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quarta-feira, 30 de outubro de 2013

SEGUNDA-FEIRA, 4 DE NOVEMBRO DE 2013: "AFIRMANDO CONTRADIÇÕES"



Se é verdade que não há ensino sem aprendizagem, então não existe uma distinção entre ensino bem sucedido e ensino mal sucedido. Todo ensino é, por definição, bem sucedido, ou seja, resulta, necessariamente, em aprendizagem. Assim, se fulano ensinou raiz quadrada a sicrano e sicrano aprendeu raiz quadrada, há explícita redundância nessa suposta constatação, incorre-se em pleonasmo, se diz a mesma coisa duas vezes. Por outro lado, na hipótese de fulano ensinar raiz quadrada a sicrano e sicrano não aprender, tal assertiva implica em auto-contradição: afirma e nega a mesma coisa, ao mesmo tempo, porque se fulano ensinou, então sicrano (necessariamente) aprendeu, e se sicrano não aprendeu, então fulano (necessariamente) não ensinou. Tudo indica, é perfeitamente possível afirmar que: embora fulano tivesse ensinado raiz quadrada a sicrano durante a tarde toda, sicrano não aprendeu raiz quadrada. Em outras palavras, a distinção entre 'ensino bem sucedido' e 'ensino mal sucedido' (resultando ou não em aprendizagem, respectivamente) se afigura inteiramente legitima. Ora, se esta distinção é legítima, então será falso afirmar não ocorrer ensino sem aprendizagem (ou que todo ensino resulta em aprendizagem). Mas insinua-se a existência de um certo vínculo conceitual entre ensino e aprendizagem. Dificilmente se dirá acerca de uma pessoa ensinando algo a alguém se ela não tem a menor intenção de fazer o outro aprender o ensinado. Talvez esteja querendo se dizer: se não houver, por parte de quem apresenta um certo conteúdo, a intenção voltada ao aprendizado do outro indivíduo, então não há ensino. Esta afirmação poderia ser aceitável. Ela apresenta, porém, uma dificuldade: a noção de intenção. Como se determina se uma pessoa tem ou não a intenção de que outrém aprenda o que ela está expondo? Este é um sério obstáculo, porque esta questão é virtualmente equivalente à outra pergunta: como se determina o quanto uma pessoa está, ou não está, ensinando? Afinal, pode haver 'aprendizagem' sem correlata existência de 'ensino' ? Essa resposta aparenta-se mais fácil. É possível, durante uma aula ou exposição, alguém aprender coisas que o professor não está querendo lhe ensinar (isto é, coisas as quais o professor não tem por intenção o aprendizado pelo aluno), como, por exemplo, assimilar o assunto da exposição como terrivelmente maçante. Este seria um exemplo de aprendizagem sem ensino. Tal situação é sugestiva em relação ao chamado auto-didata, pois, na realidade, ele é um auto-aprendiz, um indivíduo capacitado a aprender um certo conteúdo sozinho, e não uma pessoa apta a ensinar a si mesma. Então, não é exatamente correto dizer: a natureza e a vida ensinam. Nestes casos, também, seria muito mais certo dizer: certas pessoas aprendem determinadas coisas por si próprias. Estes, isoladamente, sim, seriam exemplos de aprendizagem sem ensino. Resta claro, portanto, ser absolutamente impossível uma aprendizagem sem ensino.

(Caos Markus)

terça-feira, 29 de outubro de 2013

DOMINGO, 3 DE NOVEMBRO DE 2013: "JUDICIÁRIO BRASILEIRO É ALIADO DE TORTURADORES"


SE UMA PESSOA FOI SEQUESTRADA, DESAPARECEU E NÃO ESTÁ AQUI, QUER DIZER QUE O DELITO SE MANTÉM.  DE FORMA QUE A LEI DE ANISTIA NÃO SERIA APLICÁVEL 

Corte Interamericana de Direitos Humanos provoca a reabertura de ações penais

As decisões da Corte Interamericana de Direitos Humanos já resultaram em 39 condenações criminais definitivas no Judiciário de países latino-americanos, ao provocar o início ou a reabertura de processos penais que estavam parados nas instituições locais. Entre elas estão diversas condenações de autoridades por crimes cometidos durante governos ditatoriais, inclusive em países que mantiveram suas leis de anistia.
Os dados foram apresentados pelo presidente da Corte Interamericana, o peruano Diego Garcia-Sayán, que defendeu a investigação de crimes cometidos por ditaduras mesmo em países que mantiveram leis de anistia, como o Brasil. Segundo ele, "interpretações judiciais criativas" permitiram, mesmo em países que nunca derrubaram essas leis, a investigação, reparação e punição de crimes cometidos por agentes do Estado em governos autoritários.
Ele cita o exemplo do Chile, que vem punindo responsáveis por desaparecimentos forçados durante a ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990) com o entendimento de que, apesar da Lei de Anistia, SE TRATA DE DELITO CONTINUADO.

"SE UMA PESSOA FOI SEQUESTRADA, DESAPARECEU E NÃO ESTÁ AQUI, QUER DIZER QUE O DELITO SE MANTÉM.  DE FORMA QUE A LEI DE ANISTIA NÃO SERIA APLICÁVEL segundo vários dos processos que estão em curso no Chile", explica. Ele ressalta que outros crimes, como homicídios, também estão sendo investigados.

A DECISÃO DA CORTE INTERAMERICANA DETERMINOU AO BRASIL QUE INVESTIGUE E PUNA OS AGENTES DO ESTADO responsáveis por crimes cometidos na ditadura militar (1964-1985).

POUCO TEMPO DEPOIS, JOAQUIM BARBOSA, PRESIDENTE DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (E SEUS PARES) DECIDIU MANTER A LEI DE ANISTIA, IMPEDINDO A PUNIÇÃO DE CIVIS E DEMAIS AGENTES DO ESTADO por crimes cometidos no período autoritário.

Segundo Garcia-Sayán, não há sanções diretas previstas para países que descumprirem decisões da Corte Interamericana. Apesar disso, diz, é importante para os países latino-americanos indicarem que respeitam a democracia e o direito internacional.

(copydesk, Caos Markus) 

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

SÁBADO, 2 DE NOVEMBRO DE 2013: "ANALOGAMENTE"


"ismos" nem prefixos são; ao contrário, enquanto sufixos,

apenas mal "adverbiam" o que, substantivo, é rompido

pela semântica do pragmatismo sectário. Um ideal, tornado

idealismo, refoge à sua origem,

sobrevivendo,então,apenas na condição de potência, latência. 

Por outro lado, todo partido, traduzido por uma "secção", 

já aí denota sua parcialidade, dedicado a exclusividades, 

não mais que isto. E, analogamente,não há que se falar

em "revolucionário". Porque só o 'evolucionário' possui o 

perfil da constância, da permanência, da estagnação 

revolucionária. Mas a revolta... 

Esta, sim, é atuante na sua atemporalidade. 


(CAOS MARKUS)

SEXTA-FEIRA, 1 DE NOVEMBRO DE 2013:"PROCESSANDO A SÍNTESE"





A classificação cientificamente sistematizada  do processo 'ensino-aprendizagem' constitui-se em uma estrutura de organização hierárquica dos objetivos educacionais. Resultado do trabalho de uma comissão multidisciplinar de especialistas, esse agrupamento de categorias, não obstante seus aproximadamente sessenta anos, ainda hoje é vigente, face a sua solidez de princípios. Divide as possibilidades de aprendizagem em três grandes domínios:1) o cognitivo, abrangendo a aprendizagem intelectual; 2) o afetivo, abordando os aspectos de sensibilização e gradação de valores; 3) o psicomotor, compreendendo as habilidades de execução de tarefas relacionadas ao organismo muscular.
Cada um destes campos possui diversos níveis de profundidade de aprendizado. Por isso, a classificação é denominada 'hierarquia', pois a cada gradação, maior é a complexidade e a especificidade. 
O terceiro âmbito não foi terminado, e o primeiro apenas foi implementado em sua totalidade, sem, no entanto, prognosticar requisitos de sua efetividade.
As habilidades no domínio cognitivo tratam de 'conhecimento', 'compreensão' e o 'pensar' sobre um problema ou fato, conforme as seguintes proposições. 
Pelo 'conhecimento', o exercício da memorização de situações particularizadas, dos padrões de procedimento e dos conceitos. 
A 'compreensão' imprime significado, traduz, interpreta contextos, instruções, e os extrapola. 
Através da 'aplicação', é utilizado o aprendizado em novas perspectivas. 
A 'análise' verifica elementos, constata relações e reflete princípios de organização. 
A 'síntese' estabelece padrões.

Na 'avaliação', o julgamento baseado em evidência interna ou em critérios externos.
O domínio afetivo considera as reações de ordem sensorial, incluindo a empatia. É dividido em cinco níveis, consoante a graduação a seguir.
I- recepção: percepção, disposição para receber e atenção seletiva.
II- resposta: participação ativa, disposição para responder e satisfação em responder.
III- valorização: aceitação, preferência e compromisso (com as percepções valorizadas).
IV- organização: conceituação de valor e organização de um sistema de valores.
V- internalização de valores: comportamento dirigido por grupo de preceitos, comportamento consistente, previsível e característico. 
O domínio psicomotor, nesse ordenamento, ocupa-se das habilidades referentes à manipulação de ferramentas ou objetos, debatendo percepção, resposta conduzida, automatismos, respostas complexas, adaptação e organização. Uma das questões ainda pendentes é a existência ou não de uma escala estrita e sequencial. A classificação, posteriormente revisada, apresenta mudanças. Dessas alterações, a de intensificada expressividade é situar 'síntese' em nível acima de 'avaliação'. E há uma idônea justificativa na identificação de tal necessidade: sem o adequado processamento da síntese, a avaliação será aleatória, incapaz, portanto, de aferir a veracidade e, obviamente, a credibilidade da metodologia coordenada.
(Caos Markus) 

QUINTA-FEIRA, 31 DE OUTUBRO DE 2013: "CAPACIDADES SUBJETIVAS"


Pouco se conhece acerca das necessidades e características do potencial de indivíduos com altas habilidades e/ou superdotação, apesar do crescente reconhecimento da importância de se estabelecer condições favoráveis ao seu desenvolvimento. Noções falsas sobre estes indivíduos, fruto de preconceito e desinformação, estão profundamente enraizadas no pensamento popular, interferindo e dificultando a implantação de práticas educacionais dirigidas ao atendimento dos anseios e premências desse grupo. Por exemplo, uma ideia predominante em nossa sociedade é a de que o aluno superdotado tem recursos suficientes para expandir suas habilidades por si só, dispensável, pois, a intervenção do ambiente. Então, os fatores genéticos são supervalorizados em detrimento do meio social, este último ocupando um papel secundário no fortalecimento de habilidades e competências. Entretanto, um potencial n ão cultivado é sempre um potencial perdido. Ao aluno provido de excepcionais habilidades e/ou superdotação é imprescindível um rol de diversificadas experiências no processo ensino-aprendizagem, como influxo à sua evolução, favorecendo a realização plena de sua capacidade latente.
Outro mito é o de que o aluno superdotado apresenta, como regra inflexível, um bom rendimento escolar. Todavia, atitudes depreciativas na escola, tanto quanto estratégias educacionais e currículos alheios à má interferência na atuação dos virtualmente qualificados com tais atributos, fazem parte do dia-a-dia, via de regra, das instituições de ensino.
Tendências atuais na educação do superdotado destacam a relevância de se prepará-lo para a definição e solução de problemas, produzindo conhecimento por meio de práticas envolvendo o pensamento crítico e criativo, paralelamente ao cultivo de um conjunto de perfis de personalidade, quais sejam, persistência, autoconfiança e independência de pensamento, indispensáveis a uma melhor expressão das superiores aptidões.
Do ponto de vista da política de inclusão, flexibilizações curriculares e instrucionais devem ser pensadas a partir de cada situação individualizada e não como propostas universais.
Assim, fundamentados nos princípios de respeito à diversidade e salvaguarda do direito de todos à educação de qualidade, impõe-se a obrigação se criar um entorno educacional acolhedor e incentivador do potencial promissor de educandos com proeminentes predisposições intelectuais.
Afinal, uma educação verdadeiramente democrática distingue as diferenças pessoais, fomentando múltiplas conjunturas de assimilação, compatíveis com as vocações, interesses e estilos de discernimento da pluralidade de sujeitos.
No ensino público do Brasil, contudo, refletindo diretrizes sequer comprometidas com a educação em geral, nivela-se ao mais baixo patamar todo o corpo discente, aproximando uns dos outros os alunos, não pela superação de situações e problemas, mas pela alienação desagregadora.
 
(Caos Markus)

QUARTA-FEIRA, 30 DE OUTUBRO DE 2013: "CONHECIMENTO E ATO CRIATIVO"


Uma pessoa é mais do que o somatório dos seus traços de personalidade. Ela é fruto de uma história única e intransferível. Mesmo cientes de que estes sinais, por si sós, não são capazes de informar sobre o nível ou grau de criatividade individual, eles representam um avanço nas investigações a respeito de 'criatividade', pois lançam luzes importantes acerca desta tarefa complexa   -a de 'conhecer a personalidade de pessoas com alto potencial criativo'.
A identificação dos indícios de personalidade que caracterizam sujeitos criativos também representa uma opção metodológica quando se pretende promover 'criatividade'. 
Conhecidos os padrões associados aos sujeitos com alto potencial criativo, é possível atuar no sentido de auxiliar pessoas consideradas comuns a trabalharem estes indícios em si mesmas e, consequentemente, abrir campo fértil ao 'cultivo da criatividade'.
O reconhecimento da alta criatividade no adulto não necessariamente garante a presença deste atributo nas crianças, tornando-as, por crescerem em sua companhia, igualmente criativas.  
O domínio sobre a criatividade e suas manifestações infantis é ainda bastante limitado.
Tal restrição, entretanto, não impede o planejamento de estratégias promotoras da criatividade na infância. O exame dos aspectos da
personalidade caracterizadores do sujeito criativo muito tem  a auxiliar neste contexto.
Nas investigações e debates abordando a personalidade criativa, destaca-se a importância de se possuir 'conhecimentos', sejam gerais ou específicos. Entre pesquisadores, há expressiva concordância relacionada à sua necessidade, pois sem algum conhecimento prévio de um assunto, é pouco provável produzir algo de fato inovador ou original. Uma bagagem de conhecimentos é, sim, fundamental ao 'processo criativo'. Quanto maior esta, maior o número de padrões, combinações ou idéias sob alcance.
Outro detalhe a ser ressaltado é o da 'motivação' influenciando o comportamento criativo. Pode-se esperar elevados níveis de performance criativa em pessoas com motivação e habilidades necessárias ao 'ato criativo'. 
A 'motivação intrínseca' é a chave mestra das portas do 'processo criativo'. Ela é a força interna mobilizadora na produção (pelo simples desejo de querer produzir) de artefatos, idéias, objetos, arte ou ciência. E surge no âmago do desejo imanente no ser humano em somente 'realizar', sem qualquer contrapartida compensatória. 
Na diferença com a 'motivação extrínseca', esta última, não raro, causa danos ao 'processo criativo', por desviar o interesse do indivíduo, levando-o a elementos exteriores de caráter retributivo.
Criatividade, como todo fenômeno complexo, exige mais trabalho em sua delimitação. 
Mensurá-la num sujeito demanda, também, compreender a história de vida dessa pessoa, a sua construção de rotas de desenvolvimento, seus processos de aprendizagem e correlata 'produção criativa'. 
A história de cada um tem muito a informar sobre sua criatividade. Por isso é tão relevante pesquisar os traços biográficos relacionados a um perfil criativo.
Na ausência de parâmetros inflexíveis, uma norma prevalece acima de quaisquer paradigmas: jamais emerge da latência, da virtualidade, da potência, um 'ato criativo' elevado à condição de nova imediata realidade. Esse novo 'real' possui, quando muito, caráter antecipatório, uma prognose, apenas. Mais frequentemente, o que se confirma é o afloramento do intuitivo, carente ainda de conhecimento que lhe imprima forma e solidez.

(Caos Markus)


TERÇA-FEIRA, 29 DE OUTUBRO DE 2013: "O REAL E O IDEAL APROXIMADOS"


O “self” (o ‘si mesmo’) é a função organizadora do indivíduo, por meio do qual um ser humano pode relacionar-se com o outro. O “self” não é a simples soma dos vários papéis representados, mas sim a capacidade de se reconhecer atuando na representação de tais papéis. É também o centro pelo qual vemos e temos consciência das diferentes facetas de nossa personalidade. É a autoconsciência a permitir ao indivíduo ver a si mesmo como os outros o vêem, e sentir empatia. É colocar-se no lugar do outro e imaginar como se sentiria e o que faria se fosse ele. Permitir, em última instância, realizar suas próprias potencialidades. O homem realiza suas potencialidades somente quando planeja e escolhe conscientemente. E o fato de não poder realizá-las está na raiz de sua doença e neurose. Pois, o objetivo da vida é a alegria, não a felicidade idealizada. Considerada a alegria enquanto emoção inerente à realização de nossa natureza como seres humanos, tornar-se ‘pessoa’ é, nesta condição, um aprofundar dessa consciência do próprio ‘eu’, consciência de um ‘eu ativo’. O ‘si mesmo’ tem um objetivo preponderante. Ele é visto como uma estrutura organizada e mutável de percepções relativas ao próprio indivíduo: características, atributos, qualidades e defeitos, capacidades e limites, valores e relações, indicados  como descritivos de si mesmo, constituindo suaidentidade. Todo ser humano tende à ‘auto-realização’, termo sinalizador da tendência diretriz (evidente em toda a vida orgânica e humana) de se expandir, de se desenvolver e amadurecer, ou seja, a tendência para colocar em ação todas as suas capacidades e potencialidades, estando à espera das condições adequadas para se exprimir e se manifestar. Para isto acontecer, no entanto, é necessário um contexto de relações humanas positivas, favoráveis à conservação e à valorização do ‘eu’, requerendo relações desprovidas de ameaça ou desafio à concepção que o sujeito faz de si mesmo, ou ao seu autoconceito. Assim, infere-se, o ambiente ideal para o desenvolvimento do ser humano (seja na família, na escola ou na sociedade), é aquele onde o indivíduo se sente amado e respeitado como pessoa; um ambiente onde suas ideias, opiniões e ações são valorizadas e apreciadas de forma positiva. Em última análise, a noção de “self” é a determinante dessa tendência atualizadora, e se possibilitar suas capacidades e potencialidades, será então efetiva e realista. Trata-se de processo onde o indivíduo acredita ser, ele próprio, de uma determinada maneira, ou crê possuir certos atributos e qualidades. Esta percepção é o “eu ideal”. Assim, para ele conseguir manifestar sua tendência de atualização, torna-se necessário que os entendimentos do ‘eu real’, derivados da experiência vivida (sentimentos, desejos, ansiedades, angústias), se aproximem do eu ideal’, dependente ainda da sua sensibilidade em enxergar como os outros o percebem e se comportam diante dessa percepção. Quando a compreensão do mundo e esta percepção mais realista são congruentes entre si, ele terá mais facilmente oportunidades de alcançar os objetivos a que se propõe. Por outro lado, se a concepção de “si mesmo” apresenta lacunas e inconsistências, a tendência atualizadora não será clara; e o indivíduo será propenso a propor metas difíceis de atingir, razão pela qual experimentará o fracasso, com todas as frustrações dele decorrentes. Assim, a noção há de ser realista, fundamentada na experiência pessoal autêntica, conduzindo cada um à satisfação subjetiva e ao comportamento eficaz. A condição essencial deste funcionamento autêntico é a liberdade para experimentar.

 (Caos Markus)

SEGUNDA-FEIRA, 28 DE OUTUBRO DE 2013: "PERSONALIDADE À EDUCAÇÃO"





A docência não é uma capacidade inata, e sim uma carreira que, como outras, pressupõe esforço pessoal e formação que possibilitem o domínio de aspectos teóricos e práticos ligados à aprendizagem. 
Só com estudos constantes, planejamento e dedicação, é possível ser um bom professor, ou seja, ensinar todos os estudantes. 
Não é admissível que alguém lecione apenas porque gosta de crianças ou acredita que leva jeito. A docência exige conhecimentos científicos. 
Não se pode desvalorizar a cultura escolar propriamente dita para dar mais importância a dimensões extracurriculares. 
Não há como ser contra oferecer uma Educação integral aos estudantes e ensiná-los para a cidadania - ideia que começou a chegar à escola no fim do século 19. Nos últimos anos, inúmeros temas foram incorporados desenfreadamente ao currículo com esse objetivo. Porém isso não pode tomar mais tempo e energia dos professores do que atividades básicas, como a alfabetização e o ensino dos conteúdos de cada uma das disciplinas. Para dar conta dessa formação tão ampla, a articulação é o caminho. Outras instituições além da escola - como espaços culturais e asssociações comunitárias - podem contribuir com a aprendizagem de aspectos relacionados à cidadania e à cultura.
As aprendizagens escolares são uma condição fundamental da cidadania. Ninguém é cidadão, de corpo inteiro, se não conhecer a língua e a história, a matemática e as ciências, a filosofia e as artes.
Todos podem aprender, independentemente de sua condição socioeconômica.
A ideia de que crianças das camadas mais pobres não avançam nos estudos é fruto de um déficit histórico do país com a Educação. Somente na década de 1990, o Brasil conseguiu ultrapassar a marca de 90% da população de 7 a 14 anos no Ensino Fundamental - hoje esse índice é de 97,6%. Isso possibilitou a inclusão na escola de milhares de crianças, cujos pais, em sua maioria, estiveram fora do sistema de ensino. Muitas chegaram - e ainda chegam - às salas de aula sem nunca ter tido acesso a livros, revistas e jornais, por exemplo. Esses, no entanto, não são motivos para que haja dificuldades na compreensão dos conteúdos. Se o país avançou na ampliação do acesso e estudar é um direito universal, cabe agora ao sistema oferecer um ensino de qualidade, garantindo a permanência de todos nas salas de aula. A solução é p ermitir que cada estudante avance do ponto em que está. Ao fim da Educação Básica, espera-se que todos tenham as mesmas oportunidades, independentemente de seu contexto econômico e social. Para que isso ocorra, vários fatores são essenciais: formação inicial e continuada de qualidade para a equipe escolar, infraestrutura, um currículo coerente com a realidade local e um acompanhamento constante. 
A escola é, por excelência, o espaço da garantia da aprendizagem, lugar onde deve ser despertada. Se o contexto social dos alunos não contribui, cabe a ela proporcionar as oportunidades necessárias. É papel da família, sem dúvida, orientar as crianças para que elas dominem algumas regras básicas de conduta. Essa tarefa, entretanto, não é apenas uma atribuição dos pais. A escola também é responsável por ensinar regras coletivas, que são valorizadas pela cultura da sociedade de que ela faz parte, e que nem sempre são seguidas em casa. É essencial para os estudantes ter outros adultos como referência, além da própria família. O professor, certamente, é um deles e, por isso, pode causar um impacto muito positivo na vida dos alunos.
Não é justo esperar que os pais, cuja maioria tem escolaridade menor que a dos filhos, ensinem a eles todas as habilidades e competências que precisam ser aprendidas ao longo da vida.
No passado, o primeiro livro era um presente para as crianças que aprendiam a ler. Hoje, no entanto, está comprovado cientificamente que, quanto mais cedo elas entram em contato com o mundo das letras, maiores as possibilidades de se tornarem futuras leitoras. Publicações com poucas palavras ou frases soltas podem parecer mais adequadas às turmas que ainda não foram alfabetizadas, contudo, acabam somente passando a ideia de que a leitura é sempre rápida e fácil. Ouvindo textos maiores e melhores, as crianças ampliam progressivamente a capacidade de ouvir e de se concentrar. Ao ter a oportunidade de conhecer a boa literatura, eles entendem, de fato, por que vale a pena ler. 
As crianças não devem ser subestimadas, e sim concebidas como leitores plenos desde antes da alfabetização.
Há casos de sucesso e de fracasso escolar nas diferentes organizações familiares. A existência de um núcleo tradicional - com pai, mãe e filhos - não determina a maior atenção à Educação em casa. 
Pesquisas apontam que os alunos têm melhor desempenho quando seus pais conhecem bem o sistema escolar, conversam sobre leituras realizadas e têm maior expectativa em relação à escolaridade deles. Essa atenção pode ser garantida em diferentes estruturas familiares. Todos podem estimular a vida escolar dos filhos desde que saibam como. Conhecendo seus alunos e o contexto social em que vivem, a escola pode ajudar as famílias a reconhecer o valor da assiduidade e garantir um ambiente de aprendizado em casa. É mais importante avaliar em que aspectos a família pode contribuir com o aprendizado dos filhos do que a forma como ela está estruturada.
Há supostas diferenças no aprendizado entre homens e mulheres em diversas áreas. Entretanto, é necessário compreender que as diferenças são fruto de uma questão de gênero, e não biológica, inata. A divisão de papéis sociais entre meninos e meninas é que contribui para o desenvolvimento de capacidades que facilitam o aprendizado dessa ou daquela disciplina. Para superar essa realidade, é essencial que tanto a família quanto a escola dêem as mesmas oportunidades e desafios a todos. 
Ter um bom desenvolvimento na primeira infância é um dos fatores que mais influenciam o sucesso escolar. Mais do que cuidar da criança e alimentá-la, a creche tem como função proporcionar diferentes experiências de socialização a ela. A maior presença da mulher no mercado de trabalho tem ampliado a demanda por creches. Porém a decisão de matricular os pequenos não deve ser feita apenas porque os pais trabalham e não há quem cuide deles. O grande desafio é consolidar essa etapa da Educação Infantil como um momento educativo, que potencialize o desenvolvimento integral e a socialização.
Para deteminar o que cada aluno aprendeu, não há dúvida de que é necessário avaliá-lo. A questão é o que se faz com as informações trazidas por provas e outros instrumentos. Reprovar a criança por não ter atingido os objetivos propostos e submetê-la a aulas sobre os mesmos conteúdos, inclusive aqueles que ela já domina, dificilmente vai contribuir para que aprenda mais. Para reduzir o índice de 11% dos que fracassam anualmente no Ensino Fundamental no país, a alternativa é adotar diferentes estratégias de ensino, garantindo-se oportunidades reais e individualizadas de recuperação para quem apresente dificuldades durante o ano letivo.
A repetência não traz benefícios para o aluno. Ele não vai aprender mais ao ser afastado de sua turma e passar mais um ano assistindo às mesmas aulas dadas no ano anterior. É preciso avaliar quais são suas deficiências. Não basta passar de ano. O importante é aprender.
Não obstante serem práticas comuns em muitas escolas, as cópias e outras atividades de repetição por si só não ajudam a criança a avançar. Passar longos textos do quadro para o caderno ou resolver inúmeros exercícios do mesmo tipo consome um tempo precioso da aula, que poderia ser mais bem aproveitado com outras situações didáticas desafiadoras.
A ideia não é abolir de vez essas estratégias, mas só empregá-las quando houver contribuição para o aprendizado de determinada habilidade, como jogar várias vezes o mesmo jogo para aprimorar suas estratégias.Para aprender não é suficiente repetir um conteúdo ou memorizá-lo. Somente é possível aprender quando há reflexão sobre aquilo que se faz.
A atividade em grupo, em muitas situações, é a dinâmica mais eficiente e pode trazer melhores condições de aprendizado. A interação favorece a cooperação, possibilita que os estudantes entendam pontos de vista mais próximos dos seus e até revejam seus argumentos. Em geral, os mais curiosos, questionadores, que levantam dúvidas, trazem informações de seu cotidiano e contrapõem ideias são aqueles que mais aprendem. Quando a proposta é adequada aos objetivos e motiva a todos, é grande a possibilidade de bons resultados. O importante é acompanhar de perto o trabalho de cada grupo para garantir a produtividade. Se o trabalho em grupo é orientado e supervisionado, os estudantes se sentem envolvidos e dificilmente se dispersam.
Somente boas condições de aprendizagem podem contribuir para elevar a autoestima rebaixada em relação ao desempenho escolar insuficiente. Quando um estudante com dificuldades é comparado com os melhores da sala, seu esforço pode sinalizar apenas mais um fracasso e o resultado será novamente a desmotivação. Com relativa frequência, o fracasso escolar é atribuído a problemas emocionais ou psicológicos. Porém sua principal causa são inadequadas condições de aprendizagem em classe.
Aprender pressupõe um esforço cognitivo e requer força de vontade, disciplina, concentração e dedicação. Atividades dinâmicas e divertidas não garantem, necessariamente, todas essas condições em sala.
O conhecimento deve fazer as pessoas se sentirem inteligentes, capazes, fortes e autônomas. O grande desafio da escola é demonstrar a importância do saber na sociedade moderna e o quanto aprender pode ser desafiante e interessante. É dessa sensação que deve vir a satisfação pelo estudo. As brincadeiras certamente deixam os alunos mais animados, mas, se o educador tem por objetivo levar a turma a aprender os conteúdos previstos em cada disciplina, o melhor caminho é propor situações desafiadoras, com sentido para o educando, valorizando o seu esforço em superar limites. 
Ensino e aprendizagem são processos distintos. O professor ensina, propõe atividades e problemas, mas isso não significa que todos aprendam da mesma forma. 
Dar conta de todo o programa é um desafio. Por outro lado, não adianta prosseguir com o cronograma se os discentes não estiverem entendendo. Seguir para o próximo assunto e ignorar aqueles em dificuldade pode trazer impactos cada vez mais difíceis de superar. Quando necessário, é preciso voltar ao mesmo assunto com outras formas de abordagem.
Não é possível culpar o aluno pelo fracasso. Se o contexto social não é favorável, o investimento educacional precisa ser maior. Ou não há de se falar em um despertar da personalidade pela Educação, seja em relação ao corpo docente ou ao discente, pois ambos integram um, e ap enas um, contexto.
(Caos Markus)