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sábado, 7 de junho de 2008

TERÇA-FEIRA, 10 DE JUNHO DE 2008: "CRITÉRIO DO INJUSTO".

Se devemos entender por 'orçamento' o cálculo 'receita e despesa' (a atender -pelo esforço de planejamento e controle- o básico pressuposto de uma gestão expressiva), percebemos de imediato que nenhuma administração bem conduzida pode prescindir de uma atividade planejadora e de uma sistemática de registro contábil e de controle de verificação periódicos. Em se tratando do 'Orçamento do Estado', nota-se com destaque a 'relação de administração', isto é , o dever que tem esse mesmo Estado de perseguir os próprios fins. No caso do Brasil, pela definição dos "fins do Estado", a dúvida está na distinção dos atos públicos: os 'atos políticos' (a definirem 'fins' propriamente ditos) e os 'atos administrativos (a perseguirem esses fins).
O prevalecimento de atos políticos puros (sem qualquer vínculo com ordenamento jurídico pré-existente) compromete os 'atos administrativos' restritos à persecução de de 'fins' definidos. Em sendo a lei orçamentária um 'documento político-administrativo', ela deveria regular atos também 'políticos-administrativos'. E se não o faz é porque então já perdeu a sua característica mais marcante, qual seja, a de mais coibir do que ao Estado tudo permitir. O caráter político do Orçamento necessariamente deverá ser o de uma 'regra' à qual a Administração deve se conformar. Olvidar este fundamento é propiciar a espúria destinação das verbas públicas. Aqui, embora país de área extensa, no Brasil tem sido preterida a adoção de práticas de 'descentralização administrativa', contrariando a necessidade de soluções federativas em seus próprios núcleos de capacidade política. No critério do injusto, relega-se a plano secundário a potencialidade social da produção e, concomitantemente, não se busca regra mais adequada de distribuição da 'gestão da atividade produtiva' entre os órgãos do Estado e as lideranças empresarias. O princípio do "Máximo Benefício Social", formulado por Danton para otimizar o orçamento é ignorado entre nós, aqui inexistindo, ou desrespeitando-se, normas que disciplinem a atividade financeira de forma a garantir a aplicação pública 'socialmente mais útil' de toda a formidável arrecadação do Estado brasileiro. E, certamente, não caberá ao setor privado, à liderança empresarial, 'administrar' fatores e bens que são próprios à composição da atividade pública.(Marc us Moreira Machado)

SEGUNDA-FEIRA, 9 DE JUNHO DE 2008: "PERSUASÃO".

Quando e quem apagou a memória dos brasileiros? Haverá alguém capacitado e disposto a recuperá-la? Senão, vejamos. A História do Brasil tem seus maiores personagens, seus grandes mitos todos desnudados e reduzidos a incalculável insignificância, só comparável à rede de intrigas e corrupção hoje tão evidente nos governos ditos de "representatividade democrática". Tudo leva a crer que reminiscência é algo tão fugaz quanto 'liberdade'; algo assim, como "uma calça jeans velha e desbotada". E se toda unanimidade é burra, pode até nem existir a tal da "representatividade democrática", já que costumeiramente a maioria vence a minoria apenas pela força da 'quantidade', mal entendida como "pluralismo", porém, apenas e nada mais que 'mutidão' (re)organizada. De resto, haveria, sim, meia dúzia de argutos e exímios articuladores, manipulando a bel-prazer a (des)informação; carregando, enfim, a política engendrada como quem adquire personalidade jurídica de 'sociedade limitada', com variáveis conotações, conforme as regras de um 'mercado paralelo' ao real interesse público.
O suporte dessa ficção é a própria "industrialização" da miséria, tornando, por efeito, indispensável a habilidade de "messias" nacionais, que, entronizados, dessa mesma miséria se alimentam. E como é voraz o seu apetite, a "salvação" não pode jamais ter fim, sempre requisitada sob o pretexto da 'manutenção' dos valores democráticos.
Afinal, é sempre mais convincente, persuasão irrefutável, uma grande mentira do que uma pequena verdade. E, por isso, a alardeada "opinião popular" reflete, via de regra, em na maioria o cinismo de uma minoria. Explica-se, assim, o gosto pelo trágico, a admiração ao vil. Compreende-se, com efeito, a dualidade 'recusa-aceitação' tão comum nas urnas dos "referendos" eleitorais. Não causa surpresa o gosto pelos escândalos em compasso de calípso, timbre de bolero, acordes de rumba e milonga. Ser independente é condição que de fato poucos desejam, pois isso exige, no mínimo, convivência com um verbo -'pensar'. E pensar às vezes (muitas vezes) dói. E dói tanto, que há quem prefira (e muita gente prefere) 'não pensar' e deixar para que outros o faça, em seu lugar. E como não pensam, não percebem o quanto facilitam o caminho de tantos queiram disso se aproveitar. E sem dúvida nem cerimônia, é fantástico o proveito dos que se aproveitam!(Marcus Moreira Machado)

quinta-feira, 5 de junho de 2008

DOMINGO, 8 DE JUNHO DE 2008: "PIRILAMPOS".

Saber que fede já é ruim; ir ver o quê fede atrás do poste é quase masoquismo. Pois de repente (ou "derrepentemente", como insistem os 'experts' mais espertos) alguém descobre que prostituta frequenta "zona" e, escandalizado (ou encandalizando?) põe a boca no trombone, bufando o mais recente vexame nacional Arre!!! Que povinho mais sonso esse, o do Brasil!
E pensar que tem gente que não acredita na descida do homem na Lua, dizendo que tudo nunca passou de mais um truque de efeitos especiais da produtora de George Lucas. Vai ver, até Brasília ainda não saiu das pranchetas de Lúcio Costa e Oscar Niemeyer; o Congresso Nacional é exercício da imaginação, pretexto de Kubitschek para realizar o sonho de Alberto Santos Dumont -situar a capital da República a anos-luz de eventual inimigo (além do que, se eleitores incomodam, nada melhor do que embrenhar o federal distrito no "Centrão" de Planalto algum). Mas satélites existem, ninguém duvida; e as sumerianas ou gregas cidades-estados deram lugar, certamente, às cidades satélites, todas orbitando como pirilampos ao derredor da feérica luz do poder. E como sinônimo de vagalume é 'caga-lume' ou 'caga-fogo', eis a explicação para tanto mau cheiro. Então para que tanto espanto!? Por que esperar odores de lavanda na decomposição orgânica de excrecências administrativas?! Afinal, os arrabaldes nunca serviram para outra coisa senão sentir a repugnância da emanação de vaporosos empreendimentos movidos a bio-diesel. Se outrora, em tempos golpistas, trevas e silêncio, hoje, com energia de sobra, a denúncia sistemática e... a luz! A mágica luz dos pirilampos! E por falar nisso, convém lembrar que praga de gafanhotos não é raro acontecer, mas nuvens de vagalumes... (Marcus Moreira Machado)

quarta-feira, 4 de junho de 2008

SÁBADO, 7 DE JUNHO DE 2008: APOSTASIA.

Apoiados pela cumplicidade de uma enferma e 'inexorável' multimídia (apêndice da intelectualidade arrogante), os "mestres" modernos projetam-se uns aos outros, em restrita confraria dos "bem dotados".
Não raro, o irrealismo desses apóstolos da nova era surge como imposta e messiânica redenção de miseráveis hordas, todas exortadas à prática de teorias em tudo alienígenas ao próprio meio e avessas à tradições que lhes são intrínsecas.
Esse oportunismo do elogio mútuo consagra normas irreais como legítimas, calcando na subserviência a "respeitabilidade" da falsa liderança, ícone de verdadeira apostasia.
Como em terra de cego quem tem um olho é caolho, poucos ainda conservam ingenuidade e autenticidade para exclamar "-O rei está nu!". Via de regra, ao contrário, a má índole é acobertada por láureas, num duvidoso mérito de academicismo.
Ante tal contexto, preferível o "Elogio da Loucura", de Erasmo de Roterdam, mordaz, em contraposição ao descaramento e à imprudência dos 'cínicos' contemporâneos. Pois que determinadas loucuras não são mais que o absurdo e caótico se revelando em interstício de lucidez. Cultuar essa normalidade esquálida, em incontroversa aceitação, é admitir anônima neurose como regra inalienável; é eleger o elogio mútuo corifeu de nossas individualidades.
Necessitamos tanto de um discurso sofista quanto de quinze minutos de fama. Esta, como tão bem expressou o gênio da pop-art, Warhol, faz tempo já a conquistamos. E agora que o futuro chegou -possibilitando a simultaneidade de fatos, opiniões e interpretações- não há mais lugar para sujeição ao minimalismo elitista.
Por efeito, aproveitar o quê há de melhor em todos os sistemas políticos, jurídicos e artísticos, será encontrar no ecletismo reformulação básica de 'democracia' -entendida, aqui, como protagonização ampla e individual, muito acima de insistentes coadjuvantes dessa ignominiosa "Nova Escola do Elogio Mútuo".(Marcus Moreira Machado)

SEXTA-FEIRA, 6 DE JUNHO DE 2008: "MÚSICA, MAESTRO!"

O Brasil não precisa de presidente; precisa é de um flautista, e de um flautista mágico. Não mentiram quando disseram "um elefante incomoda muita gente...". Mas incomodam muito mais os ratos que põem inerte toda uma manada de paquidermes. E como temos ratos! Se fossem camundongos adestrados no condicionamento de Pavlov, o país ainda estaria sob controle; não importaria a apatia dos proboscídeos estarrecidos. No entanto, motivo de grande preocupação, antes, é a profusão de ratoneiros, a confirmar o provérbio -"a montanha deu à luz um rato". Eles todos em sucessivas promessas pomposas de ridículos resultados. Então, precisamos mesmo é de um flautista e não de um presidente. Não a flauta do " 'Seu Bartôlo tinha uma flauta, a flauta era do 'Seu' Bartôlo "; porque dessa já tivemos e até nos cansamos de cantar "toca a flauta 'Seu' Bartôlo", em desafinada melodia (ainda mais sabendo que "isso em mim provoca imensa dor, porque os desafinados também têm um coração"). Chega de samba de uma nota só. A garota de Ipanema nem vai mais à praia, nem quer o escurinho do cinema (trevas nunca mais!). Acendam a luz, vamos ouvir a sinfonia de pardais no trinado dos bem-te-vis da praça é nossa como o céu é do avião, gorgeando e caetaneando em puro tupy-Guarany de Carlos Gomes, no ABC de Castro Alves.
Aflautemos o hino pátrio, na mais original tradição da mocidade independente de vigários gerais. Afinal, para que 'spalla', em coro de atabaques?! Hein?! pobres moços! Ah, se soubessem o que eu sei! Mas as rosas não falam. E eu cá, fico quieto, incapaz que sou de tirar coelho de cartola. Que fale Gregório: "- Há coisa como ver um paiaiá? Mui prezado de ser Caramuru/ Descendente do sangue de tatu/ cujo torpe idioma é Cobepá?".
Um tocador de pífaro -em meio ao repentismo congressista- ia bem melhor que um blues. Ou Cleópatra também não ninou ao som de "aulete"? Pois não é este um país da fatalidade? Merece uma fábula, portanto. A raíz grega é a mesma, e dela o "fatum"latino a indicar o 'brilho' (a rainha egípcia teve um romano cesar a seus pés, eis porque eu acredito em fadas e duendes, em magos e lulas).
Hammer ainda virá... Mil e uma noites já se passaram; estivemos náufragos como Crusoé, quando um outro cesar buscava em Swift inspiração para as sua viagens em férias ao fantástico primeiro mundo de Julio Verne; e foi quando vieram os vis roedores juntar-se ao nativos ratos. O rato roeu a roupa do rei de Roma; a aranha arranha o jarro, o jarro arranha a aranha. Mas Hammer virá!
E no clamor do pedido 'música, maestro!', ao primeiro toque, saberá que aqui tudo é sarro, que viver na flauta é hábito das gentes daqui, que dançam conforme o jogo de cintura. Quem sabe venha também Andersen? Ao menos um futuro garantido, os meninos de rua ouvindo as suas histórias, e descobrindo que nenhuma criança nasceu para morar em esgoto; que é para lá que eles próprios ainda levarão a podridão planaltina.(Marcus Moreira Machado).

terça-feira, 3 de junho de 2008

QUINTA-FEIRA, 5 DE JUNHO DE 2008: "RETÓRICA DO PORVIR".

Sob o império da mediocridade observada atualmente no pensamento nacional, no Brasil, a evidência de elementos perniciosos e deletérios indica a troca de figurinhas entre si, por intelectualóides que consagram a intolerância e a crueldade contra todos os que possam aspirar 'novas formas', quer nas artes, quer na política ou, ainda, naquela que é considerada superestrutura do Estado, o Direito. Afastados da prevalência da realidade, ou, distantes da observação, sobreposta à mera fantasia, registra-se tendência para consistir o pensamento mais nos vôos "arrojados" da pura imaginação do que no estudo minucioso do real.
Já Almeida Garret, em Portugal do século XIX, asseverava: "-O tom e o espírito português verdadeiro, esse, é preciso e forçoso estudá-lo no grande livro nacional, que é o povo e as suas tradições, e as suas virtudes e os seus vícios, e as suas crenças e os seus erros".
Naturalmente, a reação do renomado escritor lusitano, aos motivos literários clássicos, já então demasiadamente sovados, encontraria eco entre intelectuais de militâncias várias.
Compreendendo a Literatura como mais um reflexo de cada momento histórico, não nos será difícil ou arriscado concordar com a exigência de critérios mais abertos, quando se quer acurada análise de um povo num exato momento de sua particular história. Ou, como ensina Victor Hugo: "-Não há regras nem modelos além das leis gerais da natureza, além das leis especiais que -para cada composição- derivam das condições próprias a cada assunto".
Nem o rigor dos 'românticos' (a propugnar retorno aos modelos mais genuinamente 'nacionais'), nem o 'hiper-realismo' de sonhadores e suas quimeras. Mas muito menos o elogio mútuo dos que insistem em forjar valores restritos, confinados, e, por efeito, torpes. Quem sabe o regionalismo, o psicologismo e o neo-realismo possam resgatar a essência do pensamento nacional, e com ela traçar mais fielmente o perfil do homem brasileiro?
Intolerável, isto sim, é o pedantismo dessa retórica do porvir, típica de seletos grupelhos auto-declarados 'mentores de uma nova era'. Pois, detentores dessa oratória singular, somente fazem aprisionar a nação, como manipulável objeto de suas toscas elucubrações. Ainda que, incoerentemente, se ufanem 'nacionais'!(Marcus Moreira Machado)

segunda-feira, 2 de junho de 2008

QUARTA-FEIRA, 4 DE JUNHO DE 2008: "MAGIA UTILITÁRIA".

Nômades percorrendo as periferias das metrópoles, hordas paleolíticas da política brasileira vagueiam como ratos sob escombros; buscam em sua 'evolução cultural' se organizar em clãs, apregoando a inclusão social numa comunidade ainda bastante primitiva. São "pré-históricos" que não assimilaram as profundas alterações ocorridas nas relações humanas, incapazes a explicação racional dos fenômenos sociais e, por isso mesmo, criando seita deveras singular -estruturada na crença do 'poder absoluto' de um 'conselho de anciões', estrategistas da 'produtividade' em função de uma sempre adiada 'coletividade'.
Tal qual os pintores de Altamira, essa tribo "de esquerda" também acredita na magia utilitária da sua política rupestre. Aperfeiçoando a técnica da patrulha ideológica, inventou rudimentares instrumentos destinados à caça dos que considera inimigos da sua revolução. Refugiada em suas toscas cavernas, vive da economia de coleta, recolhendo os frutos silvestres (aos quais denominam 'tributos': impostos, taxas, contribuições de melhoria) dessa intrínseca ordem neandertalista, no esforço contínuo para se superar, ultrapassando, como pretende, sua instância de hominídeos, a fim de não ser definitivamente fossilizada.
Desconhecedores da urbanidade e ignorantes da organização política chamada 'Estado', muitos dos seus seguidores enxergam como a maior unidade política possível uma união de aldeias "esquerdistas" na América Latina, todas ligadas entre si pelo juramento do 'companheirismo', da 'fidelidade' e obediência ao 'deus-socialismo'.
De um lado o quê se vê é a nova aristocracia formada a partir dos "chefes guerreiros"; de outro lado -revelação desse caráter mágico utilitário- somente a "igualdade" do subúrbio político coletivo. No entanto, em companhia da multidão, não há indivíduo que não se pense igualmente um combativo companheiro, defendendo também o mágico espetáculo: o do crescimento sem desenvolvimento!(Marcus Moreira Machado)