Similar, América Latina afora, a realidade social brasileira está muito longe de ser harmoniosa, linear e progressiva. Antes, é articulada e conformada significativamente por diferenças dialéticas.
Entre nós brasileiros o que temos é uma realidade acentuadamente contraditória, expressa por um dualismo estrutural perverso, efeito de impiedosa estratégia de crescimento econômico, baseada num modelo desenvolvimentista centrado no poder investidor, organizador e planejador do estado.
Este padrão, consolidando-se ao longo de décadas (por um lado gerando exigências inéditas e problemas complexos para a governabilidade desse mesmo Estado; e, por outro, redefinindo o significado político de realidades sociais antigas), maior destaque deu às diferenças as estruturais. A desigualdade na distribuição da rendanacional, a marginalidade de grandes segmentos da população, a erosão das identidades coletivas, a multiplicação e o intercruzamento das linhas de conflito, são algumas de suas nefastas consequências.
Os efeitos perversos desse modelo configuram um círculo vicioso de desdobramentos que eclodem a médio e a longo prazo.
A transformação infra-estrutural acarretou (decorrência óbvia!) a ruptura dos valores tradicionais de diferentes grupos e classes: um processo migratório contínuo; maior agressividade de comportamentos, novas e deterioradas formas de reinserção sócio-política; a emergência de dimensões paralelas de representação, ao lado dos mecanismos tradicionais; e, principalmente, o surgimento de novas demandas, vindas de segmentos sociais desfavorecidos e não geradores de receita.
As instituições, arcaicas, não logram resolver os conflitos gerados por essa perversa sociedade,
hipoteticamente modernizadora.
Ao mesmo tempo, ainda não estão amplamente consolidadas rotinas necessárias à distribuição do poder específico nessa pretensiosa nova ordem.
A emergente hierarquia é então estabelecida exatamente como resultado da competição política. Num ambiente progressivamente conflitante e socialmente móvel, ao invés de mobilizado, ressalta-se o continuísmo da pressão em favor de gastos públicos ainda maiores e, por correlação, para o seu custeio, acréscimos à carga tributária.
Via de consequência, abre-se caminho a profundas crises fiscais, com os excedentes do setor privado repassados, em forma de tributos, ao financiamento das políticas sociais destinadas a amortecer os conflitos entre a massa miserável e a minoria opulenta, a fim de neutralizar os riscos de uma explosão social, mantendo-se o sistema sócio-econômico circunscrito nas margens toleráveis de confronto. Legitimação, pois, de um regime evidentemente discriminador e cruel, no qual a interrupção de novos e diversificados programas socias, implementados pelo assistencialismo estatal, gera acirradas disputas fisiológicas entre os mercadores da pobreza. E viciando seus fundamentos, inviabiliza qualquer política setorial séria, vulnerabilizando o déficit público nos pontos de ruptura de uma transição desejável.
(Caos Markus)
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