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terça-feira, 13 de setembro de 2011

QUINTA-FEIRA, 13 DE OUTUBRO DE 2011: "RELATIVIZANDO A HONESTIDADE"

O óbvio repensado em nova linguagem, eis a genialidade. O antigo anunciado como se fosse inédito, eis a mediocridade.
Em nome de suposta imparcialidade, intelectuais (respaldados pela chamada grande imprensa, autodenominada 'independente') discutem Brasil afora o sexo dos anjos, pretendendo descobrir quem nasceu primeiro, o ovo ou a galinha. Menosprezando a alheia capacidade de discernimento, o faz-de-conta de encontrar a corrupção em tudo e em todos, menos onde ela sempre esteve, isto é, na cabeça de cada ser humano. Em messiânica e ao mesmo tempo quixotesca investida, supostos pensadores de uma hipotética nova era dimensionam tragédias humanas sob a ótica reformista, tão própria aos doutrinadores. E toda veemência das causas cede lugar ao sensacionalismo das consequências.
Ora, lidar com os efeitos é, seguramente, apoiar os que só fazem colaborar com os motivos!
Muito se fala do futuro, como se conjugá-lo fosse prece a deus pagão. Pouco se faz pelo presente, a cada dia, mais uma página virada na história do país. Denunciar, denunciar, denunciar -é o que temos aprendido a fazer. Inspirados na falsa credibilidade daqueles que por ofício têm a arte da acusação, convivemos com as mais disparatadas idéias acerca da verdade, a ponto mesmo de duvidarmos que ela exista. Aliás, fazer com que a mentira esteja sempre em evidência é desprezar demais valores, os positivos, principalmente.
Por que não pensar, então, que confundir é também um processo de dominação?!
Quando a noção de 'delito' já está proscrita, toma-se o conceito de 'pecado'; e vice-versa. Mas em ambas as circunstâncias jamais falta quem se arvore justo e ponderado, a prescrever ou a pena ou a penitência. E assim novamente as mentes são expropriadas, relegando-se a plano secundário a análise na identificação e no reconhecimento das causas de uma transgressão.
Ao que parece, novíssimo status, a honestidade é relativizada, até nos convencermos de que tudo deva ser ilusório e momentaneamente eficaz.
(Caos Markus)

QUARTA-FEIRA, 12 DE OUTUBRO DE 2011: "TRILHANDO COMPROMISSOS"

O ser humano trilha o caminho da vida como se rumasse em meio a um sem número de precipícios numa noite sem estrelas. E por que então o homem não aguarda a alvorada? Não o faz pois, conscientemente ou não, sabe, o dia não despontará. A vida avança sem ele. Quem não faz suas escolhas, deixa ao acaso o cuidado de decidir. Não podemos, entretanto, nos livrar do compromisso que constitui, mais do que 'estar', o 'ser' no mundo. Fala-se muito em 'compromisso', especialmente nos movimentos de ordem religiosa e nas ações políticas. Todavia, o significado concedido a este termo ainda é bastante ambíguo, senão mesmo confuso. Afinal, 'compromisso' contém duas acepções. 'Passivamente', o vocábulo designa o fato de se estar comprometido, ou seja, inserido num sistema do qual se depende. 'Ativamente', expressa o próprio ato do indivíduo, quando alguém se compromete, de maneira encontrar uma condição determinada, onde deverá permanecer. Atualmente, os dois sentidos fundem-se. Pelo fato de nos acharmos comprometidos, devemos nos comprometer sem que possamos permanecer neutros ou passivos, porque 'não se comprometer' é 'outra forma de comprometer-se'. Por outro lado, em consequência do nosso 'comprometimento pessoal', estamos comprometidos muito além do que de fato queremos. Daí a sua importância: ignora-se aonde isso pode conduzir, vez que a fidelidade a um primeiro comprometimento exige, frequentemente, que se vá mais distante do que se 'prometeu' ou 'pretendeu'. Resulta deste comprometimento a cujo respeito não fomos consultados para nada, a 'necessidade' de nos comprometermos 'livremente', apesar da quase absoluta falta de clareza, indispensável a fim de o façamos com sabedoria. (Caos Markus)

TERÇA-FEIRA, 11 DE OUTUBRO DE 2011: "VISÕES DO REAL NA IDEALIZAÇÃO DA REALIDADE"

Em geral, as éticas adotam o princípio segundo o qual os fins não justificam os meios. Verdade é que se estes fossem neutros, jamais seria questionado o problema de sua justificação. Na medida em que são escolhidos em função da sua maior ou menor aptidão para se alcançar o fim, a evidência emerge, ou seja, neles está presente o valor do fim. Obviamente, enquanto tal, um meio pode ser neutro. Contudo, esse meio não existe de fato. A sua existência só se confirma no contexto dos pressupostos que lhe conferem sentido. Porque se escolhe este e não aquele meio, ao menos na sociedade contemporânea, explica-se na racionalidade da ação e do pensamento. Racionalidade que desperta uma clareza da consciência, o básico postulado de toda ação cujo caráter denota reflexão e responsabilidade. Na questão da neutralidade, o que se articula é o conceito de objetividade científica. Mas essa objetividade não existe. Há sim uma objetivação, isto é, a objetividade aproximada, o empenho de conhecer a realidade naquilo que ela é e não como idealização coletiva. O projeto do conhecimento científico é atingir em sua essência a realidade. Um projeto, pois, irrealizável, considerando o nosso efetivo conhecimento do real tão-somente como o vemos. O indivíduo constrói o objeto de sua ciência, enquanto a objetividade não supera a instância onde se situa o ideal. Por isso, sujeito algum a concretiza. Nem mesmo a ideologia escapa à tendência de se almejar aquisição de conhecimentos objetivos, pois não lhe interessam conhecimentos ideológicos, deturpando os fatos favoravelmente a determinados interesses. E como todo conhecimento vem acompanhado de ideologias, é iminente o risco da arbitrariedade. Se por um lado a ciência não derruba os valores, por outro, inexistem critérios de objetividade universalmente válidos, de maneira a permitir neutralidade para todos esses mesmos valores. Apenas os parâmetros de objetivação podem assegurar certa forma de aproximação da realidade, evitando as desfigurações ideológicas. (Caos Markus)

SEGUNDA-FEIRA, 10 DE OUTUBRO DE 2011:"ANGÚSTIA, O PREÇO DA FALSA LIBERDADE"

Exortado em suas origens como a afirmação da autonomia individual dos cidadãos e de sua liberdade social, o espírito supostamente emancipador das novas ciências teria, com o desenvolvimento capitalista, foi engendrado em formas engenhosas de instituições absolutas, identificadas tanto no conhecimento pelo conhecimento e consequente progresso da ciência, quanto pela técnica como um fim em si mesma. Ao invés de se fortalecer perante a natureza e (mediante uma razão forjada no binômio instrumentalidade-experimentalidade) romper com a tradição e a religião; os homens (com o advento e a consolidação da sociedade industrial) foram induzidos a desfrutar de uma falsa liberdade, porque, norteadas pela lógica inerente ao desenvolvimento capitalista, monopolizadora e totalizante, ciência e técnica levaram os indivíduos a se separar, de maneira irreversível, da natureza. Não logrando conciliar historicamente experiência científica, expansão tecnológica e liberdade social, esse mesmo espírito científico e a razão superveniente (valorizados a partir da Revolução Industrial) revelaram-se, com o tempo, incapazes de neutralizar a angústia da humanidade. Ao contrário, esse "progresso" comprometeu a liberdade, posto que o preço dessa razão técnico-científica, no lugar de amancipar, foi o de fragilizar os homens ante as instituições políticas e econômicas. (Caos Markus)