Páginas

sábado, 31 de agosto de 2013

QUARTA-FEIRA, 4 DE SETEMBRO DE 2013: "RADICALIDADE, MUDANÇA AUTO-DIRIGIDA DA CONSCIÊNCIA"



Aparente auxílio transformador da consciência no processo de educação, os movimentos anarquistas fizeram sistemática oposição à escola pública, encarando-a como instituição mantenedora de dinâmicas sociais contrárias à individualidade e a autonomia dos educandos.
Também a tradição marxista questiona a função da escola, caracterizando o seu planejamento enquanto sofisticada maneira de alienação e manipulação dos cidadãos nas sociedades industrializadas.  
Como filosofia política e social o anarquismo suscitou questões relacionadas ao papel e à natureza de todas as expressões de 'autoridade' no múltiplos setores da sociedade e, portanto, inevitavelmente, na instituição escolar. A discussão sobre 'autoridade' é refletida na análise educacional sob a perspectiva de comprometimento da individualidade e autonomia dos educandos, propondo, em antagonismo, uma única solução aceitável, qual seja, uma educação a reivindicar absoluta independência da escola face ao Estado. 
Os sistemas didáticos e pedagógicos nacionais são considerados estratégias de manipulação ideológica e mecanismos de manutenção do poder pelas classes dirigentes. 
Se o Estado transmite, através de um planejamento nacional de educação, a ideologia dominante, ele promove, por efeito, um modelo de socialização restritivo do poder dos sujeitos desse sistema, comprometendo, assim, o seu efetivo auto-desenvolvimento.
Pode-se afirmar, o principal objetivo da Educação (conforme as configurações tanto anarquistas quanto marxistas) seria a capacitação dos educandos voltada à livre escolha de dogmas, afastada de preconceitos ou
constrangimentos de ordem moral, de modo a assegurar as metas e ambições de cada um. 
A radicalidade, no caso, preconiza uma educação sem programa pré-determinado (quando o professor "ensina" o conteúdo por ele próprio considerado relevante, somente preocupado em corresponder às expectativas e exigências dos educandos relacionadas ao procedimento da aprendizagem). 
Assim, o principal legado das ações anarquistas e marxistas voltadas à mudança auto-dirigida da consciência é a intransigente defesa das escolas livres e até mesmo da 'desescolarização', contestando a soberania estatal da Educação, e refutando o seu conceito fundamentado no exercício da autoridade e da imposição. 
O grande objetivo do marxismo é promover a emancipação e a autossuficiência crítica, através do fim da sociedade capitalista, por meio de uma novo ordenamento dos meios de geração de riqueza.  
Afinal, consoante a ótica marxista, as diferenças de poder entre as pessoas estão assentadas na assimetria da distribuição dos meios de produção.
Não por menos, a proposta marxista de alteração da sociedade passa necessariamente pela revolução. E neste contexto, a educação ortodoxa, infensa a inovações, não é um agente de conversão social.
Revolucionar pressupõe, pois, medidas garantidoras (pela dinâmica diversidade de planejamentos escolares) da mais profícua mudança: a da intervenção auto-dirigida nos planos da escolaridade institucionalizada. 

(Caos Markus)

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

TERÇA-FEIRA, 3 DE SETEMBRO DE 2013: "SIGNIFICÂNCIA DO CAPITAL CULTURAL"



A autonomia da cultura nas sociedades contemporâneas é um tema que desperta opiniões antagônicas Nas ciências sociais. Tanto há denúncias de submissão de bens e práticas culturais aos interesses das classes economicamente favorecidas (revelando como a cultura pode ser acionada para garantir a perpetuação do poder dos estratos dominantes), quanto entende-se a cultura dotada de caráter autônomo, cuja dimensão não pode ser reduzida à estrutura social externa.
Ao ampliar o campo de análise, no entanto, a tarefa de estabelecer relações precisas e coerentes de equivalência ou oposição entre todos os elementos culturais se mostrou impossível de ser realizada, em razão de inúmeras incoerências e contradições irredutíveis a qualquer tentativa de formalização, desautorizando a convicção em uma única lógica subjacente às práticas sociais e aos produtos simbólicos de uma mesma sociedade.
Para alcançar uma concepção mais abrangente, faz-se necessária a incorporação de duas ideias centrais na teoria marxista. Inicialmente, observar a estruturação da sociedade em classes sociais; em seguida, notar as relações de luta entre as classes. Essa nova orientação teórica leva ao questionamento das teses antropológicas subjacentes ao estruturalismo, formulando críticas acerca da origem da teoria da prática.
Com efeito, o espaço social se identifica como um campo de forças, ou seja, um conjunto de relações de força objetivas impostas a todos os que nele entrem, marcadas pela irredutibilidade das intenções dos agentes individuais, ou mesmo das interações diretas entre os eles. E esses indivíduos motivadores são definidos por suas posições relativas no espaço social, considerando o volume de capital econômico, cultural e social agregado aos diversos campos nos quais os sujeitos se fazem presentes.
O capital cultural assume o significado de poder não entre seus autores, mas sim entre tais posições. 
O conhecimento da posição ocupada nesse espaço comporta uma informação que considera não apenas as propriedades intrínsecas (condição), mas também as propriedades relacionais (posição) dos executores.
O espaço social tem sua dinâmica definida pela proposição do conceito de 'campo', diretamente correlacionado à posição de grupos de pessoas atuantes, de acordo com e quem o ocupa. Sua forma é guiada por um estado de maior ou menor equivalência de forças entre indivíduos e instituições, inclinados sobre a distribuição do capital específico acumulado no curso das lutas anteriores, a orientar as estratégias ulteriores.
O campo, então, constitui uma parte do espaço social, e a despeito de tal inserção, é regido por leis próprias, autônomas, sem interdependências.
Assim, longe de representar a subjetividade individual, as preferências são uma espécie de objetivação interiorizada, invariavelmente condicionada à trajetória social dos indivíduos, a fórmula geradora situada no princípio do estilo de vida.
Finalmente, para assegurar a reprodução social das opções de cada classe e, dessa maneira, perpetuar o comando das classes economicamente superiores, é relevante a fundamental contribuição do sistema escolar, sempre possibilitando a supremacia simbólica dos princípios práticos das predileções. Pois, tanto a escola quanto a família são investidas do poder delegado de impor um arbitrário cultural, na medida em que se propõem a reger uma aprendizagem da cultura por elas valorizadas.
 
(Caos Markus)
 

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

SEGUNDA-FEIRA, 2 DE SETEMBRO DE 2013: "IMAGENS E ARTIFICIALIDADES NO DISCURSO IDEOLÓGICO"



Reivindicar uma ética antropocêntrica, capaz de dignificar o existir humano, sua cultura e capacidade de projetar a organização de uma sociedade igualitária, pressupõe, entre outras coisas, apontar os obstáculos ao desenvolvimento deste projeto em uma época precisa da história. 
A indicação desses empecilhos só é possível considerando o precedente conhecimento a respeito da índole, da personalidade do povo ao qual se postula tal exigência. 
Ora, uma cultura nacional é um discurso de criação de identidades ao elaborar significados sobre a 'nação' onde determinado povo pode se reconhecer.
A constituição de valores e acepções culturais está inserida na história dessa nação, propagando-se pela memória dos articuladores do seu presente com o passado, relacionando-a às imagens forjadas ao longo do seu desenvolvimento. 
Ao se falar de obstáculos, sob a ótica econômica, sabe-se, é inegável, o mundo capitalista levou às últimas consequências a chamada 'alienação', compreendida, genericamente, na separação do trabalhador em relação aos meios de produção, matérias-primas, a terra, as máquinas; e observada, principalmente, face ao seu distanciamento da cultura e educação, transformadas em propriedade privada do capitalista.
Do ponto de vista político, o homem também não deixou de se alienar. Isto porque se estabeleceu o princípio da representatividade, sustentáculo do ideário liberal, a projetar uma concepção de neutralidade estatal, atribuindo-se-lhe a responsabilidade de refletir toda a sociedade, governando-a através do poder procedente dos seus indivíduos. 
Por demais conhecido, na sociedade burguesa, esse Estado configura apenas a classe dominante, e suas ações estão voltadas, obviamente, aos interesses deste estrato.
Vivendo assim, apartado do contexto integral da sociedade a que pertence, cindido e mutilado, este ser social só poderá recuperar sua condição humana usurpada através da crítica permanente e radical ao sistema econômico insano, à política, à filosofia e à ideologia burguesa, excludentes de sua participação ativa e efetiva no destino nacional. 
Essa crítica não se opera apenas reclamando-se um impreciso referencial teórico; ela se consolida na práxis, ou seja, através da ação política, dialética e consciente, capaz de promover real transmutação.
Parece bastante claro, a tardia modernidade produzida no Brasil tornou possível a reflexão sobre determinadas artificialidades presentes nos seus processos culturais.
Não por outras razões, somos, sim, simultaneamente, o que escolhemos ser e o que podemos ser.
Assim, o discurso ideológico produzido pela nação brasileira é perceptível enquanto narrativa concedente de unidade e sentido ao historicamente conflituoso, caótico e fragmentado.
A questão das implicações éticas e étnicas do problema nacional brasileiro exige inovar sua mediação, através da retomada crítica do encontro societário, aqui permanentemente produzido sob execrável imutabilidade dos seus mais variados conflitos.
 
(Caos Markus)

terça-feira, 27 de agosto de 2013

DOMINGO, 1 DE SETEMBRO DE 2013: "RE-CONCEITO NA SEGREGAÇÃO"


(dedicado aos cubanos profissionais da Medicina, cuja consciência humanizada defende-se da discriminação com seu trabalho em prol do bem-estar das minorias excluídas da  cidadania, suprindo a omissão de imensa maioria de colegas mercantilistas)
 
A composição do preconceito e a evidência das discriminações dele decorrentes, duplamente associadas à condição de emergência das diferenças, ocorrem tanto pela afirmação e manipulação da condição da desigualdade quanto por sua insistente negação ou dissimulação. Em ambos os casos, o não reconhecimento das diversidades, ou a falta de respeito a elas, se fazem presentes, criando novos padrões de violência.
Refletir acerca desse elo entre o preconceito e a violência é enfatizar as diversas formas de discriminação e exclusão, compreendendo os parâmetros jurídicos em relação a 'co-existir' e a 're-conhecer'; é observar as ciências sociais diante da criação dos contrastes; é destacar os fundamentos conceituais da categoria 'preconceito' e suas variáveis, relacionadas à rejeição e exclusão social; é identificar os mecanismos do 'preconceito' e as correlações 'divergência–preconceito', 'imagem e racionalização' do outro.
A categoria social da includência/inclusão, neutralizada pelo valor negativo atribuído pela condição da separação (de cor, raça, sexo, classe etc.), tem sido a marca da sociedade brasileira durante séculos, a resultar numa sociedade hierarquizada, onde distintos segmentos não têm acesso a deveres e direitos, além de reger suas relações por dissemelhantes 'códigos de honradez'.
Como somos uma República, tais disparidades, no entanto, se tornam objeto de estigma, não sendo capazes de despertar um sentimento de universal admissão enquanto legítimos símbolos de conduta.
Do ponto de vista jurídico, temos uma sociedade que prega -como signo do preconceito- a idealização desprovida de identidade na pluralidade de seus membros, acatando apenas o acesso particularizado de alguns, seja aos bens materiais, seja aos bens culturais, em valoração positiva à desigualdade substantiva de todos os seus partícipes. Uma sociedade fadada à instauração da violência nas suas nuances materiais e emblemáticas.
O preconceito se contrapõe às qualidades de caráter, como 'lealdade', 'compromisso', 'honestidade', os propósitos afirmativos de valores atemporais.
As demandas nos múltiplos espaços das inumeráveis instituições sociais são fugidias e contrapostas às qualidades humanas que podem significar experiência acumulada e motivações de homens e mulheres decididos a provar seu valor através da efetiva participação na multiplicidade de setores institucionalizados. 
Pela sua sutileza, caráter difuso e visibilidade de intromissão nas relações sociais, a eficácia e a ubiqüidade do preconceito são máximas, tanto em relação às práticas de controle, como às de dominação e subordinação em todas as categorias sociais. Manifestam-se como produtoras e reprodutoras de situações de controle, menosprezo, humilhação, desqualificação, intimidação, discriminação, fracasso e exclusão nas relações, inclusive, entre os gêneros, na esfera do trabalho, nas posições de poder, nos espaços morais e éticos e nos lugares de enunciação da linguagem.
E, ainda mais danosas, pois tão-somente forjadas em simulacros, surgem, muitas vezes, minadas pela chantagem afetiva ou disfarçadas por aparências afetuosas, atingindo drasticamente a auto-estima e a condição sócio-moral dos indivíduos alvos da segregação.
Já nessa dimensão, bastante imperceptível quanto de fato veraz, o 're-conceito' esconde o 'pré-conceito', sem, todavia, inovar, mas, ao contrário, re-afirmando o predomínio da arbitrária autoridade soberana.
 
(Caos Markus)

SÁBADO, 31 DE AGOSTO DE 2013: "VALORES E ATITUDES DA ÉTICA"




Na sociedade pós-moderna, a palavra ética vem adquirindo contornos diferentes. As pessoas, ao ouvirem-na, logo pensam em um código de deveres, em um fardo pesado, causador do reducionismo da vida, tornando-a sem qualidade. É necessário, antes, conhecer as variadas concepções sobre a 'ética'.
Sabe-se, ela está diretamente vinculada aos princípios e valores determinantes da conduta humana em relação ao meio.
A mudança do campo para a cidade, por exemplo, já alterou o conceito de ética 'pessoal' e 'coletiva'. Quando um enorme contingente de indivíduos deixa o campo para viver nas grandes cidades, nessas metrópoles, o comportamento humano é, com razoável rapidez, fragmentado pela confusão de papéis, no conturbado cotidiano de valores e (des) valores a compelir os seres humanos, dia após dia. Faltam, então, discernimento, educação e responsabilidade. Bastam a distração e o gosto pessoal para as normas perderem o sentido e a ética cair em desuso. A lei, encarregada de disciplinar o comportamento social, e os instrumentos de orientação para a cidadania, perdem sua razão de ser.
A 'ética' é, primordialmente, a transformação de valores em ação.
Como se pode observar, há um consenso na afirmação da ética como algo referente ao procedimento humano, orientado por regras de bons costumes na convivência em sociedade. Nota-se, entretanto, a impossibilidade de delimitar 'como' e 'o que' são essas práticas, ou a exata determinação do 'certo' ou do 'errado', posto isso depender do ambiente no qual o indivíduo estará inserido. Suas atitudes serão estabelecidas pelo tempo histórico, pela localização, pela sociedade na qual ele vive. E sua atuação
será definida pelo contexto por ele ocupado. 
Assim, discutir o critério de moralidade, pressupõe um agir moralmente de acordo com a própria consciência, afastando-se o relativismo na interpelação da ética. Isso significa incorrer na teoria do subjetivismo ético, porque imprimem-se aos valores ou juízos éticos a dependência da aprovação ou reprovação da pessoa a emitir tal juízo, e não da sociedade da qual também faz parte.
O subjetivismo parece estar muito bem relacionado à nossa realidade, em se tratando de ética. 
Essa teoria traz à evidência, porém, a restrição da possibilidade de discutir-se coletivamente o assunto. Com efeito, vez que cada indivíduo tem o direito de ter sua própria opinião, não se pode entrar no mérito de 'certo' ou 'errado', pois cada um decidirá sobre suas próprias questões, uns impondo aos outros sua particularíssima solução enquanto ética exclusiva.
Com a massificação e o autoritarismo dos meios de comunicação e das políticas, torna-se preocupante se os homens, mesmo cientes de seu papel fundamental como executores da moral, conseguem agir eticamente. Indaga-se até que ponto é possível o homem contemporâneo poder escolher entre o bem e o mal.
Por isso, é surpreendente a visão de alguns indivíduos, enxergando a ética como algo absolutamente imutável. Tal abordagem vê na ética um atributo registrado no caráter, ao tempo do nascimento de cada um, infensa a qualquer reforma, mesmo sob inimagináveis acontecimentos dotados do poder de influenciá-la, tudo como se fosse uma lista pré-definida de bons comportamentos, proporcionando a 'atitude ética' somente aos aptos a segui-la.
Ao contrário, todavia, quem verdadeiramente desejar ser ético, deverá se preocupar com a comunidade e o contexto histórico-social do âmbito onde está igualmente inserido.
Afinal, o que ele considera ético em determinada situação, estará sempre sujeito a variações noutra ocasião.
 
(Caos Markus)

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

SEXTA-FEIRA, 30 DE AGOSTO DE 2013: "A AGONIA NA SUPRESSÃO DO DIÁLOGO"






A ideia de ausência de significado sócio-cultural no mundo contemporâneo traz à consideração um refletir sobre as condições de existência do homem moderno a partir das várias transformações, sobretudo no âmbito econômico, ocorridas na sociedade desde o advento da Revolução Industrial. Essas transformações fortaleceram ainda mais a lógica do capitalismo, sobretudo a partir das descobertas científicas e da evolução tecnológica, o que colocou em xeque a própria autonomia do sujeito e, como consequência, tornando-o cada vez mais desumanizado, desorientado e reificado. O humanismo deu lugar à razão técnica e, consequentemente, as novas gerações passaram a orientar-se por valores mercadológicos. Tal dinâmica econômica, baseada no modo de produção capitalista, exige dos indivíduos um comportamento cada vez mais competitivo e individualista. Desdobramento dessa situação, coloca as pessoas numa conjuntura marcada pela dificuldade do exercício do diálogo, constituindo-se em absurda impossibilidade de troca de experiências comuns, numa época hostil às relações comunicacionais. O intersubjetivo ou é suprimido ou é visto através da lente subjetiva de um ‘eu’ central. Com essa interiorização, o tempo presente e “real” perde seu domínio exclusivo: passado e presente desembocam um no outro; o presente externo provoca o passado recordado. Na esfera intersubjetiva, o fato re stringe-se a uma sequência de encontros, meras guias do verdadeiro fato: a transformação interna. Essa mudança formal é entendida como reflexo do enfraquecimento das relações dialógicas no mundo contemporâneo. O diálogo e a ação, ambos derivados de relações intersubjetivas, fenecem. O indivíduo encontra-se numa espécie de crise de identidade, ao mesmo tempo em que a procura desesperadamente. Em face da morte, desaparecem também as diferenças intersubjetivas e, assim, a confrontação entre homem e homem. Frente à morte desse cenário, contrapõem-se, atônitos, sujeitos anônimos que, mudos, não vislumbram qualquer indício de renascimento.
Suicídio? Não. A agonia de enfermos acometidos por moléstia não diagnosticada precocemente, os sintomas da falência múltipla de multidões afastadas da subjetividade, através da supressão do diálogo, ante a impossibilidade do intercâmbio de experiências e do estabelecimento de vínculos comunitários do mundo moderno. Em seu lugar, o vazio do ‘tudo’ conquistado, mediante o ‘nada’ do ser anulado.

(Caos Markus)

domingo, 25 de agosto de 2013

QUINTA-FEIRA, 29 DE AGOSTO DE 2013: "DEMÉRITO QUALIFICADO"



O encantamento ou a negação como procedimentos humanos remontam, certamente, aos primórdios da civilização, não obstante as exceções, sempre prontas a identificar o 'ser' em seu âmago, recusando qualquer dogma de liberdade embasado no pretenso atributo do 'não ser' e do 'não estar'. Porque, sabe-se, é inadmissível "neutralidade", quando 'liberdade' é comprometimento com a natureza universal; é pertencer; é o engajamento com a vida, pela resolução dos seus problemas morais e sociais.
O "desligamento", a desvinculação, formas de uma pretensa e vaga "neutralidade", são mais que isso, elaborados artifícios comumente utilizados para couraçar, evitando-se ouvir a razão e preterindo-se a sensibilidade. Arma poderosa, a "psicologia de massas", trata de condicionar as multidões no alheamento, fazendo-as crer numa superioridade conquistada no esoterismo alienante. Lideranças políticas e religiosas têm compreendido como imbatível estratégia, na conquista e manutenção do poder, a disseminação de "filosofias" exóticas, a assegurar um inconformismo desprovido de circunspecção, mais inclinado à volubilidade.
Anular a capacidade de reação, substituindo-a pela sujeição a modelos presunçosamente libertários, não é só mera concepção; é antes de tudo instrumento de "condução". Assim é que os excluídos da 'felicidade' procuraram na "auto-ajuda" uma receita para aplacar a angústia, invariavelmente através de meios sequer paliativos, de curto alcance, mas distante da realidade o suficiente para preservar os privilégios de tantos quanto, no poder, conhecem muito bem e aplicam melhor ainda os instrumentos de manipulação, esta habilidosa forma de induzir incontáveis pessoas à auto-exclusão.
O mérito, todavia, jamais será dos 'ilusionistas' a quem se atribui grande força de persuasão. Ao contrário, o talento desses estrategistas é fruto do demérito qualificado na passividade dos egoístas omissos.

(Caos Markus)

TERÇA-FEIRA, 27 DE AGOSTO DE 2013: "NEGAR PARA AFIRMAR"




A temática do niilismo certamente não é de fácil abordagem. De caráter esquivo, ambíguo e pouca clareza, o niilismo parece não aceitar definições e usos precisos, fixos e seguros. Trata-se de concepção cuja abordagem dever ser feita em seus aspectos sócio-históricos. O questionamento principal diz respeito às formas (em termos de imaginário) através das quais os sujeitos sociais lidam com propostas atuantes do rompimento de valores, instituições e sentidos pré-existentes em suas sociedades.Seus sintomas atingem inclusive a política, cujo projeto atual está esgotado.O reconhecimento do niilismo enfatiza a crise de valores atingindo uma escala global. O homem contemporâneo substitui a autoridade divina pela História, pelas tecnologias, a razão e o pretenso progresso. Iludido de ser livre em função das possibilidades oferecidas pela sociedade de consumo, esse homem tem no individualismo o cerne de suas relações sociais, apesar de um discurso vago e propagado de solidariedade, numa era de democracia digital. Nos sintomas do niilismo em nossas instituições, nota-se a pouca confiança dos seus partícipes, a restrição sempre maior dos espaços de práticas sociais solidárias, interativas, e a preocupação egoísta através dos simulacros de si mesmos, expressando o vazio de nossa sociedade. Analisando a política atual sob a ótica dessa investigação, confirma-se como o projeto político da modernidade está esgotado, apoiado em valores de uma moral que perdeu seu sentido. Radicalizar o niilismo, contudo, é a única forma de superá-lo. Negar agora para afirmar a mudança possível. A dificuldade está em apreender a consciência da dissolução em nossas experiências valorativas, não obstante sua capital importância diante das causas excludentes da vida nesta sociedade segmentada nas ruínas desta civilização.

(Caos Markus)

SEGUNDA-FEIRA, 26 DE AGOSTO DE 2013: "APRENDER A ENSINAR"



A alfabetização na perspectiva construtivista é concebida como um processo de construção conceitual, contínuo, iniciado muito antes de a criança ir para escola, desenvolvendo-se, simultaneamente, dentro e fora da sala de aula.
Alfabetizar é construir conhecimento. Portanto, para ensinar a ler e escrever faz-se necessário entender: aos alfabetizandos se apresentarão dois processos paralelos, onde a criança procura ativamente compreender a natureza da linguagem falada à sua volta, para, logo após, formular hipóteses, buscando regularidades; e colocando à prova suas antecipações, criar sua própria gramática, quando então, ao tomar contato com os sistemas de escrita (mediante processos mentais), praticamente reinventa esses sistemas, realizando um trabalho concomitante entre assimilar a construção e adquirir clareza de suas regras (de produção/decodificação).
Toda criança passa por níveis estruturais da linguagem escrita até se apropriar da complexidade do sistema alfabético. Tais estágios são caracterizados por esquemas conceituais, distantes de simples reproduções das informações recebidas do meio. Ao contrário, constituem-se em processos construtivos, onde o "aprendiz" considera parte da informação recebida, introduzindo sempre algo subjetivo. 
Importante salientar, a passagem de um nível a outro é gradual e dependente das intervenções do docente.
Durante longo tempo, a alfabetização infantil foi observada como a aquisição de um código fundado na relação entre fonemas e grafemas. Hoje se sabe, muito mais complexo se apresenta o processo de aquisição da linguagem escrita.
As intervenções pedagógicas devem ser reavaliadas, pois o importante é discernir o desenvolvimento das ideias do aluno sobre a escrita como um processo evolutivo. Ele não pode ser "mensurado" a partir das dicotomias "sabe ou não sabe", "pode ou não pode", "se equivoca ou acerta". A importância, ao contrário, está em perceber o avanço apresentado, mesmo com os "erros", se comparados à escrita adulta. 
Assim sendo, o docente deve propor-se a análise com mais sensibilidade, interpretando sempre de maneira positiva a produção gráfica dos educandos.
Enfim, é preciso ter segurança no que se faz em sala de aula. Para isso, é indispensável ao educador ser, também ele próprio, um aluno. Aluno que deve 'aprender a ensinar'.
(Caos Markus)

QUARTA-FEIRA, 28 DE AGOSTO DE 2003: "A HISTÓRIA DO BRASIL CONTADA EM DÓLARES"




AMERICANOS INVESTEM EM EDUCAÇÃO SUPERIOR NO BRASIL


Várias mídias divulgaram a aquisição ou incorporação da Universidade Veiga de Almeida pelo Grupo Norte Americano Whitney de investimentos no setor de educação superior.

O mesmo grupo, há 6 anos, comprara, em Salvador/ BA, o Centro Universitário Jorge Amado. O Whitney também investe em vários países da América Latina, tais como: Argentina, Chile, Colômbia e Panamá.
O seu representante  no Brasil, João Arinos, afirma que a empresa quer adquirir outras instituições no país, e já possui autorização para funcionar na modalidade de ensino a distância em São Paulo e Curitiba.
Originário de Dallas, pretende atingir a marca de 200 mil alunos no Brasil. Para alcançar este objetivo, planeja  a aquisição de três universidades em São Paulo, uma no Nordeste, uma no Centro-Oeste e mais uma no Sul, até o fim de 2013.
Dentre os maiores grupos de ensino superior no Brasil aparecem os grupos Kroton,
Anhanguera, Laureate e Estácio, que, juntos, somam cerca de 600 mil alunos.
Só a Universidade Veiga de Almeida possui cerca de 20 mil alunos em suas salas de aula.
Para quem acompanha com interesse a questão da educação no país, são preocupantes tais notícias.
Também uma das instituições de ensino superior privado mais cobiçadas do mercado, a paulistana FMU, foi vendida, por R$ 1 bilhão, para a rede americana Laureate, que já é dona da Anhembi Morumbi. 
Essa é a maior transação realizada no setor desde a fusão que criou, em abril, o maior grupo de educação superior do mundo, com a união de Kroton e Anhanguera. A FMU tem cerca de 90 mil alunos e faturamento bruto estimado para este ano de R$ 450 milhões. Embora não esteja no topo do ranking das maiores instituições privadas do País, a FMU sempre despertou o interesse dos concorrentes por ser uma marca forte no mercado mais importante para o setor de educação. Ela tem em torno de 40 prédios só na cidade de São Paulo.
Sabe-se que o desenvolvimento do país está intimamente ligado à melhoria da educação.
Contudo, como matéria estratégica para a identidade nacional, é adequado deixarmos grupos estrangeiros assumirem o controle das educação superior em nosso território ? Afinal, a soberania do país não não poderia sofrer maior violação do que esta: a rendição das Universidades ao capitalismo financeiro do neoliberalismo, no mundo globalizado dos cartéis.
A Universidade Veiga de Almeida, por exemplo, possui a cadeira de História entre seus cursos oferecidos. Como ficarão os temas desta cadeira tendo na direção interesses estrangeiros?

(copydesk, Caos Markus)