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sábado, 7 de novembro de 2009

QUINTA-FEIRA, 3 DE DEZEMBRO DE 2009:"PROSPERIDADE"

Uma amiga, Graça, estava numa penúria de dar dó.
Eu soube que, desesperada, ela procurou ajuda espiritual, passando a frequentar, assiduamente, uma igreja pentecostal.
Não é que dia desses, caminhando em direção a uma papelaria, surpreso, vi, do outro lado da rua, um enorme salão?!
Mas, dirão, o que tem isso demais?
Respondo: na placa, de fora a fora, estava escrito: IGREJA DA GRAÇA.
Eu não escondo, fiquei contente em saber que a minha amiga tinha prosperado, e agora já é proprietária de sua própria igreja.
(Marcus Moreira Machado)

QUARTA-FEIRA, 2 DE DEZEMBRO DE 2009: "ARRIBA!"

A morte do rei D. Sebastião na batalha de Alcácer-Quibir desencadeou uma crise na sucessão ao trono português, que, continuada com a morte de seu substituto, o cardeal D. Henrique, sem deixar sucessor direto, resultou na conquista de Portugal por Filipe II, rei da Espanha, em 1580. A união das duas Coroas ibéricas (União Peninsular) significou a junção de duas nações que apresentavam a mesma incapacidade na organização de suas políticas mercantilistas. Apesar dos lucros advindos do comércio oriental, da extração de metais preciosos na América e da empresa agrícola brasileira, as nações ibéricas não foram capazes de usar essas riquezas para o desenvolvimento capitalista nacional. Contrariando o princípio mercantilista da balança comercial favorável, essas nações usavam as riquezas coloniais para importar bens industrializados de outros países, incluindo produtos supérfluos, de luxo. Isso esgotava as reservas das Coroas e gerava dependência econômica em relação à Holanda, Inglaterra e França. O desastre da política mercantilista ibérica se vincula, também, à inexistência, nas duas nações, de uma burguesia forte e suficientemente poderosa para impor ao governo suas decisões. Por essa razão, as finanças portuguesas e espanholas eram administradas por uma nobreza parasitária, incapaz e luxuosa, cujos gastos ostentatorios dilapidavam os tesouros. O caso espanhol foi agravado pelas fantásticas somas necessárias para a sustentação dos belicosos exércitos e as constantes guerras em que a Espanha se envolveu. Afinal, devido ao descaso e à irracionalidade dos seus administradores, Espanha e Portugal transformam-se em meros entrepostos de suprimento de metais preciosos, de especiarias e, mais tarde, de açúcar e outros produtos tropicais a mercadores de toda a Europa. Nem mesmo se capacitam a criar um sistema próprio de distribuição dos seus produtos coloniais nos mercados europeus, perdendo, com isto, até os ganhos da comercialização. Apesar da resistência militar portuguesa aos exércitos invasores espanhóis, a pretensão de Filipe II de unir as duas nações teve o apoio de parte da nobreza e do segmento mercantil português. Apesar da unificação das Coroas, Filipe II tentou preservar a imagem de Portugal, não o tratando como nação conquistada, mas como um país que se uniu à Coroa espanhola. Esse tratamento foi assegurado com a assinatura, em 1581, do Juramento de Tomar, uma série de compromissos assumidos pela Espanha em relação a Portugal. Por ele, resguardava-se a Portugal o controle do comércio de suas colônias, a manutenção das leis, usos e costumes portugueses e garantia-se que a administração pública de Portugal e de suas colônias seria exercida por portugueses. O Juramento de Tomar é a evidência do pouco interesse econômico de Filipe lI por Portugal e Brasil, e demonstração de que a União Ibérica tinha, para ele, um significado político maior: aumentar o prestígio internacional da Espanha. Acontecimentos importantes marcaram a vida político-administrativa do Brasil sob o domínio espanhol: uma reforma na política fiscal, tornando-a mais rígida e mais eficiente no combate à corrupção e aos desvios do dinheiro proveniente da tributação; a prática da justiça foi dinamizada com a criação do Tribunal de Relação de Salvador, onde os colonos podiam apelar das sentenças (antes, as apelações só eram julgadas em Lisboa). Durante o domínio espanhol a colonização se expandiu no litoral ao norte de Pernambuco, chegando até o Amazonas (chamada "expansão oficial"). Houve uma nova divisão política no Brasil, com a criação do Estado do Maranhão em 1621, composto pelas capitanias do Grão-Pará, Maranhão e Ceará, assim mantida até 1774.
Também como efeito desse domínio, nota-se, mesmo que pouco acentuada, a incorporação, no Brasil, de vocábulos hispânicos ao vernáculo português. Assim é que, erroneamente considerado "caipira" (no sentido jocoso), em alguns lugares (interioranos, principalmente), ainda hoje ouve-se o "arriba", ao invés de 'acima'; ou, mais comum, o "volver", da ordem "...meia volta, volver!".
(Marcus Moreira Machado)

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

TERÇA-FEIRA, 1 DE DEZEMBRO DE 2009: "E-MEIOS"

Assunto: Olá Oi pai
Desculpa não ter respondido seu último e-mail, nem os comentários no blog, fiquei bem doente esses dias, febrão e tals, queriam até me internar com suspeita de gripe suína. Eu disse não, disse q não a havia suspeita, q era mesmo um suíno, como os porcos daquela revolução que levantaram-se e começaram a viver como homens. O médico não entendeu bem, mas essa gripe me faz refletir sobre mim enquanto eu mesmo, sobre algumas frases suas também. Enfim, até que ponto sou homem, até que ponto um porco.. lendo o Caríneja no Twitter (link do blog dele http://www.fabriciocarpinejar.blogger.com.br/) descobri q nunca estarei pronto... 'Quando penso que estou maduro, ela me chama de podre' Fabrício Carpinejar.bjs e saudades!
Assunto: Porquinhos Lucaz, filho muito querido,
Considerando que o coletivo de porco é 'vara'; mais, considerando que a alma quando cutucada vira uma onça; toma o remédio pelos seus efeitos colaterais, quem cutuca a alma com vara curta. Em casos assim, a considerar a demência como veemência da personalidade, é indispensável livrar-e dos paradigmas, das referências, e, de chofre, escolhendo dos 3 porquinhos o Prático, convém ingerir, em baldes alopáticos, todos os desfechos. Porque 'desfechar' é tirar o fecho, abrir o que se pensara ser o fim. Enfim, já somos 2, isto é, bom começo para uma Fazenda Modelo, "chicando"com Buarque, ao invés de exclusiva Revolução dos Bichos, no Orwell do antes muito depois "1984".Saudade tamanha!
Beijos, porque a vida não é nem isso nem aquilo. Ela nem sabe que vida é.
Beijos nessa porcaria gostosa de sermos os porcos na vida dos homens.
Assunto: Res: Porquinhos
É realmente bom rir logo de manhã com tamanha pluralidade de suas palavras. Enquanto aqui discutem comigo o verbo twittar, novo na bigsfera digital coletiva, percebo com meu pai que não importa se eu twitto, ele twitta ou nós twitamos, o que impor e se nos comunicamos.Abaixo poema psicografado por mime selecionado no VIII Poetas do Vale http://www.poetasdovale.blogspot.com/
Fim sem começo O fim já começa no começo Entre o começo do fim E o fim do começo Apenas o meio Está no começo ou no fim No fim ou no começo Vivo quintos, quartos e terços Desse começo sem fim No começo que acaba de acabar Ou no fim que começou agora Segundos, minutos, horas Sem saber quando começa o fim E quando acaba o começo? Sigo em frente em tropeços Esperando ter fim os erros E só começo os acertos Sabe-se lá quando Saberei se perdi todo meu meio Esperando começos e fins Entre vários recomeços
Grande bj a todos
Assunto: Mediunidade
Lucaz,
Ao ler o poema 'psicografado', resolvi que o mais acertado seria eu parabenizar os jurados. Porque, se entre o fim e o começo há o 'meio' (igualmente no inverso); e se 'médium' significa 'meio' (já, porém, no sentido de 'através de'); foram eles, dotados de percepção extrasensorial, que (re) conheceram, na seleção do texto, o Alan reencarnado (sabendo distinguir do espírito de Kardec a alma de Poe).Então, no 'meio' da conjugação verbal, eu, resenhando a obra, 'acabei' por 'começar' um posfácio: nessa para-normalidade permeada de ancestralidade, há 'coincidência' ou co-incidência, quando, ainda ontem, as considerações foram para o vocábulo 'desfecho'?
Incidir juntos é reincidir?
Somos, pois, reincidentes?
Ó, Alan! Ó, Poe!
Beijos!

Assunto: Res: Mediunidade

Alan Poe? Que ótimo, isso eh uma verdadeira massagem de ego. Agora resta-me morrer como ele, na sarjeta, pois parece-me mais justo e correto, do que viver de louros desse mundo inglório.Bjs

Assunto: O Corvo do Poe Lucaz,

Nem morrer na sarjeta nem viver com os louros: por que, madrugada afora, não conversar com "O Corvo"?

Beijos!

Assunto: Res:

Ou clamar por Leonor...

t+

Assunto: Multidão

Lucaz,

Ou, também, multiplicar-se através do plural (da aglomeração, para alguns; da agregação, para outros) da instantaneidade, lado a lado com "O Homem das Multidões".

Beijos!

domingo, 1 de novembro de 2009

SEGUNDA-FEIRA, 30 DE NOVEMBRO DE 2009: "AMBIENTALISMO E ANARQUISMO"

Dois fenômenos culturais surgidos na década de 60 causaram tamanho impacto que ainda hoje podem ser percebidos. Entre os jovens de boa parte das famílias ocidentais se alastrava uma postura rebelde, de recusa dos principais valores da sociedade burocrática e de consumo, enquanto uma nova geração de inquietos artistas plásticos propunha radicais questões para a arte e expandia seus limites. Os dois fenômenos apresentam experiências e influências em comum, sendo que um intercâmbio de aprendizados certamente ocorreu, apesar de terem se constituído como situações de considerável autonomia. Contracultura é uma designação ampla, geralmente associada aos hippies, que traduz a rebeldia dos jovens dos anos 60 contra os principais valores que o sistema cobra de seus cidadãos. A revolta foi principalmente contra a tecnocracia do mundo em que ainda vivemos, um mundo em que a eficácia produtiva e lucrativa é maquinalmente exigida dos trabalhadores, impossibilitados dessa maneira de um modo de vida realmente criativo. Apesar de o tempo todo recerbemos imagens e estereótipos bem limitados do que foi essa contestação, tratava-se de uma juventude bastante heterogêna, inclusive desorganizada, contraditória, sem um rigor ideológico que centralizasse as ações, que, contudo, lutou contra o autoritarismo, o moralismo, a hipocrisia, a burocracia, o racismo, o machismo, o consumismo e o militarismo.Não se pode perder de vista o caráter de conflito de gerações nesse episódio da história, pois não houve especial afinidade desses jovens com a esquerda tradicional, apesar do inimigo em comum. Hippies e marxistas tradicionais não viam o capitalismo explorador sob o mesmo ponto de vista, sendo que os primeiros discordavam quanto a trocar um industrialismo capitalista por outro socialista, e rejeitavam esse tipo de militância da mesma forma como evitavam tudo o que se remetesse a gerações anteriores. Muitas vezes com uma dose de ingenuidade, válida como tentativa, se arriscaram a fazer tudo como se fosse um exato oposto ao que seus pais fariam.O movimento hippie tem sua origem a partir dos beatniks, representados por escritores como Jack Kerouac, Allen Ginsberg, William Burroughs. Estes, influenciados por Ezra Pound, mesclaram ensinamentos zen com rebeldia, e viveram à margem do sistema, apesar de não o terem confrontado diretamente. Seu ideal era o de viajar pelo mundo adquirindo toda forma de experiência que caracterizasse seu estilo de vida, principalmente aventuras sexuais, noites de bebedeiras com amigos e poetas, experimentos com drogas e aprendizados budistas. São comportamentos que foram legados alguns anos depois aos associados com Woodstock. Fato relevante é que os primeiros a transpor a liberdade beatnik para um esforço de transformação da sociedade foram os chamados Provos, de Amsterdam, que podem ser considerados os fundadores da contracultura. Em vez do famoso “drop out” beat, insistiram em permanecer em sua cidade e de fato conseguiram transformá-la. A palavra “provos” deriva de “provocadores”, batizados assim por um relatório policial e aceito espontaneamente pelos referidos. Tratava-se de um pequeno grupo, por volta de duzentas pessoas em seu auge, atuando de forma intensa e subversiva, entre julho de 1965 e maio de 1967. Inspirados no dadaísmo e em outras tendências artísticas, porém sem nunca se definir como movimento de arte, os provos se valiam de happenings para defender a legalização das drogas, a liberdade sexual, a liberdade de expressão, questões ecológicas e o boicote ao consumismo. Em 1965, criaram seu manifesto, expressando suas máximas. Por exemplo:provo é uma folha mensal para anarquistas, provos, beatniks, noctâmbulos, amoladores, malandros, simples simoníacos estilitas, magos, pacifistas, comedores de batatinhas fritas, charlatões, filósofos, portadores de germes, moços das estribarias reais, exibicionistas, vegetarianos, sindicalistas, papais-noéis, professores da maternal, agitadores, piromaníacos, assistentes do assistente, gente que se coça e sifilíticos, polícia secreta e toda a ralé deste tipo; provo é alguma coisa contra o capitalismo, o comunismo, o fascismo, a burocracia, o militarismo, o profissionalismo, o dogmatismo e o autoritarismo; provo deve escolher entre uma resistência desesperada e uma extinção submissa; provo incita à resistência onde quer que seja possível; provo considera a anarquia como uma fonte de inspiração para a resistência; provo quer devolver vida à anarquia e ensiná-la aos jovens.Em nenhum momento o grupo se apresentou como um movimento artístico, no entanto é evidente que eles tinham conhecimento da performance como meio, e a utilizaram de maneira lúdica a fim de chamar a atenção para seus objetivos.Os provos tinham seu jornal, onde discutiam questões raciais, feminismo, liberação sexual e legalização das drogas. Seguidores dos provos caminhavam em bando sobre automóveis e sabotavam escapamentos, por considerarem os carros poluentes e assasssinos. Lançaram bombas de gás de efeito moral sobre a carruagem real, humilhando o casal de princípes no dia de seu casamento (devido às ligações do princípe com o nazismo na Segunda Guerra). Elegeram um vereador e zombaram do poder, pois De Vris, o eleito, assumiu arrotando, descalço, em seu primeiro discurso (eles mal sabiam o que fazer com o cargo, queriam apenas esvaziá-lo de sentido). Planejaram comunidades nômades antes que os hippies se reunissem em seus acampamentos. Por fim, em 1967, os provos conquistaram alguns de seus principais objetivos. A própria Coroa holandesa, depois de perceber que a repressão policial não surtia efeito, sentiu-se obrigada a rever sua intolerância. É devido à atuação desses jovens que hoje Amsterdam conta com zonas onde o consumo de drogas é legalizado. Também pode-se contar como vitória dos provos uma maior tolerância com as questões racias e feministas em sua cidade e, por boa parte da sociedade holandesa, a aceitação da liberação sexual, além do fim da apreensão de jornais de mídia underground, ou seja, liberdade de expressão. Em 13 de maio de 1967, Provos dissolveu-se, em festa, por estarem -segundo proclamaram- cansados de bancar a entidade oficial de provocação, e para não se tornarem previsíveis, ainda que muitos de seus membros continuassem a atuar em transformações da sociedade, porém de outras maneiras. Um dos destinos mais comuns de ex-provos foi ingressar em lutas por causas ambientais. Para se ter uma idéia, o Greenpeace, notória expressão do Ambientalismo, foi fundado por alguns do seus ex-integrantes, ou seja, pelos outrora militantes desse viés do Anarquismo.
(Marcus Moreira Machado)