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quarta-feira, 14 de agosto de 2013

DOMINGO, 18 DE AGOSTO DE 2013: "A ADMIRÁVEL PULSÃO NARCÍSICA"



A ADMIRÁVEL PULSÃO NARCÍSICA

Até a atualidade, em sucessivas etapas o homem vem evoluindo. Convém, todavia, diferenciar ‘evolução’ de ‘progresso’, pois na primeira o que se verifica é apenas o decorrer do tempo; no segundo, o aperfeiçoamento humano é a evidência.
Quando ainda mantinha estreito parentesco com demais animais, nele os instintos eram predominantes . Mais tarde, sensações e emoções tornaram-se determinantes. Em mais avançado estágio, passou a valorizar os sentimentos. Nessa nova dimensão, não se despojou, naturalmente, de todos os seus instintos, sensações e emoções. 
Isso porque, do legado adquirido na ancestralidade do gênero, tais características são extremamente necessárias à manutenção da vida humana. Ainda hoje, cada uma dessas fases possui função primígena na garantia de sobrevivência da humanidade.
O instinto (do latim “instinctu”) é inato, ‘espécie de inteligência’ no seu grau mais rudimentar, a guiar homem e animais mais avançados na trajetória do curso da vida, visando justamente a ‘preservação dos seres’.
Os ‘instintos’ são adquiridos nas experiências vividas, no confronto com determinadas situações e nas respostas correlatas; e então herdados pelas gerações posteriores. Eles se manifestam nos humanos, na maior parte das vezes, através das ‘reações’ a certas ‘emoções’.
Muito embora ‘decisivos na manutenção do gênero, por motivarem o agir quando, como real necessidade, este se impõe, não mais deveriam reger atitudes qualificadas pela brutalidade ou marcadas por pequenez, dissimuladas sob a falsa inspiração dos ‘sentimentos’.
O instinto pode ser convertido em inteligência quando, ao atuar respondendo às volições que lhe são próprias, e por isso responsável na relação ‘causa/efeito, o indivíduo consegue converter em inteligência eficaz o até então mero instinto aleatório que repousa sobre acontecimentos incertos. 
É forçoso reconhecer, parte de cada ser humano é comandado, nos momentos de gozo e volúpia, por impulsos irresistíveis e repetitivos, independentes de sua vontade, e não por razões mais nobres.
A compreensão do homem subjugado por instintos animais, por algum tempo relegada a plano secundário, é atualmente resgatada, concebendo-se, então, o processo instintivo humano sobre nosso comportamento como algo ainda mais rude. Assim observados, muito além de qualquer reprovável suposição, mais nos assemelhamos aos primatas.
Na parte anatômica e química do que foi designado como ‘id’( a parte original, da qual, desenvolvem-se, posteriormente, o ‘ego’ e o ‘superego’), nosso cérebro é muito parecido com os dos mamíferos abrigados em nossa casa como animais de estimação.
Há várias espécies de instintos, mas basicamente dois são os principais, em luta constante luta dentro de cada um de nós: ‘Eros’, na esfera da vida, e ‘Thanatos’, na da morte. Eles governam nossas tendências naturais voltadas à construção, a primeira; e dirigidas à destruição, a segunda. É essencial o equilíbrio entre eles, na garantia de um desenvolvimento mental e emocional saudável.
Os instintos, quando desviados de sua trajetória considerada normal, são transformados em pulsão, ou seja, o impulso do inconsciente que leva o indivíduo à ação com o objetivo de anular um estado de tensão.
Diante de alguém a nos despertar uma atração sexual, é a pulsão que nos conduz a um ato concreto, caracterizado como objetivo sexual.
Biologicamente, o instinto tem por fim a reprodução humana. Porém, como o foco na manutenção da espécie é substituído pela centralização à pulsão do prazer, realizada
restritamente enquanto necessidade de relaxar uma tensão, a união sexual não evidencia uma perversidade do instinto. Porém, analogamente aos desvios sexuais, a extrapolarem a conduta sexual no contexto da pulsão, levando o homem a um patamar inferior ao da maior parte dos seres considerados irracionais; a maldade também não pode, jamais, ser vista como gesto instintivo em nível de pulsão, porque à razão humana já não mais falta a faculdade de adaptação, diferenciando o ‘id’ do seu intermediário com o mundo externo, o ‘ego’.
Ou isto, ou qualifiquemos o egoísmo como trajeto normal de inaudita ideologia contemporânea: a do narcisismo como admirável pulsão.


(Caos Markus)


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