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sexta-feira, 25 de abril de 2008

TERÇA-FEIRA, 29 DE ABRIL DE 2008: "QUESTÃO DE ORDEM".

Deve ser tudo uma questão de fé.
E se a fé é uma opção... ela pode ser perdida... Para um homem, um anjo ou o próprio diabo.
E se a fé é nunca entender o plano de deus, talvez ter alma seja somente atender a nossa parte nele.
Quem sabe seja essa a nossa essência, não mais que uma questão de ordem.(Marcus Moreira Machado)

SEGUNDA-FEIRA, 28 DE ABRIL DE 2008: "TEMPO PRONTO".

Eu construo frase apenas para que o tempo atrase.
Período mais longo, inteiro; apanho palavras no canteiro da sobra, com régua e ponteiro. À obra eu levo acento e crase, porque sei que pronto é sempre quase.(Marcus Moreira Machado)

quinta-feira, 24 de abril de 2008

DOMINGO, 27 DE ABRIL DE 2008: "PALAVRA, UMA FORÇA CONSERVADORA".

Na Lógica, é usual considerar as proposições como portadoras de um significado determinado, sem ambiguidade alguma, e, por consequência, como verdadeiras ou falsas, sem levar em conta aquele que fala nas circunstâncias em que fala. Encontram-se, na prática, atos eivados de discurso concretos, expressões individuais em circunstâncias específicas, das quais depende o próprio significado, tão frequentemente incerto que às alternativas da verdade ou falsidade falta efetiva aplicação.
Por si mesmas, as palavras nada significam, não obstante preteritamente fosse universal a crença de que elas encerravam uma indubitável significação. Mas somente quando são utilizadas por pessoa que faz do pensar o seu cotidiano é que elas representam alguma coisa, isto é, têm significado.
Perde-se no tempo o uso dos símbolos em auxílio ao processo do pensar e de registrar as realizações humanas; sempre, contudo, motivo de surpresa e ilusão. A raça humana foi tão impressionada pelas propriedades das palavras -enquanto instrumentos para o controle dos objetos correlacionados- que em qualquer época lhes atribuíram poderes ocultos.
A influência dessa herança cultural é dispersa, difusa a ponto de impregnar a linguagem muito intensamente. E é desse legado que o poder das palavras adquiriu a força mais conservadora já imaginada na civilização da humanidade. (Marcus Moreira Machado)

quarta-feira, 23 de abril de 2008

SÁBADO, 26 DE ABRIL DE 2008: "A LEGITIMAÇÃO DO MITO"

O modo de relação dos homens consigo mesmo, com o mundo e com o outro; a experiência cotidiana, o imaginário vivido: eis o que é mito. Não exatamente uma crença nem um ato de fé.
No relato místico encontra-se a trama de significados através da qual se explica e se pensa no integral ordenamento do mundo. Confrontado pela organização social onde se formula, o mito surge como sistema de representação estruturado em consonância às distribuições e práticas sociais. Com efeito, no ritual sagrado, o ritual social.
O ato de reviver o começo do homem e do deus que o homem traz em si, eis o rito que atualiza o mito. Não é suficiente, pois, pretender fazer do mito o sentido vivido de uma comunidade, o sistema de representação que torna a prática imediatamente significativa: é necessário indicar as funções específicas que ele preenche enquanto dimensão individualizada. Porque se é radical a adequação do sagrado e do profano na experiência mítica, ela não é, todavia, uniforme. Pois, o sentido precisa ser expressado, atualizado novamente, senão correria o risco de, enfraquecendo, se apagar e perder, levando o significado e a coerência. Entretanto, mais que tudo, o sentido precisa ser evocado, porque as complementaridades e diferenciações nunca estão rigorosamente garantidas. E o evocado não é somente o sentido global da experiência comum, mas também o processo de legitimação que designa poderes e subordinações, os direitos à preeminência e os deveres da obediência. Na narrativa mítica, pela legitimação do rito, eis umm poderoso instrumento de regulamentação social.(Marcus Moreira Machado)

terça-feira, 22 de abril de 2008

SEXTA-FEIRA, 25 DE ABRIL DE 2008: "LEI SEM ACORDO".

No espírito dos que vêem a fonte dos males sociais na transgressão do regime legal, existem, certamente, noções de fundamentais processos que condicionam a validade de todos os atos individualizados da lei. Convém ressaltar que nenhum processo é visto como estrutural e indispensável numa época em que os homens estão exatamente em oposição aos propósitos aos quais deveriam se dedidcar. A formalidade legal é respeitada quando os indivíduos as percebem como grandes finalidades da vida em comum.
A característica marcante da contemporaneidade é, inegavelmente, a suspensão desse acordo tácito. O período é o de 'lei sem acordo', desprovida a norma de consenso a validá-la.
Mais, a época é pautada na dúvida sobre as próprias premissas da vida social.
Em tempos assim, é sempre mínima a possibilidade de manutenção do regime da lei, que somente pode ser restabelecido quando os homens acreditam na viabilidade de um outro acordo, de um novo e profundo ajuste.
Na História, momentos como o atual sempre foram truculentamente indiferentes aos valores processuais quando o que se debate são os objetivos a que esses valores se prestam a servir.
Na luta pelo poder, as leis perdem sua intransigência, visto que a sua própria sobrevivência corre risco. E somente resgatarão o seu vigor quando e se houver possibilidade de acomodação entre as partes conflitantes. No mais, o império será o da continuada insegurança. (Marcus Moreira Machado)

segunda-feira, 21 de abril de 2008

QUINTA-FEIRA, 24 DE ABRIL DE 2008: "TESE E ANTÍTESE NA DIALÉTICA DA ARTE".

São inúmeras as geniais mentalidades que ao longo de séculos têm buscado a 'razão de ser' da 'beleza'. Todos, de filósofos a escultores e pintores, não medem esforços em desvendar cânones ou normas absolutas de impressão estética. É ampla a discussão acerca de uma 'teoria da arte', e muito se comenta a respeito de 'proporções divinas', de 'equilíbrio de valores', num ambiente onde a arte -antes mera expressão natural da emoção humana- torna-se sistematizada procura da 'verdade estética'. Institui-se assim uma antítese na tese estética, comprendida na dialética da arte. Já afastada de sua primitiva espontaneidade, intuitiva e irracional, na Idade Média a arte segue por dois caminhos, em duas atividades contrapostas, quais sejam, a arte por amor à arte (uma válvula de escape às tensões emotivas de seus seguidores) e a destinada ao fornecimento (com determinadas técnicas, formas agradáveis e úteis às obras) de produtos e objetos vinculados à vida humana, alcançando todos os níveis de suas satisfações materiais. Daí, uma parcela segue cultivando o ideal estético; a outra, mais numerosa, coloca-se a serviço da indústria ou do comércio, e de quantos empreendimentos a humanidade se propõe em seu propalado progresso. Os primeiros permanecem chamando-se 'artistas'; os demais se designam 'artesãos'. Eis que então surge a polêmica: deve-se fazer 'arte pura' ou é necessária a 'arte aplicada'? A 'arte aplicada', bradam os acadêmicos, não é arte. Os marxistas, em contrapartida, afirmam que não existe a 'arte pura', porque, justificam, não há cultura autóctone, isto é, independente das condições econômicas em que se engendrou. Outros defenderão que à arte está reservada uma missão educativa. Mas, no caso, é de se argumentar: a arte é efeito e não causa da educação. (Marcus Moreira Machado)

QUARTA-FEIRA, 23 DE ABRIL DE 2008: "AGRESSÃO E VIOLÊNCIA, CRITÉRIOS DO PODER".

Avaliar o contexto social inevitavelmente envolve julgamentos morais, e tais julgamentos subjetivos podem ser cruciais na interpretação de um ato como legítimo ou ilegítimo. Sem dúvida, a avaliação moral de um ato violento é uma função do estatuto legal desse ato; a extensão da motivação pessoal, de um lado; e a causa social do grau de responsabilidade pessoal refletida no papel da autoridade, de outro lado. Neste último aspecto, há que se notar as opções disponíveis ao indivíduo, a base defensiva ou iniciada da violência, o nível de pertubação emocional, a quantidade de força usada e a intencionalidade do ato. A estes critérios acrescentam-se considerações normativas de imparcialidade, a instância e a forma da violência, os caracteres e circunstâncias da vítima, e, genericamente, a adequação do objetivo. De suma importância, é a atitude individual relacionada aos objetivos da violência. Em virtude dessa complexa dinâmica, o termo 'agressão' não admite definições simples nem amplas generalizações, ensejando, sim, análise em muitas dimensões, a partir de diferentes ângulos de abordagem. Certmente, a agressão não é um acidente da natureza ou uma produção contemporânea. Ela representa um comportamento adaptado, através do processo evolutivo, às necessidades de sobrevivência. Primacial, o primeiro olhar no exame da agressão é o da designação da violência enquanto agressão em sentido destrutivo. E também primordial é a análise da conotação, em termos de juízo de valor, da agressão no enquadramento de suas manifestações dentro de um esquema referencial. Isto porque, convém destacar, a legitimação feita de acordo com interesses de grupos detentores do poder, em cada contexto social, dificulta e restringe a apreciação genuinamente ética entre o que possa ser considerado agressão destrutiva (ou violência, propriamente dita) e a agressão construtiva (ou violência simbólica). Assim, visto que justamente nos abusos do poder residem as causas de inúmeras reações agressivas, torna-se evidente a dificuldade de um mais exato exame da questão, levando-se em consideração que os critérios para a formação dos juízos de valor emanam de uma só fonte, qual seja, o poder.(Marcus Moreira Machado)

domingo, 20 de abril de 2008

TERÇA-FEIRA, 22 DE ABRIL DE 2008: "PENSAR, UMA CONDIÇÃO HUMANA".

Até o aparecimento da reflexão no espírito humano; até o surgimento da consciência criadora no homem; tem-se a impressão de que a evolução da vida vinha do exterior, dirigida então ao objetivo determinado de aumentar a concentração de uma consciência ainda desprovida de reflexão. Nesse estágio, do pensar como uma condição humana há apenas a idéia de busca, de uma sucessão de tentativas e abandonos. A partir do momento em que se evidencia a reflexão, ao contrário, a percepção é de que através da própria reflexão humana o aperfeiçoamento da evolução do mundo deve ter continuidade. A reflexão, da qual o homem é a base de sustentação, ocuparia, de certa maneira, o lugar do instinto de conservação a conduzir a evolução da vida sobre a terra. Ora, desde a criação da vida, vagarosamente, a consciência toma forma coletiva. E se cada indivíduo é pouco dotado, já a coletividade integra um todo consciente, poderoso, atuante, que decide operações também coletivas. Porém, esse padrão de consciência, como que abandonado pela natureza, logo se extingue, tal qual uma experiência infrutífera. No homem, entretanto, é que a individualidade é pronunciada. Pois ele, não restrito a uma especialidade num exclusivo domínio, é quem, por saber fazer de tudo -independentemente do coletivo- foi lançado na vida deliberadamente para traçar o seu próprio plano e seguir o seu caminho. Quando este homem escolher por caminho o do encontro com os seus semelhantes, o seu pensar, da condição humana saltará à condição da humanidade. (Marcus Moreira Machado)