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sábado, 29 de dezembro de 2007

SEGUNDA-FEIRA, 31 DE DEZEMBRO DE 2007: "O VELHO NEO-LIBERALISMO".

Sob o pretexto de substituir o 'paternalismo' e o 'intervencionismo' do Estado na economia, o neo-liberalismo , mesmo apregoando uma visão pretensamente contemporânea e adequada do Estado mínimo, peca, e muito, diante de afirmações como a de seu maior expoente, o Nobel de Economia, Milton Friedman. Pois, segundo o renomado e laureado economista, a filosofia liberal acredita na liberdade de o indivíduo usar ao máximo suas capacidades e oportunidades, de acordo com suas próprias escolhas. Neste aspecto, é de se indagar: é sempre possível que o respeito à escolha individual ocorra sem necessidade alguma de garantia pelo Estado? De que maneira alguém, nascido e criado à margem da sociedade, ou à beira da miséria, poderá afirmar ter feito a sua própria escolha?! Como um assalariado, à mercê da terceirização e da automação das indústrias, pode -seguramente- fazer a sua opção?!! Não é só, entretanto. Os neo-liberais ainda asseveram que o indivíduo deve ser limitado somente à obrigação de não interferir na liberdade de outros indivíduos poderem fazer também a sua 'própria escolha'. Aparentemente, jamais se viu tanta democracia! Todavia, todos sabemos, aparências enganam. De sã consciência, a pergunta que se impõe: de que forma se garante tal 'liberdade', quando mais livre é o que mais fortuna possui? Se na desigualdade econômica pudesse existir igualdade de condições, a confirmar, por seu turno, a cada um o direito a escolha própria, mais correta seria então a afirmação de que o miserável é miserável por sua livre opção! Contudo, diversamente, dúvida alguma se tem sobre a 'liberdade' dos neo-liberais: privativa, ela é exclusiva deles próprios, de quem pôde escolher o 'melhor' sem interferência do Estado. Um Estado assim ausente porque 'pertencente' a reduzido número de pessoas afortunadas que utilizam-no como proteção dos seus particulares interesses.
Via de consequência, de 'neo', de novo, só conhecemos o velho, o retrógado retocado; aquele que, adornado com sofisticação, só quer a mesma dominação da maioria pela minoria, tornando a conhecidíssima 'pirâmide social' a mais neo-idéia de se repetir os erros do passado.(Marcus Moreira Machado)

quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

DOMINGO, 30 DE DEZEMBRO DE 2007: "ARTE E PALAVRA".

A palavra possui a fantástica condição de fazer existir o que nós percebemos inexistente, mas que, através dela, adquire status de 'realidade' peculiar. Esse fenômeno evoca alguma coisa ainda por vir; atrai para o contato com a existência, tal qual esta é comumente conceituada. Verifica-se que há uma relação entre 'existência' e 'obra de arte', quando se parte da existência assim considerada. E por uma inicial aproximação, parece simples dizer que a obra de arte é sempre uma 'coisa'. Todavia, o que é chamado 'obra de arte' contém a característica de formar vigoroso vínculo com a 'palavra'. Possivelmente, o que se pode encontrar de mais essencial na obra de arte é o fato de ela ser uma 'coisa que fala'. Ela apresenta um 'falar' diferenciado. Ora, de modo geral, se diz que o artista 'cria'. Contudo, não bastará que ele pegue o seu material e 'produza' algo. Porque, se o artista pretende 'criar' uma obra de arte, o 'produto' final tem que 'falar'. Afinal, ele deseja dizer alguma coisa através de sua composição. A 'fala' da sua obra é a própria voz do autor. Há ainda outra maneira de se "traduzir" a palavra 'criar', mais ligada à forma de entender a 'existência'. Assim, quando o artista se coloca diante do seu material, não está simplesmente frente a objetos que ele vai 'utilizar' a fim de codificar uma mensagem. Mais que isso, o artista se coloca ante um 'mistério'. Mistério justaposto à acepção do termo 'criar'. O 'material' já guarda, em seu cerne, a 'produção' ainda não realizada. O que nele já está 'fala' alguma coisa que seria importante deixar mais explícita. Aguarda, apenas, na condição de 'não-existência', o chegar a existir concretamente. Concretude que virá pelas mãos do 'criador'. Esse é o 'mistério' da arte: o artista é, por assim dizer, usado pelo seu material. Ele mesmo nada diz, porém, coloca-se a serviço dessa 'fala', para que ela se torne mais patente. É o artista quem ouve algo desse mistério, tornando-o então acessível para outras pessoas, no sentido de explicar a 'fala oculta' da coisa. (Marcus Moreira Machado)

SÁBADO, 29 DE DEZEMBRO DE 2007: "POESIA DA FÉ". "

Entre 1388 e 1358 antes de Cristo, no Egito do politeísmo, ninguém menos que um faraó -Amenotep IV-; marcado por aquela 'loucura' que confina com o gênio, um visionário, 2000 anos à frente de seu tempo; com extrema clareza ousou revolucionar a religião da sua época. E foi tão radical que começou mudando o seu próprio nome: tornou-se "aquele com quem Aten está satisfeito", ou seja, Akhenaten -o que tentou extinguir todos os deuses egípcios, simbolizando no disco solar (Aten) o próprio Criador, o fulgor e o vigor da vida. Akhenaten construiu "A Cidade do Horizonte", 'Akhetaten', libertando-se da hostilidade e do peso das tradições de Tebas. O faraó morreu amaldiçoado por seus contemporâneos, mas viveu o seu ensinamento, pela eternidade afora. Dos seus hinos religiosos, um fragmento ainda hoje indica a verdadeira POESIA DA FÉ: "Para criar toda a Tua obra, modelas as estações/ O inverno traz-lhe a frescura/ E o calor (é o verão que produz)/ Fizeste o céu distante para que nele Te ergas/ E para avistar tudo que elaboraste/ Enquanto era o único presente/ Assomando em Tua forma qual Aton Vital/ Ao nascente, brilhando ao longe e retornando/ Produzes a beleza da forma ao Teu sabor apenas/ Metrópoles, cidades e povoações/ À beira de rios e estradas reais/ Todos os olhos Te descortinam/ Pois Tu és Aton (ou 'Senhor') do dia sobre a terra".(Marcus Moreira Machado)

quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

SEXTA-FEIRA, 28 DE DEZEMBRO DE 2007: "PECHINCHA NACIONAL".

Neoliberalmente falando, cá em 'Brazil', as mulheres fazem renda. E todas essas mulheres rendeiras -providas de TVs, liquidificadores, micro-ondas, etc., etc.- mui felizes estão na reedição nacional de "Alice no país das maravilhas". Eu, de 'Fernando' em 'Fernando', assim meio "gabeira", fico com nenhum deles. Porque, afinal, mesmo sendo louco por ti, "nuestra América", "foi por medo de avião que eu segurei pela primeira vez em sua mão" ... Terra firme!! Nesta terra à vista, em liquidação de pechincha liberal, dos camelôs da idiotice globalizada... 'soy macho, pero no hay que ser duro sin perder la ternura; hay que ser la ternura una "persona non grata" , compañero!'. (Marcus Moreira Machado)

QUINTA-FEIRA, 27 DE DEZEMBRO DE 2007: "POLÍTICA CATÓLICA".

A partir da semântica, através da identificação pelo étimo; no resgate da acepção original dos vocábulos; infere-se, não raro, o quê ensaios e teses muitas vezes afirmariam senão depois de superada a inicial premissa de suas anteriores teorias. Nesse contexto, por exemplo, não será simples ilação constatar-se a proximidade (pelo conteúdo essencial) entre "democracia" e "catolicismo". Ora, se desnecessário esclarecimento sobre a expressão política do primeiro termo, convém, no entanto, melhor entendimento do teor do segundo. Afinal, por 'católico' deve-se compreender o 'universal'. Assim, nota-se que há em comum nas duas significações um igual sentido, propugnando ambas por conceitos de efetiva similitude -sempre na promoção da "igualdade" entre os homens, quer pela "vontade consciente da maioria", quer pela amplitude na abrangência característica da 'universalidade'. O que equivale dizer que "catolicismo" e "democracia" co-existem por meio de intersecção. A adoção de 'instrumentos' a fim de se professar um credo baseado na confirmação de "preceitos democráticos" -como é o caso dos meios de comunicação, ou seja, a mídia em geral- impõe como prática mais imediata a 'lisura', se de fato a pretensão for a de criar hábitos condizentes com exclusivo fim, qual seja, o de propagar doutrina e dogma religiosos. Entretanto, comumente, o que se confirma é o conluio com quem faz da 'comunicação' odioso meio de mal disfarçada "chantagem". Pois, não obstante se dizendo religiosos, querem o "reino de César"; e de 'católico' somente incentiva o sentido do "universal" voltado às sua egocêntricas ambições pessoais.(Marcus Moreira Machado)

terça-feira, 25 de dezembro de 2007

QUARTA-FEIRA, 26 DE DEZEMBRO DE 2007: "DO BEM À ESQUERDA, DO MAL À DIREITA".

Quando se tem por certa a premissa de que "os fins justificam os meios", nenhuma dúvida haverá de que uma simples preposição jamais passará de mera hipótese. Porque "a verdade dôa a quem doer" nunca é base justificável para 'chagas abertas' em nome da 'cura'. Isso, em ocorrendo na política, é o mesmo que defender a eutanásia como o melhor remédio ao restabelecimento da saúde. Ainda que sob o critério do joio de um lado e o trigo à parte, qual pessoa pode sinceramente representar o 'bem' a ponto de personificá-lo em si própria? E quem condenável é no 'mal', por aquele que -defensor de 'bem' incerto- credita a essa indeterminada tutela o rito da violência predeterminada? Trocando em miúdos, em nome do 'bem', nada a ele é contrário? Inclusive o 'mal'? E, visceralmente, quem foi que disse que na esquerda 'jacobina' mora o 'bem' e na direita reside o 'mal'? Muito perigosamente, quando o 'bem' é apregoado pelos maus a fim de declarar guerra ao 'mal', eis que (nem à esquerda nem à direita) restam apenas homens dependentes do norte da bússola política desviada pelo imã do "carisma". E, atraiçoados, de sobra, a estes homens todos os meios empregados para os fins já perdidos no caminho. É quando a violência do "mocinho" revela-se exatamente o quê ela é: violência! É quando, então, Gertrud Stein não mais declama "uma rosa é uma rosa é uma rosa..."; porém, ouvimos lamentos de que espinhos não são promessa de flores no campo. Por isso... por que não a séria advertência, "olhai os lírios do campo"?! Esquerda, volver! Arriba, muchachos! Acima é que a razão está. Acima de nós que abaixo nos quedamos, sempre que, por omissão na ação ou na reação, do 'omitir-se' fazemos o nosso juízo. Porque, caminhando e cantando, em meio a tanto desencanto, braço forte ergue cada um à luta, já que duro e presto é o golpe, sempre que do 'bem' "há uma grande distância entre intenção e gesto".(Marcus Moreira Machado)

segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

TERCA-FEIRA, 25 DE DEZEMBRO DE 2007: "DE QUEM NASCE E DE QUEM RENASCE".

"Jamais jurar; nem pelo céu , pois este é trono de Deus; nem pela terra, pois nesta ele repousa os pés. Mas que se comunique com os outros -dizendo 'sim', 'sim'; 'não', 'não'. Pois o que a isto exceder provirá o mal". Assim disse Jesus aos seus discípulos, em clara referência de que enorme era o seu apreço ao Segundo Livro de Enoc -naquele tempo conhecido como "Livro dos Segredos de Enoc". Porque neste, eis que palavras muito semelhantes ao do Cristo se repetem: "Nenhuma jura faço, nem pelo céu nem pela terra (...) Se não existe verdade nos homens, que jurem pelas palavras -'sim', 'sim; ou então, 'não', 'não' ". A certeza de Jesus de que Deus era o seu pai está presente naquilo que asseverou aos seus mais próximos seguidores, tal qual o fez Enoc. E, decorrência natural dessa convicção, Jesus proclamaria, adiante, "um novo dia", o do reinado de Deus sobre a terra. Por isso, orando, impressionado: "-Venha a nós o vosso reino". E ao rogar, o ungido, o Cristo, em verdade, já sabia presente este reino divino. Porém, não ignorava que a percepção desse reinado ocorreria gradualmente. Certo de que para cá viera missionário, a fim de, ensinando, agir em "prol de seu Pai", o Homem da Galiléia logo observara que nenhum grande amor pela humanidade seria consumado através da ira; razão pela qual em breve tempo passou a enxergar os homens todos como inocente crianças, a quem o melhor e didático exemplo seria o da paz mantida a qualquer preço, ainda que alto fosse o seu valor, mesmo que o pagamento culminasse na sua própria crucificação. Da manjedoura à cruz, do nascimento à paixão, o que se vê é alguém vendo muito além de nós mesmos. É alguém de nome muito conhecido entre os judeus -'Jesus', 'Josué', no hebraico. É pessoa que, por acréscimo, fora chamado também 'Emanuel'; e não sem razão, pois algo mais que a divina presença, mas aquela que liberta e salva... qual outro sentiria dó, a piedade sentida por Jesus ao ser inquirido por seus companheiros sobre quem sentaria à direita e quem à esquerda dele, quando todos chegassem ao Reino ?! Afinal, foi nessa compreensão que Jesus olhou e ouviu a tolice de palavras pronunciadas por gente que ainda por muito tempo prometeria em vão, vivendo num mundo onde, "crianças", gastariam séculos e séculos no aprendizado de elevada estatura moral e mental. E como todo mestre que crê, que verdadeiramente professa, JESUS CRISTO SE FAZ MENINO novamente, a cada ano, PARA QUE NÓS OUTROS, AS SUAS CRIANÇAS, NÃO ESQUEÇAMOS O QUE JÁ APRENDEMOS, e para que reiniciemos uma "novo período letivo", na lição diária do reino, que, por tão próximo, temos dificuldade em ver perto de nós. (Marcus Moreira Machado)

domingo, 23 de dezembro de 2007

SEGUNDA-FEIRA, 24 DE DEZEMBRO DE 2007: "TRÍADE".

Salvação e libertação aparentam diferenças entre si, da mesma maneira como pecado e crime são entendidos diversamente. Também distinção é sugerida nas concepções de alma e espírito. Por isso, muito do que se ensina sobre 'um outro reino', além deste mundo que conhecemos, busca divulgar a crença de que o sofrimento da humanidade, ou o padecer dos miseráveis, dos marginalizados, são destinos jamais modificáveis. Nessa compreensão, pelo 'pecado' deveríamos esperar a 'salvação'; e pelo 'crime', a 'liberdade'. Por que? O castigo e a punição seriam respostas necessárias a todo aquele que não se conforma?! Ou tais idéias servem para limitar indivíduos em suas aspirações!? Afinal, vocação maior do ser humano, a sua libertação é um processo integral, envolvendo-o em 'corpo', 'alma' e 'espírito'! E como precisa alimentar o corpo, igualmente necessitam de alimento a sua alma e o seu espírito. É por acreditarmos na conjugação do homem, reunidas em tríade, suas três 'faces', unificadas as partes que o compõem, que professamos a sua efetiva participação política, individual e coletiva, na determinação do seus próprios destinos, rompendo com a falsa noção de predestinação à pobreza material, desvinculada da emancipação social. É por convicção na libertação do homem, através da mobilização do povo -em reconhecimento de que a "salvação implica a totalidade do mundo de Deus"-; é pela incontestável certeza de que "fomos criados exatamente para isso -para receber a vida de Deus em nosso espírito, viver essa vida e expressar o próprio Deus em nosso viver"; é ainda na identificação de que "totalidade não significa uma grandeza fechada em si mesma, mas uma relação da realidade que se funda em Deus como o sentido pleno e a radical plenitude de ser; é por tudo isso que propugnamos no homem a sua integridade, só conquistada mediante a perseverança de quem almeja um mundo melhor, neste plano que também é de Deus.(Marcus Moreira Machado)