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sábado, 18 de agosto de 2007

O TAMANHO DO GIGANTE

Se entre o céu e a terra há mais mistérios do que a filosofia pode imaginar, tudo só é misterioso quando vão é o pensamento. Ou, se há diferenças cruciais entre PROGNOSE e PROFECIA (e de fato elas existem), nada mais evidente do que a nítida transparência ocultada sob o manto da hipocrisia.
Disso, a clareza de tornar muito próximo o quê se pretende demonstrar ainda longínquo.
Por isso, a aritmética do prognóstico, a desmistificar a ALQUIMIA DO VISIONÁRIO.
Trocando em miúdos: mistérios existem para quem (talvez por preguiça; por comodismo quase sempre) aceita ser mero espectador, mesmo intitulando-se (ou se deixando denominar) co-partícipe que opina e escolhe; que escolhe e decide.
Porque, ruindo O FASCÍNIO QUE O BANAL SEMPRE PROVOCA, ninguém usará lentes escuras em quarto fechado e com a luz apagada. Saberá que o podre no reino de Amsterdã é mal-cheiroso po culpa sua -ele, que optou pelo (in) crível e negou tornar possível possibilidades de múltiplas combinações.
Marcus Moreira Machado

NOS UMBRAIS DO AQUÉM

"- Que cidadão!" , exclamou o guri, à entrada da capital.
Maravilhado com a megalópole, o menino queria porque queria saber quantas entradas tinha a enorme cidade. O pai, sem graça, não sabendo o quê responder, dizia: "-Não dá nem para imaginar!" No seu deslumbramento natural de criança vinda o interior, o garoto não pensava noutra coisa: afinal, por que num "cidadão" como aquele não existia nem portal, nem porteira ou mata-burro? Afinal, mesmo com apenas oito anos de idade, ele já prestava atenção no diz-que-diz lá da sua terrinha. E lá não se falava em mais nada além dos umbrais, portentosas obras arquitetônicas, somentes superáveis pelos Jardins Suspensos da Babilônia; e, é claro, pelo superávit da receita que minguava mas dava. No rincão do pimpolho, comentava-se, mais segura seria a segurança (desse jeito mesmo! numa figura de linguagem que, nem pleonasmo nem retórica, e despertando a ira da permissão poética, assemelhava-se a onomatopéia). Nas plagas do rapazinho, ladrão não entraria e ladrão não sairia, com os tais de umbrais em todas as saídas contábeis (era sim possível contá-las). O quê se dizia na 'terra' do menino ... ! Era tanto o quê por lá se dizia, a ponto de ele mesmo imaginar se a sua cidadela não seria a verdadeira terra do Peter 'Pan'. Faltava a fada-madrinha, verdade. Não existia também o Capitão Gancho, embora, certamente, jacaré já existira. Mas, pensava, provavelmente Peter 'Pan', lá, tem.Que igual ao conhecido personagem, teima em não crescer. Nos sonhos do infante, os umbrais eram, sem dúvida alguma, do aquém.Ignorando não existir pecado do lado de baixo do Equador, ele acreditava na reputação do clã e na sapiência dos anciãos,voltados (era isso o quê ouvia oficialmente) para o bem-estar coletivo.Tanto que NAS SAÍDAS NINGUÉM ENTRAVA E NAS ENTRADAS E BANDEIRAS ALGUNS SAÍAM com o tesouro dos demais -os limitados pelo fosso que circundava o lugar. Daí o espanto. Daí a incredulidade do menino, "perdido" em meio a tantas novidades capitais da metrópole. Quanto crucial era definir -muito mais que intitular- conhecimentos antes nominados pelos adultos! Ele não conhecia o significado da palavra 'mandala'. Contudo, bem compreendia, no círculo, a REALIDADE DA CIRCUNFERÊNCIA CHAMADA PERIFERIA. Agora, sem referenciais, já então silente, imaginava que o grande era o pequeno, vez que tudo aparentava na passar de uma imensa periferia; diferente da sua cidade, onde, no centro, se via um cidadão 'caminhando e cantando' a passos largos para os arrabaldes, num vaivém de quem -sem saber o porquê- não vai além; volta aquém. Marcus Moreira Machado

sexta-feira, 17 de agosto de 2007

ENTRE O CÉU E A TERRA

Toda a estirpe humana -conforme o quê professam não apenas os cristãos, mas ainda sequazes de outros credos e de variadas doutrinas- teve única gênese. E por nascerem os homens todos da mesma divina fonte, serão irmãos, muito além da fraternidade restrita aos laços consanguíneos, ou por pertencerem a um determinado segmento social. Serão irmãos num conceito afastado dos limites da internacionalização por nós criada no decorrer dos séculos. E dessa mais ampla irmandade dependeriam o princípio, a construção e a consolidação de matura idade da civilização humana; a ponto de então essa disposição proporcionar a cada um e a todos simultaneamente o bem-estar individual e coletivo -a partir da concelebração da identidade comum, em radical supressão do egocentrismo, a fim de, por acréscimo, preparar o "homo-sapiens" ao advento de uma nova era, em novo horizonte para a humanidade. Assim, experimentaríamos os benefícios celestiais em TERRA PROMETIDA E CUMPRIDA; sob os auspícios da elevação espiritual e com os subsídios da sublimação da paixões puramente terrenas, essencialmente temporais
Contraditoriamente, entretanto, os prosélitos dessa 'comunidade de irmãos' apregoam que "cada homem é um ser novo no mundo, chamado a realizar a sua peculiaridade". E como solução ao suscitado impasse -ante a individualidade a ser preservada e a pluralidade a ser conquistada (no objetivo de instituir-se assim o "mundo novo)-, indicam a si mesmos o trato das relações interpessoais que, através de extenso rol de componentes e caminhos, visam preparação à chegada do amor recíproco.
A comunicação e o diálogo são meios dessa pretendida 'finalidade'; representam instrumentos de consecução, como gesto de "assumir" o desgarrado, de "levantar" o caído, "acolhendo-o" para torná-lo "melhor". E é exatamente por isso que o paradoxo se instala.
A fragilidade intrínseca à noção do que é bom e do que é ruim (sempre que o conceito destes valores é avaliado fora dos limites essenciais a cada ser); a relatividade acima da generalização, no desejo daqueles que se acreditam dotados de superiores condições para "resgatar" o outro (isso porque crêem que o outro é o seu "irmão caído"); tudo somado; daí à discriminação, e desta à segregação dos opositores; então, muito mais rapidamente a planejada "irmandade" cede lugar e tempo ao nascimento de inimitável "confraria", criando inesperada espécie de parentesco, onde A COMUNIDADE INTEGRAL É SUBSTITUÍDA POR CLÃ DOS NOVOS DIRIGENTES.
A anterior premissa (já agora interpretada restritivamente na vaidade dos 'iniciados') sucumbe às estratégias de libertação, assemelhando-se nesse outro estágio com o remoto conhecimento a respeito de 'redenção', e confundindo-se com o "auxílio que se dava para libertar escravos".
Diante das limitações impostas constitucionalmente, o novo agrupamento precisará abrigar-se em instituições já consolidadas e legalmente reconhecidas. A única maneira de -parasitariamente- utilizar recursos e estruturas preexistentes para mediar, enfim, a APROXIMAÇÃO ENTRE O CÉU E A TERRA, saneando o mundo através do expurgo de quem recuse a salvação que se lhe é imposta; e sanando os problemas que jamais seriam resolvidos, se fosse identificada a facção.
A dualidade presente, não percebida a tempo, conquistará associações de toda sorte, não poupando sequer partidos políticos, notadamente quando um destes destaque-se por seu CARÁTER DE PROXIMIDADE POPULAR -no apelo da militância de doutrina libertária.
O mal feito, de nada adiantará qualquer advertência. E não será mera coincidência a identificação com personagens ou fatos reais. Porque O IMAGINÁRIO, MAIS QUE O REAL, SERÁ A ORDEM VIGENTE; banidos os que a ela não se curvarem.
Marcus Moreira Machado,
em 19 de agosto de 2007.

quinta-feira, 16 de agosto de 2007

A "DEMOCRACIA" NO ANARQUISMO

Para o anarquista, o mal absoluto é o Estado.
O anarquista propugna que A HUMANIDADE REDUZIRÁ A ZERO A AÇÃO DOS GOVERNOS.
Na concepção de Proudhon, seria inevitável A EVOLUÇÃO DA HIERARQUIA PARA A ANARQUIA, no estabelecimento de uma COORDENAÇÃO SEM ESTADO.
Os anarquistas sentem verdadeira repulsa por todos os sistemas puramente ideológicos, e, sobretudo, pelas utopias.
Para eles, o movimento é a ESSÊNCIA DO ESPÍRITO, a única verdade, assim como na Natureza. E tal qual esta, a CIVILIZAÇÃO É ESSENCIALMENTE HISTÓRICA, sujeita a progressão, a conversão, a evolução e a metamorfose.
Ao contrário dos economistas, os anarquistas não crêem que a sociedade já está organizada a partir de planejada estrutura. E diferentes dos socialistas, os anarquistas defendem que O DESENVOLVIMENTO HUMANO, A PARTIR DO TRABALHO, ESTÁ SEMPRE A CAMINHO DE SE ORGANIZAR, desde o começo do mundo, e que se organizará até o seu fim.
Os anarquistas sentem ilimitada repugnância frente aos articuladores do que eles chamam de "PANACÉIAS SOCIAIS". Por efeito, combatem com veemência "os remédios eficazes para os males da sociedade".
Eles são incrédulos quanto a soluções que se imagina serem realizadas imediatamente, à vista dos resultados obtidos e dos fenômenos em curso de realização.
Na prática, A DESCENTRALIZAÇÃO é máxima dos anarquistas, FAZENDO DESAPARECER O SISTEMA POLÍTICO OU GOVERNAMENTAL NO SISTEMA ECONÔMICO, reduzindo-o, simplificando-o, descentralizando-o -para ir suprimindo, uma após a outra, todas as engrenagens "dessa GRANDE MÁQUINA QUE TEM O NOME DE GOVERNO DO ESTADO".
Trata-se, enfim, de rompimento com a rigidez pela qual atrofiam-se todas as atividades sociais.
Aos anarquistas, a primeira condição para ser 'dono', para ser 'proprietário', é a do O HOMEM SABER MANDAR NOS SEUS PRÓPRIOS SENTIDOS, abstendo-se dos fáceis prazeres. O TRABALHO ELEVADO À ALTURA DE DOGMA RELIGIOSO.
O 'socialismo', assim compreendido, é uma questão moral, no sentido de apresentar ao mundo uma nova maneira de julgar todos os atos humanos; uma nova evolução de todos os valores.
Nessa ótica, não há espaço para o oculto, não cabe o clandestino (tão próprios do totalitarismo!).
Sob esse julgamento -a partir da admissão da constância na evolução humana- A LEI É EM SI MESMA SUBVERSIVA, a exemplo de qualquer nova Constiuição, que, quando promulgada, rompe com a norma anterior, subvertendo-a.
Observa-se assim que o anarquista -da clássica noção de democracia, vinculada ao conceito de liberdade (individual e coletiva)- tem sua visão acima da interpretação mais "coloquial". E sem nehuma erudição de enciclopédia, ele crê em sociedade organizada a partir de valor hoje relegado à inferioridade: o trabalho.
Por consequência, cabe-nos ao menos a aceitação de que os PRESSUPOSTOS ANARQUISTAS DEVEM SER PREMISSA PARA O DEMOCRÁTICO que, lamentavelmente, apenas tem servido de mote para a manutenção de enrustidos sistemas de governos caracterizados pelo maior ou menor autoritarismo -presentes em oligarquias imperantes na organização da sociedade humana.
Marcus Moreira Machado,
em 17 de agosto de 2007.

A GÊNESE DA BELIGERÂNCIA

Algo jamais visto na história da civilização humana -mesmo no seu primordial período da "barbárie"- e assumida contemporaneamente, A BELICOSIDADE É O ATUAL MODELO SOCIAL. Imediata decorrência, o Estado tornou-se o avalista da destruição de 'princípios' outrora conquistados pela humanidade através de muito sacrifício, na milenar superação do primitivo homem na terra.
Mais que isso, hoje, do Estado, a sua característica de 'patrocinador' e, não raro, de autor de SOCIEDADE MOLDADA EM NEGAÇÃO DA CIVILIDADE, furta-se-lhe a essência oriunda da supressão dos órgãos de constituição gentílica; meios arrancados de suas raízes populares, das 'gens', na 'fatria' e na 'tribo' , tanto quanto assim observado por Engels.
Segundo o mestre alemão, ainda, curiosamente, a constituição da 'gens' não conhecia escravidão alguma, a princípio; não sabia manter o jugo numa massa de pessoas livres.
Pela guerra, sim, tribos dizimavam outras tribos; porém, não escravizavam-nas. Então, o quê mal denominamos "bárbaros" (confundindo-os até com os "selvagens" de estágio anterior), deixa de ser agora exata referência na evolução humana. Porque padecendo de igual equivocado raciocínio, perdura a crença de que somos os detentores do que, intitulado 'progresso' , seria o responsável direto pela nossa primeiríssima colocação no 'PODIUM' DA ESCALA ZOOLÓGICA.
Muito provavelmente graças ao privilégio da 'razão' que nos é peculiar, foi possível alcançarmos a BESTIALIDADE JAMAIS VISTA EM OUTROS SERES. Ou, qual outra raça conseguiria a submissão de uns indivíduos por outros? Dominação essa viabilizada na concepção de direito a institucionalizar uma RELAÇÃO DE EMPREGO SEM A CONTRAPARTIDA DO VALOR DE TROCA DETERMINADO.
Não foi outra coisa o quê vimos consolidar-se como inigualável prática de subjugação, ao longo de processo a que chamamos, também equivocadamente, 'CAPITALISMO'.
Ora, "o direito ao uso da força-de-trabalho supõe que os trabalhadores devam efetivar seu direito a troca". E não se trata aqui de um direito de vender a força-de-trabalho como determinante de um lado oposto ao do empregador. Pois, o direcionamento dessa força ao uso pelo capital emerge, juridicamente, como o direito dos trabalhadores a emprego regular, mediante salário condigno, em uma 'relação' geradora de outros novos direitos.
Tal compreensão relembra a lição de que também na fase gentílica da evolução humana (nos moldes da 'sociedade' e do porvir do Estado) TÃO SIMPLES ORGANIZAÇÃO REPELIA O DOMÍNIO E A SERVIDÃO tão-somente pelo único instrumento até então conhecido: a guerra. Essa mesma 'guerra' que é antagônica à CIVIL AÇÃO; a mesma COMBATIVIDADE que em nosso tempo AUTORIZA o exercício do ESTADO BELIGERANTE , em misto de estágios pré-históricos de cultura com a moderna SOFISTICAÇÃO JURÍDICA.
Uma dissimulação, sem dúvida, de outras tantas violências presentes no dia-a-dia da sociedade (des) organizada.
Marcus Moreira Machado,
em 16 de agosto de 2007.

quarta-feira, 15 de agosto de 2007

NAVEGANTE

Então...? O quê há, o quê houve de tão desigual na semelhança de todas as intenções? Fez ou faz alguma diferença fingir diferente?
Afinal, o engano não é esse. Ou melhor, não foi aquele: o veraz nem é crível como acreditamos! Mesmo porque, cá comigo, lá consigo, somos a real incapacidade de querer muito em cada um de nós próprios. E porque precisamos dividir... dividir precisamos. Na expectativa de amplificarmos tímidos ruídos da individual alma, ansiando um único espírito na grandeza coletiva.
Em meio a emoção mais conhecida, da carne mais próxima, alma e espírito confundem-se, porém. É o momento em que nos resta perguntar: E CARNE E ALMA; E ESPÍRITO E EMOÇÃO, onde estão? Não habitam o mesmo 'animus' -o que DECLARA À VIDA O DEVER DE PROSSEGUIR ?
Ora, se 'não'... Então, o quê houve? O quê há?
Vamos?!
Vamos! Com ênfase, ao som dos nossos tambores, no grito das nossas guitarras, distorcidamente; sôfregos e ansiosos em sonhar realidade ao norte, ainda que sem bússola. Porque, nem por isso, a tempestade é inevitável. E porque ao sul, se chegarmos, sequer saberemos de norte algum (aliás, em Assunção do Paraguay os bravos não morreram por falta de rumo; antes, padeceram dele).
E centro-leste, centro-norte, centro-oeste-sul... não definem o centro do universo do mundo ao sul do Equador. Pois é nesse latin lover, NESSE PACATO CIDADÃO QUE FEMININAMENTE GEME O AMOR CALIENTE das vãs discussões, no mais puro êxtase do formidável orgasmo!!
Assim, tudo: reinventando, vangloriando, desejando... Jurando!
O quê houve? Já não se lembra mais? Mas não falávamos das bobagens todas de não se dizer a única palavra que de fato era a do nosso desejo?
Tempo algum perdemos. Tudo foi dito, até muito além dos limites do medo.
Notemos, notamos, sem que ninguém notasse ou jurasse, além de nós, no eterno e delicioso segredo; nesse eixo -a referência do espelho, um no outro. (Até mesmo cada um não se vê igual em seu reflexo).
Cá no meu reino, a minha casa fica lá atrás do mundo, aonde eu vou num segundo. E é por isso que eu gosto lá de fora, afora. Eu sei que da minha falsidade eu dou conta, na soma de todas as minhas diferenças sutis, consideradas as discrepâncias de todas elas.
Como é mais convincente amar na segunda pessoa do singular, sou ímpar para dizer que te quero tanto quanto a mim mesmo eu espero. E QUE SE DE TI PRECISO COMO DESCONHEÇO, 'preciso' eu sou. Porque, nada de 'navegar é preciso'. Viver não é. (Que me desculpe Pessoa).
O MAR É DE CAMÕES SOLDADO, não de poeta encantador. Serpentes são mágicas se bruxo for o flautista (e, no meu caso, eu toco gaita, mais chegado a blues tristonho -do mundo primeiro que chorou negros, índios, cafusos e mamelucos daqui; e, quem sabe, os de lá.(Olhaí, olha o meu guri cá dentro de mim. Olhaí, guria, o que há em ti!)
Que lugar no mundo é o de cada um? Lugar ao sol? Mas onde, nas galáxias? Em qual delas, além dos sóis todos que possamos enxergar? QUAL MUNDO TEM LUGAR EM NÓS PRÓPRIOS, diante de tantos lugares onde jamais estamos?!
Porque: há vida noutros planetas, mais a Lua satélite?
Porque: há constelações outras que não as astronômicas ou as poéticas?
Porque: se tudo parece tão próximo e real, verdadeiro e crível... então... O quê há? O quê houve de tão desigual naquelas intenções, que não passaram disso?!
Vamos!?
Vamos. Enaltecendo valores, dores, humores. Elogiando elegias, engrandecendo os pequenos mais notórios que notáveis, MONSTRUOSAMENTE ADORMECIDOS NA CONTIDA VOLÚPIA IMORALIZADA!!
Naveguemos!
Marcus Moreira Machado

REFORMA AGRÁRIA, UMA PRÁTICA ANTIGA

O sistema das capitanias hereditárias, instituído no Brasil por D. João III, representava a terra dividida em "senhorios dentro do senhorio do Estado; uma aparência nitidamente feudal.
Apenas 'aparência', no entanto, porque quem recebia a terra -o donatário- não exercia plenamente o domínio do solo; sofria limitações, obrigado a doação de uma parte do que recebeu, fração essa conhecida por sesmaria.
Capitanias e sesmarias eram, juntas, as faces marcantes da economia do início da colonização sistemática brasileira, constituindo-se numa administração baseada na grande propriedade territorial, no latifúndio.
Importa observar que no Brasil a 'sesmaria' foi deturpada, em concepção e na prática. Pois sesmaria (oriunda de "sesmo" ou "sexmo", 'sexto'), aqui, designava 'limite', sendo sesmeiros, não os que recebiam a terra, porém, os FUNCIONÁRIOS ENCARREGADOS DE DISTRIBUIR AS TERRAS DESOCUPADAS ou aquelas cujos proprietários não as cultivassem.
Percebe-se que no original conceito, muito antes de 1530, anteriormente às capitanias no Brasil, já existia preocupação com o que hoje conhecemos por "TERRA IMPRODUTIVA".
À época de Dom João III, o quê se conhecia, com efeito, era a velha "LEI DAS SESMARIAS" -incorporada com prejudiciais alterações pelas Ordenações do Reino Português.
O donatário, o beneficiário da doação, recebia a terra não aproveitada pelo dono.
Nesta compreensão, constata-se que, para IMPEDIR A CONCENTRAÇÃO DE TERRA IMPRODUTIVA (a terra ociosa), OS SESMEIROS JÁ FAZIAM REFORMA AGRÁRIA, na Europa.
O Brasil de hoje ainda insiste em variáveis do mesmo modelo adulterado pelos portugueses de então, muito embora se imagine qualificado a auxiliar nações africanas e latino-americanas, mas estampando nitidamente o atavismo que o desloca no tempo e no espaço, não logrando conquistar o quê pretende, porque, afinal, convive com idéias antigas, sem prática alguma que o caracterize como "país do futuro".
Marcus Moreira Machado

terça-feira, 14 de agosto de 2007

DE VOLTA AO FUTURO

Já abolida a clássica divisão da História -como tradicionalmente constante dos compêndios didáticos-; utilizando agora alguns usuais marcos históricos tão-somente como deléveis referências; é de se perguntar (se incorreta a denominação "Idade das Trevas", se incerto identificar-se outro momento como "Idade das Luzes" -uma e outra como caracterização da alternância de períodos da civilização) : qual o nome desta "barbárie" requintada, e qual o título desta hipocrisia "moralizadora" contemporâneas?
Há nome para tudo, ainda que o essencial, mesmo que o cerne, a estirpe, sejam olvidados pelas palavras cunhadas nas designações, alcunhando-se o mais absoluto com o registro do mais relativo. É no apelido aceito como verdade inquestionável onde nasce a burla, disseminando normas ditadas na truculência e obedecidas na passividade.
Nascida na ignorância, a nomenclatura (elevada à superioridade dos ícones) é a alteza real. Sob o seu manto, o séquito de admiradores, prostrados em reverência, perpetuam a N E C E D A D E , muito embora apresentem-lhe ilimitado aval, caucionando o progresso em nome ... da evolução!
Por isso bugiganga à pilha não é missanga, e Cabral não é Tio Sam. E só por isso, é disso que sobrevivem todos os espoliadores, dilapidando patrimônio alheio na OFERTA DE GALHOS E QUEBRA-GALHOS importados diretamente da SUCATA E LIXO DOS QUINTAIS IMPERIAIS; mesmo que para 'imperialismo' se dê igualmente nova alcunha, chamado, pois, ao gosto moderno (ou contemporâneo?) de neoliberalismo, no tempero da DESENFREADA DEMANDA POR CLAVAS CIBERNÉTICAS.
Ora, eis o capital ! Frente à frente, o fundamental e o periférico, não obstante a impensada e ligeira resposta: "-Washington!". Ou na "melhor" (ou 'pior'?) das hipóteses ('respostas') : "-Miami !".
Porque: "Ai, esta terra inda vai cumprir seu ideal... ainda vai tornar-se um imenso Portugal !",
Nas trevas do cotidiano, sob as luzes de holofotes, pálida, segue a História o seu curso, atravessando mares nunca dantes navegados; em luta acirrada com os sobreviventes DRAGÕES DA MALDADE, sob o comando de SANTOS GUERREIROS adestrados nos cursos intensivos do ano 2007.
Apócrifos, evangelhos outros são professados através da multimídia; banidos os franco-atiradores; desterrados os HEREGES DO ÚLTIMOS DIAS. Tudo porque na guerra dos cem anos, mil séculos vos contemplam, à maneira de Napoleão -"revolucionariamente"-, ainda que em mão inglesa. Porque na abolição da escravatura não há nomes.
Quilombos não aceitam, porém, lei áurea, pois defendem no anonimato a inominada declaração do aperfeiçoamento humano -em escala evolutiva verdadeiramente ascendente, contínua e não alternante; com luz própria, enfim!
Marcus Moreira Machado

TÊMIS, MÍDIA E DIKE

No intervalo entre a velha Grécia e o contemporâneo mundo globalizado, uma interrupção separa o decurso de duas épocas, distanciando divindades antes materializadas muito além das titânidas, ultrapassandos as brutais forças elementares.
Entre o direito essencial a TÊMIS e a justiça no âmago de sua filha com a supremacia de Zeus, opõe-se atualmente, neste nosso hodierno Olimpo, a venerada "MÍDIA". E a olímpica DIKE, já preterida, sucumbe ao imperativo da nova "deusa", no mais recente intermédio entre GERAÇÕES DIVINIZADAS no "grego panteão".
A "MIDIA", então, na gênese de outra ética, avança globo afora. conquistando SÉQUITO DE PAGÃOS, em incomparável rendição à fantasia, na submissão ao ideal do efêmero, em adoração que ÉDIPO não imaginaria capaz.
Ora, direis que nem tanto assim... faz parte da civilização o conhecimento do alheio, já "obsoleto" o 'conhecer a si mesmo'.Nem penso, logo existo. Porém, vejo. E tudo o quê posso ver deverá existir imediatamente; mesmo que momentaneamente; ainda que por isso, liberdade, amor, respeito, fraternidade, sejam também provisórios; de curtíssima duração; verdadeiras efemérides.
Nesta nova ordem, o quê ocupa não preocupa, porque não há mais nada interessante senão o fugaz -desde que esse cause devoção eterna a restritas impressões que se alternam, se sucedem e, como elos partidos, não unem, porque, sem coadjuvantes, protagonistas se revezam em mesmo enredo, sob impressionados olhares figurantes, em MANTRA SAGRADO DO BENDITO É O FÚTIL.
Ora, ora! diremos uns aos outros, no soar das trombetas, o quanto nos queremos bem; e que -por "amor"- IMOLAMOS A ALMA COLETIVA, reverenciando quinze minutos de fama na boca draconiana da voraz "deusa" "MÍDIA".
HOLOCAUSTO CIVILIZADOR, refrigerantes e cigarros; automóveis e democracia; obedecem, todos, o mesmíssimo padrão de comportamento. Porque a 'LOGOLATRIA' cria clichês com efeitos especiais, na crença da duvidosa veracidade, em resignação e perseguição ao 'HOMEM-SUCESSO", no sepultamento do "homo-sapiens".
Porque no fim, 'TER OU NÃO TER, EIS A SUGESTÃO'.
Marcus Moreira Machado

domingo, 12 de agosto de 2007

O INJUSTO CONSAGRADO

No torvelinho do frenesi social, a normorragia -com o derrame de leis, decretos e atos normativos- tornou-se fenômeno trivial no Brasil; mas de tão corriqueiro, espanto não causa.
É nesse ambiente que não raramente um ESPÍRITO DE VULGARIDADE MÍTICA e anti-científica reflete o menoscabo à dignidade do homem e aos seus mais sublimes ideais.
Com efeito, contrariamente aos fundamentos essenciais à justiça, o próprio direito refoge ao primordial entendimento de sua isenção num contexto deveras real, tanto quanto a realidade que o permeia.
Afinal, "ubi societas, ibi jus".
O assim chamado "Estado de Direito" só tem razão de ser enquanto efetiva abertura de perspectivas para um 'Estado de Justiça', tornando a VERDADE JURÍDICA expressão exata de justiça, em dever correspondente aos MANDAMENTOS DO JUSTO.
Diversamente, contudo, a norma que carrega um CONTRA-VALOR é a própria negação do direito, constituindo-se no ANTI-DIREITO.
Por isso, quando a lei assume (no momento da interpretação e aplicação do direito positivo) foros de verdade quase absoluta (especialmente com referência a dogmas e axiomas), ela apenas CONSAGRA O INJUSTO.
Marcus Moreira Machado

OUÇA UM BOM CONSELHO, CIDADÃO!

'Cidadão' -titulo adotado pelos que se consideravam espíritos liberais- é expressão anterior à Revolução Francesa, utilizada por Beaumarchais em causa própria, e sua defesa ante o Parlamento.
Declarou o autor de "O casamento de Fígaro":
"- Sou um cidadão; isto é, alguma coisa de novo, de inaudito; nem financeiro, nem abade, nem cortesão, nem favorito; nem NADA QUE SE POSSA CHAMAR PODER... Sou um cidadão -o quê os senhores deviam ser desde há duzentos anos e hão de ser dentro de vinte, talvez".
Contemporaneamente, vocábulos como 'cidadania', 'ética' e 'moral', vêem-se desgastados ante o seu mau uso por "cidadãos" que não o são, contagiados por uma "ética" em tudo distanciada dos 'DEVERES DO HOMEM PARA COM DEUS E A SOCIEDADE', imbuídos de MORALISMO oposto à MORALIDADE.
É o triunfo, efêmero porém devastador, da superfluidade eleita no hedonismo como padrão de êxito na atual civilização.
A integridade, a essência da cidadania -traduzida pelo "direito de possuir direitos"- são relegadas a deformada compreensão dos atributos humanos. Estamos diante da mais singular equivocada "cidadania": a 'CIDADANIA DA VINGANÇA'.
Facilitado o acesso à Justiça, possibilitada a representação popular através de conselhos vários (paritários ou de auto-gestão), o fulano reclama, não reivindica; ciclano "esperneia",mas não protesta; beltrano conspira, porém, não realiza. Contudo, todos se crêem 'autoridade', ignorando que AUTORIDADE NÃO É CREDENCIAL E SIM CONHECIMENTO.
Somos cidadãos, sim! Todavia, não representamos NADA QUE SE POSSA CHAMAR PODER. Temos direito a ter direitos! Contudo, o próprio Direito foi, é, e será sempre a SUPERESTRUTURA DO ESTADO. Via de consequência, toda e qualquer instituição moderna que represente segmentos retrógados é também tão arcaica quanto o Estado obsoleto.
Necessitamos de juizados mais ágeis, não há dúvida.
Precisamos de conselhos representativos, é certo .
Carecemos ainda, entretanto, da estirpe, da ÍNDOLE DE UM POVO que se faça representar pela efetiva cidadania, ao invés da arrogância daqueles que enxergam na Justiça não mais que um INSTRUMENTO DE OPRESSÃO, e não o da promoção do bem-estar individual e coletivo, essencial àqueles que -à maneira de Beaumarchais- não são financeiros nem abades, nem cortesãos nem favoritos... São CIDADÃOS !
Marcus Moreira Machado