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sábado, 13 de setembro de 2014

TERÇA-FEIRA, 30 DE SETEMBRO DE 2014: "CONDIÇÃO"



O pânico, a desgraça e o horror, todos eles passam. O que persiste é a sensação, que, certamente, impõe a sobrevivência como condição da própria vida.

(Caos Markus)

SEGUNDA-FEIRA, 29 DE SETEMBRO DE 2014: "O VITORIOSO"


A atividade de legislar é uma prática burguesa que expressa duplo grau de subordinação do indivíduo e da coletividade. Porque regulamenta  a organização da sociedade civil nas condições da 'divisão social', e determina o direito dos "cidadãos" nas circunstâncias favoráveis à luta de classes. 
O capital, guarnecido pela lei, combate de duas maneiras quem se lhe opõe: por meio da 'troca' e da 'negociação' ("conciliação"), em situações ditas normais de funcionamento dessa mesma sociedade; e através do Estado, em contextos de crise.
Assim, ninguém mais, ninguém menos, o capitalismo é sempre o vitorioso em qualquer sufrágio, pois garante a si próprio pela coligação com o Estado.

(Caos Markus)

DOMINGO, 28 DE SETEMBRO DE 2014: "TENDÊNCIAS"



Que seja um mero devaneio, sempre será muito bem-vindo. 
Há de ser ainda melhor, em se tratando de divagação, base para a digressão, de onde inferem-se ilações tendentes ao heterodoxo.

(Caos Markus)

SÁBADO, 27 DE SETEMBRO DE 2014: " A PROMOÇÃO DE UM RANÇO"


Perpetuadores da discriminação linguística, infelizmente, os meios de comunicação poderiam ser extraordinários instrumentos na democratização social das linguagens inter-relacionadas. No Brasil, vinculados aos oligopólios e seus máximos representantes, assumiram o papel de defensores da língua portuguesa supostamente ameaçada. Não interessa se duzentos e dez milhões de brasileiros se expressam de modo diverso ao institucionalizado pelo oficioso registro de normas, já elevado à informal oficialidade. São os nacionais tachados de errados, porque nem sempre seguem o apregoado como certo, a regra consolidada há séculos.
Nas sociedades e culturas centradas na escrita, o padrão é inspirado na escrita literária. Falar como os grandes escritores escreveram é o objetivo místico proposto pelas culturas letradas. Como ninguém fala de maneira igual ao escrito pelos renomados autores literários, a população inteira teoricamente fala errado, pois esse ideal é inalcançável.
Uma veemente contradição: os ensinos tradicionais de língua determinam aos educandos imitar os clássicos, mas ao mesmo tempo os proibem o reservado somente aos literatos: a licença poética. Ela é permitida àquele que em teoria sabe tão bem a língua a ponto de se dar ao luxo de desrespeitar as normas. Porém, a diferença entre a licença poética e o erro gramatical é, basicamente, de classe social. Alguns, pela sua própria origem social, se dão ao direito (e tem esse direito reconhecido) de falar como quiser; aos outros, a maioria, também por sua origem social não é salvaguardado esse mesmo direito.
Cria-se um rigor linguístico distante da língua realmente vivida. A partir desse confronto entre o falar comum e a língua codificada, surgem os conflitos linguísticos. Ao comparar a sua maneira de falar com o aprendido na escola (ou, o codificado), o aluno vê o distanciamento 
entre essas duas entidades, e sob auto-censura, julga errado e feio o seu próprio vocabulário.
Por essas razões, qualquer imposição linguística gera um efeito contrário, o da auto-rejeição, ou a promoção de um ranço por parte dos segmentos sociais predominantes.

(Caos Markus)

SEXTA-FEIRA, 26 DE SETEMBRO DE 2014: "A LINEARIDADE DO UNÂNIME"


Uma criança na época da alfabetização já trilhou um caminho linguístico. Numa sociedade mesclada como a brasileira, a escola deve levar em consideração esse conhecimento por ela apresentado, não o desvalorizando e nem querendo substituí-lo às custas de regras inflexíveis.
Um dialeto não é simplesmente um uso errado do modo de falar de outro dialeto. Existem, sim, formas diversas de se expressar.
Falando um dialeto diferente daquele da comunidade onde a escola está situada, ao descobrir o quanto a sua realidade é ali ignorada, a criança sofrerá de fato. Os seus costumes, a maneira de se vestir, falar, andar, todos esses padrões serão destacados entre os colegas de turma, ensejando respeito às suas peculiaridades, jamais podendo ser considerados impedimentos ao progresso intelectual e cultural.
Sujeita, pois, a discriminações, ela deverá acolhida pela instituição de ensino, e encorajada a aceitar as novas influências. No entanto, sem ser induzida a se envergonhar de suas origens, de sua história pessoal.
Infelizmente, nesses casos, no Brasil a escola tende ao menoscabo da bagagem infantil carregada desde o seu meio social, mesmo quando afirma partir do reconhecimento da realidade do aluno.
Na verdade, frequentemente, não se vê preocupação alguma, nem com o cotidiano exterior deste aprendiz nem com a sua pretensão ao ingressar na educação formal. Se a escola ouvisse o que a criança tem para dizer, ficaria surpresa. Dela ouviria verdades, contrárias à retórica dissimulada típicas dos adultos.
Atentar para o tipo de comunidade de onde provém a criança, este sim deve ser princípio institucional em Educação. Algumas já tiveram contato com lápis, papel e borracha; enquanto outras sequer viram seus pais lendo um jornal ou uma revista.
A escrita representa face a Humanidade um instrumento fundamental à evolução, isto é, o homem precisa da escrita para também progredir, se comunicar, entender o mundo ao seu redor. E, fundamentalmente, para emitir a sua opinião, descrever e questionar esse mesmo mundo.
Sendo uma conquista cultural e evolutiva, a escrita não é, portanto, inerente à natureza humana, necessitando ser inserida na vida da criança com suas características e significações várias (social, psicológica, política, cultural). Requer, por isso mesmo, especial tratamento na alfabetização. 
Espera-se que a criança, no final de um ano de alfabetização, saiba escrever e não saiba escrever tudo e com correção absoluta.
O professor tem uma tarefa complexa; a informação e as técnicas pedagógicas serão seus efetivos instrumentos de trabalho. Ele deverá fazer uso do saber psicológico, aplicando-o ao seu magistério. 
Se deixar as crianças utilizarem, por exemplo, as informações extra-escolares e as suas experiências no uso das letras do alfabeto, isso lhe indicará as variações dialetais da comunidade em que elas vivem, facilitando a integração com o discurso escolar. O professor sensível à identificação de tais nuances, terá, obviamente, oportunas condições de procurar os melhores métodos e técnicas adequados aos seus alunos.
A escola usa e abusa da linguagem para ensinar e para deixar bem claro o lugar de cada um na instituição e até na sociedade.
Os livros, os professores e a escola possuem o saber estabelecido. Não raramente, abusam da autoridade moral e disciplinar a qual o aluno é submetido. Situação evidente na dificuldade da grande maioria em resolução de questões formuladas em provas de avaliação.
O problema não está na falta de conhecimento do aluno, mas sim no impasse linguístico criado na proposição das perguntas apresentadas, isto é, no mau uso do saber por quem deveria transmití-lo e motivá-lo.
A escola proclama o seu mister, o de ensinar. Porém, alheia, mais oculta do que mostra. E cobra das crianças um conhecimento não transmitido.
Para facilitar a leitura, a sociedade achou por bem decidir em favor de um modo ortográfico de escrever palavras, independentemente dos modos de falar dos dialetos, mas que pudesse ser lido por todos os falantes, cada qual ao seu modo . Assim agindo, não se deu conta do absurdo: a linearidade do unânime, sempre precária.
 
(Caos Markus)

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

QUINTA-FEIRA, 25 DE SETEMBRO DE 2014: "A LINEARIDADE DO UNÂNIME"


Uma criança na época da alfabetização já trilhou um caminho linguístico. Numa sociedade mesclada como a brasileira, a escola deve levar em consideração esse conhecimento por ela apresentado, não o desvalorizando e nem querendo substituí-lo às custas de regras inflexíveis.
Um dialeto não é simplesmente um uso errado do modo de falar de outro dialeto. Existem, sim, formas diversas de se expressar.
Falando um dialeto diferente daquele da comunidade onde a escola está situada, ao descobrir o quanto a sua realidade é ali ignorada, a criança sofrerá de fato. Os seus costumes, a maneira de se vestir, falar, andar, todos esses padrões serão destacados entre os colegas de turma, ensejando respeito às suas peculiaridades, jamais podendo ser considerados impedimentos ao progresso intelectual e cultural.
Sujeita, pois, a discriminações, ela deverá ser acolhida pela instituição de ensino, e encorajada a aceitar as novas influências. No entanto, sem que seja induzida a se envergonhar de suas origens, de sua história pessoal.
Infelizmente, nesses casos, no Brasil a escola tende ao menoscabo da bagagem infantil carregada desde o seu meio social, mesmo quando afirma partir do reconhecimento da realidade do aluno.
Na verdade, frequentemente, não se vê preocupação alguma, nem com o cotidiano exterior deste aprendiz nem com a sua pretensão ao ingressar na educação formal. Se a escola ouvisse o que a criança tem para dizer, ficaria surpresa. Dela ouviria verdades, contrárias à retórica dissimulada típica dos adultos.
Atentar para o tipo de comunidade de onde provém a criança, este sim deve ser princípio institucional em Educação. Algumas já tiveram contato com lápis, papel e borracha; enquanto outras sequer viram seus pais lendo um jornal ou uma revista.
A escrita representa face a Humanidade um instrumento fundamental à evolução, isto é, o homem precisa da escrita para também progredir, se comunicar, entender o mundo ao seu redor. E, fundamentalmente, para emitir a sua opinião, descrever e questionar esse mesmo mundo.
Sendo uma conquista cultural e evolutiva, a escrita não é, portanto, inerente à natureza humana, necessitando ser inserida na vida da criança com suas características e significações várias (social, psicológica, política, cultural). Requer, por isso mesmo, especial tratamento na alfabetização. 
O professor tem uma tarefa complexa; a informação e as técnicas pedagógicas serão seus efetivos instrumentos de trabalho. Ele deverá fazer uso do saber psicológico, aplicando-o ao seu magistério. 
Se deixar as crianças utilizarem, por exemplo, as informações extra-escolares e as suas experiências no uso das letras do alfabeto, isso lhe indicará as variações dialetais da comunidade em que elas vivem, facilitando a integração com o discurso escolar. O professor sensível à identificação de tais nuances, terá, obviamente, oportunas condições de procurar os melhores métodos e técnicas adequados aos seus alunos.
A escola usa e abusa da linguagem a fim de "ensinar" e para deixar bem claro o lugar de cada um na instituição e até na sociedade.
Os livros, os professores e a escola possuem o saber estabelecido. Não raramente, abusam da autoridade moral e disciplinar a qual o aluno é submetido. Situação evidente na dificuldade da grande maioria em resolução de questões formuladas nas provas de avaliação.
O problema não está na falta de conhecimento do aluno, mas sim no impasse linguístico criado na proposição das perguntas apresentadas, isto é, no mau uso do saber por quem deveria transmití-lo e motivá-lo.
A escola proclama o seu mister, o de ensinar. Porém, alheia, mais oculta do que mostra. E cobra das crianças um conhecimento não transmitido.
Para facilitar a leitura, a sociedade achou por bem decidir em favor de um modo ortográfico de escrever palavras, independentemente dos modos de falar dos dialetos, mas que pudesse ser lido por todos os falantes, cada qual ao seu modo . Assim agindo, não se deu conta do absurdo: a linearidade do unânime, sempre precária.
 
(Caos Markus)

quarta-feira, 10 de setembro de 2014

QUARTA-FEIRA, 24 DE SETEMBRO DE 2014: "A ESTÉTICA DO PENSAMENTO"




A leitura tem como objeto, e não somente como objetivo, a fala, pois a pessoa pode falar sem necessariamente ter que aprender a ler.
Os sistemas baseados nos significados, via de regra, são pictóricos. Não dependem de uma língua específica, sendo possível sua compreensão em vários idiomas, condicionada apenas à capacidade e habilidade do leitor.
O sistema de escrita ideográfica traz consigo, em geral, significados mais abrangentes, quando comparado a outros esquemas de escrituração, passível de ser traduzido em uma única palavra ou morfema.
Já a sistematização do letramento convencionada no 'significante' depende essencialmente dos elementos sonoros de uma língua, a fim de ser lido e decifrado.
Todo método de escrita tem um compromisso direto ou indireto com os sons de um linguajar. E como os fraseados, inexoravelmente, alteram-se no decorrer do tempo, transformando a forma fônica dos vocábulos, a sua inscrição começa a ser de difícil leitura.
Historicamente, muitos ordenamentos ideográficos, uma vez formulados, incorporaram múltiplos elementos de escrita fonográfica.
O regramento alfabético está sempre procurando uma simbologia mais reduzida a termos de uso específico. Essas mitigações retornam ao sistema ideográfico.
Observa-se, as variações linguísticas levaram o registro ideográfico ao alfabético, para as formas dos símbolos e das letras, porque quem lê, lê no seu dialeto. Por esta razão, a escrita, para ser lida por outras pessoas, necessita da utilização de caracteres, com o objetivo de facilitar seja identificada a acepção.
A língua materna é o idioma do afeto, da estruturação do pensamento, da organização dos conceitos. Assim, alfabetizar alguém em sua própria língua implica em utilizar esses recursos intelectuais e psicológicos, já bem consistentemente implantados desde os seis anos de idade.
Aos que sabem falar o Português, por exemplo, a entrada na escola vai significar a aprendizagem do código gráfico da língua portuguesa, e sua interpretação.
Outros símbolos existem, evidentemente, além das letras, e eles também implicam em códigos redutíveis à compreensão intelectual, E igualmente permitem algum tipo de "leitura". Os sinais de trânsito, por exemplo: basta olhá-los para entender o seu significado, cuja descrição, oralmente ou por escrito, precisaria, não raramente, de muitas palavras e frases.
As placas se constituem em escritas apoiadas no significado, sem preocupação com o enunciado linguístico, mas sim às inferições do valor semântico da mensagem.
A escrita, todavia, é constituída por signos linguísticos, e tem como escopo precípuo a circunstância de alguém ler o que está escrito. A leitura é condicionada, então, pela escrita, isto é, a interpretar o pensamento de quem redige.
O reconhecimento, a compreensão textual não se reduz à somatória dos significados individuais dos ícones.
Decorrem da interação entre esses modelos imagéticos na frase, no período, na composição, de acordo com as regras gramaticais e ortográficas. Além disso, a leitura é uma interpretação das ideias e sentimentos do autor, e não uma mera decifração mecânica da lexicografia.
Os referenciais podem ser interpretados pela expressão oral ou decifrados através de significados. Esses significados são conjecturados ao nível de palavras-chave. 
A escrita, pois, para ser classificada como tal, imprescinde de um rumo bem definido: fornecer subsídios para quem leia.
Significantes e significados, em grande número, já fazem parte, evidentemente, do lastro linguístico do aprendiz quando ele chega à fase de alfabetização.
Na escola, a língua materna ganhará um novo instrumento sinalortográfico, qual seja, a forma escrita. A criança, portanto, deverá  perceber o enriquecimento oferecido por essa informação, expressando-se, agora, tanto no nível da oralidade (verbal) quanto no nível da sofisticação maior da grafia do pensamento. 
De fato, a escrita oferece ao pensamento uma apresentação visual, estética, com o passar do tempo continuamente mais elaborada.
 
(Caos Markus)

TERÇA-FEIRA, 23 DE SETEMBRO DE 2014: "O PROGRESSO DO INTELIGÍVEL"


A linguagem é uma função inata permitindo ao indivíduo simbolizar o seu pensamento e interpretar o pensamento do outro. Através dela é facilitada a troca de experiências e conhecimentos, interferindo na percepção da realidade.
A origem da linguagem é resultado de um processo de socialização do ser humano, estimulado pelo meio onde vive, no qual ocorre a sua adequação e transformação, proporcionando associações das diferentes áreas sensitivas, perceptivas e motoras.

O pensamento precedente à linguagem, também é considerada outra forma de pensamento. A etapa das imagens mentais é anterior à primeira palavra da criança. As imagens mentais são cópias ativas da realidade organizada pelo cérebro.
Extremamente importante esclarecer, ao se referIr à palavra ‘imagem’, de imediato vem à mente as ilustrações, os desenhos. Todavia, ela não se restringe aos modelos visuais,  assumindo conotações também auditivas e cinestésicas, por exemplo.
Na medida em que a criança se desenvolve, aprendendo sobre os indivíduos, a linguagem e os objetos, simultaneamente, ela se modifica, devido a algumas influências de outras aquisições refletidas sobre a elocução. Primeiramente, ainda em tenra idade, quando a criança já apresenta compreensão das situações, esse discernimento evolui; em seguida, envolve-se com a expressão. Trata-se, no entanto, de processos independentes na aquisição do vocabulário, sob o ponto de vista interno. Porque, permitida pela expressão, o progresso do inteligível acentua-se, em direção ao seu próprio aprimoramento.
 
(Caos Markus)

SEGUNDA-FEIRA, 22 DE SETEMBRO DE 2014: "AS VARIÁVEIS DO PENSAMENTO"




Positivamente, para muitos pesquisadores, o pensamento da criança apresenta questões de qualidade e não de quantidade. O desenvolvimento do pensamento infantil deve ser atribuído, então, a mudanças de caráter e não a um aumento de experiências e eliminação de erros. Para esses teóricos, antes, o interesse se concentrava no que a criança não tem, o que lhe faltaria em comparação com o adulto.
Determinavam-se as peculiaridades do pensamento infantil pela incapacidade da criança para produzir pensamento abstrato, formar conceitos, estabelecer vínculos entre os juízos, tirar conclusões etc.
Em novas investigações, colocou-se no centro da atenção aquilo que a criança tem, o existente no seu pensamento, como peculiaridades e propriedades distintivas.
No entanto, deveras importante, ao avançar na acumulação de material factual, as descobertas mais modernas e mais importantes acabam resvalando por concepções pré-científicas advindas de teorias e sistemas metafísicos por elas criados. 
A crítica a tal concepção enfoca o conceito de linguagem egocêntrica, considerado o ‘pensamento egocêntrico’ enquanto ligação entre o autismo puro e o pensamento racional, o realista seria uma formação tardia, produto imposto pelo exterior à criança.
Geneticamente, o raciocínio autista precederia ao realista, manifestando-se por volta dos sete, oito anos de idade. A natureza egocêntrica do pensamento da criança, nessa acepção é explicada em relação ao caráter de sua atividade, supostamente egoísta; tão regular, inevitável e estável a ponto de se manifestar independentemente da própria experiência infantil.
Nesses argumentos, a substância psicológica da criança assimilaria as influências do meio social, deformando-as segundo suas próprias leis.
Em oposição a tais considerações, é absolutamente crível negar o pensamento autístico como um ponto de partida de todo o processo de desenvolvimento humano.
A forma primária da atividade intelectual é o pensamento efetivo, prático, voltado para a realidade e constituinte de uma das formas fundamentais de adaptação a novas condições, às situações mutantes do meio exterior.
Por isso, o pensamento autístico não pode, defintivamente, ser apresentado como um estágio intermediário e transitório entre a forma primária básica e os padrões superiores nas variáveis do pensamento.
 
(Caos Markus)

DOMINGO, 21 DE SETEMBRO DE 2014: "O ERUDITO E O ECLÉTICO"


Salta aos olhos, em visão de absoluta clareza, a ideologia de exclusão social e de dominação política através da língua, típica das sociedades ocidentais. É possível amar e cultivar os idiomas pátrios, mas sem esquecer do preço altíssimo, na sua implantação como línguas nacionais, pago por muitas civilizações.
O preconceito linguístico é um preconceito social. Combatê-lo significa passar, principalmente, por práticas escolares: os professores devem se conscientizar, evitando perpetuar, eles mesmos, essa segregação.
A língua, desde remota data, é instrumentalizada pelos poderes oficiais como um mecanismo de controle social.
Dialeto e língua, fala correta e incorreta: desnaturalizando estes conceitos, emerge a ideologia de exclusão, instrumentalizada por meios opressores.
O controle social é feito oficialmente quando um Estado escolhe uma língua ou uma determinada variedade linguística para se tornar o idioma oficial. Evidentemente, qualquer processo de seleção implica um sistema de expurgo. Quando, em um país, existem várias línguas faladas, e uma delas se torna oficial, as demais passam a ser objeto de repressão.
É muito antiga a tradição de distinguir a língua associada ao símbolo de poder dos dialetos. O uso do termo "dialeto" sempre foi carregado de discriminação racial ou cultural. Nesse emprego, dialeto é associado a uma maneira errada, feia ou má de se falar uma língua. Também é uma forma de distinguir a língua dos povos civilizados, brancos, das formas supostamente primitivas de falar dos povos "selvagens".
Essa classificação é tão poderosa a ponto de se arraigar no inconsciente da maioria das pessoas, inclusive as propagadoras de um trabalho politicamente correto.
De fato, a ruptura entre língua e dialeto é eminentemente política, estabelecida para delimitá-la, fora do alcance criterioso dos linguistas.
A eleição de um dialeto, ou de uma língua, para ocupar o cargo de língua oficial, renega, no mesmo gesto político, todas as outras variedades de línguagem de um mesmo território à terrível sombra do não-ser. A referência do que vem de cima, do poder, das classes dominantes, cria, aos falantes da diversidade de línguas sem prestígio social e cultural, um complexo de inferioridade, uma baixa auto-estima linguística, a qual os sociolinguistas catalães chamam de "auto-ódio".
Falar de uma língua é sempre mover-se no terreno pantanoso das crenças, superstições, ideologia e repre"um país, um povo, uma língua".
Durante séculos, com o objetivo de conseguir a desejada unidade nacional, muitas línguas foram extintas, populações massacradas, povos inteiros calados e exterminados.
No continente americano, a história é de uma perversa colonização construída sobre milhares de cadáveres de indígenas, aqui nativos quando os europeus invadiram suas terras ancestrais e, ainda, a de africanos escravizados.
As chamadas 'língua espanhola', 'língua portuguesa', ou 'língua inglesa' têm um rico histórico, não foram criadas espontaneamente. Pode-se amar e cultivar esses idiomas, mas sem esquecer o alto custo da sua implantação como linguajares nacionais e identidades pátrias.
Há ainda uma ideologia linguística não oficializada, ao longo do tempo instaurada na sociedade. Em qualquer tipo de comunidade humana sempre prevalece um grupo detentor do poder, a considerar seu modo de falar o mais interessante, o mais belo, a ser preservado e até imposto aos demais.
Nas sociedades ocidentais, as línguas oficiais constantemente foram objetos de investimento político. Elas são codificadas pelas gramáticas, pelos dicionários; objetos de pedagogias; são ensinadas. Claro, essa língua normatizada nunca corresponde às formas usuais, em desrespeito aos costumes dos lugares. Com frequência, há uma extensa distância entre o que as pessoas realmente falam no seu dia-a-dia, na sua vida privada e comunitária, e a língua oficializada.
A questão da línguagem é a única a unir todo o espectro linguístico, ou seja, tanto o indivíduo da mais extrema esquerda quanto o da mais extrema direita são concordes, por exemplo, diante da afirmação de que os brasileiros falam muito mal o Português.
É um pensamento milenário e arcaico, nascido entre os gramáticos gregos, trezentos anos antes de Cristo, impregnando-se maciçamente na cultura ocidental.
A prepotência linguística nas sociedades ocidentais deriva, principalmente, das práticas escolares. Pois, a escola, desde tempos imemoriais, é autoritária, não obstante apregoe o contrário. Amiúde, os alunos são obrigados a esquecer o seu próprio linguajar, impondo-se-lhes um modelo. Qualquer manifestação fora desse padrão é considerada erro, reprimindo, censurando e ridicularizando o aprendiz.
Infere-se, não poucos educadores (eles mesmos a mercê do despotismo oligárquico contemporâneo), não se dando conta de seu próprio aviltamento, são os mais fiéis colaboradores na subserviência dos educandos, mal distinguindo o erudito e o eclético. 

(Caos Markus)