Páginas

sábado, 20 de outubro de 2012

QUARTA-FEIRA, 24 DE OUTUBRO DE 2012: 'QUEM VÊ"



 
Quando fixas o teu olho no do teu inimigo

e é a ti mesmo quem vê,

é então que encontras a misericórdia.


(Caos Markus)

TERÇA-FEIRA, 23 DE OUTUBRO DE 2012: "ILHA"



Todo homem é, sim, uma ilha,

cercada de outras tantas ilhas,

por todos os lados.

Conviver é admitir a existência

desse admirável arquipélago.


(Caos Markus)

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

SEGUNDA-FEIRA, 22 DE OUTUBRO DE 2012: "A DIVINA EXPLOSÃO"




O retorno ao passado, no que ele representou de mais conservador, parece ser a meta de um futuro próximo.
Retroceder ao tempo de um Estado soberano, formal e essencialmente burocrático, onde nação é mero pretexto e nunca um sincero propósito, tem sido habitual em nossos dias. No dizer de Medard Boss, "a verdadeira, a grande bomba atômica já explodiu séculos atrás; falamos daquela bomba atômica espiritual, a qual começou a atomizar e pulverizar nosso mundo, quando as ciências naturais-analíticas declararam serem as coisas de nossa terra e de nosso céu um simples acúmulo de massas moleculares e de movimentos ondulatórios, e assim as destruíram como coisa que eram até então".
Ao passo em que os avanços da tecnologia moderna deveriam propiciar um progresso generalizado e extensivo à toda população do planeta, exatamente o contrário é que mais corriqueiramente se verifica desde a expansão econômica advinda com a Revolução Industrial, demonstrando ser expressão da verdade a consideração de que "os meios pelo homem criados para aumentar seu bem-estar, notadamente os que lhe dão mais força ou segurança, são naturalmente aqueles que ele vai utilizar para se fazer mais forte na guerra, a fim de dominar ou tentar dominar os outros".
Pois, é justamente quando o aparato das ciências aplicadas atinge o seu maior estágio que a humanidade se percebe totalmente desprotegida, vítima da miséria e da violência.
O homem, de tanto acreditar no que era capaz de fazer, muito pouco realmente fez de bom para si mesmo, esquecendo-se de sua necessária integração à natureza que paulatinamente vem buscando transformar.
Marcados pela avareza - típico sinal de uma pretensa modernidade -, deveríamos ouvir do pretérito o que de melhor ele teve. Assim, nunca é demais a advertência, ainda que simbólica, de um Dante Alighieri, em sua "A Comédia" (mais tarde chamada de "divina"):
"Eles se hão de embater na eternidade:/Ressurgindo, uns terão as mãos fechadas, / Os outros de cabelo pouquidade./Por dar mal, por mal ter viram cerradas/Do céu as portas; penam nesta lida,/Com mágoas, que não podem ser contadas".
O progresso não tem sido acompanhado de evolução, antes ele tem somente possibilitado uma suposta maturidade.
As divergências de interpretações várias não estão mais subordinadas a um consenso inevitável; como uma necessidade do progresso, no que entre nós se instalou enquanto "o domínio sem controle do livre arbítrio".
Sendo "as leis relativas á existência humana tão verdadeiras como as regentes de todos os outros aspectos da natureza", o seu desprezo tem acarretado o insuportável ônus de uma espetacular deterioração da sociedade humana.
A teoria do eterno retorno, apregoada pelos nihilistas, não é de toda inaceitável: sem nenhum melhor critério, estamos voltando à sucessão de episódios que, bem o sabemos, só fizeram difundir a negação da supremacia humana na terra.
Essa insustentável leveza do ser já foi comparada à fragilidade da própria história que "é tão leve quanto a vida do indivíduo, insustentávelmente leve, leve como uma pluma, como uma poeira que vai desaparecer amanhã", na observação de Milan Kundera.
A cada novo instante, mais submissos todos estamos, em severa subordinação à nossa surpreendente insignificância diante daquela que ainda hoje nos é de toda incompreensível -a mente humana.
Buscando reduzir o assombro, projetamo-nos como deuses onipotentes, onipresentes e oniscientes, não percebendo que "todo querer não é outra coisa que uma procura de compensação, que um esforço visando sufocar o sentimento de inferioridade". E a sombra dessa projeção indica nada mais que o nosso reduzido tamanho incapacidade para uma reflexão mais séria sobre a existência da humanidade; um olhar para o seu destino a partir do livre arbítrio e suas nefastas conseqüências.
Definitivamente, não somos felizes. Por que?
Talvez, porque não é incorreta a assertiva: "o coração tem razões que a própria razão desconhece". Porém, com uma imprescindível ressalva: não entendemos absolutamente nada de "coração". Conhecemos o sistema solar, a via-láctea e muito mais, mas, absurdamente, o universo interior de cada um de nós é enigma jamais decifrado.
É de considerar-se oportuna a advertência de Medard Boos:
"As pessoas que mais temem a morte são sempre as mesmas que mais têm medo da vida, pois é sempre o viver da vida que desgasta e põe em perigo o estar-aí".
Não vocacionado para a paz, o homem moderno quedou-se ao silêncio da omissão, um desventurado procurando a felicidade no desmesurado do qual fez o seu inviolável refúgio.
Inapto à vida em plenitude, o seu suicídio se opera de forma lenta e gradual, através de um vago mecanismo de defesa, consistente na recusa sistemática daquilo que lhe é essencial -o amor. Este também no mais amplo sentido, a nortear a sua breve passagem por este mundo.
Regredir é a conduta dos temerosos, de tantos quantos renunciam à vida em seu próprio nome.

(Caos Markus)

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

DOMINGO, 21 DE OUTUBRO DE 2012: "O SIMULACRO DA FAMA"



Ao gosto dos mais eruditos, assim compara a expressão latina: "Nec solo nostro imperio milita re credimus, ilos, qui gladiis, clypeis, et thoracibus nituntur, sed etiam Advocatos: militant namque causarum patroni, que gloriosae vocis confisi munimine, laborantium spem, vitam, et posteros defendunt."
Obviamente, como nem o Português ainda dominamos, e de cultura somos ainda mais pobres do que outras carestias várias, melhor mesmo é assumir a ignorância e identificar a fonte da latinada: "Dicionário de Latim Forense", de Amilcare Carletti. Trata-se de uma dessas obras com que determinados sujeitos gostam de usar e abusar com "adjetivo', pensando impressionar magistrados que se dão por felizes quando têm tempo de ler, em rebuscadas linhas de 'portugueis tupiniquim', as 'exordiais', os 'embargos infringentes' e aflitivos da montoeira enorme de processos e processos, e mais processos. Assim, como de médico e de louco, como de advogado e de tapado todo mundo tem um pouco... está na hora de termos, também, um pouco de tradutor e intérprete, e passar para o povaréu, que se impressiona com qualquer coisa - sempre que dita com ar professoral -, o significado da aguçada observação do filósofo (será mesmo?), autor das belas palavras, que são lindas justamente porque a sua beleza consiste no efeito, na impressão, muito mais que realmente pela expressão. Mas, vamos lá: "Não acreditamos que no nosso império militem somente aqueles que se tornam fortes (no manuseio) das espadas, nos escudos, nas coraças, mas também os advogados; porque militam os defensores das causas, os quais confiando no auxílio da palavra gloriosa, defendem a esperança dos atormentados, e a vida e a posteridade."
Êta beleza! De posse de uma carteira da O. A. B., das prerrogativas do advogado (mais encontradiças no Estatuto da O. A. B.), e de um comentário em latim, como é o caso desse belo exemplar, qualquer um do povo poderá sentir-se convicto de estar cumprindo o honroso mister de distribuir... arrogância e prepotência. E daí? Quem não tem cão caça com gato, e quem não tem dinheiro gasta com poder. E é por esse e outros motivos semelhantes que eu sinto falta da Alice da minha infância pobre no interior do meu agreste e recôndito ser. No país da fantasia, estória era só o que a minha mãe me contava, parece que já antevendo o meu estado delirante, vítima de hipersinestesia, notívago e insone. Hoje, de olhos abertos, arregalados, minha vigília é para não crer em fábulas econômicas, em onomatopéias discursivas, em ideologias desvairadas de ilhas fantásticas.
Então, sôfrego, procuro a verdade nos antigos poetas alemães, nihilistas quase sempre, porém jamais intolerantes. É quando encontro num Wertheimer Von Krause, por exemplo, a esperada explicação para o sentimento universal traduzido pelos germânicos como 'Wille zur Macht', isto é, a afirmação do poder do "Eu". Pois, sob o pretexto refutável do estabelecimento de uma sinarquia, os sengos são forçados à convivência com a sorna da mais nova sóbole, grandiloqüente, porém nada mais que a aglutinação de somelgas sinagelásticos ocultando, em formidável simulacro, o destino de sinuelo reservado a tantos quantos obedeçam o seu sinistrismo.
Impressionante!! O que não é capaz de fazer um homem obstinado com a falsa idéia da fama!
Que fale agora Von Krause: "Spielzeug nicht geeignet für Kleinkinder unter 3 Jahren. Die Kleinteile könnten verschluckt oder eingeatmet werden". Afinal, as impressões álgicas multiformes - de compreensão, distensão, avulsão, ardor - são todas derivadas das chamadas sensibilidades profundas, motivo pelo qual as idéias dualistas de Goldscheider frutificaram em concepções que explicam a dor como sendo essencialmente uma reação talímica, produzida de vez em quando tardiamente na escala zoológica, compreendida entre os fenômenos afetivos e não entre as senso-percepções.
Difícil o entendimento? Só para quem não conhece a profundidade do pensamento germânico contemporâneo, sem dúvida alguma a marcar toda a doutrina política da atualidade, tal a influência na Psicologia das massas, invariavelmente impregnadas de lúdicas estratégias do 'marketing'.
Mas... Já é hora de assumirmos novamente o quase sempre ingrato ofício de 'tradutor', e dar ciência à massa ignara (que também não sabe o que isso significa) da filosofia de um vago Wertheimer Von Krause, tão incerto quanto alegórico. Pois já não mais faz sentido a mensagem subliminar burlesca, o 'dito pelo não dito' que também nada disse. Se tanto lutamos pela emancipação do nosso povo, e pedimos 'diretas-já', e exigimos a deposição dos fraudulentos que conspurcavam a nação aviltada, se o nosso passado é de glórias, gloriosamente admitiremos a nossa ignorância, em primeiro e definitivo passo para o aperfeiçoamento moral do idioma luso-latino-franco-germânico-anglo-brasileiro-ianomâni, abolindo as fronteiras dos galicismos, anglicismos, e todos os demais 'ismos' que enodoam a cultura nacional de Pindorama.
Assim falou Zaratrusta! E assim falou Von Krause: "Brinquedo não apto para menores de 3 anos. As peças pequenas poderiam ser ingeridas ou aspiradas".
Agora, enobrecidos pela cultura popular do 'kinder over', já podemos respirar aliviados, todos bastante convictos de estar cumprindo, também, o honorável mister de distribuir gratuitamente a presunção característica da idiossincrasia bandeirante. E não se fala mais nisso.

(Caos Markus)