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sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

SEGUNDA-FEIRA, 27 DE FEVEREIRO DE 2012: "DO CARÁTER VULGO"

Se a personalidade não se apresenta como um todo desde a origem, não é apenas porque suas condições 'orgânicas' não este­jam ainda plenamente realizadas. Porém, ainda, em virtude de sua natureza ser uma progressiva conquista. A experiência mostra satisfatoriamente por quais vicissitudes percorre essa difícil conquista, jamais completada, sempre mais ou menos ameaçada de diminuição, face o domínio da vontade, exercido sobre os impul­sos irracionais do instinto. A Sociologia atribuiu à influência da sociedade o papel essencial na formação da persona­lidade, enxergando a pessoa enquanto produto do organismo social. Entretanto, há máximo equívoco nessa concepção. Inegável, o fator social desempenha função relevante no desenvolvimento da personalidade, não a constituindo, contudo. Dominar e ordenar os elementos psicológicos, favorecendo a conservação da identidade pes­soal, é da sociedade algo recorrente. Certamente, não protagoniza personagem, papel pertencente, sim, à evolução da racionalidade e, na pessoa, ao domínio de si mesma. Ora, percebe-se, isso não é 'produção social', porque a síntese psíquica não é construída do exterior, mas do interior. Não raro, confunde-se 'personalidade' com 'caráter', haja vista ser esta última palavra que, do ponto-de-vista moral, possui relativa sinonímia com o vocábulo 'personalidade'. Não obstante, é traço a distinguir moralmente os indivíduos uns dos outros, imprimindo-se-lhes fisionomias próprias. Não significa, por isto, a existência do 'caráter' em cada pessoa. Possuir caráter, por assim dizer, não é expressão exata de diferenças entre uns e outros, tão-somente enquanto conjunto de característicos individuais, de 'qualidades' "positivas" ou "negativas". Seja qual for, uma 'vontade firme e constante' é presente em que possua 'caráter'. Por conseguinte, o problema da educação moral consiste em agir 'sobre o caráter', a fim de se firmar ou se adquirir 'um caráter'. Os componentes fisiológicos do 'caráter' compõem o 'temperamento', ou 'personalidade fisiológica'. E qualquer que seja ele, na sua base sempre há um certo complexo fisiológico, devendo-se evitar negligenciá-lo. Já os elementos psicológicos, estes podem ser dosa­dos conforme a predominância dessa ou daquela fa­culdade pessonalíssima. Do 'caráter', a 'sensibilidade' é estruturalmente a mais evidente. Não são, (separadamente) os gostos, os impulsos, as inclinações, ou a emo­tividade, os reais indicadores de diferenças entre os homens. Diversamente, as distinções se apresentam pelo seu conjunto, geralmente designado pelo termo 'natural'. A inteligência exerce funçao muito restrita no dis­cernimento do 'caráter'. Ela é, com efeito, alguma coisa de impes­soal. Sem dúvida, é necessário reconhecer a diversificação de inte­ligências, desde as abstratas até as concretas. Pois, daí resultam tendências e predileções marcantes nos indivíduos. Ao lado do 'natural', tais variações não são muito sensíveis, razão porque são costumeiramente negligenciadas. Também a 'vontade' exerce relevante função, posto ser a responsável em forjar a personalidade de cada um. Realidade tão veemente a ponto da linguagem usual definir o 'ca­ráter' pela vontade, falando-se de "homens de caráter", quer dizer, homens que sabem ser (em tudo) eles mesmos; cujos atos levam a sua marca peculiar. Assim, nota-se e confirma-se, o 'caráter' poderá conceituar-se através das tendências instintivas, pela natureza da inteligência e pelo grau de vontade. Decorrência irrefutável, não se trata de estrutura que, quando vulgarizada, consiga evitar nefastas consequências a cada um e a todos na mesma sociedade. Banalizada, dela originam-se males hoje tão presentes no mundo em geral, e no Brasil em particular. (Caos Markus)

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