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quinta-feira, 15 de agosto de 2013

QUARTA-FEIRA, 21 DE AGOSTO DE 2013: "RESSIGNIFICÂNCIAS EM REPRESENTAÇÕES SOCIAIS"


RESSIGNIFICÂNCIAS EM REPRESENTAÇÕES SOCIAIS

Nas sociedades modernas, somos diariamente confrontados com uma grande massa de informações. As novas questões e os eventos agora presentes no horizonte social frequentemente exigem, por nos afetarem de alguma maneira, a busca do seu efetivo discernimento, aproximando-os do já conhecido, usando palavras integrantes  de nosso repertório. Nas conversações diárias, em casa, no trabalho, com os amigos, somos instados a nos manifestar sobre eles, procurando explicações, fazendo julgamentos e tomando posições. Estas interações sociais criam ‘universos consensuais’ no âmbito dos quais as novas representações são produzidas e comunicadas, incorporadas, desde logo a esse universo, não mais como simples opiniões, porém, na condição de verdadeiras ‘teorias do senso comum’, construções esquemáticas cujo objetivo é dar conta da complexidade do objeto, facilitar a comunicação e orientar condutas. Essas ‘teorias’ ajudam a forjar a ‘identidade grupal’ e o ‘sentimento de pertencimento do indivíduo ao grupo’.
Há muitas formas de conceber e de abordar as representações sociais, relacionando-as ou não ao imaginário social. Elas ‘são associadas ao imaginário’ quando a ênfase recai sobre o caráter simbólico da atividade representativa de sujeitos partícipes de uma mesma situação ou vivência social: eles exprimem em suas representações o sentido dado à sua experiência no mundo social, servindo-se dos sistemas de códigos e interpretações fornecidos pela sociedade e projetando valores e aspirações sociais.
O estudo das ‘representações sociais’ investiga a origem do funcionamento dos sistemas de referência por nós utilizados a fim de classificar pessoas e grupos, e para interpretar os acontecimentos da realidade cotidiana. Por suas relações com a linguagem, com a ideologia, com o ‘imaginário social’ e, principalmente, por seu papel na orientação de procedimentos e das práticas sociais, as ‘representações sociais’ constituem elementos essenciais à análise dos mecanismos interferentes na eficácia do processo educativo.
Inseridos no indispensável discernimento das ‘representações sociais’, estão os desafios dos professores em sua prática docente, destacando-se sobremaneira a educação das classes desfavorecidas e o papel da escola na ruptura do ciclo da pobreza. O chamado fracasso escolar das crianças pobres é hoje preocupação dominante no campo da educação. Estudos sobre ‘percepções’, ‘atribuições’ e ‘atitudes’ de professores e alunos, bem como de comportamentos diferenciados do professor em função de expectativas, relacionando-os ou não a efeitos no aluno, têm procurado uma melhor compreensão do problema. Tal posicionamento equivale identificar princípios condizentes com uma didática condizente à sociedade apresentada sob representações repensadas.
A análise desses estudos, de um modo geral, eles têm indicam: (1) os professores tendem a imputar o fracasso escolar a condições sócio-psicológicas do aluno e de sua família, eximindo-se de responsabilidade sobre essa derrota; (2) um baixo nível socioeconômico do aluno leva o professor a desenvolver baixas expectativas sobre ele; (3) os professores são inclinados a interagir diferentemente com alunos sobre os quais formaram altas e baixas expectativas; (4) esse comportamento diferenciado frequentemente resulta em menores oportunidades de aprendizagem e diminuição da auto-estima dos alunos sobre os quais recaíram as baixas expectativas; (5) os alunos de baixo rendimento geralmente atribuem o malogro a causas internas (relacionadas a falta de aptidão ou de esforço), assumindo a responsabilidade pelo insucesso; (f ) o frustração escolar continuada pode resultar em desamparo adquirido.
Tais resultados ajudam a visualizar o ‘beco sem saída’ onde hoje se situa educação das chamadas ‘classes desfavorecidas’. Entretanto, apontam, sobretudo, a necessidade de se ultrapassar o nível da constatação acerca do ‘imaginário’ dos indivíduos, procurando então compreender ‘como’ e ‘porque’ essas percepções, atribuições, atitudes e expectativas são construídas e mantidas, recorrendo aos ‘sistemas de significação’ socialmente enraizados e partilhados, através dos quais se orientam e se justificam. A intenção propalada de propiciar mudanças através da educação exige a clareza dos ‘processos simbólicos’ verificados na interação educativa, considerando-a não ocorrente num vazio social. Em outras palavras, para maior impacto da pesquisa educacional acerca da prática educativa, não é aceitável recusar um olhar psicossocial, de um lado -preenchendo o sujeito social com um mundo interior- e, de outro, restituindo o sujeito individual ao mundo social.

(Caos Markus)

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