aprendizagem entre iguais e 
diferentes, entre próximos e distantes, entre pessoas de áreas de conhecimento 
muito diversificadas. Quanto mais ampliamos nosso contato com os diferentes, 
mais pontos de vista incorporamos, maior leque de opções teremos e mais 
sinergia possível. 
Se temos materiais interessantes em todos os formatos e plataformas, 
podemos acessá-los antes, estudá-los antes para depois interagir com o 
professor, o orientador, o tutor mais experiente que nos ajudem a encontrar um 
rumo, a descobrir significados ocultos, aplicações próximas. As informações são 
postadas no ambiente virtual, as dúvidas também e reservamos os momentos 
presenciais para debates, aprofundamentos, problematização, contextualização, 
previsão de cenários de aplicação. A dinâmica principal será diferente da 
convencional. Os alunos pesquisam, lêem antes para poder, junto com alguém 
mais experiente, por em comum as questões mais importantes, as dúvidas, os 
insights. 
Currículos mais flexíveis e personalizados 

Os currículos tendem a ser cada vez mais flexíveis e personalizados, com 
menos disciplinas obrigatórias e alguns eixos temáticos principais; sem um único 
modelo, imposto da mesma forma e simultaneamente para todos. Algumas áreas 
terão mais relevância - como saber ler, interpretar, escrever, contar, raciocinar - e 
serão oferecidas alternativas diferentes e mais personalizadas de avanço nos 
estudos. A tendência é a de quebrar o modelo único de currículo, de tudo igual 
para todos, com equilíbrio entre percursos pessoais e grupais, atividades 
individuais e atividades colaborativas, tempos iguais e diferentes, momentos 
presenciais e virtuais. As artes como espaços de criação serão mais incentivadas. 
Cada aluno, com apoio de um professor-orientador, construirá seu percurso a 
partir dos espaços comuns, a interação com grupos próximos e outros 
diferenciados, com atividades comuns e específicas, presenciais e virtuais. 
As aulas tendem a ser mais colaborativas, com turmas não muito grandes, 
com mais atividades digitais, orientação audiovisual, metodologias mais ativas, 
com alguns momentos presenciais para contextualizar, sintetizar, validar e 
aprofundar o percurso construído durante as atividades digitais. O modelo de um 
professor por disciplina para turmas de quarenta alunos será substituído por 
outros modelos muito mais flexíveis espaço-temporalmente. Só deverá continuar o 
modelo atual de um professor para uma turma nos primeiros anos de socialização, 
de alfabetização. A orientação de aprendizagem será cada vez mais organizada 
em diferentes espaços, tempos e de formas muito mais variadas. Os alunos 
permanecerão uma parte do tempo na escola, mas não necessariamente na 
mesma sala. Farão visitas, trabalhos em grupo virtuais e presenciais, pesquisas 
individuais e em grupos. À medida que forem crescendo, mais horas de atividades 
virtuais (conectados audiovisualmente) terão. A escola será menos presencial e 
mais próxima de vários espaços - do bairro, da cidade - e de várias comunidades 
virtuais, de acordo com a idade e com os interesses específicos dos grupos e das 
competências desenvolvidas. Haverá também integração maior com comunidades 
virtuais, dentro e fora do país, em projetos comuns. Os alunos continuarão 
fisicamente presentes, aprendendo a conviver, fisicamente, mas também 
virtualmente. 
Tecnologicamente podemos ter aulas ao vivo e gravadas com grandes 
especialistas, comunicadores e com professores-tutores que ajudam a 
personalizar os temas dentro da realidade local, a tirar dúvidas e realizar 
atividades de problematização e aprofundamento. Podemos partir dos ambientes 
e recursos que os alunos frequentam e gostam, como o Facebook e o Twitter para
ajudá-los a evoluir, a avançar, a enfrentar desafios mais complexos, ambientes 
mais problematizadores, níveis de teorização superiores. Educar é contribuir para 
sair da zona de conforto, do senso comum e mergulhar em ambientes novos, em 
questões mais complexas, de forma progressiva, quase sem senti-lo, a partir do 
que estamos habituados, do que conhecemos, do que já dominamos, dos 
ambientes familiares rumo a etapas mais desafiadoras, estimulantes e 
fascinantes. Se não conseguirmos realizar esse percurso do simples para o 
complexo, do senso comum para o científico, do concreto para o abstrato, da 
imagem para o conceito, da visão parcial para uma visão mais integrada de nada 
adiantarão todos os recursos, o uso de tablets, redes e outras tecnologias 
avançadas. Educação é um processo de comunicação profunda, de intercâmbio 
interpessoal rico, mobilizando todos os recursos humanos e tecnológicos a 
disposição de todos os envolvidos no processo. 

(Caos Markus)

TERÇA-FEIRA, 24 DE DEZEMBRO DE 2013: "A REALIDADE NOVA"

Uma escola é nova quando tem educadores, materiais, atividades e ambientes 
de aprendizagem - físicos e virtuais - acolhedores, estimulantes e desafiadores 
para os alunos. 
Profissionais acolhedores: diretores, coordenadores, professores que se 
preocupam com os alunos, que os conhecem, conversam, interagem. 
Uma escola é nova quando mantém a mesma equipe unida por bastantes 
anos, quando se percebe que todos se apóiam e há uma gestão 
democrática, proativa e empreendedora. Profissionais bem preparados, 
atualizados, evoluídos. Bem remunerados, escolhidos entre os melhores 
e que gostam de ser educadores. 
Ambientes acolhedores: aconchegantes, afetivos, equipados. Salas de 
aula multifuncionais, que se modificam rapidamente para diferentes 
atividades. Salas de aula conectadas com tecnologias móveis. Escola que 
equilibra atividades presenciais e virtuais, tecnologias simples e 
tecnologias digitais, onde se aprende também em casa, no bairro, nas 
comunidades de prática, nas redes sociais, com ativa participação dos 
pais. 
Uma escola onde os materiais principais estão disponíveis e são 
apreendidos de múltiplas formas, com técnicas diferentes, atrativas, 
simples e complexas. Escola que estimula múltiplas leituras de múltiplos 
textos de múltiplas formas: impressos, digitais, multimídia; simples e 
complexos; com histórias e conceitos; multi-textos significativos 
contextualizados, compartilhados, reinterpretados, co-produzidos 
presencial e digitalmente, publicados, vivenciados. 
Conteúdos articulados a muitos desafios, projetos inovadores, com muita 
ênfase em pesquisa, compartilhamento, discussão, produção, sínteses, 
práticas refletidas, colaborativas, com flexibilidade de espaços e tempos, 
de momentos presenciais e virtuais, com atividades grupais e individuais, 
com bastante feedback, atenção, cuidado. 
Uma escola que integra o melhor do presencial e do virtual, que trabalha 
primeiro as atividades através de ambientes e aplicativos digitais e que 
aprofunda e finaliza cada assunto mais importante na sala de aula, com 
os professores-orientadores. 
Uma escola em que as aulas com tablets, netbooks e smartphones são 
focadas, além de temas relevantes, em projetos colaborativos, onde os 
alunos aprendem juntos, realizam atividades em ritmos e tempos 
diferentes. Os professores descem do pedestal e desempenham 
fundamentalmente o papel de orientadores. Saem do centro, do estrado, 
da lousa para circular, orientando os alunos individualmente e em 
pequenos grupos nas atividades de pesquisa, análise, apresentação, 
contextualização e síntese, de forma semi-presencial. 
Uma escola pluralista num mundo complexo, que mostra visões, formas 
de viver e diferentes possibilidades de realização pessoal, profissional e 
social, que nos ajudem a evoluir sempre mais na compreensão, vivência 
e prática cognitiva, emotiva, ética e de liberdade. 
Essa nova escola ainda está em construção, mas é urgente nosso envolvimento 
em concretizá-la, para conseguir atrair as crianças e os jovens, que até agora só 
conheceram, na educação formal, modelos analógicos, anacrônicos e 
envelhecido.

(Caos Markus)