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sexta-feira, 9 de novembro de 2007

SÁBADO, 10 DE NOVEMBRO DE 2007: "PURA ALMA".

Generosidade é o prodígio da natureza. A nascente, mansa, cede tempo e lugar a corredeiras sôfregas, seguindo-se-lhe tumultuada cachoeira. E tudo para novamente vingar a placidez, nos ritos de passagem da água. Ainda assim, homens insistem em desprezar o movimento da vida, transmudando-se em fluidos volitantes, para -superada a brevíssima transição- voltarem, afinal, à companhia dos resignados. Limitados todos somos -por margens estreitas, algumas; amplas, outras tantas.
Marginal na essência, pura é a alma singrando rumo ignorado mas pressentido. Porque eis no rio o seu presságio do oceano. (Marcus Moreira Machado)

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

QUINTA-FEIRA, 8 DE NOVEMBRO DE 2007: "SOCIALISMO NA TORRE DE BABEL".

Da antiga 'Pindorama', na denominação ameríndia, à contemporânea "res"-pública brasileira; agora já ultrapassados períodos e nomenclaturas respectivas -indicações de ainda não comprovadas superações da República Velha, do Estado Novo, etc, et coetera-; mesmo hoje, sob a suspeita de duvidosa gênese (mais devida a "brasileiros" assim alcunhados como efeito do tráfico da madeira vermelha qual "brasa"); o gigante pela própria natureza; o Brasil do "coqueiro que dá côco", da terra de palmeiras onde "gorjeiam sabiás"; segue (des)conhecido itinerário, nas vagas de oceanos outros, tripulado por marinheiros de água doce, rumo ao quinhentista futuro de 360 graus, imitando um certo genovês na sua admiração por Marco Polo, pela convicção da esfericidade da terra; e (re)descobrindo, porém, o ululante, somente. Nesse amplexo sem nexo da cultura helênica com romanas injunções, saboreada ainda ao canto cigano de mouros e acalentada na lusa pátria por hispânicos, mais a tradição inca, via ianomâmi, tudo mixado com africanos tambores; eis que outros reinóis -assimilando formidável amálgama de heterogêneas concepções, sem descuido, contudo, da contra-acepção universalista na pregação do coletivo acima do individual (e por isso na cantilena de um samba do crioulo doido)-, enfim, declaram em ordem unida a união dos povos tropicanos, do Oiapóque ao Chuí, em torno de ecletismo de seitas socialistas do mundo afora. Os "redentores", porque acreditam que Jung e Kardec professam idênticas idéias; e porque não sabem o que Kardec ensina, e ainda desconhecem os cânones do dissidente de Freud; afinal, ignoram a mais absoluta ausência de arquétipos socialistas em nosso meio; não desistindo, todavia, do cântico "libertário", e então pretendendo permear nas hordas a paz de uma "igualdade" jamais vista. Tudo sob a "divina" inspiração de partidária vocação ao trabalho -nomeada "justiça e fraternidade", em decreto de novo regime, sob os auspícios de hodierna era, que a de Aquário já se foi. E agora, é a hora e a vez de Augustus Matraca; quer dizer, é minuto e momento da passagem pela terra do cometa ascendente em estrela vermelha de constelação da via 'férrea' -como duro é o querer de alguns, sempre que desejam 'muito' em nome de 'todos' e para uso e gozo de 'poucos'. E porque crêem fervorosamente, é também com ardor que (ex) clamam: "- Para Babel, alguém do Céu! Agora e na hora de nossa morte, amém! (Marcus Moreira Machado)

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

QUINTA-FEIRA, 8 DE NOVEMBRO DE 2007: "APOSTOLADO E APOSTASIA".

De somenos importância quaisquer diferenças entre comunismo e socialismo. Socialismo utópico ou socialismo real, a distinção é irrelevante. Se ateu é comunista ou o socialista também, não é fundamental. Crucial é saber porque há católicos marxistas (ou lenilistas ou maoístas, ou stalinistas ou trotskistas; tanto faz, tanto fez) e católicos apenas religiosos. Por que será? Uma interpretação bíblica inspirada na dialética do materialismo histórico (mesmo depois da "queda do Muro de Berlin"; ainda agora, sob os mandamentos de Adam Smith, ressuscitados e adaptados aos argumentos da globalização, com o pseudônimo de 'neoliberalismo'), tal interpretação é utópica ou real? E alguma barreira foi outrora construída pela Igreja de Pedro para, mais recentemente, ser também derrubada por cristãos "politizados"? Porque, se confirmado, se provado algum progresso espiritual no cristianismo católico a partir do estabelecimento de "obrigatório" vínculo com a materialidade política; isto é, se a prosperidade individual e coletiva do homem depender mesmo do grau de sua participação em diretas ou indiretas decisões nos destinos dos governos do seu lugar; melhor então será reescrever os evangelhos todos, conclamando Lucas, Mateus,João e Marcos e 'neotestamento'; dessa feita, a ser pregado não mais por meros apóstolos doutrinários, contudo, através de prosélitos imbuídos de taõ inabalável e incontestável certeza do seu particular credo, que a única abjuração não apenas cabível mas até mesmo requisitada será a deserção da fé que "remove montanhas"; tudo a fim de consolidar-se a pragmática de inovadores líderes -os da redenção humana por si mesma, quer dizer, a sociedade acima dos céus, em derrocada final das duvidosas interpretações teológicas a respeito do número desses céus -se três, sete ou dez. Se direção e sentido são a mesma coisa, certamente 'eclesia' e 'politia' somente têm em comum o 'ser' a que ambas se destinam. Entretanto, lidam (ou deveriam lidar, no caso) com rumos diferentes e sob óticas diversas entre si. E, pois, querer reduzir 'espiritualidade' ao nível do material, será ter por 'fé' não mais que o clamor, e pouco menos que o fervor; tudo pela entronização da apostasia na formação de próceres encarregados de mitificar o 'secular' como efetiva majestade, acima até da eternidade, em gestos de quem no transitório quer aprisionar do céu a terra. Heresia, no mínimo; arrogância, quando muito. Fruto de alarve, sem dúvida. (Marcus Moreira Machado)

QUARTA-FEIRA,7 DE NOVEMBRO DE 2007:"O VULGO, O CULTO".

Os meios de comunicação de massa são o oposto da obra de pensamento que é a obra cultural. Esta leva a pensar, a observar, a refletir. As imagens publicitárias, as televisivas e toda a parafernália na mídia, em seu excesso desprovido de critica, nos impedem a imaginação. Tudo para elas é convertido em vulgo entretenimento, das guerras e genocídios às greves e cerimoniais ritualísticos; das catástrofes que dizimam centenas de milhares de pessoas às obras de arte e do pensamento. Diversamente, a cultura deve ser entendida como o aperfeiçoamento, a depuração dos direitos humanos. Num mundo como o contemporâneo, anti-intelectual, avesso a teorias e inimigo do raciocínio autônomo, a razão tem foro privilegiado. Cultura é pensamento e reflexão. Pensar é o contrário de obedecer. A indústria cultural,, no entanto, cria um arremedo de participação nesse processo, não obstante o exato entendimento de que o direito de acesso a bens culturais é a melhor interpretação do direito à cultura, como ponto inicial na transformação das consciências. Nota-se que esses bens culturais não têm origem somente no empreendimento das mentes geniais que os criam, pois contam com a anônima colaboração dos que se contagiam com essa criação. Muitos são, porém, os colocados à margem da cultura expressiva. A exclusão de multidões de pessoas, apartadas das realizações espirituais da nossa sociedade, é agravada pela indústria cultural que destitui os indivíduos de sua própria cultura, descaracterizando-a e transmudando-a através de arranjos massificados. Não possuir essa cultura do vulgo será manter a possibilidade de autêntica atuação cultural. (Marcus Moreira Machado)

TERÇA-FEIRA, 6 DE NOVEMBRO DE 2007: "O PODER DA PROIBIÇÃO".

É sempre possível impor a um ser humano -desde a sua mais tenra infância- uma moral que impeça e reduza significativamente sua essência à plena realização. Bastará ensiná-lo a pensar nas condições de relacionamento físico, instintivo, sensual -do seu 'poder-existir'- como algo pecaminoso, que deverá ser reprimido a qualquer custo. Tal ser humano tornar-se-á "culpado" por "ocultar' vivências muito especiais do mundo. Ele se fechará ao chamado de múltiplos fenômenos, tendentes a assegurar-lhe o direito de um 'poder-surgir' na luz de sua existência. Cada um de nós experimenta essa omissão através de sentimentos de culpa e remorsos dolorosos, que nos convocam a 'um tornar-se melhor' e a 'um tornar-se completo'. São sentimentos que se sobressaem quanto mais distantes estejam de fato na realização da vida. Alguém assim limitado, só pode entender 'um tornar-se melhor' como 'um obedecer', cada vez mais rigoroso, a ordens e proibições estranhas à sua essência. Empreenderá todos os seus esforços em radicalmente negar as possibilidades que encontre, para não interpretá-las como o 'pecado' inominável. Efeito imediato, aumentará sua 'culpa humana', compreendida na 'realidade' admitida: paralisado, aquém da missão que sem efetiva percepção assumiu -a de guardião da "ordem", zelador da "harmonia". Não é tarefa que demande intrincada construção, a de tornar um indivíduo cativo de si mesmo, por meio dos seus sentimentos de culpa distorcidos, desprovidos de autenticidade, pois impostos através de mentalidades alheias a ele próprio. Trata-se de processo que gerando evidentes neuroses mutila o indivíduo, a fim de usurpar-lhe a essência, subjugando-o aos interesses de uma indeterminada coletividade. É 'mecanismo' autônomo, que independe de sistemas de governo, livre de ideologias, mas ativado na latente predisposição de todos nós para a submissão. (Marcus Moreira Machado)

SEGUNDA-FEIRA, 5 DE NOVEMBRO DE 2007: "CALEIDOSCÓPIO DA ESQUERDA".

Um olhar mais atento à performance de candidatos proclamadores de governos onde o representado supostamente será co-partícipe das decisões da cúpula dirigente; esse olhar é hoje, mais que necessário, uma obrigação a quem, por ingenuidade, ainda possa acreditar que o "coronelismo" não mais existe. Pois, nem o aparato da mídia nem a "Torre de Babel" instalados entre nós, por ocasião de campanhas eleitorais, poderão fazer mais que disfarçar o novo figurino da velha prática. Agora, vestidos com roupas do brechó da história, não faltam candidatos que desfilando no samba enredo do 'novo', mal escondem a fantasia que vestem para o discurso da sonhada hora dos excluídos no poder. Apresentando sistemas hipoteticamente revolucionários de governar, ao mesmo tempo em que insinuam desafiar a ordem do Imperialismo (prometendo até o rompimento com a democracia representativa, para em seu lugar instituirem a mal compreendida participativa), esses intrépidos homens de "esquerda" nem fazem e nem desocupam a moita. Sem o destemor indispensável aos descrentes em qualquer forma de governo, e por isso sem a convicção dos anarquistas (a apregoarem a mudança da sociedade a partir de dois únicos fundamentos -a coordenação e o trabalho), contudo, ainda bradando como se anarquistas fossem, agem os "esquerdistas" deste naipe através do caleidoscópio da sua veemente contradição: pedem votos! (Marcus Moreira Machado)