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sexta-feira, 4 de junho de 2010

QUINTA-FEIRA, 1 DE JULHO DE 2010: "PRECE VÃ"

Nepal ou napalm, pax e praxis.
Novo horizonte no ozônio camuflado.
Aero-Sóis constelados nas mãos de Zeus:
mortais buscam nos céus mais que o sideral espaço.
Caos de Zoroastro, a nau de casto Zorro: espadachim
chinfrim, além de ti,
aquém de si.
Respira o aroma fóssil das flores plásticas!
Doce veneno o do caminho que
serpenteia...
Será prece vã, se soar no Big Ben outro Big Bang
-o deste Bang Bang.
Afinal, já é hora, agora: Lavoisier e Darwin,
Lenine e Marx,
tudo se transforma na evolução do capital.
Bip Bop, Beth Boop, Workshop...
Nas prateleiras há outra vida, de geladeiras,
alho e bugalho,
que -ainda inteira- na alma clama, pede socorro
no help do mundo self-service.
(Caos Markus)

domingo, 30 de maio de 2010

QUARTA-FEIRA, 30 DE JUNHO DE 2010:"DIGESTÃO"

Todo dia é dia de projetos inacabados, preocupados e preocupantes. A cada dia, um novo dia diz que amanhã é daqui a pouco, e que será tudo mais diferente e melhor para quem no presente e no passado jamais pode vislumbrar um novo tempo. Ninguém diz, então, "não chores por mim", a fim de que todos chorem ainda mais por si próprios, como por meninos de rua, que não são e nem poderiam ser, mas que gostam de imaginar que poderão ajudar, apenas pelo lamento muito mais conivente do que convincente. Não por outras razões, no olho mágico do meu caleidoscópio todas as cores de todos os matizes vão e vêm a cada instante, a cada segundo, convivendo em harmonia por uma brevidade inimaginável, a causar impressão de felicidade duradoura. Eis que, dessa forma, sou, para não sofrer, definitivamente, um crente. Eu creio no que eu invento e modifico quando quiser. Entretanto, desligo no controle remoto as cenas repetidas e retransmitidas para fazer de cada um de nós o indignado de plantão, e um resignado contagiado pelo próximo capítulo das mini-séries dirigidas para dirigirem e digerirem. (Caos Markus)

TERÇA-FEIRA, 29 DE JUNHO DE 2010:"MEDO"

É muito fácil chorar. É muito mais convincente chorar. É muito mais crível ser o "mocinho". Todo mundo acredita, porque precisa acreditar, e porque não pode crer em Hobbes, e porque crer em Hobbes seria suicídio pleno de sanidade. Por isso, a "insanidade" sempre é relegada, esquecida como hipótese primeira. Afinal, haveria outra alternativa para tanto medo de si mesmo, para tanta covardia?
(Marcus Moreira Machado)

SEGUNDA-FEIRA, 28 DE JUNHO DE 2010:"DÓ"

Passados anos, ainda não sei o que posso fazer para melhorar o mundo. Aliás, me parece, ele não existe para ser melhorado. Resta a idéia de que tudo precisa ser do jeito que é, ou da maneira que inventaram de ser. Grande ou pequena, sentir dor (verdadeira ou não), eis a possibilidade reservada a tanta gente que, como eu, não faz mais nada que sentir.Eu morro de dó. Dó dos negros e de todas as minorias excluídas; dó dos mulçumanos e dos judeus. Eu morro de dó de mim mesmo, que não sou nem negro, nem excluído, nem mulçumano ou judeu. Eu vivo morrendo de dó de criança pobre e abandonada, jogada nas esquinas, dos comerciais de televisão, e sempre prontas para o prato cheio da caridade humana. Que pena eu sinto da tristeza que me fazem sentir com a vida mais real em todas as novelas e seus personagens, assim, tão cheios de humanidade!
(Marcus Moreira Machado)

DOMINGO, 27 DE JUNHO DE 2010:"O CAMINHO"

Glória, irmãos! Ele veio nos buscar. Ele nos ama e nos quer todos sentados à sua esquerda, que a esquerda é o caminho que nos libertará! Vejam, caríssimos! O demônio capitalista está sendo expulso... Vade retro, porco capitalista selvagem! Saia de nosso amado irmão, ó senhor banqueiro das trevas! Não mais submeteis à insanidade inescrupulosa de sua, de tua, de vossa sede de lucros, este que está no meio de nós, protegido pela luz de nosso amado mestre! A divina luz a todos os que hoje se vêem desamparados libertará. Ninguém, nenhum de vocês será mais escravizado por neoliberais ou protoliberais Para isso, mais uma vez invocamos a presença daquele que por nós já esteve preso quando, ao iniciar a sua promissora carreira de sindicalista, clamou por justiça aos trabalhadores de boa-vontade, e soube tão bem perdoar os piqueteiros e os pelegos. Louvemos, irmãos! Oremos, irmãos! Dignifiquemos aquele que nos mostra o caminho, o que nos guia nesses tempos endemoniados de eleições! Agora! Aqui! Lá! Sem medo de ser feliz, à direita de deus-pai...
(Marcus Moreira Machado)

SÁBADO, 26 DE JUNHO DE 2010:"(IN) DEFINIDO"

Não se explica essa idéia fixa de que o presente, marcante, alcançará a posteridade. Ou, talvez, sim, se percebemos o quanto somos todos incapazes de lembrar que o pretérito sempre foi conjugado no futuro. Mas precisamos acreditar que o último, o mais recente episódio é o derradeiro, o decisivo. Nada é definitivo, isto sim. Nada é definido, com certeza. Tolos, enxergamos o auge no primeiro passo, em igual escala da visão do apocalipse como efêmero tumulto. É a ansiedade típica do "homem político", para quem tudo deve ter uma séria e grave causa por existir.
(Caos Markus)

SEXTA-FEIRA, 25 DE JUNHO DE 2010:"IR E VIR"

Constantes na linearidade, tornamo-nos visionários de fatos corriqueiros, na defesa intransigente da arrogância peculiar à nossa pequenes. E tudo prometemos: o que outros não cumpriram e o que também não cumpriremos. Um curto caminho para a discórdia; todos discordando por pura retórica. Alternadamente, pessoas, grupos sucedem-se uns aos outros na prerrogativa da verdade imaginada insofismável; simultaneamente dizem as mesmas coisas em linguagens aparentementes diferentes; uns acreditando que agora é sua hora e sua vez; outros, na pausa, a aguardarem breve retorno. Não se sabe quem realmente já esteve e se já esteve. Não se sabe quem retorna e se de fato retorna.
(Caos Markus)

QUINTA-FEIRA, 24 DE JUNHO DE 2010:"ILAÇÕES"

EM VARIAÇÕES SOBRE O MESMO TEMA,
NAS ILAÇÕES, DO ANATEMA,
MATE O QUE TE ATE.
EX - COMUNGUE , DESATE, ATEU, O MITO
NO RITO DE PROMETEU.
NEM TEU OU MEU:
LEU, NÃO ESCREVEU.
(Caos Markus)
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QUARTA-FEIRA, 23 DE JUNHO DE 2010:"PROFESSAR"

Eu sempre entendi que se alguém estivesse deveras comprometido com a Educação somente poderia autodenominar-se 'professor' quando de fato 'professasse' algo. O contrário disso -aquela condição em que o indivíduo é meramente uma extensão do quadro-negro, aonde ele deposita conhecimento alheio, retirado dos compêndios- não mereceria, jamais igual designação. O título, assim, estaria restrito a tantos quantos pudessem e quisessem enxergar na figura do professor similaridade com a de um ourives. Como este último, a lapidar a pedra que por si só já é fundamental (reunidos todos os atributos da excepcionalidade, destacando-se pela potência), também aquele outro -o professor- deveria identificar, reconhecer as potencialidades inerentes a cada aluno individualmente, estimulando, apenas, o seu aprimoramento, convicto de que a pessoa humana readquire essa humanidade, que a torna tão singular, através do desenvolvimento da sua 'virtualidade'. E, nesse sentido, não se trataria de propugnar por teorias rousseaunianas, quer dizer, que “o homem nasce bom, a sociedade o perverte”. Não seria e não será a hipótese da discussão sobre as origens da índole. No entanto, por demais confessável, é sempre a investigação das causas e dos fatores determinantes da estirpe de um povo. E, inquestionável, a cepa se forja pela Educação, e essa (em consonância com a raiz latina do vocábulo) nada mais significa senão “conduzir”. Compreender-se-ia a maior ou a menor maturidade de uma nação a partir dos propósitos que a conduzissem.
Ainda hoje, é assim, da mesma maneira, que eu entendo.
(Marcus Moreira Machado)

TERÇA-FEIRA, 22 DE JUNHO DE 2010:"VIDA NEGADA"

Não somos felizes. Por que? Talvez, devamos mais considerar o adágio "o coração tem razões que a própria razão desconhece", sob a ressalva: de "coração" nada, em absoluto, entendemos. Ou, vale dizer, se temos conhecimento desde a Medicina Ortomolecular até a existência de galáxias antes ignoradas; paradoxalmente, o universo interior de cada um de nós ainda é enigma não decifrado. Esta a razão possível a explicar porque as pessoas a quem a morte maior temor causa são, também, aquelas que mais têm medo da vida. Tudo como se o viver se traduzisse em desgaste, apenas, num permanente perigo do 'estar-aí'.
(Marcus Moreira Machado)