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domingo, 28 de setembro de 2014

SÁBADO, 11 DE OUTUBRO DE 2014: "CAPACITAÇÃO PROFISSIONAL E CIDADANIA SOCIAL"


A ideia de educação para competitividade, associada ao desenvolvimento científico e tecnológico, e o ideal de educação voltada à cidadania social constituem, um tanto contraditoriamente, consensos na agenda dos debates e formulação de políticas setoriais em âmbito internacional.
O ensino formal passa a ocupar, junto com as políticas de ciência e tecnologia, lugar central e articulado na ponta das macro-políticas do Estado, como fator importante à qualificação dos recursos humanos requeridos pelo novo padrão de desenvolvimento, no qual a produtividade e a qualidade dos bens e produtos são determinantes à competitividade internacionalizada.
Ainda que por si só a Educação não assegure a justiça social, nem a erradicação da violência, o respeito ao meio ambiente, o fim das discriminações sociais, e outros objetivos humanistas hoje apresentados às sociedades; ela é, sem dúvida, parte indisponível do esforço a fim de torná-las mais igualitárias, solidárias e integradas.
Essa associação entre educação, trabalho e desenvolvimento tecnológico aparece mais enfaticamente na política para o ensino médio.
Embora esteja ocorrendo um aumento das matrículas nesse grau, o fato não se deve, necessariamente, a uma maior qualidade do ensino fundamental (ainda com altos índices de evasão e repetência), mas sim a resultados de exames supletivos e ao retornos de adultos cujos estudos foram interrompidos.
Porém, um dos maiores problemas do ensino médio no Brasil, refletindo-se nas suas políticas, é o da sua identidade: oscila entre o ensino propedêutico (método de habilitação), cujo objetivo é preparar o aluno para o ensino superior, e a formação profissional, tendente a ser vinculada às necessidades do mercado de trabalho.
Buscando superar os impasses criados quando da pretendida profissionalização de todo o ensino médio; pois, grave consequência, aprofundou a sua dualidade ou a sua ambiguidade, esvaziando tanto o ensino preparatório quanto o profissionalizante; uma nova diretriz visou preservar o caráter unitário da formação pessoal, partindo da proposta de educação geral como eixo unificador, deixando a educação profissional condicionada à ampliação de sua duração.
Assim, atendida a formação geral do educando, poderia, em hipótese, trazer-lhe subsídios ao exercício de profissões técnicas no próprio estabelecimento de ensino, ou em cooperação com instituições especializadas. Os cursos teriam equivalência legal e habilitação ao prosseguimento dos estudos.
Entre as finalidades básicas do ensino médio, concebeu-se um verdadeiro antagonismo: a capacitação básica dirigida tanto ao trabalho quanto ao exercício da cidadania social.
No que se refere à política dessa graduação, nota-se, ainda hoje, destacada a sua concomitância com o contexto da profissionalização, ao desenvolvimento científico e tecnológico e, assim, à competitividade. A cidadania, obviamente, relegada a plano secundário. Afinal, sabe-se, são inconciliáveis os interesses do mercado e as demandas do cidadão no exercício pleno dos seus direitos. Tal qual água e óleo, não se mesclam.
 
(Caos Markus)

sábado, 27 de setembro de 2014

SEXTA-FEIRA, 10 DE OUTUBRO DE 2014: "IGUALDADES NA DIVERSIFICAÇÃO DE STATUS"



O conceito de cidadania tem origem em três derivações: civil, política e social.
O direito civil está relacionado ao exercício da liberdade individual e suas variantes, como a 'liberdade de ir e vir', de imprensa, pensamento e fé, bem como o direito à propriedade, de concluir contratos válidos, e o acesso à justiça. Assim, as instituições  vinculadas aos direitos civis, em função da possibilidade apresentada ao indivíduo em afirmar seus próprios direitos em termos de igualdade com os demais, e devido ao encaminhamento processual, são representadas pelos tribunais de justiça.
O direito político, por outro lado, remete à possibilidade de participar no exercício do 'poder político', seja como membro eleito de um dos organismos integrantes do Estado ou como seu eleitor. Desta forma, tem como instituições correspondentes o parlamento e os conselhos do governo local.
Já o elemento social, por fim, refere-se ao todo, desde o direito a um mínimo de bem-estar econômico e segurança ao direito de participação na herança social e à vida de um ser civilizado de acordo com os padrões prevalecentes na sociedade. A ele estão relacionados o sistema educacional e os serviços sociais.
Do processo de evolução da cidadania, dois são os mais destacados desdobramentos. Primeiramente, a separação funcional permitiu a cada um dos direitos seguir seu caminho, figurando os três como elementos diferentes entre si. A distinção entre eles era tão completa a ponto de se atribuir os estágios individuais de formação a séculos diferentes (os direitos civis ao século XVIII, os políticos ao XIX e os sociais ao XX). Estas etapas devem ser relativizadas, evidentemente, pois há entrelaçamento, principalmente entre as duas últimas.
Secundariamente, houve um distanciamento das corporações, tangentes aos grupos sociais que elas buscavam servir, em função do seu novo caráter nacional, decorrendo daí a necessidade de se reconstruir o mecanismo de acesso àquelas: cada um dos direitos ligava-se à organização cujo mecanismo de alcance foi restituído ao longo dos séculos, paulatinamente, reforçando a completa diferenciação.
As distinções entre ‘cidadania’, ou ‘status’, e ‘classe social’ são também essenciais. A primeira refere-se a um ‘status’ concedido aos membros integrais de uma comunidade. Todos os detentores do ‘status’ são iguais, no que diz respeito aos direitos e obrigações pertinentes a essa condição. Quer dizer, a 'cidadania' é a relação do indivíduo com o Estado, a partir da qual são conferidos direitos individuais num movimento em direção à 'igualdade material' ou à 'cidadania ideal'.
A 'classe social', por seu turno, é um sistema de desigualdade. Relaciona-se com a inserção do sujeito no mercado de trabalho e, num marco liberal, sua existência é desejável: para recompensar o trabalho realizado ou na condição de incentivo ao desenvolvimento. Assim, pode-se assegurar, 'a classe social é fundada nas desigualdades econômicas individuais', enquanto, ao mesmo tempo, subsiste como 'uma reprodutora de desigualdades sociais'.
Cidadania e classe social, por marcante divergência em relação aos seus fins, tomaram a forma de conflito entre princípios opostos. Observado, no século XX, o conflito entre cidadania e sistema de classe capitalista, daí a preocupação em investigar os impactos de uma sobre outra e, eventualmente, entrever alguma espécie de compatibilidade. Ainda assim, os termos continuam a carecer de definições mais concretas.
Entre duas modalidades de classe social, há aspectos relevantes em sua uma diferenciação. O primeiro deles é a classe assentada numa hierarquia de ‘status’: expressa as peculiaridades de um e outro segmento em termos de direitos legais e costumes estabelecidos, dotados do caráter coercitivo essencial à lei, constituindo-se em uma entidade, eclodida, naturalmente, em seu próprio direito. Trata-se, por assim dizer, do modelo de classes predominante no feudalismo medieval, notando-se a incompatibilidade desta configuração com as aspirações de cidadania.
A segunda alteridade de classe social não é tanto um produto obtido de outros institutos, mas resultantes dos fatores vinculados às organizações da propriedade e educação e à estrutura da economia nacional. Permite-se a mobilidade social, associada à participação subjetiva na economia (através do mercado de trabalho), viabilizando o sucesso material. A existência dessa classe gera uma desigualdade social necessária e proposital, ainda que possa se tornar destrutivamente excessiva. Entretanto, a sua necessidade sugere, a princípio, não ser incompatível com aspirações igualitárias via ‘status’. Neste sentido, é aceita explicitamente a pobreza, apesar de deplorar os indigentes ou os destituídos. Porque sem uma grande proporção de pobres não poderia haver ricos, pois estes últimos são o produto do trabalho. A pobreza, portanto, é assim assimilada enquanto ingrediente indispensável à coletividade. Equivaleria a confirmar, a despeito das contradições, a existência de igualdades variadas, pois contidas em diversificação de ‘status’ numa classe determinada da sociedade mais ampla.
O desejo por cidadania e o despertar da consciência social, causas da favorável diminuição da influência classista, não constituem um ataque ao sistema hierarquizado, tornando-o, ao contrário, menos vulnerável. Além disso, singularmente, quando o núcleo da cidadania residia nos direitos civis, a outorga desses direitos era indispensável à manutenção de um mercado competitivo e gerador de desigualdades.
 
(Caos Markus)

QUINTA-FEIRA, 9 DE OUTUBRO DE 2014: "LEGITIMAÇÃO E MOBILIDADE SOCIAL"


Durante o governo instaurado pela Ditadura Militar de 64, foi mínima qualquer preocupação dirigida a alterar barreiras sociais menos rígidas, típicas de uma ideologia democrática. A intenção era, nomeadamente, mostrar a possibilidade de rendimentos oferecida pela educação, ou seja, evidenciar os seus aspectos econômicos, próprios de uma doutrina desenvolvimentista.
Nos meados da década de 60 e nos anos 70, foram enfatizados os estudos econômicos do ensino, utilizando-se conceitos como o de ‘capital humano’ para explicar o investimento no setor; o de produtividade, taxa de retorno, custos educacionais e a concepção do processo de aprendizagem enquanto mercadoria. Essa visão repercutiu, socialmente, em análise de crescimento econômico e, nos indivíduos, foi relacionada à melhoria de renda, através de uma maior qualificação para o mercado de trabalho.
Há nesse ciclo, mundialmente, a consolidação da ordem capitalista monopolista em contraposição à estrutura socialista, fase também marcada pelo surpreendente crescimento econômico da Alemanha e do Japão no pós-guerra, fenômeno impossível de ser esclarecido pela economia clássica, a partir dos três fatores de produção, quais sejam, ‘terra, capital e trabalho’. Um novo conceito, pois, foi utilizado, este, o de "capital humano". Também a democracia liberal passou a ser substituída por Estados intervencionistas na esfera econômica.
No Brasil, essa época é caracterizada pelo destaque da ingerência estatal na economia, sob o argumento da superação do subdesenvolvimento. Ocorreram uma industrialização progressiva e uma estrutura produtiva internacionalizada, aspectos já observados ao final da década de 50. A expansão foi considerada advento de inovações e, neste sentido, a inserção do país no mercado global um objetivo essencial.
A partir de 1968 tem início uma nova fase desenvolvimentista, direcionada ao então chamado "milagre econômico brasileiro". Neste quadro, delineia-se uma política educacional preocupada, mormente, com a rentabilidade dos investimentos educacionais.
Frutos dessa política são a Reforma Universitária de 1968 e a Lei de Profissionalização do Ensino Médio de 1971, fundadas na constatação da deficiência de mão-de-obra qualificada necessária ao progresso econômico do país, ante o despreparo, no ensino, face as exigências estruturais do mercado de trabalho.
A criação da pós-graduação no Brasil e o início das atividades de pesquisa universitária são o resultado de uma política estatal voltada à propagada adequação do ensino superior no contexto desse projeto. Essa era, de fato, a "função social" da Universidade: qualificar recursos humanos e produzir conhecimento científico e tecnológico, tão-somente, de maneira a permitir a imaginada prosperidade industrial brasileira.
Assim, ocorreu uma transferência na forma de legitimação viável pela Educação. Se anteriormente a mobilidade social resultante do acesso ao saber denotava uma sociedade mais aberta e democrática, nas décadas de 60 e 70 a validação é centrada em princípios absolutamente financeiros. O "crescimento econômico" sobrepõe-se à fluidez da sociedade.
O preço dessa alternância, hoje reconhecidamente inegável, remanesce à atualidade, com onerosos encargos às políticas públicas de múltiplos setores, todos carentes de efetiva mobilização social.
 
(Caos Markus)

QUARTA-FEIRA, 8 DE OUTUBRO DE 2014: "EDUCAÇÃO DE FATO E DE DIREITO"


No final da década de 70, a abertura política tem início em concomitância com o agonizante final do milagre econômico brasileiro. Neste período, a educação passa a ser considerada sob o aspecto político, voltada ao seu papel na construção da cidadania. Trata-se de um momento de crise de legitimação do Estado, quando os movimentos sociais tiveram a destacada função de resgatar a democratização do país. Há um aprofundamento da discussão em torno de dimensões e alcances das políticas sociais (públicas) na construção da cidadania real, ao lado de avanços a culminarem no estabelecimento da anistia, na criação de novos partidos políticos, e na realização das primeiras eleições diretas para governadores.
Mundialmente, ocorreu o auge do desenvolvimento do ‘Estado de Bem-Estar Social’, com ênfase, igualmente, à chamada democratização, devido à proeminência da queda do Muro de Berlim, simbolizando a reta final do socialismo. Absurda contradição, nota-se, da esquerda, só compreendida pela consolidação da social-democracia.
Neste aspecto, a ampliação do acesso e da gestão educacional era fundamental, tornando então crucial a questão do ensino público em termos da gratuidade, e a garantia de recursos do erário, além das eleições para os cargos diretivos das instituições de ensino superior. Foi requerida da Universidade a competência funcional de contribuir com a autonomia do país.
Esta preocupação deve-se a um novo conceito de desenvolvimento à época: apesar de o processo de internacionalização continuar em vigor, a aspiração de autonomia nacional, no Brasil, se faz dominante através da necessidade de geração de conhecimento científico e tecnológico, tendo em vista a superação da dependência em relação aos países centrais. Este pensamento vai dominar o período da Constituinte. Neste projeto de autonomia, a competência científica e o fortalecimento de níveis acima dos cursos de graduação na Universidade eram absolutamente relevantes, pois o ciclo completo de produção e aquisição do conhecimento não seria viabilizado sem a pesquisa básica, obra peculiar à instituição universitária, embora a capacitação tecnológica e a incumbência da empresa nacional não tenham sido preteridas.
Assim, doutrinava-se, a Educação traria ao indivíduo a cidadania, pelo acesso ao ensino público gratuito e por meio da sua participação nas diferentes esferas do poder, significando, para a sociedade, plena emancipação, assegurando-lhe autonomia. Ou seja, eis porque a legitimação inspirada pela Educação possuía teor de caráter político.
Adiante, a globalização marca o novo contexto mundial, com menor intervenção do Estado na economia, estimulando ainda mais a competição entre países e empresas. Instala-se um outro paradigma produtivo, cuja base técnica é eletroeletrônica, própria do sistema industrial de automação microeletrônica, ancorado, sobretudo nas especializações do ensino, retirada de vez da Educação o objetivo de transmitir saberes técnicos sob a ótica das ciências humanas.
Essas novas tendências levam a pensar o conhecimento pela interdisciplinaridade, intercâmbio e experimentação. Nesse foco, educação e conhecimento estão muito associados a desenvolvimento científico e tecnológico que, por sua vez, levam à competitividade.
Diante do processo de globalização, da maior abertura ao mercado internacional e da tentativa de ingressar no novo referencial produtivo, à formação de ‘recursos humanos’ é atribuída máximo valor, julgada imprescindível no acréscimo da concorrência, fosse pela formação de pesquisadores altamente qualificados, fosse pela modernização tecnológica das empresas dependentes da pesquisa científica de ponta e da educação básica e profissional de sua mão-de-obra. Já então, perceptível, a Educação é legitimada pelo caráter fundamentalmente econômico.
O retorno da racionalidade econômica, característica da contextualização educacional pelo teoria do 'capital humano', é explicado, nos países desenvolvidos, pela crise do “welfare state”. Expressão esta, vale dizer, correspondente ao ‘Estado de Bem-Estar Social’, ‘Estado-Providência’, uma organização política e econômica onde ele é o agente da promoção, protetor e defensor social, planejador da economia.
Na América Latina, a mesma explicação se dá pela crise estatal desenvolvimentista.
O conflito é verificado com a consequência imediata do intervencionismo nas demandas sociais: o déficit fiscal. Tornando-se onipresente nas atividades de produção de bens e serviços, esse mesmo Poder é levado à ineficiência e ineficácia, suscitando a preocupação em suprimir o ‘Estado-Burocrático’ e ‘Patrimonialista’, substituindo-o pelo ‘Estado-Empresário’.
Persegue-se, portanto, a redução de custos, o aumento da produtividade privada. Ora, esse encadeamento de conceitos tem um nome: economicidade. Nada mais nada menos que administração prática e metódica das operações de uma entidade, projeto ou ‘empresa pública’, assegurando custos operacionais mínimos, aí incluída a redução dos investimentos em Educação de fato e de direito, excluída, pois, a cidadania ampla geral e irrestrita.
 
(Caos Markus)

TERÇA-FEIRA, 7 DE OUTUBRO DE 2014: "ESTEREÓTIPO DA MOBILIDADE CULTURAL"


Fala-se muito em ‘status’, considerando-o, porém, na identificação de um indivíduo inserido em ampla rede de pessoas notoriamente reconhecidas. Assim, um sujeito com status elevado é admirado em sua região, exercendo certa influência sobre o local onde vive. Para a Sociologia, 'status' é o lugar ou a posição ocupada na estrutura da sociedade. 
A configuração social está diretamente relacionada a determinados grupos integrantes de organizações onde há relações movidas por uma série de deveres, direitos e privilégios. Ela se refere à colocação e situação, individual e coletiva, nessa conformação. Os padrões essenciais  de relações obrigacionais constitui o contexto de uma sociedade.
O 'status social', ainda sociologicamente, compreende características de posições não estabelecidas por meios legais. Numa democracia, elas devem seguir os preceitos constitucionais, quando então haverá a diferença do 'status legal', assentado, pois, em legislação. 
Grosso modo, ‘status’ equivale a ‘posição’. Nas sociedades antigas, o 'status social' se organiza rigorosamente por meio de castas, baseadas em práticas de tratamento assinalando inferioridade e superioridade. Na maioria das vezes, elas expressam fortalecido cunho religioso, responsável pelo ordenamento normativo, inclusive.
Alcançar provecto status social requer eliminar concorrentes, em uma acirrada competição pessoal.
Na política, há parlamentares cujo 'status' lhes confere poder de exercer influência sobre decisões.
Existe o ‘status atribuído’, consistente na independência da capacidade subjetiva, quando alguém o recebe mesmo contra a vontade. Com efeito, há diferentes modalidades de 'status', consoante as consideradas boas ou más obras.
Um criminoso, na sociedade, por exemplo, é posicionado em condição de inferioridade. Já no meio onde vive, com outros de mesma categoria, poderá ter seu 'status' admirado, devido ao seu êxito nas faltas cometidas contra as normas da sociedade mais ampla. 
O sistema de castas é oposto, em alguns aspectos, ao de classes sociais formadas pelo capitalismo. Estas podem ser divididas sob múltiplos referenciais. Pelos paradigmas sociológicos, prevalecem duas modalidades: econômica e ocupacional. As castas sociais divergem do conceito de classes, quando, nestas, em hipótese, subsiste o direito à mudança de patamar.
Isso não é permitido nas castas, por envolver questões de hereditariedade e religião. 
A estratificação social diferencia indivíduos e grupos em 'status', 'camadas' ou 'estratos', hierarquicamente sobrepostos, tornando semelhantes a organização de castas e o contexto classista. Nesse aspecto, existem algumas vertentes do conceito de estratificação: a econômica, a política e a profissional; e ainda a demarcada pela renda familiar. 
Economicamente, a estratificação ocorre através da renda ou posses de bens materiais pertencentes a uma família. Discriminação observada entre ricos, pobres e classe média. Ora, essa é a mesma metodologia imposta, indiretamente, pelo capitalismo. 
Na estratificação política, tem-se por fundamento o poder, sendo dividida entre seus detentores e os dele excluídos.
A estratificação profissional é hierarquizada nos graus de importância de cada profissional, na valorização de uma e no desprestígio de outra. 
O essência de 'estratificação social' traduz-se em insularidade de classes, não se podendo falar em capitalismo sem citar essa definição. Afinal, ela expressa o caráter das sociedades contemporâneas, onde impera a desigualdade. Algumas questões certificadas como preconceitos estão também implicadas na estratificação.
Há desigualdades em diversos segmentos da sociedade: na oportunidade de trabalho; na cultura e lazer; no acesso à informação e à educação; nos gêneros ‘masculino' e 'feminino’; em relação às raças e etnias (casos de xenofobia, por exemplo); e às religiões. Até a linguagem, os dialetos de cada lugar são discriminatórios, haja vista o menosprezo aos interioranos manifestado por moradores das metrópoles. 
As sociedades onde há todos esses problemas distinguem-se pela hipotética possibilidade das mobilidades sociais. As diferenças teriam seu fim quando o sujeito ascendesse de uma a outra classe, ou, inversamente, através do empobrecimento do indivíduo outrora considerado economicamente rico.
Além disso, o que não é possível em sociedades tradicionais, como a mobilidade cultural, nas contemporâneas, pressupõe-se essa passagem. Todavia a mobilidade cultural consiste em mudança de valores, normas e vínculos, e não somente no atual estereótipo da aquisição de títulos de diplomação.
 
(Caos Markus)


terça-feira, 23 de setembro de 2014

SEGUNDA-FEIRA, 6 DE OUTUBRO DE 2014:"IGUALDADES NA DIVERSIFICAÇÃO DE STATUS"



O conceito de cidadania tem origem em três derivações: civil, política e social.
O direito civil está relacionado ao exercício da liberdade individual e suas variantes, como a 'liberdade de ir e vir', de imprensa, pensamento e fé, bem como o direito à propriedade, de concluir contratos válidos, e o acesso à justiça. Assim, as instituições  vinculadas aos direitos civis, em função da possibilidade apresentada ao indivíduo em afirmar seus próprios direitos em termos de igualdade com os demais, e devido ao encaminhamento processual, são representadas pelos tribunais de justiça.
O direito político, por outro lado, remete à possibilidade de participar no exercício do 'poder político', seja como membro eleito de um dos organismos integrantes do Estado ou como seu eleitor. Desta forma, tem como instituições correspondentes o parlamento e os conselhos do governo local.
Já o elemento social, por fim, refere-se ao todo, desde o direito a um mínimo de bem-estar econômico e segurança ao direito de participação na herança social e à vida de um ser civilizado de acordo com os padrões prevalecentes na sociedade. A ele estão relacionados o sistema educacional e os serviços sociais.
Do processo de evolução da cidadania, dois são os mais destacados desdobramentos. Primeiramente, a separação funcional permitiu a cada um dos direitos seguir seu caminho, figurando os três como elementos diferentes entre si. A distinção entre eles era tão completa a ponto de se atribuir os estágios individuais de formação a séculos diferentes (os direitos civis ao século XVIII, os políticos ao XIX e os sociais ao XX). Estas etapas devem ser relativizadas, evidentemente, pois há entrelaçamento, principalmente entre as duas últimas.
Secundariamente, houve um distanciamento das corporações, tangentes aos grupos sociais que elas buscavam servir, em função do seu novo caráter nacional, decorrendo daí a necessidade de se reconstruir o mecanismo de acesso àquelas: cada um dos direitos ligava-se à organização cujo mecanismo de alcance foi restituído ao longo dos séculos, paulatinamente, reforçando a completa diferenciação.
As distinções entre ‘cidadania’, ou ‘status’, e ‘classe social’ são também essenciais. A primeira refere-se a um ‘status’ concedido aos membros integrais de uma comunidade. Todos os detentores do ‘status’ são iguais, no que diz respeito aos direitos e obrigações pertinentes a essa condição. Quer dizer, a 'cidadania' é a relação do indivíduo com o Estado, a partir da qual são conferidos direitos individuais num movimento em direção à 'igualdade material' ou à 'cidadania ideal'.
A 'classe social', por seu turno, é um sistema de desigualdade. Relaciona-se com a inserção do sujeito no mercado de trabalho e, num marco liberal, sua existência é desejável: para recompensar o trabalho realizado ou na condição de incentivo ao desenvolvimento. Assim, pode-se assegurar, 'a classe social é fundada nas desigualdades econômicas individuais', enquanto, ao mesmo tempo, subsiste como 'uma reprodutora de desigualdades sociais'.
Cidadania e classe social, por marcante divergência em relação aos seus fins, tomaram a forma de conflito entre princípios opostos. Observado, no século XX, o conflito entre cidadania e sistema de classe capitalista, daí a preocupação em investigar os impactos de uma sobre outra e, eventualmente, entrever alguma espécie de compatibilidade. Ainda assim, os termos continuam a carecer de definições mais concretas.
Entre duas modalidades de classe social, há aspectos relevantes em sua uma diferenciação. O primeiro deles é a classe assentada numa hierarquia de ‘status’: expressa as peculiaridades de um e outro segmento em termos de direitos legais e costumes estabelecidos, dotados do caráter coercitivo essencial à lei, constituindo-se em uma entidade, eclodida, naturalmente, em seu próprio direito. Trata-se, por assim dizer, do modelo de classes predominante no feudalismo medieval, notando-se a incompatibilidade desta configuração com as aspirações de cidadania.
A segunda alteridade de classe social não é tanto um produto obtido de outros institutos, mas resultantes dos fatores vinculados às organizações da propriedade e educação e à estrutura da economia nacional. Permite-se a mobilidade social, associada à participação subjetiva na economia (através do mercado de trabalho), viabilizando o sucesso material. A existência dessa classe gera uma desigualdade social necessária e proposital, ainda que possa se tornar destrutivamente excessiva. Entretanto, a sua necessidade sugere, a princípio, não ser incompatível com aspirações igualitárias via ‘status’. Neste sentido, é aceita explicitamente a pobreza, apesar de deplorar os indigentes ou os destituídos. Porque sem uma grande proporção de pobres não poderia haver ricos, pois estes últimos são o produto do trabalho. A pobreza, portanto, é assim assimilada enquanto ingrediente indispensável à coletividade. Equivaleria a confirmar, a despeito das contradições, a existência de igualdades variadas, pois contidas em diversificação de ‘status’ numa classe determinada da sociedade mais ampla.
O desejo por cidadania e o despertar da consciência social, causas da favorável diminuição da influência classista, não constituem um ataque ao sistema hierarquizado, tornando-o, ao contrário, menos vulnerável. Além disso, singularmente, quando o núcleo da cidadania residia nos direitos civis, a outorga desses direitos era indispensável à manutenção de um mercado competitivo e gerador de desigualdades.
 
(Caos Markus)

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

DOMINGO, 5 DE OUTUBRO DE 2014: "VENENO"


Eu sou do bem, não me leve a mal. Mas, na (Es) História da Branca de Neve, também sou Feliz, um dos anões. Fosse eu o Zangado, então sim, 'brava' gente brasileira, de mau humor o meu brado seria clamor pela perfeição. 
Obs.: não faço a mínima idéia sobre a existência de veneno na maçã.

(Caos Markus)

SÁBADO, 4 DE OUTUBRO DE 2014: "EXPLIQUE"


Cá no Brasil, o "Populismo" atravessa gerações, distribuindo miséria aos desafortunados, que, por seu turno (sugestivo paradoxo), endossam o "cheque-voto-em branco" emitido pelos oligarcas.
Paradigma do terror, referencial da subserviência! 
Síndrome estranha essa, a do masoquismo político.
Freud fora disso, Marx nem pensar, talvez Darwin explique.

(Caos Markus)

SEXTA-FEIRA, 3 DE OUTUBRO DE 2014: "GRAFISMOS"


Do aquém  -aqui-  perpassando ascendência, e  -além- ecoando descendência; grafismos da vida registram metalinguagens nos meridianos: nível e prumo não garantem equilíbrio entre latitudes e longitudes.

(Caos Markus)

QUINTA-FEIRA, 2 DE OUTUBRO DE 2014: "VIÉS SOCIAL NA COMPETITIVIDADE"


A abordagem contemporânea da Educação na sociedade brasileira, sobretudo, relacionada às ideias de ensino como promotor de competitividade e de cidadania social, demonstra o quanto essas concepções se refletem na política educacional do país, desde a década de 90, e sua vinculação a certas transformações da sociedade nacional, incluída, no processo de globalização, a fragilidade da democracia.
As formas dessa contextualização, no Brasil, têm variado historicamente, trazendo à evidência o quanto se tem preterido o conceito de Durkheim, para quem a Educação é um sistema de socialização, cuja importante característica é integrar os indivíduos no contexto social e, por essa razão, variável segundo o tempo e o meio.
Supondo na Educação também o objetivo de proporcionar uma maior capacidade de autonomia subjetiva, e por isso mesmo, de interferência pessoal, é relevante considerá-la em sua importância eminentemente social, mesmo sob a ressalva de diferentes conotações a respeito, através da história.
Nos anos 50 e até o início da década de 60, a educação é compreendida enquanto instrumento de mobilidade social. Neste quadro, além das funções de socialização e de formação, deveria conferir "status" às pessoas.
Ela representaria, ao individuo, a viabilidade de ascensão na hierarquia de prestígio da estrutura piramidal e, para a sociedade, uma maior abertura da estratificação social sistematizada.
Nesse período, o panorama mundial é marcado pela reestruturação, abalado em consequência da Segunda Guerra Mundial, ante o fortalecimento do bloco socialista e face a configuração dos dois distintos ordenamentos, em áreas definidas, o capitalismo e o socialismo. Havia uma preocupação com a legitimação da social- democracia, sob a ameaça passada da ideologia fascista e o temor subsistente ao comunismo soviético.
Florestan Fernandes, em 1972, identifica esse momento como o da passagem de uma ordem social estamental (estratificação com camadas mais fechadas do que as classes sociais, e mais abertas do que as castas) para uma ordem competitiva. Além disso, naquele momento, os padrões de democracia (no Brasil, mais populista, se comparado ao modelo liberal) eram enfatizados, pretendendo-se diminuir o poder das oligarquias, fortalecer a burguesia nascente e conceder uma relativa participação eleitoral às massas.
Nessa emergente sociedade mais aberta, mesmo continuando a Educação a ter uma função decorativa de consolidar "status" sociais definidos por critério de origem socioeconômica, ela passa a ser requerida como um instrumento de mobilidade ascendente, sobretudo para as classes médias.
Também tem lugar a substituição de importações após a grande depressão mundial, uma vez rompido o modelo agro-exportador. Daí, o advento de estímulo considerável à industrialização de bens de consumo duráveis.
Nesse sentido, coube ao ensino institucionalizado importante tarefa na legitimação do grau de abertura. Porque, afinal, uma sociedade em processo de industrialização e de democratização deveria mostrar um sistema de estratificação social mais fluído.
Adiante, já na década de 90, considera-se a Educação como meio de promover a competitividade, dando ao indivíduo a condição de empregabilidade e trazendo à sociedade a modernidade associada ao desenvolvimento sustentável.
Se a racionalidade econômica permeia a ideia de Educação para a competitividade, na política educacional brasileira recente, não se deve ignorar, todavia, o seu viés social, a se materializar, de fato, com maiores chances voltadas à diminuição das desigualdades, concretizando-se, então, o caminho dessa sociedade, em direção à justiça real. No período da propalada redemocratização, a cidadania política foi muito exortada, porém, atualmente, ainda verifica-se a sua insuficiência para consolidar uma efetiva co-participação de segmentos estratificados, distanciada dos prementes desafios educacionais.
 
(Caos Markus)
 
 


QUARTA-FEIRA, 1 DE OUTUBRO DE 2014: "SER"


Eu não posso ser o Lego (o lúdico) do seu Ego, sem que para isto eu me torne Cego.

(Caos Markus)

sábado, 13 de setembro de 2014

TERÇA-FEIRA, 30 DE SETEMBRO DE 2014: "CONDIÇÃO"



O pânico, a desgraça e o horror, todos eles passam. O que persiste é a sensação, que, certamente, impõe a sobrevivência como condição da própria vida.

(Caos Markus)

SEGUNDA-FEIRA, 29 DE SETEMBRO DE 2014: "O VITORIOSO"


A atividade de legislar é uma prática burguesa que expressa duplo grau de subordinação do indivíduo e da coletividade. Porque regulamenta  a organização da sociedade civil nas condições da 'divisão social', e determina o direito dos "cidadãos" nas circunstâncias favoráveis à luta de classes. 
O capital, guarnecido pela lei, combate de duas maneiras quem se lhe opõe: por meio da 'troca' e da 'negociação' ("conciliação"), em situações ditas normais de funcionamento dessa mesma sociedade; e através do Estado, em contextos de crise.
Assim, ninguém mais, ninguém menos, o capitalismo é sempre o vitorioso em qualquer sufrágio, pois garante a si próprio pela coligação com o Estado.

(Caos Markus)

DOMINGO, 28 DE SETEMBRO DE 2014: "TENDÊNCIAS"



Que seja um mero devaneio, sempre será muito bem-vindo. 
Há de ser ainda melhor, em se tratando de divagação, base para a digressão, de onde inferem-se ilações tendentes ao heterodoxo.

(Caos Markus)

SÁBADO, 27 DE SETEMBRO DE 2014: " A PROMOÇÃO DE UM RANÇO"


Perpetuadores da discriminação linguística, infelizmente, os meios de comunicação poderiam ser extraordinários instrumentos na democratização social das linguagens inter-relacionadas. No Brasil, vinculados aos oligopólios e seus máximos representantes, assumiram o papel de defensores da língua portuguesa supostamente ameaçada. Não interessa se duzentos e dez milhões de brasileiros se expressam de modo diverso ao institucionalizado pelo oficioso registro de normas, já elevado à informal oficialidade. São os nacionais tachados de errados, porque nem sempre seguem o apregoado como certo, a regra consolidada há séculos.
Nas sociedades e culturas centradas na escrita, o padrão é inspirado na escrita literária. Falar como os grandes escritores escreveram é o objetivo místico proposto pelas culturas letradas. Como ninguém fala de maneira igual ao escrito pelos renomados autores literários, a população inteira teoricamente fala errado, pois esse ideal é inalcançável.
Uma veemente contradição: os ensinos tradicionais de língua determinam aos educandos imitar os clássicos, mas ao mesmo tempo os proibem o reservado somente aos literatos: a licença poética. Ela é permitida àquele que em teoria sabe tão bem a língua a ponto de se dar ao luxo de desrespeitar as normas. Porém, a diferença entre a licença poética e o erro gramatical é, basicamente, de classe social. Alguns, pela sua própria origem social, se dão ao direito (e tem esse direito reconhecido) de falar como quiser; aos outros, a maioria, também por sua origem social não é salvaguardado esse mesmo direito.
Cria-se um rigor linguístico distante da língua realmente vivida. A partir desse confronto entre o falar comum e a língua codificada, surgem os conflitos linguísticos. Ao comparar a sua maneira de falar com o aprendido na escola (ou, o codificado), o aluno vê o distanciamento 
entre essas duas entidades, e sob auto-censura, julga errado e feio o seu próprio vocabulário.
Por essas razões, qualquer imposição linguística gera um efeito contrário, o da auto-rejeição, ou a promoção de um ranço por parte dos segmentos sociais predominantes.

(Caos Markus)

SEXTA-FEIRA, 26 DE SETEMBRO DE 2014: "A LINEARIDADE DO UNÂNIME"


Uma criança na época da alfabetização já trilhou um caminho linguístico. Numa sociedade mesclada como a brasileira, a escola deve levar em consideração esse conhecimento por ela apresentado, não o desvalorizando e nem querendo substituí-lo às custas de regras inflexíveis.
Um dialeto não é simplesmente um uso errado do modo de falar de outro dialeto. Existem, sim, formas diversas de se expressar.
Falando um dialeto diferente daquele da comunidade onde a escola está situada, ao descobrir o quanto a sua realidade é ali ignorada, a criança sofrerá de fato. Os seus costumes, a maneira de se vestir, falar, andar, todos esses padrões serão destacados entre os colegas de turma, ensejando respeito às suas peculiaridades, jamais podendo ser considerados impedimentos ao progresso intelectual e cultural.
Sujeita, pois, a discriminações, ela deverá acolhida pela instituição de ensino, e encorajada a aceitar as novas influências. No entanto, sem ser induzida a se envergonhar de suas origens, de sua história pessoal.
Infelizmente, nesses casos, no Brasil a escola tende ao menoscabo da bagagem infantil carregada desde o seu meio social, mesmo quando afirma partir do reconhecimento da realidade do aluno.
Na verdade, frequentemente, não se vê preocupação alguma, nem com o cotidiano exterior deste aprendiz nem com a sua pretensão ao ingressar na educação formal. Se a escola ouvisse o que a criança tem para dizer, ficaria surpresa. Dela ouviria verdades, contrárias à retórica dissimulada típicas dos adultos.
Atentar para o tipo de comunidade de onde provém a criança, este sim deve ser princípio institucional em Educação. Algumas já tiveram contato com lápis, papel e borracha; enquanto outras sequer viram seus pais lendo um jornal ou uma revista.
A escrita representa face a Humanidade um instrumento fundamental à evolução, isto é, o homem precisa da escrita para também progredir, se comunicar, entender o mundo ao seu redor. E, fundamentalmente, para emitir a sua opinião, descrever e questionar esse mesmo mundo.
Sendo uma conquista cultural e evolutiva, a escrita não é, portanto, inerente à natureza humana, necessitando ser inserida na vida da criança com suas características e significações várias (social, psicológica, política, cultural). Requer, por isso mesmo, especial tratamento na alfabetização. 
Espera-se que a criança, no final de um ano de alfabetização, saiba escrever e não saiba escrever tudo e com correção absoluta.
O professor tem uma tarefa complexa; a informação e as técnicas pedagógicas serão seus efetivos instrumentos de trabalho. Ele deverá fazer uso do saber psicológico, aplicando-o ao seu magistério. 
Se deixar as crianças utilizarem, por exemplo, as informações extra-escolares e as suas experiências no uso das letras do alfabeto, isso lhe indicará as variações dialetais da comunidade em que elas vivem, facilitando a integração com o discurso escolar. O professor sensível à identificação de tais nuances, terá, obviamente, oportunas condições de procurar os melhores métodos e técnicas adequados aos seus alunos.
A escola usa e abusa da linguagem para ensinar e para deixar bem claro o lugar de cada um na instituição e até na sociedade.
Os livros, os professores e a escola possuem o saber estabelecido. Não raramente, abusam da autoridade moral e disciplinar a qual o aluno é submetido. Situação evidente na dificuldade da grande maioria em resolução de questões formuladas em provas de avaliação.
O problema não está na falta de conhecimento do aluno, mas sim no impasse linguístico criado na proposição das perguntas apresentadas, isto é, no mau uso do saber por quem deveria transmití-lo e motivá-lo.
A escola proclama o seu mister, o de ensinar. Porém, alheia, mais oculta do que mostra. E cobra das crianças um conhecimento não transmitido.
Para facilitar a leitura, a sociedade achou por bem decidir em favor de um modo ortográfico de escrever palavras, independentemente dos modos de falar dos dialetos, mas que pudesse ser lido por todos os falantes, cada qual ao seu modo . Assim agindo, não se deu conta do absurdo: a linearidade do unânime, sempre precária.
 
(Caos Markus)

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

QUINTA-FEIRA, 25 DE SETEMBRO DE 2014: "A LINEARIDADE DO UNÂNIME"


Uma criança na época da alfabetização já trilhou um caminho linguístico. Numa sociedade mesclada como a brasileira, a escola deve levar em consideração esse conhecimento por ela apresentado, não o desvalorizando e nem querendo substituí-lo às custas de regras inflexíveis.
Um dialeto não é simplesmente um uso errado do modo de falar de outro dialeto. Existem, sim, formas diversas de se expressar.
Falando um dialeto diferente daquele da comunidade onde a escola está situada, ao descobrir o quanto a sua realidade é ali ignorada, a criança sofrerá de fato. Os seus costumes, a maneira de se vestir, falar, andar, todos esses padrões serão destacados entre os colegas de turma, ensejando respeito às suas peculiaridades, jamais podendo ser considerados impedimentos ao progresso intelectual e cultural.
Sujeita, pois, a discriminações, ela deverá ser acolhida pela instituição de ensino, e encorajada a aceitar as novas influências. No entanto, sem que seja induzida a se envergonhar de suas origens, de sua história pessoal.
Infelizmente, nesses casos, no Brasil a escola tende ao menoscabo da bagagem infantil carregada desde o seu meio social, mesmo quando afirma partir do reconhecimento da realidade do aluno.
Na verdade, frequentemente, não se vê preocupação alguma, nem com o cotidiano exterior deste aprendiz nem com a sua pretensão ao ingressar na educação formal. Se a escola ouvisse o que a criança tem para dizer, ficaria surpresa. Dela ouviria verdades, contrárias à retórica dissimulada típica dos adultos.
Atentar para o tipo de comunidade de onde provém a criança, este sim deve ser princípio institucional em Educação. Algumas já tiveram contato com lápis, papel e borracha; enquanto outras sequer viram seus pais lendo um jornal ou uma revista.
A escrita representa face a Humanidade um instrumento fundamental à evolução, isto é, o homem precisa da escrita para também progredir, se comunicar, entender o mundo ao seu redor. E, fundamentalmente, para emitir a sua opinião, descrever e questionar esse mesmo mundo.
Sendo uma conquista cultural e evolutiva, a escrita não é, portanto, inerente à natureza humana, necessitando ser inserida na vida da criança com suas características e significações várias (social, psicológica, política, cultural). Requer, por isso mesmo, especial tratamento na alfabetização. 
O professor tem uma tarefa complexa; a informação e as técnicas pedagógicas serão seus efetivos instrumentos de trabalho. Ele deverá fazer uso do saber psicológico, aplicando-o ao seu magistério. 
Se deixar as crianças utilizarem, por exemplo, as informações extra-escolares e as suas experiências no uso das letras do alfabeto, isso lhe indicará as variações dialetais da comunidade em que elas vivem, facilitando a integração com o discurso escolar. O professor sensível à identificação de tais nuances, terá, obviamente, oportunas condições de procurar os melhores métodos e técnicas adequados aos seus alunos.
A escola usa e abusa da linguagem a fim de "ensinar" e para deixar bem claro o lugar de cada um na instituição e até na sociedade.
Os livros, os professores e a escola possuem o saber estabelecido. Não raramente, abusam da autoridade moral e disciplinar a qual o aluno é submetido. Situação evidente na dificuldade da grande maioria em resolução de questões formuladas nas provas de avaliação.
O problema não está na falta de conhecimento do aluno, mas sim no impasse linguístico criado na proposição das perguntas apresentadas, isto é, no mau uso do saber por quem deveria transmití-lo e motivá-lo.
A escola proclama o seu mister, o de ensinar. Porém, alheia, mais oculta do que mostra. E cobra das crianças um conhecimento não transmitido.
Para facilitar a leitura, a sociedade achou por bem decidir em favor de um modo ortográfico de escrever palavras, independentemente dos modos de falar dos dialetos, mas que pudesse ser lido por todos os falantes, cada qual ao seu modo . Assim agindo, não se deu conta do absurdo: a linearidade do unânime, sempre precária.
 
(Caos Markus)

quarta-feira, 10 de setembro de 2014

QUARTA-FEIRA, 24 DE SETEMBRO DE 2014: "A ESTÉTICA DO PENSAMENTO"




A leitura tem como objeto, e não somente como objetivo, a fala, pois a pessoa pode falar sem necessariamente ter que aprender a ler.
Os sistemas baseados nos significados, via de regra, são pictóricos. Não dependem de uma língua específica, sendo possível sua compreensão em vários idiomas, condicionada apenas à capacidade e habilidade do leitor.
O sistema de escrita ideográfica traz consigo, em geral, significados mais abrangentes, quando comparado a outros esquemas de escrituração, passível de ser traduzido em uma única palavra ou morfema.
Já a sistematização do letramento convencionada no 'significante' depende essencialmente dos elementos sonoros de uma língua, a fim de ser lido e decifrado.
Todo método de escrita tem um compromisso direto ou indireto com os sons de um linguajar. E como os fraseados, inexoravelmente, alteram-se no decorrer do tempo, transformando a forma fônica dos vocábulos, a sua inscrição começa a ser de difícil leitura.
Historicamente, muitos ordenamentos ideográficos, uma vez formulados, incorporaram múltiplos elementos de escrita fonográfica.
O regramento alfabético está sempre procurando uma simbologia mais reduzida a termos de uso específico. Essas mitigações retornam ao sistema ideográfico.
Observa-se, as variações linguísticas levaram o registro ideográfico ao alfabético, para as formas dos símbolos e das letras, porque quem lê, lê no seu dialeto. Por esta razão, a escrita, para ser lida por outras pessoas, necessita da utilização de caracteres, com o objetivo de facilitar seja identificada a acepção.
A língua materna é o idioma do afeto, da estruturação do pensamento, da organização dos conceitos. Assim, alfabetizar alguém em sua própria língua implica em utilizar esses recursos intelectuais e psicológicos, já bem consistentemente implantados desde os seis anos de idade.
Aos que sabem falar o Português, por exemplo, a entrada na escola vai significar a aprendizagem do código gráfico da língua portuguesa, e sua interpretação.
Outros símbolos existem, evidentemente, além das letras, e eles também implicam em códigos redutíveis à compreensão intelectual, E igualmente permitem algum tipo de "leitura". Os sinais de trânsito, por exemplo: basta olhá-los para entender o seu significado, cuja descrição, oralmente ou por escrito, precisaria, não raramente, de muitas palavras e frases.
As placas se constituem em escritas apoiadas no significado, sem preocupação com o enunciado linguístico, mas sim às inferições do valor semântico da mensagem.
A escrita, todavia, é constituída por signos linguísticos, e tem como escopo precípuo a circunstância de alguém ler o que está escrito. A leitura é condicionada, então, pela escrita, isto é, a interpretar o pensamento de quem redige.
O reconhecimento, a compreensão textual não se reduz à somatória dos significados individuais dos ícones.
Decorrem da interação entre esses modelos imagéticos na frase, no período, na composição, de acordo com as regras gramaticais e ortográficas. Além disso, a leitura é uma interpretação das ideias e sentimentos do autor, e não uma mera decifração mecânica da lexicografia.
Os referenciais podem ser interpretados pela expressão oral ou decifrados através de significados. Esses significados são conjecturados ao nível de palavras-chave. 
A escrita, pois, para ser classificada como tal, imprescinde de um rumo bem definido: fornecer subsídios para quem leia.
Significantes e significados, em grande número, já fazem parte, evidentemente, do lastro linguístico do aprendiz quando ele chega à fase de alfabetização.
Na escola, a língua materna ganhará um novo instrumento sinalortográfico, qual seja, a forma escrita. A criança, portanto, deverá  perceber o enriquecimento oferecido por essa informação, expressando-se, agora, tanto no nível da oralidade (verbal) quanto no nível da sofisticação maior da grafia do pensamento. 
De fato, a escrita oferece ao pensamento uma apresentação visual, estética, com o passar do tempo continuamente mais elaborada.
 
(Caos Markus)

TERÇA-FEIRA, 23 DE SETEMBRO DE 2014: "O PROGRESSO DO INTELIGÍVEL"


A linguagem é uma função inata permitindo ao indivíduo simbolizar o seu pensamento e interpretar o pensamento do outro. Através dela é facilitada a troca de experiências e conhecimentos, interferindo na percepção da realidade.
A origem da linguagem é resultado de um processo de socialização do ser humano, estimulado pelo meio onde vive, no qual ocorre a sua adequação e transformação, proporcionando associações das diferentes áreas sensitivas, perceptivas e motoras.

O pensamento precedente à linguagem, também é considerada outra forma de pensamento. A etapa das imagens mentais é anterior à primeira palavra da criança. As imagens mentais são cópias ativas da realidade organizada pelo cérebro.
Extremamente importante esclarecer, ao se referIr à palavra ‘imagem’, de imediato vem à mente as ilustrações, os desenhos. Todavia, ela não se restringe aos modelos visuais,  assumindo conotações também auditivas e cinestésicas, por exemplo.
Na medida em que a criança se desenvolve, aprendendo sobre os indivíduos, a linguagem e os objetos, simultaneamente, ela se modifica, devido a algumas influências de outras aquisições refletidas sobre a elocução. Primeiramente, ainda em tenra idade, quando a criança já apresenta compreensão das situações, esse discernimento evolui; em seguida, envolve-se com a expressão. Trata-se, no entanto, de processos independentes na aquisição do vocabulário, sob o ponto de vista interno. Porque, permitida pela expressão, o progresso do inteligível acentua-se, em direção ao seu próprio aprimoramento.
 
(Caos Markus)

SEGUNDA-FEIRA, 22 DE SETEMBRO DE 2014: "AS VARIÁVEIS DO PENSAMENTO"




Positivamente, para muitos pesquisadores, o pensamento da criança apresenta questões de qualidade e não de quantidade. O desenvolvimento do pensamento infantil deve ser atribuído, então, a mudanças de caráter e não a um aumento de experiências e eliminação de erros. Para esses teóricos, antes, o interesse se concentrava no que a criança não tem, o que lhe faltaria em comparação com o adulto.
Determinavam-se as peculiaridades do pensamento infantil pela incapacidade da criança para produzir pensamento abstrato, formar conceitos, estabelecer vínculos entre os juízos, tirar conclusões etc.
Em novas investigações, colocou-se no centro da atenção aquilo que a criança tem, o existente no seu pensamento, como peculiaridades e propriedades distintivas.
No entanto, deveras importante, ao avançar na acumulação de material factual, as descobertas mais modernas e mais importantes acabam resvalando por concepções pré-científicas advindas de teorias e sistemas metafísicos por elas criados. 
A crítica a tal concepção enfoca o conceito de linguagem egocêntrica, considerado o ‘pensamento egocêntrico’ enquanto ligação entre o autismo puro e o pensamento racional, o realista seria uma formação tardia, produto imposto pelo exterior à criança.
Geneticamente, o raciocínio autista precederia ao realista, manifestando-se por volta dos sete, oito anos de idade. A natureza egocêntrica do pensamento da criança, nessa acepção é explicada em relação ao caráter de sua atividade, supostamente egoísta; tão regular, inevitável e estável a ponto de se manifestar independentemente da própria experiência infantil.
Nesses argumentos, a substância psicológica da criança assimilaria as influências do meio social, deformando-as segundo suas próprias leis.
Em oposição a tais considerações, é absolutamente crível negar o pensamento autístico como um ponto de partida de todo o processo de desenvolvimento humano.
A forma primária da atividade intelectual é o pensamento efetivo, prático, voltado para a realidade e constituinte de uma das formas fundamentais de adaptação a novas condições, às situações mutantes do meio exterior.
Por isso, o pensamento autístico não pode, defintivamente, ser apresentado como um estágio intermediário e transitório entre a forma primária básica e os padrões superiores nas variáveis do pensamento.
 
(Caos Markus)

DOMINGO, 21 DE SETEMBRO DE 2014: "O ERUDITO E O ECLÉTICO"


Salta aos olhos, em visão de absoluta clareza, a ideologia de exclusão social e de dominação política através da língua, típica das sociedades ocidentais. É possível amar e cultivar os idiomas pátrios, mas sem esquecer do preço altíssimo, na sua implantação como línguas nacionais, pago por muitas civilizações.
O preconceito linguístico é um preconceito social. Combatê-lo significa passar, principalmente, por práticas escolares: os professores devem se conscientizar, evitando perpetuar, eles mesmos, essa segregação.
A língua, desde remota data, é instrumentalizada pelos poderes oficiais como um mecanismo de controle social.
Dialeto e língua, fala correta e incorreta: desnaturalizando estes conceitos, emerge a ideologia de exclusão, instrumentalizada por meios opressores.
O controle social é feito oficialmente quando um Estado escolhe uma língua ou uma determinada variedade linguística para se tornar o idioma oficial. Evidentemente, qualquer processo de seleção implica um sistema de expurgo. Quando, em um país, existem várias línguas faladas, e uma delas se torna oficial, as demais passam a ser objeto de repressão.
É muito antiga a tradição de distinguir a língua associada ao símbolo de poder dos dialetos. O uso do termo "dialeto" sempre foi carregado de discriminação racial ou cultural. Nesse emprego, dialeto é associado a uma maneira errada, feia ou má de se falar uma língua. Também é uma forma de distinguir a língua dos povos civilizados, brancos, das formas supostamente primitivas de falar dos povos "selvagens".
Essa classificação é tão poderosa a ponto de se arraigar no inconsciente da maioria das pessoas, inclusive as propagadoras de um trabalho politicamente correto.
De fato, a ruptura entre língua e dialeto é eminentemente política, estabelecida para delimitá-la, fora do alcance criterioso dos linguistas.
A eleição de um dialeto, ou de uma língua, para ocupar o cargo de língua oficial, renega, no mesmo gesto político, todas as outras variedades de línguagem de um mesmo território à terrível sombra do não-ser. A referência do que vem de cima, do poder, das classes dominantes, cria, aos falantes da diversidade de línguas sem prestígio social e cultural, um complexo de inferioridade, uma baixa auto-estima linguística, a qual os sociolinguistas catalães chamam de "auto-ódio".
Falar de uma língua é sempre mover-se no terreno pantanoso das crenças, superstições, ideologia e repre"um país, um povo, uma língua".
Durante séculos, com o objetivo de conseguir a desejada unidade nacional, muitas línguas foram extintas, populações massacradas, povos inteiros calados e exterminados.
No continente americano, a história é de uma perversa colonização construída sobre milhares de cadáveres de indígenas, aqui nativos quando os europeus invadiram suas terras ancestrais e, ainda, a de africanos escravizados.
As chamadas 'língua espanhola', 'língua portuguesa', ou 'língua inglesa' têm um rico histórico, não foram criadas espontaneamente. Pode-se amar e cultivar esses idiomas, mas sem esquecer o alto custo da sua implantação como linguajares nacionais e identidades pátrias.
Há ainda uma ideologia linguística não oficializada, ao longo do tempo instaurada na sociedade. Em qualquer tipo de comunidade humana sempre prevalece um grupo detentor do poder, a considerar seu modo de falar o mais interessante, o mais belo, a ser preservado e até imposto aos demais.
Nas sociedades ocidentais, as línguas oficiais constantemente foram objetos de investimento político. Elas são codificadas pelas gramáticas, pelos dicionários; objetos de pedagogias; são ensinadas. Claro, essa língua normatizada nunca corresponde às formas usuais, em desrespeito aos costumes dos lugares. Com frequência, há uma extensa distância entre o que as pessoas realmente falam no seu dia-a-dia, na sua vida privada e comunitária, e a língua oficializada.
A questão da línguagem é a única a unir todo o espectro linguístico, ou seja, tanto o indivíduo da mais extrema esquerda quanto o da mais extrema direita são concordes, por exemplo, diante da afirmação de que os brasileiros falam muito mal o Português.
É um pensamento milenário e arcaico, nascido entre os gramáticos gregos, trezentos anos antes de Cristo, impregnando-se maciçamente na cultura ocidental.
A prepotência linguística nas sociedades ocidentais deriva, principalmente, das práticas escolares. Pois, a escola, desde tempos imemoriais, é autoritária, não obstante apregoe o contrário. Amiúde, os alunos são obrigados a esquecer o seu próprio linguajar, impondo-se-lhes um modelo. Qualquer manifestação fora desse padrão é considerada erro, reprimindo, censurando e ridicularizando o aprendiz.
Infere-se, não poucos educadores (eles mesmos a mercê do despotismo oligárquico contemporâneo), não se dando conta de seu próprio aviltamento, são os mais fiéis colaboradores na subserviência dos educandos, mal distinguindo o erudito e o eclético. 

(Caos Markus)

sexta-feira, 5 de setembro de 2014

SÁBADO, 20 DE SETEMBRO DE 2014: "SENSOS NA CONVIVÊNCIA COMUNITÁRIA"


O pensamento e a linguagem estão diretamente relacionados, pois ambos agem em um processo condicionado, vinculando-se, porquanto uma necessita do outro para se concretizar. 
A relação entre o sujeito e a realidade se faz sempre mediada por outrém. Por meio da linguagem, e da sua interação, adquire-se um conhecimento nas relações interpessoais. Através do significado da palavra encontram-se argumentações ao pensamento e à fala. Transversais, o linguajar é simultaneamente um sistema individual e um procedimento social. Sendo assim, a fala humana é um comportamento de uso de signos dos mais importantes ao longo do desenvolvimento civilizatório. 
Pela linguagem, a criança supera as limitações existentes no meio onde vive, podendo controlar a sua própria conduta. Esta aquisição se dá também com a apropriação por ela realizada de sensos assimilados na convivência comunitária.
O binômio ‘pensamento/linguagem’ é essencial à construção do caráter individual, porque, por volta dos dois anos de idade, essa dualidade se consuma, alterando a prática infantil, com a fala racional e o pensamento verbal.
A criança passa a ter saberes e percepções próprias, formadas pela interpretação de fatos, despertando sua curiosidade, base no desenvolvimento das nomenclaturas, quando então ‘a comunicação organiza o pensamento’. 
Desse modo, no sentido vocabular, pensamento e fala são unificados em ‘pensamento verbal’. Com efeito, confirma-se, na interpretação estão as respostas ao questionamento sobre esta conexão

 
(Caos Markus)

SEXTA-FEIRA, 19 DE SETEMBRO DE 2014: "LEITURA SUBLIMINAR DO ENSINO"


A ideologia que inspira concepções convencionais de alfabetização despojou-a de sua função de veículo para a razão crítica, alijando-a do exercício de pensamento, dela subtraindo o seu conjunto de habilidades, de maneira a não permitir aos indivíduos romper com o predefinido.
Consequentemente, a alfabetização em termos padronizados desmoronou sob o peso de uma doutrina operacional que inspira e legitima a lógica da sociedade imperativa, sendo paulatinamente reduzida à racionalidade alienante comparável e/ou compatível a linha de montagem, um domínio desacompanhado de compreensão ou de visão política.
Igualmente indescritível, mesmo a versão preponderante do discurso liberal sobre alfabetização parece ter esquecido suas preocupações recentes com os princípios de pensamento crítico e os fundamentos da democracia, subvertendo seus objetivos, adotando as noções de escolarização e instrução diluídas na meta de adequar os estudantes à ordem econômica.
De fato resta, ao final, definições ampliadas de alfabetização a exortarem métodos de aprendizagem, reduzidos, comumente, a meros procedimentos.
Um execrável contraste: de um lado desvinculam-se conscientemente as forças históricas e os ideais do processo de alfabetização; de outro, os paradigmas disponíveis de leitura e escrita reproduzem exatamente o caráter dessas forças.
Somente é possível entender esses protótipos a partir de uma relação com as estruturas de poder vigente na sociedade.  
A educação é um fenômeno político.
Os seus sistemas se constituem em potente instrumento de controle e adaptação do indivíduo à ordem social, política e econômica.
Neste contexto, tanto os estudantes da classe trabalhadora quanto os da camada
superiormente hierarquizada são tratados como objetos. Aos primeiros, restam os sentimentos de submissão ao mundo; os da elite majoritária são confirmados na categoria de casta, incapacitados a visão ampliada de seu pertencimento à mesma civilização.
Neste diapasão, os indivíduos do segmento autocrata defendem uma educação integralmente voltada para os seus particulares interesses, munindo os meios de comunicação apenas com notícias articuladas convenientemente para acomodar a população subjugada.
A educação tem sido monopólio desta minoria, no intuito de limitar as pessoas, por meio do condicionamento (inclusive, o dos seus próprios filhos), a não questionar o sistema; levando-as ao máximo estágio de insipiência, tendente a repercutir nos sufrágios dos seus “representantes”, perpetuando-os no comando do Estado e da Nação. E isso se opera -através de uma leitura subliminar do ensino- pela via da escrita indireta no subconsciente coletivo.
Não por outro argumento, será no processo de alfabetização (incluindo muitos fatores, desde a maior ciência sobre metodologias de aquisição de saberes) que o professor encaminhará a aprendizagem indispensável à formação independente da tutela estatal, habitualmente comprometida com o cerceamento da realidade.
 
(Caos Markus)