Páginas

sábado, 29 de setembro de 2007

A MORAL DO SILÊNCIO

A palavra 'povo' designa, antes, os que são governados, em oposição aos detentores do poder. Em seguida, é 'povo' os que se opõem aos ricos, aos opulentos, aos possuidores de renda, de capitais. Nesse sentido, o povo é a massa dos pobres contrária aos ricos. Não sendo o povo uno e um, contudo constituído de elementos heterogêneos e de interesses conflitantes, o exclusivo fator da sua coesão será a "oposição a". Consequência imediata, o que constitui o povo é a 'hostilidade'. Por isso, a história das revoluções é sempre a história de um inimigo que jamais será extirpado, porque frequentemente renasce. Grosso modo, é hoje, tanto quanto em qualquer período da história da "civilização", o 'terror' que faz o povo existir. Ainda que esse terror seja sublimado, mesmo que vigilância e punição se façam presentes mais psicologicamente do que fisicamente. O 'terror' é prática política. Através dela é que o 'povo' se define. Assim, diante de eventos indesejáveis à manipulação, deverão os mal denominados "inimigos internos", os "traidores", ser aniquilados. Tudo em nome da preservação da 'identidade revolucionária'. Aquele que tem uma outra opinião não somente é expulso, mas é alvo das mais severas sanções morais. O conceito de moral reclama autonomia. Todavia, exatamente aqueles que mais têm a palavra 'moral' na boca, são os que não toleram a autonomia. Neste contexto, falta atualmente um 'sujeito histórico', enquanto agente transformador da sociedade e da consciência. Essa ausência é efeito da "integração" do proletariado na sociedade da "administração total"; entre nós brasileiros também conhecida como 'orçamento participativo', 'governo dos excluídos', etc., etc. Trata-se de um modelo de sociedade unidimensional, sem oposição, sem contradição; fruto da sociedade pós-industrial. Deste contexto, o mais grave desdobramento: sociedades sem oposição, sob o império da MORAL DO SILÊNCIO, desprovidas de sujeito ou indivíduo, fazem com que as esperanças essencialmente revolucionárias sejam preteridas até... até que surja um novo líder/agente revolucionário. Sob essa moral, a do silêncio, o 'povo' sobrevive de alimentar os mitos revolucionários. Só, nada mais que isto. Marcus Moreira Machado

Nenhum comentário:

Postar um comentário

SER OU NÃO SER, EIS A SUGESTÃO!