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sábado, 3 de novembro de 2007

sexta-feira, 2 de novembro de 2007

DOMINGO, 4 DE NOVEMBRO DE 2007:"SEMÂNTICA DAS SEMELHANÇAS".

Consumar ou Consolidar. Vínculo ou União. Agregar ou Acrescer. Instituição ou Constituição. Padronizar ou Fomentar. Delírio ou Lucidez. Eu não sou o amo de palavras cativas. E não sou escravo das palavras imperativas. Eu não as escolho, elas não me procuram. Não há conluio entre nós. Apego-me a pegadas de pensamento já ausente, seguindo a sua trilha marcada com vocábulos. A cada termo recolhido, um fragmento reconhecido. Diferente de aprisionar-me, palavras são cifras cunhando signos de códigos remanescentes. Não as notas de inédita composição, mas sim notações de recomposição. Definitivamente, não há 'delírio' em tudo o que não se vê. Muitas são as vezes que não se vê porque , 'consumado' o 'vínculo', 'agrega-se' à 'instituição' 'padronizada'. Então, nem de fato se antevê. 'Constituídos' por 'acréscimo'no 'fomento' à 'união', a 'lucidez' é tentada ao 'delírio' da "proximidade" que "autentica" relações. Contudo, se o "objeto" de ambos (delírio e lucidez) pode ser o mesmo, outros são os "objetivos": o 'delírio' não sabe que é presa da sua própria aceitação; a 'lucidez' só quer da razão alcançar as pegadas, reencontrando ritos de passagem. (Marcus Moreira Machado)

DOMINGO, 4 DE NOVEMBRO DE 2007:"CONCRETUDE".

Os meus sonhos só são pequenos quando não se 'realizam'. Eis o porquê das imprescindíveis utopias: emprestam singular forma à ficção desses devaneios, na gênese da minha apropriada realidade. Não fosse isso, todos os matizes, justapostos, não lograriam ao menos vislumbrar indícios da luz dissipada. E toda a essência jamais se revelaria em fluidez perceptível. A concretude dos ideais imaginários, ei-la em terra firme, onde caminhar eu posso, nos passos decididos de quem (re) conhece companheira presença. (Marcus Moreira Machado)

SÁBADO, 3 DE NOVEMBRO DE 2007: "INTERINIDADE".

Somos todos muito pobres! Nessa miserabilidade, rogamos a deuses criados à proporção da nossa indigência. Cá estamos, sem sequer saber de onde viemos. E porque tal condição nos aflige tanto, precisamos -sempre com muita urgência- acreditar na possibilidade de algum lugar a nos esperar. Recusando a inegável 'transição' do 'ser', olvidamos então a melhor realidade, silentes sobre o que podemos fazer, agora, aqui ! (Marcus Moreira Machado)

SEXTA-FEIRA, 2 DE NOVEMBRO DE 2007: "BINÔMIO".

Quando virá a tristeza? Será, é ela que vem? Ou antes dela, é a felicidade que parte? Haverá breve tempo em que -nem feliz nem triste- a paz não precise significar provisório estado da alma? E, por efeito, ela possa de fato existir? Serão recordações sem prévio aviso de chegada a causa dos extremos? E por que e por quem o pretérito faz da lembrança meia vida em "eterno regresso"? Há futuro se ausente a paz? Há paz quando o presente é o passado decidindo a sorte de um (in) feliz? Quando vida e morte não serão confundidas entre si, a ponto de na vida a maior sorte não mais ser a própria morte? Há futuro sem a memória de tristezas e alegrias no presente de quem da vida mais teme o seu porvir feito em morte? Há o quê? (Marcus Moreira Machado)

QUINTA-FEIRA, 1 DE NOVEMBRO DE 2007: "Auto-retrato".

No verso que eu não devo -um poema confinado, ficcionando tempo na alma contida- o pranto seria fim desse ser que, vívida alucinação, insiste em fugidios encontros. Desejar da confirmada impossibilidade te amar nessa comprovada eternidade, é sentimento na causa sem efeito, o caos permanente da crise incipiente. Eis o que, nem vigor possui, sequer é teorema. Além do inexorável, porque inexaurível. Ondes estás?! Em teu destino sou eu o peregrino, amando divindade moldada no entalhe que me esforço por detalhar. Obra do meu auto-retrato, o teu rosto, a cada traço, fraco, eu refaço. Há em ti amor do anverso, posso ver, na proximidade que, nem breve nem pausa, convida-nos à celebração do perene essencial.
(Marcus Moreira Machado)

QUARTA-FEIRA, 31 DE OUTUBRO DE 2007: "Semeadura".

Ressuscitado o antagonismo, rediviva a dualidade; tese e antítese presentes no ideal resgatado. Eis a poesia eternizando da semente a vida. "Explode coração!" (Marcus Moreira Machado)

TERÇA-FEIRA, 30 DE OUTUBRO DE 2007: "LUNAR".

Duas paixões: a noite e à noite. Labor e libido têm horário preferido. Thanatos e Eros nunca foram amantes. Porque é o amor que fica sem dormir, sempre à espera de que a luz da vida acorde a cada um, nessa que é a ribalta comum. Eu também, mais varonil, sou reconciliável no lábaro que ostento juvenil, na coincidência dos ponteiros, no porvir da madrugada afora. Por isso, navegar é preciso por mares nunca antes navegados: nessa ilha, nesse arquipélago, nesse imenso rebanho de ovelhas negras perdidas nas utopias, desgarradas do açoite que deseja o dia inteiro. Busco na noite a minha intimidade ainda não devassada: meu ser é de verdade, nessa realidade que faço da minha imaginação... Vôa, liberdade! Ainda que tardia... à noite! 'Libertas', ó terra de rio...! Dos grilhões da infame miséria, 'libertas'! Antes que a lua cheia desperte os vampiros de alma destas plagas, ressuscita-me! À noite, acontece a ressurreição. Na noite o grande espetáculo da vida, antes natimorta pelo ponto do cartão. E o canto, e eu canto. E o cântico, a ode e a ária. E a ufania da geral no estribilho, no bis do delicioso e farto falsete de quem sabe que além do mais é legítimo dueto. Bom dia, noite querida! (Marcus Moreira Machado)

SEGUNDA-FEIRA, 29 DE OUTUBRO DE 2007: "FINITUDE".

Cá no peito, trago a idéia de qual veraz sentimento não é súplica nem lamento. E na cabeça uma sensação de existência que transcende. Tudo como se pensar e sentir fossem mesmo para se decidir onde fazer e quando querer. Há então única maneira de se ir além, sem lembrança ou sequer esperança: findar no tempo o futuro que espreita e buscar a tempo apreender o real da fantasia, admitindo que o amor só existe no seu próprio exercício, sem dom ou vocação que dele façam potência. Mas com a dedicação que o determina na certeza. (Marcus Moreira Machado)