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segunda-feira, 17 de março de 2014

SEGUNDA-FEIRA, 31 DE MARÇO DE 2014: "INTERLOCUÇÃO DE LINGUAGENS"


Interpretar vai muito além de entender. Interpretar é um conjunto, do qual entender é um subconjunto. Por analogia à nomenclatura da teoria matemática dos conjuntos, entender está contido em interpretar. Nem sempre quem entende um texto o interpretou. Mas quem o interpretou o terá, anteriormente ou simultaneamente, entendido. Interpretar e escrever são atos solidários e indissociáveis. A importância da leitura e da decodificação de elementos explícitos e implícitos nos textos constitui, pode-se dizer, a própria vida.
Essa importância da leitura (não precisa ser de enorme quantidade, mas sim de notável qualidade), conduz o leitor à intimidade necessária com a diversidade produzida. A intimidade requer do leitor um gradativo conhecimento de conceitos e posterior desdobramento destes. Essa gradação são as instâncias do sentido. Elas tratam, inclusive, de algo aparente e lamentavelmente, omitido da quase totalidade de obras cujo conteúdo é interpretação textual: a Semiótica, a Semanálise e a Pragmática. Sem o auxílio dessas disciplinas, apresentadas e exercitadas pelo estudante, sempre faltarão elementos à interpretação, de fato, dos efeitos de sentido pretendidos e obtidos de um texto.
O máximo propósito é habilitar o leitor a decodificar as estruturas externas e internas de um texto, retirando dele tudo o que, para olhos destreinados, seria invisível; a fim de que o estudante seja capaz de ampliar ainda mais sua própria expressividade, melhorando sensivelmente sua habilidade de redigir, quando a escrita é observada a partir do seu ponto de fuga, daí seguindo todas as perspectivas do texto, superficiais e profundas, claras e ocultas.
interação humana se processa por vários meios. Duas ou mais pessoas interagem com olhares, gestos, expressões faciais, roupas que as identificam como pertencentes a certas organizações socioculturais. Nesse interagir, de uma forma ainda a ser desdobrada, está havendo comunicação.
A comunicação é, portanto, a competência (saber) e a habilidade (saber fazer) humanas unidas para a convergência da troca de mensagens possível através de um código a permitir por meio de um canal, os elementos constitutivos da comunicação: o locutor, o interlocutor, a mensagem, o código, o canal. Deve-se somar a isso o contexto ou a situação, além do de que o código pelo qual a comunicação é possível não se restringe, a priori, a palavras, mas a signos em geral. Trata-se, quando se vislumbra ou mesmo se radicaliza esse enfoque, de Semiologia, Semiótica, ou Semanálise.
A comunicação é, assim, uma faculdade inata à espécie humana, dotada da potência de comunicar-se.  Percebe-se que, com efeito, não se distingue, aqui, a comunicação da própria linguagem, embora seja possível a distinção entre os dois conceitos. Basicamente a linguagem será a comunicação humana quando ocorrida por intermédio de palavras orais ou escritas. Inegável, as coincidências e convergências são notáveis entre as etapas mais recentes da análise linguística e a abordagem da linguagem na teoria matemática da comunicação. Como cada uma dessas duas disciplinas se ocupa, embora por vias diferentes e autônomas, do mesmo domínio da comunicação verbal, um estreito contato entre elas revelou-se útil a ambas. A descoberta progressiva, pela linguística, de um princípio dicotômico, situado na base de todo o seu sistema dos traços distintivos, foi corroborada pelo fato de os engenheiros de comunicações empresariais empregarem signos binários  como unidade de medida. Quando eles definem a informação seletiva de uma mensagem  como o número mínimo de decisões binárias garantidoras, ao receptor, de reconstruir aquilo que precisa extrair da mensagem, com base nos dados já à sua disposição, essa forma realista é perfeitamente aplicável ao papel exercido pelos traços distintivos na comunicação verbal.

(Caos Markus)

DOMINGO, 30 DE MARÇO DE 2014: "SINAIS NO CONSENSO UNIVERSAL"


No caminho das palavras, não devemos estar atentos apenas à sua função, isto é, aos significados que exprimem.
Quem possui o interesse desperto e um ouvido apurado consegue uma vez por outra apreender, por detrás da forma e do valor semântico atuais, outros momentos distantes, mais ou menos escondidos, conferindo uma razão àquela forma e àquele valor.
O sinal fônico atualmente indissoluvelmente ligado ao seu significado pela própria necessidade do sistema do qual faz parte, tem nas suas raízes mais profundas um momento criador que é muitas vezes um momento de poesia.
Desse momento emanou a necessidade interior, não natural, mas humana e intencional, ainda ligando significante e significado. Cada sinal é portador do saber e este saber tem quase o caráter de uma hipótese renovável perenemente, baseando-se numa garantia dada pelo consenso universal.
Por isso mesmo, tal fato está relacionado com a evolução da consciência da comunidade a buscar as suas próprias experiências naquele conjunto de saberes.
Em consequência disso, a língua, até na sua estrutura atual, não é mais que uma teia de inovações, de atos criadores, exteriores à nossa consciência, porque o sistema é completo em si e suficiente para preencher as finalidades da expressão.
Mas quem volta a descobrir um desses momentos de criação, que constituíram aquela estrutura, faz emergir da névoa do tempo um elemento da construção encontrado em espaços ascendentes, sobre o qual a humanidade caminha.
O raio ocasionalmente se desprendendo de um fragmento de poucas sílabas é um fio de luz que se estende entre nós e a pré-história.
(Caos Markus)

SÁBADO, 29 DE MARÇO DE 2014: "LEITURA E DIÁLOGO"


A leitura não deve ser entendida como um mero ato de decifrar símbolos. O binômio emissão-recepção da linguagem impera em toda situação de comunicação, pressupondo, além disso, um campo comum de experiências entre um autor e um leitor. A leitura não é, portanto, uma atividade de natureza puramente simbólica, porque os signos interagem com os componentes culturais envolvidos num determinado enunciado, de maneira a conduzirem o leitor à apreensão e à compreensão da escrita. Portanto, o ato de ler não se resume em decodificar, porque, mais além,  dele se espera a produção de sentidos, o que torna o princípio da dialogia o fundamento da leitura.
Esse diálogo prossegue durante todo o tempo de contato com a escrita, ampliando a leitura, até o ponto da  interpretação superar em muito a mera compreensão e reprodução das idéias, levando o leitor a assumir uma atitude de posicionamento diante da escrita.
Ao se deparar com um texto, o indivíduo com ele estabelece algum tipo de diálogo. Antes mesmo de saber o seu conteúdo, a pessoa já tem alguns indícios sobre o que nele encontrará. Ao manusear um livro, por exemplo, adquire-se muitas informações acerca de seu teor, antes mesmo de iniciada a leitura. De maneira análoga, ao receber uma correspondência, o destinatário reconhece algo de seu conteúdo “pré-denunciado”, logo ao manusear o envelope, por seu formato, pelo tipo de letra, pelo remetente, pelo local onde houve o primeiro contato com ele: uma entrevista, uma reportagem jornalística, uma crônica de futebol, um romance, um poema, uma propaganda, um e-mail etc.
Considerada a complexidade da leitura, e o sem-número de elementos  interferentes em sua realização, não se pode estabelecer uma lista fechada de itens que funcionem como um "programa" de leitura eficaz, porém, é possível lembrar alguns procedimentos auxiliares no comportamento crítico diante da escrita: procurar identificar o padrão textual em observação; verificar a ocorrência de variação linguística; e analisá-la segundo os seguintes critérios.
Julgar a adequação do texto à situação na qual ele foi empregado; identificar as relações entre as suas partes indicativas de sua estrutura; reconhecer as estratégias linguísticas utilizadas pelo autor; relacionar o texto à cultura da época da sua produção, comparando-a com a da atualidade; identificar termos cujo aparecimento habitual denuncia um determinado enfoque ao assunto; assinalar expressões remissivas a outro texto; localizar trechos que refletem a opinião do autor; verificar traços de correlação do autor a certos grupos sociais e profissionais ou a correntes ideológicas conhecidas; procurar evidências de onde se possa extrair conclusões não explicitadas no texto; relacionar textos apresentados, confrontando suas características e propriedades; posicionar-se diante do texto lido, dando sua própria opinião.


(Caos Markus)

SEXTA-FEIRA, 28 DE MARÇO DE 2014: "ACEPÇÃO E SENSO EM CONSTRUÇÃO"


Algumas teorias da Linguística textual nos auxiliam na compreensão do texto literário, e a intertextualidade (estudada por essa área), é um fenômeno presente em muitas dessas escritas.  Ignorando este recurso, mais dificilmente o leitor chegará a uma interpretação coerente, não conseguindo entender o projeto ‘de dizer’ do autor, pois quando este se utiliza de intertextos para construir um novo texto não o faz por caso, tem sempre uma intencionalidade, cabendo ao leitor perceber os seus sentidos, só possível através dos conhecimentos prévios de outros textos. Isso não o impedirá de atribuir uma significação ao texto lido, mas poderá levar a leitura a outros enfoques, não o proposto pelo autor. O desconhecimento do intertexto comprometerá a interpretação da nova produção. 
Por isso se faz necessário conhecer os elementos constituintes de um texto, porque, afinal, apresentam não só os conceitos de intertextualidade, mas as suas formas, isto é, a implícita e a explícita, mostrando a importância destes procedimentos à construção dos 'efeitos de sentido' da escrita. 
Ao se propor a ideia de compreensão dos resultados da acepção e não o nexo do texto, a ênfase é dada à primeira expressão, tornando-a mais viável, pois, em se tratando de texto literário, não se pode pensar em apenas um discernimento, por este gênero trazer em sua essência a polissemia, as várias possibilidades de significados textuais.
A pluralidade de leitura e de sentidos pode ser maior ou menor, variável conforme a linguagem, do modo como foi constituído, do explicitamente revelado e do implicitamente sugerido; por um lado, dependendo da ativação (iniciativa do leitor) de conhecimentos de naturezas diversas; e por outro lado, da sua atitude cooperativa perante o que lê
Há necessidade, então, de o leitor possuir determinadas informações prévias acerca do intertexto, a fim de não atribuir somente um sentido ao novo texto. Pois, caso não detenha esse conhecimento, muito provavelmente construirá um senso afastado da realidade do outro em construção.
Nesse contexto, permite-se ainda afirmar, o leitor não deve se deixar levar pelo empirismo, isto é, considerado o caráter textual polissêmico, facilmente ocorre o erro de se aceitar qualquer sentido a ele dirigido. É indispensável, portanto, esclarecer que o sentido não está no texto, nem no leitor, mas na interação entre ‘texto-leitor-autor’.
Estes são os motivos de, além da instrução já adquirida, o leitor também precisar focar as pistas deixadas pelo autor. E esses indícios podem estar nos intertextos. Nem por tal razão ele deverá ficar preso às amarras do texto. A riqueza polissêmica da literatura é um campo de plena liberdade, não ocorrente em outros linguagens. Daí provém o próprio prazer da leitura: ela mobiliza mais intensa e inteiramente a consciência do leitor, sem obrigá-lo a manter-se cerceado ao cotidiano. 

(Caos Markus)

QUINTA-FEIRA, 27 DE MARÇO DE 2014: "AUSENTANDO"


Existem duas formas de egocentrismo. A explícita, é através dela que o indivíduo sempre menciona "eu", em detrimento de fatos, ações ou circunstâncias envolvendo terceiras pessoas, além dele próprio. 
A dissimulada, é quando o indivíduo habitualmente indica "você", em menosprezo a mínimo conhecimento do 'eu' do 'outro'.
É comum no egocêntrico só enxergar o outro como réplica de si mesmo. Por isso, logo trata de pôr todos à margem desse centro, 'ausentando' de si a presença alheia, confundindo-a com um "lugar" onde ele se pretende existente. 

(Caos Markus)

QUARTA-FEIRA, 26 DE MARÇO DE 2014: "DOMINAÇÃO"


O trabalho alienado, o que não traz satisfação nem alegria ou compensações, não é fonte de criação nem possibilidade de sublimação.
Trabalho super-reprimido, não protela nem substitui o prazer. É trabalho que somente mata.
 A super-repressão se define em produzir para consumir e consumir para produzir; sentir-se culpado, humilhado, diminuído quando não se produz o quanto e o que a sociedade estipula. 
Essa mudança da satisfação imediata para a satisfação adiada implica num quadro de alterações na estrutura de uma sociedade civilizada. 
A restrição do prazer proporciona a canalização das energias reprimidas para a produtividade, tornando o trabalho como uma atividade penosa, alienante e necessária à sobrevivência.
Isso significa suporte ao capitalismo.
Diante da interpretação do princípio de rendimento, pode-se afirmar, tem início o processo de exclusão, pois quem não conseguir acompanhar o ritmo nas exigências do mercado será excluído, produzindo a pobreza e a miséria. 
Afinal, o controle do mercado acaba nas mãos de uma minoria, com os indivíduos alienados de sua própria existência. 
Assim, percebe-se, o trabalho não é algo que liberta, mas sim uma atividade que domina. E, uma vez escravos, já não se conhece onde há liberdade.

(Caos Markus)

TERÇA-FEIRA, 25 DE MARÇO DE 2014: "FORMAS E SIGNIFICAÇÃO DO CÓDIGO VERBAL"


No ‘projeto de dizer’ de um autor há alguns vazios a serem preenchidos pelo leitor. Não por acaso o primeiro deixa algumas informações ocultas: na maioria das vezes ele acredita que o segundo já detém tais conhecimentos, sendo desnecessário informá-los. Em outros casos o autor opta por colocar o texto-fonte e até fragmentos do texto construído anteriormente, ou para enfatizar a sua ideia, ou, nos casos dos tratados científicos, as citações diretas são usadas para fundamentar o trabalho, dando credibilidade ao escrito. Diante disso pode-se constatar: ocorre intertextualidade de conteúdo, por exemplo, entre textos científicos de uma mesma área do conhecimento, úteis como conceitos e expressões comuns, já definidos em outros textos daquela área ou corrente; entre matérias de jornais (da mídia em geral), no mesmo dia ou período de tempo quando o dado assunto é focalizado; entre textos literários de uma mesma escola ou de um mesmo gênero (por exemplo, as epopéias). Tem-se intertextualidade de forma/conteúdo, por exemplo, quando o autor de um texto imita ou parodia, tendo em vista efeitos específicos, estilos, registros ou variedades de língua, como é o caso de textos que reproduzem a linguagem bíblica, a de determinado escritor ou de um dado segmento da sociedade. 
Para uma melhor compreensão sobre como se processa o fenômeno da intertextualidade é preciso estar atento a algumas terminologias utilizadas a fim de explicar como e porque o autor utilizou determinado intertexto, pois o código verbal na literatura tem uma extensão de formas e significação muito grande, de maneira a impedir o esgotamento da escrita em si mesma, e a ponto de ser plausível afirmar que a ninguém pertencem as palavras.

(Caos Markus)

SEGUNDA-FEIRA, 24 DE MARÇO DE 2014: "A PALAVRA, INSTRUMENTO OU ARMA"



“Analfabeto”, execrável palavra usada para descrever o estado de ausência de um conjunto de competências individuais indispensáveis para uma pessoa ler e escrever. Ao professor de português cabe a tarefa de levar o estudante a uma condição de alfabetismo e, assim, possibilitar-lhe a participação ativa nos eventos de letramentos a todo o momento circundantes, distanciando-o daquela palavra portadora de conceito segregacionista.
Contudo, estar alfabetizado não é suficiente para uma pessoa atuar com mais autonomia em sociedades que têm seus ritmos ditados por palavras escritas e por imagens: é preciso ser letrado.
Por isso, o conceito de letramento surge no mundo acadêmico para tentar separar os estudos sobre o impacto social da escrita na alfabetização, cujas conotações escolares destacam as competências individuais no uso e na prática da escrita. Nota-se aqui a ênfase no aspecto social do conceito de letramento e na feição individual dos conceitos de alfabetização e de alfabetismo.
Assim, a preparação dos estudantes para uma convivência ativa no mundo letrado requer do professor de português um olhar voltado para três horizontes: o textual, o multissemiótico e o crítico. O proposição teórica desse conceito é a inevitabilidade da familiarização do professor em relação aos elementos de textualidade, aos múltiplos letramentos e ao letramento crítico.
Ele não pode perder de vista esse conjunto sob pena de não contribuir efetivamente para que seus alunos se tornem escritores eficientes e leitores atentos às artimanhas da manipulação na sociedade de consumo, carregada de preconceitos. Afinal, o nosso ambiente está saturado de mensagens visando convencer-nos em todos os domínios possíveis. Os alunos precisam, por isso mesmo, ser municiados, para realizarem leituras críticas dos textos em circulação nos mais diversificados contextos sociais.
Parece natural salientar, a comunicação humana que mais produz frutos, bons ou maus, age com a palavra, podendo, por consequência, ser utilizada como ferramenta ou uma arma. Por meio dela se consumam os maiores e mais prolongados benefícios e malefícios causados por pessoas umas às outras. Mesmo a violência física perpetrada entre duas ou mais pessoas, mesmo a violência do ser humano contra o meio ambiente, a interação entre o homem e as novas tecnologias da informação, tudo isso é circunscrito e precedido pelo universo simbólico das palavras. Por essa razão elas ganham vulto quando impostas pela espécie humana, seja como ‘locutora’, ‘interlocutora’, ou ambas.
 
(Caos Markus)