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sábado, 10 de maio de 2008

TERÇA-FEIRA, 13 DE MAIO DE 2008: ALFABETO DAS CONTRADIÇÕES".

A miséria é um mau hábito, um péssimo hábito.
Gerações de brasileiros acostumadas a viver mal, enxergamos a riqueza como algo muito distante de nós, em nada condizente com os nossos padrões de qualidade. Deste hábito surge a crença de que neste país só têm prosperidade aqueles a "ganharem a vida" de maneira desonesta, construindo, assim, fortunas.
Ignorantes "de pai e mãe", muitos de nós ou fomos politicamente educados no condicionamento de uma 'esquerda' xenófoba (que só vê a destruição do mal denominado "Terceiro Mundo" como inevitável e fatal consequência da vitória do erroneamente intitulado "Primeiro Mundo"), ou, opostamente, fomos criados na farsa de que o 'estrangeiro' é sempre melhor, acreditando, então, que em tudo ele deva ser imitado.
Nesse alfabeto de contradições, e não por outra razão, ou nos deparamos com enorme uma 'massa' amorfa, propensa a aceitar como suas as realidades inseridas em contextos absolutamente diferentes; ou percebemos uma minoria limitada à teorização de políticas estranhas àquela grande 'massa', em messianismo pueril da intelectualidade também forjada em modelos alienígenas.
Sem dúvida, há, ainda maior, falta de identidade!
O brasileiro já nasceu pobre, e aprende a linguagem do infortúnio com a mesma facilidade com que aprende a falar, a andar, a ler e escrever. E como tudo que aprende, aprende mal, não entende porque é assim tão miserável.
Opulência e luxúria são coisas distintas. No entanto, a eiva do caráter nacional reside na supressão do bem individual em nome de um lacônico e infundado sentimento comunitário. Como se 'pauperismo' fosse a nossa verdadeira e única vocação, acomodamo-nos à mais extrema penúria impostas por castas sociais pretensamente "nobres" e intelectualmente melhor "dotadas".
Contraditório, sim, mas ao mesmo tempo em que admiramos dos líderes a sua abastança, enquanto liderados cultuamos a "idéia" da riqueza pecaminosa, a ser evitada a todo custo.
Ora, como explicar a aparente identificação do súdito com seu rei? Do governado com seu governante?
Uma revolução real ocorre muito mais com o concurso de idéias que com a propagação de ideais. Nenhuma alta inspiração pode ser melhor que a opinião particular. Assim, privilegiar a representação mental de cada um é alcançar a identidade pessoal.
Inconformar-se, eis a questão!(Marcus Moreira Machado)

sexta-feira, 9 de maio de 2008

SEGUNDA-FEIRA, 12 DE MAIO DE 2008: "NEOMUNDO".

"Grande é a verdade, mas ainda maior, do ponto de vista prático, é o silêncio em torno da verdade". O comentário de Aldous Huxley ("Admirável Mundo Novo"), antecipa, em 1932, o amor à servidão, instituído na mente humana por meio de uma revolução 'sui generis', a da indução. Hoje, não é outra a situação verificada, iniciado novo milênio, quando a supressão da verdade tem 'estimulado' toda uma geração a, inconscientemente, admirar um controle totalitário dissimulado por técnicas de persuasão. No estudo das causas e condições que podem "aprimorar" a reprodução e "melhorar" a raça humana, a Eugenia nunca esteve tão em voga e deturpada como nestes tempos. Não apenas Hitler ou nazi-fascistas foram mensageiros de uma 'padronização' do ser humano. Também brasileiros desinformados e equivocados propagam a idéia de movimentos 'separatistas', na intenção de excluir populações que consideram inferiores do ponto de vista racial; tudo sob fundamentos eivados de hediondos requisitos, derivados da omissão da verdade. Segmentos rigorosamente estratificados de forma a conviverem com a alienação, têm buscado na convulsão social sua maneira própria de reagir à barreira imposta às massas populares, face a fatos e argumentos considerados indesejáveis por chefes políticos. Todavia, essa atitude não é caracterizada pela insubmissão propriamente dita; muito pelo contrário, é, vez mais, a servidão atônica nessas relações.
Vivemos então sob o império da insanidade, refugiados no asilo da tragédia universal. O que se opera é uma inaceitável "revolução" mental, a impor nova ordem moral, onde a transgressão é o modelo referencial. Crianças, desde tenra idade, têm sido sugestionadas para se adaptarem ao novo sistema social, a este "neomundo", isentas de pensamentos ou descontentamentos, colaborando sobremaneira com a manutenção desse regime espúrio.
Se nos abstivemos até agora da destruição total pelas armas nucleares, não pudemos, entretanto, resistir ao imperativo da tirania que nos precipitou ao caos social. Tirania fruto da manipulação da verdade, em detrimento de postulados éticos e morais inalienáveis, se o que se pretende é a evolução do gênero humano.
Neste "neomundo" habita o mesmo 'homem, lobo do homem'. Diferenças? Sim. O habitante atual usa o disfarce de pele de cordeiro!(Marcus Moreira Machado)

quinta-feira, 8 de maio de 2008

DOMINGO, 11 DE MAIO DE 2008: "BESTA-FERA".

Segundo Platão, a alma, que emana das esferas superiores, se localiza na matéria a fim de impor-lhe a lei da razão. Entretanto, no atual estágio do mundo a alma platônica, em vez de se mostrar consciente do seu destino e da sua superior origem, se deixou de tal modo se impregnar pelas inclinações e incitações da vida dos sentidos que o 'eu' físico a absorveu, submetendo-a integralmente às suas inferiores exigências.
O homem chama 'razão' a força central do ser individual, mas, no dizer de "Mefistófeles", o ser humano só dela se serve para se revelar ainda mais bestial que a fera.
A 'força' política e a 'vontade de poder' têm hoje se desenvolvido com o exclusivo propósito de regulamentar um gigantesco mecanismo de monstruosa covardia, através do egoísmo como norma de conduta. Não se respeita um só direito individual, desses que, influindo como verdadeiras energias morais criadoras, deveriam se projetar no meio social como elementos de equilíbrio do conjunto, representando o papel de agentes do refinamento das condições de vida coletiva. O que se vê imperar é o princípio do isolamento, deslocado do todo, longe de agir como fator de vínculo coletivo, de unidade superior. A satisfação dos apetites de vingança entrega, assim, homens públicos aos instintos de luta brutal, verdadeiros espartanos. Descortina-se um espetáculo de dilaceramento de paixões, insufladas e atiçadas umas contra as outras.
No plano dessa terrível 'força' de diferenciação -que cada um de nós traz dentro de si, como o irredutível do nosso egocentrismo- é chamado a operar o homem de Estado. Todavia, empreendimentos de ordem política não se realizam com o concurso de índoles vulgares, de aventureiros subjugados a imediatas ambições.
A política exige, sim, do indivíduo que a serve a responsabilidade do poder-dever, livre da besta-fera, através da renúncia a bens e vantagens pessoais, como salvaguarda da existência humana condizente com os objetivos da sua criação.(Marcus Moreira Machado)

quarta-feira, 7 de maio de 2008

SÁBADO, 10 DE MAIO DE 2008: "CUMPLICIDADE".

Priorizando o coletivo, massificando opiniões, a mídia tem deixado de informar para, inescrupolosamente, forjar pré-conceitos. Na supressão do raciocínio individual, jamais o brasileiro foi tão condicionado, sendo-lhe dispensada verdadeira técnica de Pavlov, a fim de que não mais 'responda' e sim 'corresponda' a escusos objetivos de uns poucos a se locupletarem às custas da miséria alheia. Nesse sentido, estimular -pela fluência da imaginação- o consentimento e a adesão, por exemplo, à pena de morte, é forma oculta de uma outra violência: a de cada um de nós mesmos.
Estamos deveras em prontidão, preparados mais para o ataque que à defesa. E ainda assim, condenamos nos outros as consequências de nossos próprios atos. É o vizinho que "não vale nada", quando sequer o cumprimentamos. São os nossos parentes que "só nos atormentam", quando em verdade deixamos de valorizar a família como base de valores éticos, fundamentais a outra instituição, mais abrangente, a sociedade.
No plano político, a nossa Carta Magna não passa de 'ensaio futurista', pois, basta constatar, não reflete a realidade cultural da nação. Desprezando qualquer princípio democrático, praticam-se juros exorbitantes no mercado financeiro: demonstração da mais explícita violência.
Reclamamos a falta de proteção policial, reclamamos um mais severo Código Penal, porém, antes de tudo, somos nós próprios truculentos, porque vemos a violência dos outros como se estes não fizessem parte do nosso mundo, limitados que estamos ao exclusivismo da arrogância.
Inadmissível -pensamos- sermos pertubados em nosso silêncio de inocentes. Ora, não há inocência! Pretender o conforto, a tranquilidade, quando em contrapartida se oferece a omissão, é declarar-se culpado pela cumplicidade. E é opção que leva à perda da nossa cidadania, a mesma cidadania que, bradamos, estaria sendo violentamente aviltada. É deixar de ser nação para não ser mais que um aglomerado de indivíduos a correr ao 'estouro da boiada'; ruminantes a atenderem ao som do berrante. (Marcus Moreira Machado)

terça-feira, 6 de maio de 2008

SEXTA-FEIRA, 9 DE MAIO DE 2008: "LUGAR NENHUM".

Por que esta idéia fixa de que o presente é tão marcante e passará, inevitavelmente, à posteridade?
Somos todos incapazes de lembrar que o pretérito sempre foi conjugado no futuro. E queremos acreditar que o último, o golpe mais recente, é o derradeiro e o decisivo. Nada é definitivo, isso sim! Tanto quanto nada é definido, com certeza.
Mas, não...! Tolos que somos, enxergamos o auge naquilo que ainda é o primeiro passo; de igual maneira, professamos o apocalipse em tudo que não é mais que tumulto.
É a ansiedade típica do "homo-políticus", para quem tudo deve ter uma séria e grave razão por existir.
Nessa linearidade, nos tornamos visionários de fatos corriqueiros, em intransigente defesa dessa arrogância que nos é peculiar. Então, tudo prometemos: o que outros não cumpriram e o que também não cumpriremos. Um caminho curto para a discórdia, e todos discordamos por mera retórica, na dialética do 'lugar nenhum'.
Alternadamente, uns e outros em sucessão na prerrogativa da verdade incontestável: ditas as mesmas coisas, iguais brados por linguagens pretensamente diferentes; os convictos de que agora é a sua hora e a sua vez; os crentes na pausa promissora de breve retorno.
De tudo e de todos, nenhuma compreensão sobre quem realmente já esteve, e se já esteve. Não se sabe quem retorna, e se retorna mesmo.
De fato, apenas: o lugar é nenhum.(Marcus Moreira Machado)

domingo, 4 de maio de 2008

QUINTA-FEIRA, 8 DE MAIO DE 2008: "PERSONA".

O caráter perdeu sua importância. E como agora determinamos quem são as pessoas pelo que elas fazem, tratamos uns aos outros como meras funções.
Mais que nunca, para se ver de perto a força do caráter são indispensáveis disposição e coragem. É necessário, então, abandonar velhas idéias e se deixar levar pelas ainda desconhecidas. Esta, a coragem mental de ter disposição, a fim de se resgatar o caráter, no seu pleno vigor.
Trata-se de buscar também a máxima concentração do pensamento, por onde a evolução da consciência retomará o caminho do desenvolvimento coletivo. Porque a humanidade percebe em seu subconsciente que apenas a partir de si mesma, da sua própria coragem mental, estará disposta a se aproximar do caráter menosprezado -condição essencial para alcançar a coletivização integral das atividades humanas.(Marcus Moreira Machado)