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segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

DOMINGO, 11 DE MARÇO DE 2012: "PROPOSIÇÃO"

No verso que eu não devo, um poema confinado, ficcionando tempo na alma contida. O pranto seria fim desse ser que, vívida alucinação, insiste em fugidios encontros. Desejar da confirmada impossibilidade te amar nessa comprovada eternidade, é sentimento, vida, na causa sem efeito, o caos permanente da crise incipiente. Eis o que, vigor algum, sequer é proposição. Além do inexorável, porque inexaurível. Ondes estás?! Em teu destino sou eu o peregrino, amando divindade moldada no entalhe que me esforço por detalhar. Obra do meu auto-retrato, o teu rosto, a cada traço, fraco, eu refaço. Há em ti amor do anverso. Próximo, sem breve nem pausa, convida-nos à celebração do perene essencial.
(Caos Markus)

SÁBADO, 10 DE MARÇO DE 2012: "O POSSÍVEL PLAUSÍVEL"

Para encontrarmos o nosso caminho através do complexo labirinto de contradições em que contemporaneamente estamos envolvidos é impossível aceitar qualquer fórmula simples como trilha correta no alcance da paz e, também, ao muito que se deve construir sobre essa paz. São demasiados os interesses, nacionais, econômicos, raciais (para os quais necessitamos localizar um nível comum de bem-estar), que existem em diferentes níveis de capacidade e de desenvolvimento, a fim de que o percurso seja direto e claro. Haverá muitos legados de ódio, deixados pelas guerras, dificultando a colaboração. Tudo o que podemos fazer na contribuição às possibilidades que se abram à nossa frente, é seguir no escuro os raros raios de luz que parecem chamar-nos a seguir adiante; e lembrar-nos, acima de tudo, que é inútil tentar qualquer controle consciente do nosso destino, a não ser que levemos experimentação e ousadia às finalidade que buscamos. Então, só poderá garantir o nosso fracasso a falta de coragem. Por maior que possa ser a nossa ignorância, certas condições em nossa situação são por demais cristalinas. A beligerância mundo afora nos leva à convicção da indispensabilidade de uma sociedade fundada sobre valores planejados. Enquanto esta se desenvolve, ou elaboramos meios de redefinir sistemas comuns de valores admissíveis (inseridos em processo marcado pela constância), ou podemos estar certos de que as divergências entre os interesses de estado neste mundo globalizado, interdependente, com voz própria, nos levará sempre e sempre ao advento de outro conflito, novo confronto. Não há uma insignificante parcela de razão para a suposição de que essa sociedade planejada signifique um aumento de bem-estar para o povo, se inexistir um plano deliberadamente preparado para esse objetivo. Uma sociedade planejada pode facilmente ser construída pelo sacrifício da liberdade individual ao poder governamental coletivo, exercido pelos dirigentes da sociedade. No intuito de combater o totalitarismo , somos forçados a planejar. E por isso mesmo, corremos o sério risco de, derrotando-o, reproduzir seus hábitos em nosso cotidiano. O que se procura planejar é algo que, simples demais, encerra grande conteúdo: liberdade e democracia. Tal sociedade é possível, em última análise, quando o respeito pelas leis nasce da sua concepção por consentimento, jamais através da coerção. Respeito que se torna hábito quando nasce da compreensão dos cidadãos de que, como essa sociedade fornece ao povo a capacidade de satisfazer as expectativas que julga legítimas, também se pede a esses mesmos cidadão o seu respeito. Planejar valores executados coletivamente, mas a partir de cada um, esta sim a tarefa revolucionária.
(Caos Markus)

SEXTA-FEIRA, 9 DE MARÇO DE 2012: "PRA LÁ DE PRA FRENTE"

"De norte a sul, de leste a oeste, o povo grita Luis Carlos Prestes". Milagre, distensão e abertura. Do Ato n. 5 à rearticulação partidária; do silêncio à explosão das manifestações -espontaneamente (des)organizadas. O ano: 1979. Nesse final de década, um nova cena: a emergência das reivindicações populares; agora, de próprio punho, com energia de postura, parecendo desconfiar dos paternalismos. A 'Anistia', ainda longe de ser ampla, recebe os exilados, aguardados, festejados. É o panorama de um momento crítico, com projetos em disputa se delineando, enquanto o Estado enfrenta a crise buscando assegurar a iniciativa política, decretando a sua singular e particularíssima democracia. Nas oposições, diferenças à tona, com o debate revigorado. Em meio à intelectualidade, as divergências (latentes durante toda a década) chegam à imprensa. Odaras e ortodoxos, desbundados e reformistas, radicais e populistas... As acomodações definem-se através do redimensionamento da tríade intelectual-Estado-povo. Nos apelos das Agências Estatais de Cultura e na efervescência da retomada dos movimentos de massa, balançam e equilibram-se pensantes (e nem tanto) de todos os matizes. É a liberdade à solta. Bancas e livrarias renovam estoques, com autores de 'depoimentos e memórias', obras de liberais, militantes e militares. É chegado o momento da pergunta mineiríssima de Gabeira: "Que é isso, companheiro?". Nos anos 70, bastava saber-se o quê não se queria. Nos anos 80, 'há que se revelar o quê se pretende'. Hoje, já virado o século XX, a mesma crucial questão: venceu a cultura estatal ? Ou seus adversários conseguiram aprisionar a 'liberdade à solta' impondo-se culturalmente? O quê de fato ainda hoje presenciamos não é qualquer proximidade entre povo e Estado, através de pretendida cultura social. Os intelectuais... Estes, ou mal sobrevivem nas periferias ou alimentam-se das sobras do poder constituído (central e centralizado, pelo eixo), serviçais da cultura "oficializante". E por que haveria de ser diferente, se essa gente está tão diferente, está pra lá de pra frente, já não se reconhece mais!?
(Caos Markus)

QUINTA-FEIRA, 8 DE MARÇO DE 2012: "VALORAÇÃO SOCIAL DO VERBO"

A linguagem internaliza amplamente a experiência direta. Para a maior parte das pessoas, toda experiência, real ou potencial, é saturada de verbalismo. Isso talvez explique porque tantos amantes da natureza não sentem que estão verdadeiramente em contato com ela até que tenham dominado os numerosos títulos de flores e árvores; tudo como se não fosse possível aproximar-se da natureza, a menos que se conhecesse, antes, a terminologia que de algum modo mágico houvesse de expressá-la. Este constante intercâmbio entre as 'linguagens' e a 'experiência' afasta o próprio estilo de interlocução da fria posição de sistemas absolutamente simbólicos, de maneira análoga aos signos matemáticos ou às demais formas de 'sinalização'. Assim, o valor social primário da 'fala' reside, constata-se, na esperada eficiência do conjunto de indivíduos, conforme estejam em sintonia com o alívio das tensões sociais. (Caos Markus)

QUARTA-FEIRA, 7 DE MARÇO DE 2012: "CONSUMAÇÃO UNIVERSALIZADA"

A angústia não é o resultado da sensibilidade no mundo. A angústia é, sim, resultante da contemplação racional da realidade, porque esta visão não fixa um universo que seja a medida de suas exigências.
As revelações da inteligência, no seu contato com a universalização contextualizada, não são maiores que as oferecidas pela sensibilidade. Pois, esse mesmo universo, mostrado pela inteligência, não é expressão da felicidade, mas sim consumação do irracional.
A verdade obtida pela reflexão é angustiante, em busca a refletir necessidade efetiva de liberação, pendente de laborioso planejamento e detalhada construção Ela haverá de ser firmada contra a 'realidade conhecida', a fim de indicá-la enquanto 'verdade já inexistente', confirmando o amor em seu lugar. Outra será a vaidade humana: não mais a do homem pretendendo por exclusivo desejo a 'verdade-crença', mas, diversamente, almejando a 'razão sensível', a de um amor que próprio clama a este mundo.
(Caos Markus)

TERÇA-FEIRA, 6 DE MARÇO DE 2012: "OBESIDADE NA BALANÇA DA JUSTIÇA"

O OBESO NA BALANÇA DA JUSTIÇA: DOIS PESOS E UMA MEDIDA

Turma começa exame de ação de orientadora dos Vigilantes do Peso demitida por engordar

A Segunda Turma do Tribunal Superior do Trabalho começou a julgar o recurso de revista de uma ex-orientadora dos associados da empresa Vigilantes do Peso Marketing Ltda., demitida por justa causa por indisciplina porque engordou 20kg. Entre os pontos em discussão estão a razoabilidade ou abusividade da cláusula contratual que previa advertências e demissão se o peso ideal fosse excedido, discriminação, insubordinação ou impossibilidade da funcionária de cumprir a determinação de não engordar. O julgamento foi interrompido por pedido de vista do presidente da Turma, ministro Renato de Lacerda Paiva, quando a votação estava empatada em 1 a 1.

O relator do processo,votou no sentido do não conhecimento do recurso da ex-empregada. Segundo ele, apesar das diversas advertências da empresa, a trabalhadora descumpriu a cláusula contratual de manutenção do peso ideal, caracterizando-se, assim, o ato de indisciplina e insubordinação a possibilitar a despedida por justa causa. Para o relator, a empresa, ao ter como orientadora de seus associados uma pessoa fora dos padrões exigidos, estaria "trabalhando contra si própria".

Um outro ministro, porém, abriu divergência. Para ele, a cláusula é abusiva e fere os direitos fundamentais da pessoa, pois não é razoável nem possível obrigar alguém a se comprometer a não engordar. Para o ministro, não foi provado que a trabalhadora descumpriu conscientemente a cláusula. "Essa empregada engordou porque quis?".

O presidente da Segunda Turma, pediu vistas para examinar melhor o caso. Na sua avaliação, a forma física dos orientadores dos Vigilantes do Peso é "um pressuposto de credibilidade" da empresa. Por outro lado, ele questiona se, após quase quinze anos na função, pode-se considerar o aumento de peso como ato de indisciplina, levando-se em conta idade e questões orgânicas que dificultam a perda de peso.

Sem discriminação

Contratada em janeiro de 1992, a orientadora foi demitida em novembro de 2006, com 59 anos. Segundo os autos, ela passou de 74 para 93,8 quilos. A empresa, em contestação ao pedido de descaracterização da justa causa e de indenização por danos morais, alegou que, como orientadores, seus empregados apresentam como requisito essencial perder peso com o programa de emagrecimento do Vigilantes do Peso, a fim de motivar o público.

Indeferido pela 46ª Vara do Trabalho de SP, o pedido também foi negado pelo Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região (SP), para quem não houve demissão discriminatória que atentasse contra a dignidade da trabalhadora, nem violação ao Estatuto do Idoso. O Regional considerou que a exigência de se observar determinado peso é da própria natureza do trabalho desenvolvido por ela e pela empregadora. Aceitar o contrário, destacou o TRT/SP, "seria o fim da própria empresa, com o consequente descrédito da marca e da organização"

(copydesk, Caos Markus)

SEGUNDA-FEIRA, 5 DE MARÇO DE 2012: "APENAS"

"Sentimento ilhado, morto e amordaçado",
se "volta a incomodar", talvez o faça porque jamais alçou vôo.
E não era 'sentimento'; emoção, apenas.
(Caos Markus)

DOMINGO, 4 DE MARÇO DE 2012: "FOGOS-FÁTUOS NO OCASO DA ALVORADO DO PODER"

Como alegoria da degradação temporal, os destroços monumentais indicam a irreversível supressão de tudo o que é corroído pela História. O efeito é de tristeza, caminhar entre tão distante recordação e saber que tamanho esplendor e formidável vitalidade precisaram desaparecer. Com a História nobreza e beleza se vão, restando-nos a inconsolável e irreparável dor em contemplar ruínas. Contudo, esse movimento da História é apenas o negativo espetáculo de uma transição: há o instante da perda do desaparecimento, pois essa luz tênue, qual não é só crepuscular, mas também o ocaso da alvorada, percebida através dos fogos-fátuos do poder em combustão. Por assim dizer, a 'Era Ignis Fatuus', estimulando o imaginário, dirigindo-o à superstição pelo sobrenaturalismo democrático popular. Porque é, todavia, da nossa essência a transitoriedade, muito embora essa constante recusa em admití-la, padecemos. Dor, porém, não outra senão a do sofrimento diante de mudanças que queremos crer possível adiar. (Caos Markus)