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sexta-feira, 28 de agosto de 2009

SEGUNDA-FEIRA, 31 DE AGOSTO DE 2009: "RÉQUIEM"

PORQUE OS HOMENS SÃO OBRA INACABADA DE
PROJETO INCERTO,
SOMOS MUITOS OS QUE, DESPOJADOS DA RAZÃO,
ABRAÇAMOS O DESVARIO
COMO IMPRESCINDÍVEL À VIDA
DA QUAL ESTAMOS SEMPRE A NOS DESPEDIR.
(Marcus Moreira Machado)

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

DOMINGO, 30 DE AGOSTO DE 2009:"EXACERBAÇÃO"

A negação da nossa humanidade como exclusivo atributo a cada homem na face da terra tem-se operado através da transposição dos valores positivos alcançados em séculos marcados pelas guerras e pela mais franca injustiça social, em desprezo á luta pela civilização, substituindo-a pela barbárie originária, num paradoxo entre evolução e progresso. No entanto, é justamente em nome do aprimoramento que a megalomania se instala, na procura de uma tão vaga quanto inútil perfeição do homem, pretensamente elevado à condição de criador. Enquanto a tecnologia assume patamares jamais imaginados, conferindo à raça humana uma duvidosa característica situada entre a genialidade e a supremacia, perde o homem, de forma abrupta e cruel, a sua própria "alma", em espetacular derrocada do aperfeiçoamento moral que paulatinamente vinha sedimentando como atributo distintivo da sua real singularidade; maravilhado com as múltiplas possibilidades de transformação da natureza a partir da sua intervenção, não atenta, porém, para o perigoso distanciamento entre o progresso da técnica e o retardamento do espírito, já escravo de si mesmo, ignorante e imperdoavelmente alheiro à instalação do mais insidioso descalabromoral. Sistemas e formas de governo que não considerem a distribuição das efetivas melhorias, conseqüentes da investigação científica sistematizada, correrão, independentemente de cor partidária por cunho ideológico, risco crescente de morte prematura, corroídos na fragilidade de estruturas não comprometidas com a fraternidade universal como projeto pioneiro de vida concreta. Alimentar a revolta é duvidar da insanidade como efeito imediato da segregação; e se há hoje algo a temer, sem dúvida pouco se compara ao impérvido social fundamentado na restrição à grande maioria, impedida de compartilhar das benesses para as quais contribuiu confinada agora ao submundo da demência típica dos excluídos. Mudar de opinião, reavaliando teses antes formuladas na exacerbação e na arrogância será perseguir uma sabedoria que, muito embora além de nós mesmos, é seguramente mel melhor modelo de sociedade, porque respaldado nos limites de quem, eterno aprendiz, enxerga na prudência o caminho mais seguro a ser percorrido, afastando-se prematuridade deveras inconciliável com progresso humano. (Marcus Moreira Machado)

SÁBADO, 29 DE AGOSTO DE 2009:"INTELECTUALIZAR"

Em toda a história da educação há muito se tem procurado atender ao ensino de alguns, mas pouco se fez pela educação de muitos. A igual oportunidade para todos, sem segregação de alunos em escolas à parte, só é possível se observada como regra a função democrática da escola. Havendo separação dos poucos favorecidos com uma educação especial, prejudicada fica a solidariedade do corpo social. Ao contrário, evitando-se a segregação, o processo educacional alcançará a socialização e a humanização dos futuros membros da sociedade, ao tempo em que todos estejam aprendendo juntos, podendo, também, aprender a viver juntos pela convivência direta na mesma instituição. Aliás, um sistema educacional de caráter verdadeiramente democrático é aquele que reconhece a educação como direto natural de todos, dando a cada indivíduo a oportunidade de progredir no sistema, limitado apenas pela sua habilidade e pela sua operosidade. A escola , enquanto instituição intelectual, não deve, jamais, distrair-se de sua função precípua nos seus esforços de suplementar outras instituições. Para tanto, necessita considerar três aspectos do pensamento: o material, o espiritual e o humano. Adestrar é uma coisa, educar é outra. Como educação entende-se a soma da experiência individual com a experiência social. Um país que faz uso apenas do conhecimento instrumental, em detrimento da formação, está, quando muito preparando mão-de-obra, sem, contudo, iniciar seu povo no exercício da cidadania. E como falar em civilização, levando-se em conta somente o adestramento? Já alguém afirmou que “toda educação é auto-educação” e que o estudante aprende por meio “das suas próprias atividades”. Se este princípio for posto em prática nas leituras, nas observações e nas reflexões sobre elas, o estudante terá a oportunidade de experimentar essa “auto-educação”, pois conhecimento é algo mais do que uma recepção passiva de informações minuciosas. A própria personalidade é forjada no desenvolvimento de atividades e idéias adquiridos com a auto-educação. O ser humano, vivendo em sociedade organizada, sob a responsabilidade do Estado, tem, pelo próprio progresso a que está destinado, o direito natural à educação formal na escola, uma vez que não é outra a compreensão de sociedade civilizada. E a escola, como instituição formal de educação, tem um importante papel a desempenhar no desenvolvimento social do aluno; nela o ideal a atingir é a busca do conhecimento, entendida como comunidade que deve ser, e privilegiando, sempre, o crescimento mental do estudante. O que é preciso, inegavelmente, é redefinir a palavra “intelectual”, apropriando-se do amplo sentido que tem, para que, finalmente, a escola assuma o seu papel de instituição intelectual. (Marcus Moreira Machado)

SEXTA-FEIRA, 28 DE AGOSTO DE 2009:"POLIS"

“Sem a justiça, os Estados não passam de bandos organizados de ladrões”. ( Santo Agostinho) O “markenting” está hoje incontestavelmente a serviço das ideologias ou mesmo da falta delas. É dessa maneira que instituem-se e extinguem-se órgãos, ministérios, secretárias ou conselhos conforme a conveniência em se “lançar no mercado” essa ou aquela maior ou menor estratégia de “consumo” de uma determinada idéia. Para que se adquira credibilidade junto aos “consumidores” cuida/se de definições com substrato legal, respaldadas num localizado contexto sócio-econômico. Sob o aspecto formal, os “produtores” propagam como legítimas, aspirações nem sempre estabelecidas na reciprocidade, porém unilaterais, mais fruto do condicionamento próprio às campanhas publicitárias, cujo o objetivo invariavelmente é o de estimular uma grande maioria passiva. Há um dado momento, então, em que os requintes das abstrações contrastam veementemente com situações concretas, desprestigiando mesmo o direito, a justiça e a lei, e descaracterizando o sentido original da proposta inicial. Trata-se nesses casos da mais pura manipulação, em que elites buscam predomínio pela centralização, arvorando-se defensora de direitos que não são os seus, mais que elas crêem dever zelar, porque acreditam-se mais e melhor preparadas. Pois, pretendendo o “monopólio” envolvida, bradando soluções exclusivas, “detentora” de “direitos autorais” sobre qualquer assunto, uma “casta” procura manobrar a lei quando essa não frutifica os resultados esperados a época da sua formulação. Não por outro motivo, coerentes apenas com o seu “marketing político”, essa elite, tendo alardeado a necessidade dessa ou daquela instituição,não conseguindo, no entanto, a maioria que desejada na representação cobiçada, imediatamente faz ouvidos moucos ao reclamo popular. Tudo feito na trama da hipocrisia, oculta sob o manto do “aprimoramento”, adia, então, a execução de medidas pouco antes consideradas as eficazes na tutela de determinado segmento, desrespeitando a comunidade como um todo. E, o pior, com o débil argumento de que a lei precisa ser aperfeiçoada. Ora, se o Brasil dependesse da perfeição definitiva da sua lei maior, a Constituição, não seria ainda, e não seria nunca, um país e uma Republica Federativa, visto que a “lei” está quase sempre a servir um grupo organizado em torno dos seus próprios interesses, apenas. (Marcus Moreira Machado)